IMPOSTÔMETRO:


Visite o blog: NOTÍCIAS PONTO COM

Visite o blog: NOTÍCIAS PONTO COM
SOMENTE CLICAR NO BANNER --

ANÚNCIO:

ANÚNCIO:

sábado, 8 de novembro de 2014

Do lixo que produzimos à água que consumimos: o mundo exige mais atenção


Dia desses alguém me perguntou como eu definiria um jeito de viver de maneira mais sustentável. Respondi quase de pronto: é fazendo mais contato. Da água que sai da torneira ao lixo que se coloca ali na lixeira escondida no meio do corredor do prédio, passando pela luz que se acende no interruptor, hoje não dá mais para se deixar de pensar na origem e no destino de tudo o que se consome e rejeita. Dá mais trabalho, mas também traz mais consciência.

Estive pensando sobre isso ontem, quando atuei como mediadora num dos painéis da Conferência Cidades Verdes a convite da organização, a cargo da ONG Ondazul. O assunto era lixo. Antes de começar, tive a chance de conversar, no café, com o atual presidente da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb), Vinícius de Sá Roriz. Ex-executivo de uma multinacional, Vinícius me contou que antes de ser convidado a presidir a Comlurb, ele tinha uma relação com o lixo bem parecida com a da maioria de nós: “Punha ali na lixeira do prédio, fechava a porta e pronto, parava de pensar sobre o assunto, não era mais comigo”.

Sua experiência à frente da companhia de limpeza urbana de uma cidade que tem 6,5 milhões de habitantes e produz dez mil toneladas de resíduos por dia, no entanto, mudou bastante essa concepção.
“Um dos maiores desafios na minha gestão é, justamente, ajudar as pessoas a terem mais consciência sobre o lixo que produzem e o impacto que ele causa no ambiente”, disse ele.
Tadeu Caldas, da empresa de consultoria Ecotropic; João Wagner Silva Alves, que faz inventário de gases do efeito estufa para o estado de São Paulo e a deputada Aspásia Camargo, autora de várias leis sobre resíduos também estiveram no painel. Tadeu trouxe a experiência da Alemanha, país que conseguiu abolir os lixões definitivamente.

Em 1972, ano da primeira Conferência mundial do Meio Ambiente em Estocolmo, a Alemanha fechou 50 mil lixões. Desde então tem trabalhado em pesquisa e tecnologia para chegar à situação atual: o setor de resíduos virou um setor de sequestro de carbono e geração de energia, com o biogás. O carbono emitido por sete milhões de carros é sequestrado ali. Como estão reconstruindo muitos prédios para torná-los mais ecologicamente viáveis, sobretudo em Berlim, é impressionante a quantidade de resíduos gerada pela construção civil alemã. Mas uma parte vai para outras construções e outra parte é reutilizada para fazer estradas, por exemplo.

Cologne, cidade alemã com quase dois milhões de habitantes, contou ainda Tadeu, representa um caso específico de coleta, reciclagem e incineração. As emissões da compostagem dos resíduos orgânicos são recuperados, juntamente com as do incinerador, gerando energia para 25% das casas da cidade.
Não custa lembrar que sim, Alemanha é um país mais rico, mais velho... Mas alguma parte dessa tecnologia pode ser apreendida por nós, como deixou claro João Vagner Alves, engenheiro da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada ao governo paulista. Os alemães estão tratando o metano – gás extremamente poluente produzido pelo lixo e pelo gado – em digestores aeróbicos verticais, uma inovação que está dando certo. É só copiar, sim, mas precisa ter recursos e pessoal com competência técnica. A segunda parte é mais fácil para nós, com certeza.

Já a deputada do PV Aspásia Camargo estava no painel também por ser uma das parlamentares mais dedicadas à causa (tem três leis sobre o lixo). Ela lamentou, no entanto, que há pouco mais de dez dias a Câmara dos Deputados aprovou uma Medida Provisória ampliando o prazo para fim dos lixões, que segundo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos seria até agosto de 2014, para 2018. (veja aqui). A maioria dos municípios não conseguiu cumprir o que a lei previa.

O Rio de Janeiro, segundo Vinícius Roriz, destina quase 100% de seus resíduos para a Central de Tratamento de Resíduos em Seropédica. Havia um aterro em Gericinó, não controlado, que foi encerrado em maio. Mas a meta é diminuir em 25%, até 2018, a quantidade de resíduos enviados para as centrais.
“Essa meta tem uma outra, embutida, que é a redução de metano. Na última apuração que fizemos, o lixo é responsável por 14% das emissões de gases do efeito estufa da cidade, não só por causa do metano, mas também com também os caminhões que usamos, todos movidos a diesel. É um percentual importante, que vamos tentar baixar”, disse o presidente da Comlurb.

Onde era o aterro de Gramacho hoje há um local onde se trabalha no sentido de captar o metano e vendê-lo para a Petrobras, seguindo as regras rígidas da empresa. A ideia é levar também o gás gerado em Gericinó. Mas isso também ainda é pouco.
Na realidade de uma cidade como o Rio de Janeiro há ainda muitos locais onde o lixo nem mesmo é coletado, nas comunidades carentes. Para essas pessoas nem passa ainda pela cabeça a opção de reciclar seus resíduos, mas sim de tentar se livrar dos vetores de doença que uma quantidade considerável de detritos na porta de casa traz. Vinícius amenizou um pouco o problema numa das comunidades colocando grandes caçambas laranjas por perto para que a população tenha a opção de liberar ali seus detritos, o que ainda não é muita coisa.

“Eu não estou focando só nos meios de coleta porque é preciso ampliar para outras questões. Ampliar a coleta seletiva é importante, sim, mas veja bem: eu terei mais caminhões na rua, o que significa aumentar as emissões de carbono, transtornar ainda mais o trânsito. Tenho que pensar em compostagem, em aproveitar melhor o resíduo de podas que hoje está indo para Gericinó”, disse Vinícius.

É mesmo difícil imaginar tantos desafios, tantas questões que precisam de solução. Numa perspectiva macro, acabo me sentindo impotente, distante. Não conheço as tecnologias, não temos recursos, é difícil imaginar a vida de pessoas que moram em locais onde o lixo não é coletado... Numa perspectiva micro a coisa muda de figura.

Quando abri o painel contei uma história real que aconteceu comigo aqui na vizinhança na semana passada. Uma vizinha me perguntou qual o destino que eu dou para o meu lixo orgânico. As duas ficamos conjecturando sobre hipóteses, confessei que não tenho muita intimidade com a compostagem, e fazê-la num apartamento pode ser mais complicado, sobretudo porque tenho cachorros em casa e eles podem se sentir à vontade para invadir o espaço do lixo caso eu não consiga armazenar adequadamente. No fim da conversa, prometi que ia descobrir um meio e dividir com ela.

No mesmo dia, por uma incrível coincidência, descobri ali mesmo, perto do prédio, um pessoal da associação Bairro das Laranjeiras fazendo uma horta orgânica. Adorei, parei para conversar e, papo vai, papo vem, eles disseram que precisam do lixo orgânico para fazer adubo. Não precisei nem andar muito, pesquisar. Voltei para casa, interfonei para a vizinha, e já estamos todos em contato.

A isso eu chamo de microssolução. Mas só cheguei a ela porque, assim como minha vizinha, fiz contato com a destinação do lixo orgânico que produzo e fiquei mais atenta, a buscar alternativas. É um processo trabalhoso, mas é no que eu acredito.

(Foto: Jonathan Lins/G1)
http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/da-agua-ao-lixo-e-preciso-atencao-tudo-o-que-consumimos.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário