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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Expansão do Café e Localização das Ferrovias no Brasil do Século XIX...


Expansão do Café e Localização das Ferrovias no Brasil do Século XIX


Baseado no livro de P. Mombeig (Pioneiros e Fazendeiros de SP)
 
http://profwladimir.blogspot.com/

Mapa da Imigração e Emigração européia nos séculos 19 e 20


Mapa da Imigração e Emigração européia nos séculos 19 e 20

Emigração européia do século XIX à 1939
(principalmente portugueses, italianos, britânicos, espanhóis e russos, 80% do total)

Imigração para a Europa pós  segunda guerra mundial
(30 milhões até 2000, indo principalmente pra Alemanha, Itália, Reino Unido, França, Espanha, Grécia e Holanda)...
http://profwladimir.blogspot.com/2018/08/mapa-da-imigracao-e-emigracao-europeia.html

DISTRIBUIÇÃO do ELEITORADO por ESTADOS no BRASIL, 2018...


DISTRIBUIÇÃO do ELEITORADO por ESTADOS no BRASIL, 2018

DISTRIBUIÇÃO DO ELEITORADO POR ESTADOS NO BRASIL, 2018
.
Peso da disputa nos estados para o resultado final da eleição.
www.geoanalytics.com.br

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1834782539910408&set=a.156577087730970&type=3&theater

Mortos no Capitalismo?

Mortos no Capitalismo?


Fora os mortos pela escravidão, tráfico negreiro, guerras mundiais, violência urbana cotidiana, fome mundial, golpes militares, etc...
 
http://profwladimir.blogspot.com/2018/09/mortos-no-capitalismo.html

Os 15 maiores poemas de amor da literatura brasileira...

É bastante provável que os primeiros versos tenham brotado da boca de um apaixonado, jamais saberemos. A verdade incontornável é que o amor é tema recorrente entre os poetas e alvo de interesse constante entre os leitores.
Se você não é poeta, mas sente vontade de gritar para o mundo - e para o seu amado - versos apaixonados, nós damos uma ajudinha! Selecionamos aqui os quinze maiores poemas de amor da literatura brasileira publicados. A tarefa não foi nada fácil, a poesia nacional é riquíssima e cada um dos autores escolhidos facilmente poderia ter outros belos poemas incluídos nessa lista. 
Para tentar cobrir uma boa parte da nossa história literária, passeamos pelos antigos Álvares de Azevedo e Olavo Bilac até alcançarmos os contemporâneos Paulo Leminski e Chico Buarque. 
Boa leitura e compartilhem com os seus amados! 

1. Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes

Pesquisar os livros do poetinha, como ficou conhecido Vinícius de Moraes, é se deparar com um manancial de poemas de amor. Apaixonado pela vida e pelas mulheres, Vinícius casou-se nove vezes e escreveu uma série de versos apaixonados. O poema mais conhecido talvez seja o Soneto de fidelidade
O Soneto do amor total foi escolhido porque tem uma delicadeza ímpar e ilustra com precisão as várias facetas de uma relação amorosa.
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

2. Tenta-me de novo, de Hilda Hilst

Hilda Hilst também é um nome incontornável quando se pensa em amor na poesia brasileira. A escritora paulista escreveu versos que vão desde a escrita erótica até a lírica idealizada.
Quando se pensa em poesia de amor, o mais frequente é que se imagine versos de uma relação jovem. Tenta-me de novo é um dos raros poemas que trata de um amor que já acabou e de um amante que deseja conquistar o afeto de volta. 
Tenta-me de novo
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

3. Canção, de Cecília Meireles

Em apenas quinze versos, Cecília Meireles consegue compor na sua Canção uma ode à urgência do amor. Singelo e direto, os versos convocam o retorno do amado. O poema, presente no livro Retrato natural (1949), também conjuga elementos recorrentes na lírica da poetisa: a finitude do tempo, a transitoriedade do amor, o movimento do vento.  
Canção
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…
CM

4. As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade

Celebrado como um dos melhores poemas da literatura brasileira, As sem-razões do amor trata da espontaneidade do amor. De acordo com o eu lírico, o amor arrebata e arrasta o amador independente da atitude do parceiro. O próprio título do poema já indica como os versos irão se desdobrar: o amor não exige troca, não é resultado do merecimento e não pode ser definido. 
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Você conhece No meio do caminho tinha uma pedra, outro grande poema de Drummond?

5. XXX, de Olavo Bilac

O poema de amor provavelmente mais citado de Bilac é Via Láctea, um clássico aprendido nos tempos de escola. Os versos abaixo, no entanto, apesar de pouco conhecidos, são também uma obra prima do autor. O poeta, que atuou como jornalista, foi um dos maiores representantes do movimento Parnasiano no Brasil e a sua lírica é marcada pela metrificação e pela representação de um sentimento idealizado. 
XXX
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
OB

6. Futuros amantes, de Chico Buarque

O mais conhecido letrista brasileiro tem uma série de versos dedicados ao amor. São tantos que é até criminoso selecionar apenas um poema do manancial de belezas já escritas. No entanto, diante do desafio, escolhemos Futuros amantes, um daqueles clássicos que nunca perde a validade.
Futuros amantes
Não se afobe, não
Que nada é pra já 
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante 
Milênios, milênios
No ar 

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos 

Sábios em vão
Tentarão decifrar 
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização 

Não se afobe, não 
Que nada é pra já 
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá 
Se amarão sem saber 
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Chico também é celebrado por seus versos políticos e sociais, se quiser conhecer dois incríveis poemas desse gênero clique aqui: Construção e Cálice.

7. Meu destino, de Cora Coralina

Singelo e cotidiano, Meu destino, da goiana Cora Coralina, merece elogios pela maneira simples e sutil com que relata o encontro amoroso. A poetisa, com a delicadeza dos versos que compõe, faz parecer fácil construir uma relação de afeto duradoura. Meu destino conta uma pequena fábula: a história de duas pessoas que se conheceram e resolvem construir uma relação. 
Meu destino
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…

8. Teresa, de Manuel Bandeira

Teresa é um dos poemas mais marcantes do modernismo brasileiro, todos nós, provavelmente, fomos apresentados a esses versos ainda na escola.
Teresa consta nessa lista porque é um dos poucos poemas de amor capaz de conter traços de humor. A comicidade de Bandeira surge com a descrição da reação durante o primeiro encontro do casal. Os versos depois se encarregam de mostrar como o relacionamento se transforma e a percepção em relação a amada muda.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
manuel bandeira
Outro poema característico de Manuel Bandeira é o Vou-me embora para Passárgada.

9. Bilhete, de Mário Quintana

A delicadeza do poema de Mário Quintana começa já no título: Bilhete anuncia um tipo de recado direto, apenas partilhado entre os amantes. Os versos fazem uma elegia ao amor discreto, sem grandes alardes, partilhado unicamente entre os apaixonados.
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

10. Amar você é coisa de minutos…, de Paulo Leminski

Os versos livres de Leminski são direcionados diretamente à amada e seguem o tom de uma conversa. Apesar de ser um poema contemporâneo, os versos parecem anacrônicos porque prometem uma fidelidade total e absoluta seguindo os moldes do amor romântico.
Amar você é coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

11. Amor, de Álvares de Azevedo

Amor, de Álvares de Azevedo, é um clássico poema da geração romântica brasileira. Seus versos ilustram uma época e uma postura de devoção, quase idealizada, entre um homem apaixonado e uma mulher que é basicamente contemplada.
Embora o poema seja, de certa forma, o retrato de uma época, os versos são tão bem compostos que transcendem o tempo. 
Amor
Amemos! Quero de amor 
Viver no teu coração! 
Sofrer e amar essa dor 
Que desmaia de paixão! 
Na tu'alma, em teus encantos 
E na tua palidez 
E nos teus ardentes prantos 
Suspirar de languidez! 
Quero em teus lábio beber 
Os teus amores do céu, 
Quero em teu seio morrer 
No enlevo do seio teu! 
Quero viver d'esperança, 
Quero tremer e sentir! 
Na tua cheirosa trança 
Quero sonhar e dormir! 
Vem, anjo, minha donzela, 
Minha'alma, meu coração! 
Que noite, que noite bela! 
Como é doce a viração! 
E entre os suspiros do vento 
Da noite ao mole frescor, 
Quero viver um momento, 
Morrer contigo de amor!
alvares de azevedo

12. Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar

Um dos maiores poetas da literatura brasileira, Ferreira Gullar, ficou mais conhecido por seus versos políticos e de cunho social. No entanto, também é possível encontrar em sua poética trabalhos dedicados ao amor, pérolas pontuais como Cantiga para não morrer. Apesar de ser um autor contemporâneo, Gullar usa alguns traços românticos em seu poema.
O afeto pela amada é tão grande e transbordante que o eu lírico pede que ele permaneça com ela em seu pensamento, mesmo que sob a forma de esquecimento.
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

13. Casamento, de Adélia Prado

Os versos de Adélia Prado celebram o casamento, as relações cotidianas e de longo prazo. Contado quase como uma espécie de historinha, o poema mostra detalhes da intimidade da vida a dois e os pequenos afetos que se escondem na rotina do par. Chama a atenção do leitor a beleza com que é realçada a cumplicidade do casal.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.


14. Beijo eterno, de Castro Alves

O poema abaixo é um dos mais importantes exemplares da poesia romântica brasileira. Castro Alves pinta em sua lírica um amor pleno, idealizado e eterno. No entanto, como pertence à terceira fase do Romantismo, Castro Alves já inclui em seus versos alguma sensualidade relacionada à amada. 
Beijo eterno
Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!

Diz tua boca: "Vem!"
Inda mais! diz a minha, a soluçar... Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
O navio negreiro é outro grande poema de autoria de Castro Alves que merece ser conhecido. 

15. O amor comeu meu nome, de João Cabral de Melo Neto

O poema abaixo é um dos mais belos monumentos ao amor presente na literatura brasileira. João Cabral de Melo Neto consegue descrever com precisão, em algumas linhas, como é estar apaixonado, como o sentimento de amor se apossa do sujeito e se alastra na vida cotidiana. 
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu
retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor comeu
meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas
camisas. O amor comeu metros e metros de
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o
número de meus sapatos, o tamanho de meus
chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a
cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas
médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,
minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus
testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de
poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações
em verso. Comeu no dicionário as palavras que
poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso:
pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto
ainda, o amor devorou o uso de
meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada
no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto
mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu
a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de
propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos
que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde
irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta,
cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.
O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos,
e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua
chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba
de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam
sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas
de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a
água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os
mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde
ácido das plantas de cana cobrindo os morros
regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo
trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de
cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de
que eu desesperava por não saber falar
delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas
folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de
meu relógio, os anos que as linhas de minha mão
asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro
grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da
terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e
minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu
silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
 https://www.culturagenial.com/maiores-poemas-de-amor-literatura-brasileira/
.

Livro Vidas Secas de Graciliano Ramos...

Vidas Secas é um romance de Graciliano Ramos publicado em 1938 que faz parte da segunda fase do modernismo (geração de 1930). O livro aborda a pobreza e as dificuldades da vida do retirante no sertão nordestino, narrando as fugas de Fabiano e sua família das secas.

Resumo da obra

Fabiano, sua mulher e os filhos fogem da seca no sertão nordestino até encontrarem uma fazenda abandonada. Sem condições de continuar a viagem, eles se instalam nela. Poucos dias depois, a chuva chega ao sertão. O dono da fazenda aparece e Fabiano é contratado como vaqueiro.
Durante este período, Fabiano é preso, sua esposa Sinhá Vitória sonha com uma cama de amarração de couro, o menino mais velho pergunta sobre palavras e o menino mais novo tenta montar em um cabrito. A vida de vaqueiro segue até que a próxima seca os expulsa novamente. A família deixa a fazenda e parte para o sul em busca de sobrevivência.

Análise da obra

Contexto histórico

A obra foi escrita durante a década de 30, período de grande turbulência política no Brasil e no mundo. Os Estados Unidos viviam uma grande crise econômica e a Europa se recuperava do fim da Primeira Guerra. O Brasil era comandado por Getúlio Vargas que, em 1937, instalou o Estado Novo, um regime autoritário e anticomunista.          
Graciliano Ramos era influenciado pelo marxismo. Chegou a ser preso durante o Estado Novo e se filiou ao Partido Comunista Brasileiro em 1945.           
Em Vidas Secas, Graciliano enfatiza como Fabiano é explorado pelo dono da fazenda, seu patrão o rouba nas contas, cobra preços abusivos pelos mantimentos e juros altíssimos. No final, Fabiano foge da seca e da dívida que tem com seu patrão. Mesmo após trabalhar mais de um ano, ele continua sem nenhuma posse.
As influências ficam claras quando Graciliano retrata a miséria de Fabiano. Essa miséria torna o homem bruto e ele mesmo se vê mais como um bicho do que como um ser humano. A condição de homem bruto faz com que Fabiano seja explorado pelo seu patrão e oprimido pelo governo. Mesmo que a miséria venha pelas condições da natureza (a seca) os homens se aproveitam dela em vez de ajudar os miseráveis.

Corrente literária

Vidas Secas é um romance regionalista que faz parte da segunda geração do modernismo, também conhecida como geração de 30. Essa fase é a consolidação dos marcos da Semana de Arte Moderna de 1922. A busca por uma literatura nacional levou os autores a procurar em suas regiões matéria-prima para suas obras. 
No caso de Graciliano Ramos a fonte foi o sertão. O livro é cheio de termos regionais e a escrita se aproxima mais da fala. Os temas sociais voltam para a literatura que agora também tem o papel de denunciar a miséria e a exploração.
A maior liberdade formal também possibilita novas experiências na narrativa. Em Vidas Secas observa-se isso nos capítulos que são soltos. Não há uma linearidade que una os capítulos como costumava acontecer com os romances. Eles são quase contos com suas narrativas próprias. 
Outra característica marcante é o aprofundamento psicológico das personagens. Nesta obra, o autor retrata pessoas simples, mas com diversas características, tornando-as personagens profundas. 

Personagens

Ilustração de Fabiano por Aldemir Martins 
Fabiano é o pai da família, um homem bruto, que muitas vezes se confunde com um bicho. Fala pouco e se comunica mais com grunhidos. É um homem bravo, com o coração perto da goela, porém respeita as autoridades.
Sinhá Vitória é a mãe, também não fala muito, porém de ter todas as palavras na ponta da língua. Seu maior desejo é uma cama de armação de couro.
Os filhos são o menino mais novo e o menino mais velho. O primeiro tem mais admiração pelo pai e quer ser igual a ele. O segundo gosta mais das palavras, queria que seus pais falassem mais, fica mais perto da mãe porque ela não é tão bruta. 
Baleia é a cachorra da família e a personagem que mais se assemelha a um ser humano. É a única personagem do romance que sente angústia e que mesmo sem falar sabe se comunicar melhor que os outros membros da família.
Outros personagens menores são o Soldado Amarelo, que prende Fabiano injustamente. O patrão de Fabiano e o Seu Tomás, que só aparece nas lembranças da família. Seu Tomás era um homem abastado, inteligente e que lia muito, porém isso de nada lhe serviu quando a seca chegou e ele também teve que abandonar a fazenda.

Aspectos de destaque na obra

Graciliano Ramos representa com primor a miséria do retirante ao retratar os humanos como bichos e os bichos (a Baleia) como humanos. Fabiano se confunde com um animal por ser bruto, se comunicar com grunhidos, e estar à mercê da natureza (da seca e da chuva). 
Fabiano quer se revoltar contra as injustiças que sofre por parte do patrão e do soldado amarelo, porém, como um animal domesticado, aceita os maus-tratos. As crianças seguem pelo mesmo caminho. Sem educação, aprendem com os pais como viver, ouvindo poucas palavras e levando muitos safanões. 
Já a Baleia tem sonhos, se comunica com seu corpo de forma mais eficaz que os humanos se comunicam com as palavras. Salva a família da fome no começo do livro e o capítulo de sua morte é um dos trechos mais bonitos da prosa brasileira. 
Ilustração da Baleia por Aldemir Martins 

Resumo por capítulo

Mudança

O primeiro capítulo do livro retrata Fabiano, sua mulher e os filhos andando pelo sertão até chegarem a uma fazenda abandonada. Com muita fome, sede e sem condições de prosseguir viagem, eles se instalam por lá. O capítulo termina com uma façanha da cachorra Baleia, que caça um preá e salva todos da fome.

Fabiano

Chove no sertão. Com o fim da seca, o dono da fazenda regressa. Fabiano é contratado como vaqueiro e ele se questionar se é homem ou bicho.

Cadeia 

Fabiano vai para a cidade comprar mantimentos, se envolve num jogo de cartas com um soldado amarelo e acaba sendo preso. Fabiano não sabe falar direito e a falta de comunicação o coloca na prisão injustamente.

Sinhá Vitória

Nesse capítulo, há uma espécie de apresentação dessa personagem e de sua relação com as pessoas da sua família. Narra seus afazeres domésticos enquanto o marido dorme na rede. O único sonho de Sinhá Vitória é uma cama de armação de couro.

O menino mais novo 

Narra a admiração que esse personagem tem pelo seu pai, quando o vê vestido de vaqueiro montando uma égua brava. De tão admirado, o menino mais novo tenta montar uma cabra para imitar o pai, mas sem sucesso.

O menino mais velho 

Ele quer saber o que é inferno, uma palavra muito bonita que ele ouve, mas não sabe o que significa. Procura a mãe para ajudá-lo pois seu pai é muito bruto. Porém, a resposta da sua mãe também não o satisfaz. Ele não acredita que uma palavra tão bonita  seja o nome de um lugar tão ruim.

Ilustração do Menino mais Velho e Sinhá Vitória por Aldemir Martins 

Inverno

É o momento em que as chuvas alagam o sertão. A família tem medo de morrer afogada. No entanto, a chuva também afasta o medo da fome e da seca. Enquanto chove, eles ficam dentro de casa ouvindo as histórias de Fabiano, que são inventadas e com pouca verossimilhança. 

Festa

Toda a família se arruma para ir a um evento de Natal da cidade. Porém, no meio do caminho, todos já estão descalços e com lama nos pés. Fabiano bebe muita cachaça, tenta arrumar briga e depois dorme no chão usando as roupas como apoio. Sinhá Vitória admira a quermesse e a beleza das coisas, sonhando em ter uma cama de verdade, e os meninos andam atrás da cachorra.

Baleia

É o nono capítulo e o mais marcante do livro. Fabiano que sacrificar a cachorra que está doente. Mas o tiro não sai preciso e acerta as nádegas da Baleia. Ela consegue escapar até o lamaçal. Ferida e à beira da morte, Baleia pensa no ocorrido de forma confusa: pensa nas suas obrigações de cuidar do gado, das crianças e na sua casa. No final ela morre sonhando com um paraíso, um mundo cheio de preás e um Fabiano enorme.

Contas

 O patrão trata Fabiano de forma injusta. Ele tem direito a uma parte do gado, mas fora isso tem que recorrer à dispensa do patrão para outros mantimentos. O patrão cobra tudo muito caro e logo Fabiano gasta mais do que ganha. Ele fica endividado com o patrão, que cobra juros. Fabiano esboça uma revolta, mas aceita as contas do patrão por medo de ser demitido.

O Soldado Amarelo

Fabiano reencontra o soldado amarelo sozinho e perdido nas veredas. Ele pensa em se vingar do soldado, mas desiste e o ajuda a achar o seu caminho. 

O mundo coberto de penas

 As aves estão levantando voo e partindo para o sul. Este é o sinal que a seca está voltando. Fabiano vê as aves e fica com raiva. 

 Fuga

A seca volta e a fazenda já não oferece mais subsistência. A família parte pelo sertão em direção ao sul em busca de uma cidade grande. "O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos".

Filme Vidas Secas

O romance de Graciliano Ramos ganhou um filme em 1963 do diretor Nelson Pereira dos Santos, considerado um dos precursores do movimento do Cinema Novo. Sua adaptação recebeu diversos prêmios e foi indicada à Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1964.

Sobre o autor Graciliano Ramos

 Foi escritor, jornalista e político brasileiro. Nasceu em 27 de outubro de 1882 em Quebrângulo, Alagoas, e morreu em 1953 no Rio de Janeiro. Além de Vidas Secas(1938), uma de suas maiores obras é São Bernardo (1935), também ambientada no sertão nordestino.
Graciliano Ramos viveu em diversas cidades do Nordeste. Quando terminou o segundo grau, se mudou para o Rio onde exerceu a profissão de jornalista. Em 1915 retornou para o Nordeste onde ficou até 1936, quando foi preso pelo governo Vargas. Graciliano foi solto em 1937 e morou no Rio de Janeiro até sua morte.
Ele era "um homem do seu meio físico e social, ao mesmo tempo que um romancista voltado para a introspecção, a análise, os motivos psicológicos" (Álvaro Lins). Ele uniu as suas vivências no sertão com a sua consciência política para escrever Vidas Secas
Graciliano ganhou diversos prêmios por sua obra, com destaque para o prêmio da Fundação William Faulkner (Estados Unidos) pelo romance Vidas Secas, como livro representativo da Literatura Brasileira Contemporânea em 1962.
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