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sábado, 8 de novembro de 2014

A esperança de que o mundo aqueça só 2 graus até 2050


O Brasil emitia 2,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono no início dos anos 2000 e esse número caiu à metade, graças ao drástico corte no desmatamento - dados do Imazon dão conta de que houve queda de 75% do desmatamento nesse período. Por conta disso, o país não foi citado por Greg Baker, ministro de clima e energia britânico, na semana passada, quando este fez um apelo aos quatro grandes poluidores – Estados Unidos, Europa, Índia e China – para baixarem suas emissões no sentido de tentar evitar um aumento de temperatura acima dos 2 graus em 2050. Isso deixa o Brasil numa posição bem competitiva.

Quem me deu a notícia foi Emilio Lèbre La Rovere, coordenador executivo do Centro de Estudos Integrados sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da Coppe/Ufrj e um dos responsáveis pelo relatório brasileiro que fará parte do estudo organizado pela Rede de Desenvolvimento Sustentável reunindo os 15 países que representam mais de 70% das emissões globais. É uma espécie de conjunto de sugestões antiaquecimento propostas por acadêmicos desses países que será entregue no dia 23 de setembro ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, durante a Assembleia Geral. Em julho, quando escrevi a respeitodos relatórios entregues pelos outros países, faltava o estudo do Brasil. Agora não falta mais.

A entrevista com o professor Emilio estava marcada para ontem bem na hora do rush. Optei por ir de ônibus até o Jardim Botânico para evitar o engarrafamento. Mas, não fosse a espera no ponto, eu teria chegado até antes da hora. A rapidez do trajeto foi possível porque algumas ruas da Zona Sul têm agora uma faixa azul onde só os ônibus podem circular. É preciso estender a iniciativa para todas as regiões da cidade porque já deu para perceber que dá certo. Ou seja: soluções há, no setor de transportes, para se emitir menos carbono e, ao mesmo tempo, dar mais qualidade de vida aos moradores. Basta ter vontade política.

Foi justamente esse o ponto principal da nossa conversa. Segundo o professor Emilio, tecnicamente o Brasil tem as soluções, o que falta é a vontade de os políticos se debruçarem sobre o tema e de a população entender que é preciso cobrar. Abaixo, a íntegra da entrevista:

Quais as principais propostas que os acadêmicos sugerem para o Brasil baixar mais suas emissões de carbono?
Emílio La Rovere – O que esse relatório quer mostrar é que, apesar de estarmos atrasados, ainda é possível atender à necessidade de limitar o aumento da temperatura média causada pelo aquecimento global em 2 graus centígrados em relação ao que era antes da Revolução Industrial. Tem que ter voluntarismo político. Nesse sentido, no Brasil, tecnicamente, temos as soluções: energias renováveis, desmatamento controlado, plantação de florestas de crescimento rápido e reflorestamento de espécies nativas. 

O objetivo é transformar essas sugestões do relatório em políticas públicas?
La Rovere - Trata-se de um exercício de pesquisa, puramente acadêmico. Os organizadores da Rede de Desenvolvimento de Soluções Sustentáveis (tradução literal de Sustainable Development Solutions Network, ou SDSN), são Jeffrey Sachs, da Columbia University, em Nova York, e Laurence Tubiana, fundadora do Institute for Sustainable Development and International Relations (IDDRI), em Paris. Eles convidaram grupos de pesquisa dos 15 países mais poluidores a fazerem relatórios que farão parte de um composto a ser apresentado dia 23 para o secretariado geral das Nações Unidas, ou seja, a equipe do Ban Ki-Moon. A ideia é que possa ajudar para que alguns chefes de estado usem como diretriz para os negociadores da Convenção do Clima que vai acontecer ano que vem em Paris, no sentido de negociar metas mais ambiciosas e chegar a um acordo mais substantivo de redução de emissões.

O grande entrave para se conseguir um acordo mundial de baixar emissões de carbono continua sendo os Estados Unidos?
La Rovere – Temos duas vertentes, a técnica e a política. Tecnicamente, os grandes emissores hoje são Estados Unidos, Europa, China e Índia. Na semana passada mesmo foi divulgado um documento em que o ministro de clima e energia britânico faz um apelo a esses quatro grupos. O Brasil ficou de fora graças aos progressos, que até foram citados pelo ministro, no corte drástico do desmatamento de 2004 para cá. Nossas emissões eram da ordem de 2,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e caíram pela metade, o que põe o país numa situação muito forte internacionalmente. Agora, politicamente, você tem razão. A grande questão é que os Estados Unidos têm esse dispositivo constitucional que não dá autonomia ao executivo. Mas neste segundo mandato o presidente Obama se respaldou numa decisão da Corte, que determinou que indiretamente as mudanças climáticas podem causar danos à saúde dos norte-americanos, e mandou cortar emissões de termelétricas a carvão. Por isso há esperanças de que até o ano que vem ele consiga ratificar um acordo mais ambicioso.

Para baixar emissões é preciso diminuir a produção industrial?
La Rovere – Eu não diria que é preciso produzir menos no conjunto. Mas, certamente, precisamos usar menos automóveis e mais transporte coletivo de massa. Sabemos, é evidente, que não dá para fazer uma linha de Metrô por dia, nós aqui no Rio estamos nessa luta há 40 anos e só conseguimos fazer duas linhas. Agora, o longo prazo começa hoje e aí vem a questão de a opinião pública pressionar o Estado no sentido de fazer escolhas para maior sustentabilidade. Além disso, aqui no Brasil podemos também reflorestar áreas degradadas – há estimativas de que temos hoje de 20 milhões a 60 milhões dessas áreas. Claro que na Mata Atlântica tem que plantar floresta nativa, mas em muitas áreas da Amazônia e do Cerrado podemos plantar eucalipto, pinho, e fazer com eles o combustível da indústria. Nós temos no Brasil os recursos naturais que, com ajuda da sociedade, podem nos colocar em vantagem competitiva porque os outros países não têm esses recursos.

Há estudiosos dando conta de que o setor de serviços vai superar a indústria no futuro. Acha que é por aí o caminho, já que este setor polui menos?
La Rovere – Isso já acontece naturalmente à medida que as economias vão se desenvolvendo. Se, quando todo mundo tem um carro, em vez de ter um segundo carro a pessoa comprar um celular, este tende a ser menos agressivo ao planeta. Mas, de qualquer forma, mesmo para fabricar celulares é preciso aço, algum plástico... Não dá para apontar como solução.

E onde está a solução?
La Rovere – Na forma com que a gente usa e produz energia. Precisamos ter uma civilização que consuma menos energia e carvão, já que o carvão é usado no mundo todo para gerar energia. Precisamos de uma forma limpa para gerar energia, seja solar, eólica (que também tem seus impactos), a própria energia nuclear, se ela conseguir superar seus problemas de custos e resíduos. Quanto aos combustíveis líquidos, teríamos que atacar principalmente o setor de transportes e a indústria.

A indústria é mais difícil, não?
La Rovere – Sim, nossos problemas são as indústrias intensivas em energia, como siderurgia, cimento, papel celulose, química, alumínio, metais não ferrosos. Mas muito pode ser feito nos processos, com equipamentos mais eficientes, reciclagem de alguns bens intensivos em energia. E com uma estrutura econômica que demande menos desses produtos (usando a reciclagem), teremos uma série de ações combinadas. Agora, nos transportes é possível atacar com carros elétricos e biocombustível.

Mas como fica a questão de usar terra que produz alimentos para fazer biocombustível?
La Rovere – No mundo todo isso é uma preocupação, sim. Mas, no Brasil, que é uma terra abençoada, não. Tem que explicar que a plantação de cana está a dois mil quilômetros da Amazônia... Se conseguirmos manter o Zoneamento Agroecológico, nosso relatório mostra que até 2050 podemos chegar a 25% de mistura do biodiesel com o óleo diesel, hoje em 7%, além de aumentar substancialmente o uso de etanol de cana em substituição à gasolina.

Estou entendendo que esse relatório é bastante otimista...
La Rovere – O desafio que nos foi dado foi o seguinte: ainda é possível limitar o aquecimento em 2 graus? Quinze grupos de 15 países fizeram as contas e chegamos num número bem próximo a isso (são 2 graus e alguma coisa, mas é melhor do que 4 graus), só não conseguimos atingir a trajetória.

Como assim?
La Rovere – Não se vai deter o aquecimento global se emitirmos muito daqui a 2050 e cortarmos drasticamente só naquele ano. O aquecimento é proporcional à soma de todas as emissões ao longo de todos esses anos. Nós ainda não conseguimos uma trajetória que declinasse. No caso do Brasil, colocamos as emissões no caso energético ainda crescentes até 2030, e a partir daí começaria a declinar.

E os custos para se chegar a isso?
La Rovere – Essa é a segunda parte de nossos estudos, que vamos fazer no ano que vem. Mas o que já vimos foi que trocar um equipamento que ainda não foi pago por outro mais eficiente é difícil. Mas, se ele pifar e for substituído por outro, aí sim, pode ser um modelo mais econômico. O que é importante é não ter a retirada precoce do estoque do capital.


Li o relatório da Austrália e fiquei impressionada porque o país, que está tomando atitudes contrárias à baixa de emissões, diz lá que vai conseguir fazer o dever de casa direitinho...
La Rovere – Esses relatórios não são previsões, funcionam como um alerta. Não estamos dizendo que tudo o que está escrito vai acontecer. O que dizemos é que, sim, há esperança, ainda dá tempo para se conter o aquecimento a 2 graus, mas que para isso é preciso fazer transformações radicais no nosso modelo. E usar tecnologia.

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/esperanca-de-que-o-mundo-aqueca-so-2-graus-ate-2050.html

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