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domingo, 9 de novembro de 2014

Comércio ilegal de bichos e madeira movimenta até US$ 200 bi ao ano, diz ONU



A contar pelas reuniões, encontros, fóruns, assembleias e conferências que se faz com foco no meio ambiente, nossa civilização atual vai ser vista com respeito lá na frente, quando a escassez de recursos nos levar ao banco dos réus. Pois não é que, no mesmo momento em que o mais concorrido evento esportivo mundial está acontecendo aqui no Brasil, a ONU reúne 1.200 delegados de mais de 190 países para a primeira Assembleia Ambiental das Nações Unidas em Nairóbi, no Quênia? Uma das repórteres que cobre o evento, Daniela Chiaretti, enviada pelo jornal “Valor Econômico”, contou na primeira reportagem que mandou de lá (publicada no dia 25 de junho) que um segurança do time de credenciamento estranhou muito ver uma brasileira no encontro.

“O que você está fazendo aqui? Todos queriam estar no Brasil neste mês”, disse o funcionário à repórter.
O espanto dele será, também, o de muita gente. Sobretudo porque o país africano está sob ameaça de ataques terroristas, o que faz com que seja necessário um esquema triplicado de segurança para os visitantes. Por sinal, neste quesito “esquema de segurança”, quando querem os países mostram muito conhecimento. Haja visto a caça implacável (legítima) e bem-sucedida aos barra-bravas argentinos aqui no Brasil, que se especializaram em tocar o terror nos estádios.

Infelizmente, porém, quando se trata de coibir o comércio ilegal de vida selvagem e produtos madeireiros, não se tem tanta competência mundialmente. Segundo a reportagem de hoje no “Valor Econômico”, este tipo de atividade movimenta por ano, entre US$ 70 bilhões e US$ 213 bilhões. Os dados estão no estudo “The Environmental Crime Crisis” (veja aqui: http://www.unep.org/unea/docs/RRAcrimecrisis.pdf) lançado ontem em Nairóbi pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a Interpol, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Escritório da ONU sobre Drogas e Crimes (Unodc). Por que envolver as drogas nessa história? Porque, segundo o relatório, quadrilhas ligadas ao tráfico de drogas e de pessoas utilizam o mesmo aparato que os criminosos que traficam vidas silvestres.

Só para se ter uma ideia rápida do nível de crueldade a que podem chegar os humanos, a maioria dos elefantes da África são mortos por conta de suas presas de marfim. Isso já é um crime conhecido. Mas o pior vem agora: existem especuladores que estão apostando na alta do preço do marfim porque sabem que o animal entrará em extinção em breve. Anualmente 20 mil a 25 mil animais desta espécie são abatidos por ano e há uma população de cerca de 600 mil.

“As pessoas precisam saber que só compram uma peça de marfim porque um elefante foi morto”, disse Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, ao “Valor”. É, não custa relembrar...

A foto de abertura do estudo lançado ontem, com 108 páginas, mostra a retirada ilegal de madeiras da Amazônia. O relatório revela que a exploração ilegal de madeira tropical movimenta globalmente entre US$ 30 e US$ 100 bilhões por ano. No interior do documento, há um mapa mostrando que a rede de crime ambiental tem bastante força neste bioma, de onde saem bichos e madeiras para a China, Europa e América do Norte.

O relatório esmiúça ainda várias rotas, espécies de crimes, animais mais ou menos procurados. E adverte: “O crime ambiental representa uma ameaça à segurança econômica e ambiental de um país”. Não é para menos: desde orangotangos, gorilas, chimpanzés, elefantes, tigres, rinocerontes e antílopes, consideradas espécies icônicas, até corais, répteis, esturjões, ovas de peixe, tudo tem sido comercializado ilegalmente por uma vasta rede que não se sente, verdadeiramente, ameaçada. A falta de fiscalização e punição é um dos grandes problemas.

“Os níveis de exploração de algumas espécies animais e vegetais são altos e o comércio, junto a outros fatores como a perda de habitat, pode acabar extinguindo suas populações”.

Aqui é bom lembrar que durante a Rio-92 as nações firmaram vários acordos, dentre os quais a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que trata da conservação da biodiversidade em várias escalas. Na reunião da COP 10, realizada no Japão em 2010, na cidade de Nagoya, na província de Aichi, foram definidos cinco objetivos e 20 metas, chamadas Metas de Aichi, a serem cumpridas por todos os países até 2020.

Com isso espera-se obter, daqui a seis anos, um panorama comparativo e evolutivo de todos os países sobre a aplicação da Convenção da Biodiversidade. Eis a importância da Assembleia que está acontecendo no continente africano neste momento de Copa do Mundo. E eis a necessidade de que os países se envolvam cada vez mais seriamente na luta contra o tráfico de bichos.

O comércio de carne de caça ilícita também é mencionado no relatório lançado pelo Pnuma como um fator que leva ao esgotamento local de espécies selvagens, e cada vez mais dentro de áreas protegidas. Uma espécie de antílope asiático chamada Saiga, por exemplo, caçado desde os tempos pré-históricos, teve 95% de sua espécie ameaçada após o colapso da União Soviética. “Hoje a caça furtiva continua sendo a principal ameaça a esta espécie”, diz o relatório.

De 2005 a 2011, 643 chimpanzés, 48 bonobos, 98 gorilas e 1.019 orangotangos perderam sua liberdade por conta de atividades ilegais. Eles são traficados de várias maneiras: os bebês são capturados depois de as mães serem mortas por estarem se alimentando com produtos de plantações agrícolas ou simplesmente para servirem de comida aos humanos. Capturados, eles são vendidos. Há uma vasta rede de pessoas, no mundo todo, normalmente milionários, que querem ter um animal como esses em casa, por simples ostentação. Eles também são usados para divertir turistas, sobretudo em praias do Mediterrâneo ou em parques de safári na Ásia. Os preços variam. Um chimpanzé pode ser vendido por US$ 50 a US$ 100, enquanto orangotangos podem custar US$ 1 mil. Houve um caso, segundo os pesquisadores que assinam o estudo, de gorilas vendidos a US$ 400 mil para um zoológico na Malásia em 200.

O relatório mostra ainda que grupos terroristas de Bangladesh ligados à Al-Qaeda caçam tigres, elefantes e rinocerontes para arrecadar fundos para suas organizações. Há prisões feitas em flagrante que comprovam essa história. Dos rinocerontes só lhes arrancam os chifres, negociados por armas e dinheiro.
“O comércio ilegal de animais selvagens é uma barreira para o desenvolvimento sustentável, não só porque afetam os recursos das comunidades locais como é um roubo de capital natural a níveis mundiais. E envolve uma complexa combinação de fraca governança ambiental com comércio ilícito, sistemas de lavagem de dinheiro que constitui em grave crime”, conclui o relatório do Pnuma.

Se você, leitor, assim como eu, ficou com um tremendo peso nas costas depois de ler os resultados deste apuradíssimo estudo, dou-lhe de presente um alento. Entra hoje em cartaz no Brasil o filme “Amazônia”, de Thierry Ragobert (a onça da foto é uma das personagens do filme). Conta as aventuras do macaco Castanha na floresta Amazônica depois de ter sido vítima de um acidente aéreo. É bonito, faz bem aos olhos. E tem um valor agregado: pode ajudar nossas crianças a entenderem melhor o mundo que se quer preservar. Afinal, pelo jeito, vamos precisar do empenho dessa turminha para aumentar a fiscalização sobre esses bandidos que envergonham a raça humana.

*(Foto: Macaco-prego Castanha, do filme 'Amazônia'. Crédito: Divulgação/Araquém Alcântara)

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/comercio-ilegal-de-bichos-e-madeira-movimenta-ate-us-200-bi-ao-ano-diz-onu.html

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