Céu azul, claro, diáfano, transluzente,
sem uma única, mesmo que pequena, branca nuvem, desfazendo qualquer
expectativa de possibilidade de chuva. Este cenário se repetiu dia após
dia, semana após semana, nos últimos tempos, tendo sido registrado como o
maior período de estiagem dos últimos 90 anos aqui na minha cidade,
Indaiatuba.
Olhar para os jardins das praças, do
Parque Ecológico e constatar a grama cor de palha, ali quase sem vida,
inerte, em dormência vegetativa à espera de alguns pingos de chuva que
lhe animem e devolvam a coloração verde, me fez refletir sobre alguns
aspectos.
Percebi que em contrapartida, nos mesmos
jardins das praças e do Parque Ecológico as árvores ali dispostas,
aleatoriamente, permanecem firmes, eretas, com suas raízes agarradas ao
solo, determinadas na busca da seiva que lhe garanta a vida. A estiagem
também lhes afeta a calma rotina, mas não de maneira enérgica como o faz
com a grama.
A grama, normalmente plantada em placas,
é disposta sobre o local escolhido, e lá aguardam, todas as sementes
germinadas, juntas, que lhe venham regar. Elas vivem em grupo, porém não
trabalham em grupo, pois todas somente ficam à espera que tudo o que
precisam lhes caia do céu.
Sim, a grama se alimenta do adubo da
terra, porém só superficialmente. Se não for adubada de tempos em tempos
ela ficará fraca. Ela não se aprofunda em busca de alimentos. Ela
carece de iniciativa alheia. Se tratada, aguada, adubada, podada
responde positivamente e nos brinda com seu tapete verde. Porém, se não
recebe tratamento e se a estiagem for grande, fica seca, esturricada e
perde a coloração. Nada faz, apenas aguarda, na inércia, que a chuva lhe
devolva a cor e o viço.
Quando plantada em semente ela não
precisa estar mais do que meio centímetro abaixo da terra. Ela não
precisa de grande esforço para germinar. Suas raízes não se aprofundam
mais do que dez centímetros.
Já a árvore, desde semente, está só.
Vive a relação entre ela e a terra. Rompe sua casca e mesmo sob o peso
da terra emerge sempre avante. A chuva, o vento, o Sol, fontes de vida,
também podem lhe prejudicar quando em demasia ou em escassez. Mas ela
resiste bravamente e continua o seu crescimento incessante, sempre para o
alto, sempre resiliente.
Enquanto isso a grama aguarda que o
estímulo para o seu desenvolvimento venha do outro. Tão logo caiam
alguns pingos de chuva, estes já atuam como incentivo para que reaja e
fique verde. Quanto mais chuva mais verde fica, e mais cresce. Porém, se
a chuva for escassa, em breve a grama estará sem cor novamente à espera
de novos pingos, de novos incitamentos.
Arrisco comparar o comportamento da
grama ao de algumas pessoas que agem de forma muito semelhante. São
indivíduos que vivem superficialmente. Não se interessam por novas
práticas, vivem sua rotina diária na mesmice totalmente provável e
controlável. Quando, por ventura, algum imprevisto acontece, ficam
imóveis, inertes, sem cor, à espera que a ajuda venha do outro, não
concebendo se virá por orientação, por determinação, ou por ação. O que
importa é que o outro se manifeste determinando como proceder ou mesmo
resolva o problema entregando o terreno “aguado” para que possam
recuperar a cor e continuarem crescendo de forma tranquila e sossegada.
Já as pessoas árvores encaram a estiagem
como encorajamento para desenvolverem habilidades como determinação,
garra, criatividade fomentando seu potencial para buscarem novas fontes
de seiva para se alimentarem e se desenvolverem de forma plena. Este
exercício propicia que suas raízes penetrem, cada vez mais fundo, dando
sustentação e segurança para que possam se erguer cada vez mais alto,
ficando cada vez mais frondosas.
Será justamente a determinação diante da
dificuldade que propiciará o crescer. Esse protagonismo fortalecerá a
autoestima, a autoconfiança, a iniciativa, a perseverança, a
responsabilidade.
A grama estará sempre verde enquanto a
chuva cair ou alguém lhe regar. Se a chuva faltar e se ninguém a molhar,
ela morrerá sem ter tentado uma única possibilidade de vencer o
desafio.
Aquela criança ou aquele jovem, que tem
tudo ao seu alcance, que tem todas as suas vontades satisfeitas, que não
precisa vencer nenhum desafio pois está completamente protegido por
seus pais ou criadores, quando adulto se tornar, não terá iniciativa e
ficará inerte, em dormência vegetativa à espera de alguém que lhe venha
aguar.
Aquela criança ou aquele jovem que
sempre foi instigado a desenvolver habilidades, competências cognitivas e
não cognitivas, que aprendeu a controlar seus impulsos, a administrar
suas emoções e a organizar seus pensamentos mantendo sempre o foco,
estará apto a superar qualquer desafio, pois terá combustível para
perseverar diante das dificuldades.
E agora pergunto: Você é grama ou árvore?
Você educa seu filho para ser grama ou para ser árvore?
Compartilhe suas reflexões.
http://educaja.com.br/2014/11/estamos-formando-arvores-ou-gramas.html