O sal de cozinha ou sal comum é um condimento milenar, composto
basicamente por sódio e cloro (cloreto de sódio – NaCl). O sal é uma
substância essencial à saúde, sendo prejudicial quando consumido tanto
em excesso quanto de forma escassa.
Nas modernas sociedades, o sal
é consumido de forma exagerada, muito acima das nossas necessidades,
motivo pelo qual ele é atualmente considerado um dos grandes vilões da
saúde pública. O consumo excessivo de sódio está ligado a um aumento da
incidência de hipertensão, que por sua vez aumenta o risco de doenças
cardiovasculares e lesões renais.
Neste artigo vamos explicar
porque o sal pode ser danoso à saúde, quais são as doenças que o sal
pode provocar, quais são os alimentos ricos em sódio e quais são as
medidas que devemos tomar para minimizar o risco das doenças
relacionadas com o consumo excessivo de sal. Falaremos também dos
diversos tipos de sal alternativos, como o sal light, sal marinho, sal
de rocha e sal do Himalaia.
Importância do sal
O sal é um
componente de suma importância na história da humanidade. Há pelo menos
5000 anos, os chineses descobriram que salgar os alimentos era uma
excelente forma de preservá-los. Rapidamente, o sal se tornou um
elemento essencial às sociedades da época. Inúmeras cidades foram
construídas ao redor de locais de produção de sal e importantes vias
comerciais se estabeleceram devido a comércio do sal. Guerras foram
travadas e impérios foram criados por povos com fácil acesso a este
mineral. Homero referia-se ao sal como uma substância divina, e Platão
descrevia-o como um elemento “caro aos deuses”.
No império romano,
o sal era um commoditie preciosa e muitos dos soldados do império eram
pagos com sal (daí a origem do termo salário).
Com a invenção da
eletricidade e dos refrigeradores, a importância do sal como conservante
foi reduzida. Tornou-se mais lucrativo vender o sal já adicionado aos
alimentos do que o mineral separadamente. Os atuais alimentos
processados, consumidos em larga escala pela população, utilizam o sal
para realçar o sabor, prolongar a data de validade e para aumentar o
peso das carnes, uma vez que o sal provoca retenção de água.
O
sal é essencial à saúde, pois ele é uma importante fonte de sódio, que é
o principal cátion extracelular do organismo. O sódio ajuda a controlar
o volume de água corporal e participa de centenas de funções
fisiológicas. A deficiência de sódio no sangue, chamada de hiponatremia
está relacionada a diversos sintomas, como náuseas, dor de cabeça,
prostração e, em casos mais graves, convulsões e coma, devido à edema
cerebral.
Consumo de sal nas sociedades modernas
Por ser
um elemento tão importante à nossa saúde, nosso organismo desenvolveu
uma defesa evolutiva, que é uma espécie de “apetite por sal”. Em
situações de deficiência de sódio, nosso organismo nos leva a procurar
alimentos ricos em sal. Nas sociedades modernas, entretanto, é muito
difícil distinguir o que é apetite por sal do simples hábito de comer
sal. O consumo atual de sal é motivado muito mais por questões
culturais, má educação alimentar e ampla disponibilidade de alimentos
ricos em sal do que por mecanismos fisiológicos.
Nosso paladar é
condicionado a aceitar níveis elevados de sal desde a infância. Nossa
dieta habitual contém muito mais sódio do que o necessário e nosso
paladar condicionado não é capaz de reconhecer esse excesso. Nos EUA,
estudos mostram que até 90% das crianças consomem mais sal do
que indicado.
Comemos muito sal porque boa parte dos alimentos por
nós consumidos já vem com sal adicionado. Mais de 75% do sódio que
ingerimos provêm de alimentos processados, pré-embalados ou preparados
em restaurantes. Se você consome queijos, pão, molho de tomate, comida
congelada, molho shoyu, come em restaurantes, consome fast-food,
biscoitos, comida enlatada e muitos outros alimentos facilmente
encontrados nos supermercados, você tem claramente uma dieta rica em
sal. Você apenas não sabe disso porque o seu paladar está adaptado a
altas concentrações de sódio.
O resultado é que o consumo
individual médio de sal varia entre 9 a 15 gramas por dia, enquanto o
recomendado é no máximo 6 gramas por dia. Para se ter uma ideia, uma
colher de chá cheia contém cerca de 2,3 gramas de sódio ou cerca de 6
gramas de sal.
Problemas de saúde relacionados ao sal
Apesar
do seu valor histórico e da sua importância fisiológica, o alto consumo
de sal tem sido reconhecido como prejudicial para a saúde. As
populações que possuem baixa ingestão de sódio praticamente não
apresentam casos de hipertensão e as taxas de doenças renais e
cardiovasculares são baixas. Em oposição, sociedades que consomem sal
excessivamente apresentam níveis cada vez maiores de hipertensão e
doenças cardiovasculares.
Quando há excesso de sódio na corrente
sanguínea, há um estímulo para que haja aumento da quantidade de água
dentro dos vasos sanguíneo. Com um volume maior de sangue fluindo
através de seus vasos sanguíneos, a pressão arterial aumenta. O aumento
crônico da pressão arterial provoca lesões nas paredes dos vasos
sanguíneos, principalmente aquelas de pequeno calibre. Cérebro, olhos,
coração e rins são órgãos especialmente suscetíveis às doenças
provocadas pela hipertensão.
Além de causar hipertensão arterial, a
dieta rica em sódio também interfere na eficácia dos medicamentos
anti-hipertensivos, tornado o controle da pressão arterial através de
remédios mais difícil. O paciente hipertenso que não limita o seu
consumo de sal costuma precisar de mais remédios e doses mais elevadas
para conseguir baixar a pressão.
Falamos especificamente sobre a hipertensão arterial em vários outros artigos que podem ser encontrados através deste link: arquivo de textos sobre hipertensão arterial.
Além
das consequências da hipertensão, o excesso de sódio também está
relacionado a um maior risco de várias outras doenças, entre elas:
– AVC (derrames) (leia: ENTENDA O AVC – ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL).
– Insuficiência renal (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA – SINTOMAS).
– Insuficiência cardíaca (leia: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA – CAUSAS E SINTOMAS).
– Câncer de estômago.
– Pedras nos rins (leia: SINTOMAS DO CÁLCULO RENAL / PEDRA NOS RINS).
– Diabetes (leia: DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES MELLITUS).
– Asma (leia: ASMA – Sintomas, Diagnóstico e Tratamento).
– Osteoporose (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA OSTEOPOROSE).
– Insuficiência renal (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA – SINTOMAS).
– Insuficiência cardíaca (leia: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA – CAUSAS E SINTOMAS).
– Câncer de estômago.
– Pedras nos rins (leia: SINTOMAS DO CÁLCULO RENAL / PEDRA NOS RINS).
– Diabetes (leia: DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES MELLITUS).
– Asma (leia: ASMA – Sintomas, Diagnóstico e Tratamento).
– Osteoporose (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA OSTEOPOROSE).
Alternativas ao sal de cozinha
Devido
ao conhecimento cada vez maior dos problemas do sal, algumas
alternativas têm surgido no mercado. O problema é que nem todos os tipos
de sal rotulados como mais saudáveis realmente o são. Além disso, não
adianta você utilizar menos sódio na sua comida se vários dos seus
componentes já vêm prontos do supermercado. Por exemplo, não é uma
estratégia muito eficaz pôr pouco sal na água que vai cozinhar a sua
massa, se o molho de tomate que você escolher já vem pronto e cheio de
sódio. Como já referido, não é o sal que você acrescenta à comida o
problema, mas sim a comida já previamente salgada que você compra.
Portanto,
a reeducação alimentar em relação ao sódio não deve se restringir ao
tipo ou à quantidade de sal que você usa na hora de cozinhar. O tipo de
alimento usado é tão ou mais importante.
Sal light
O chamado sal light, composto por cloreto de potássio (KCl), vem ganhando adeptos ao longo dos anos. Na verdade, o sal light não
é cloreto de potássio puro, ele é uma mistura com cloreto de sódio,
porque o gosto do potássio é muito azedo. Em geral, o sal light é
composto por 50% de cloreto de sódio e 50% de cloreto de potássio.
O
sal light é uma alternativa válida ao sal de cozinha comum. Além de ter
menos sódio por cada grama de sal, ele também possui potássio, que é um
mineral que parece ter efeito protetor contra a hipertensão.
O
grande problema do sal light é que ele é contra-indicado em pacientes
com insuficiência renal. Em geral, quem controla as concentrações de
potássio no nosso sangue são os rins. Se ingerirmos mais potássio que o
necessário, o excesso sai na urina. Os pacientes insuficientes renais,
porém, não conseguem controlar bem o potássio sanguíneo e podem acabar
desenvolvendo hipercalemia, que é o excesso de potássio na corrente
sanguínea. A hipercalemia pode causar graves arritmias cardíacas.
É
bom destacar que a hipertensão arterial pode causar insuficiência
renal, mas a própria a insuficiência renal também pode levar à
hipertensão. Portanto, não é incomum encontrarmos pacientes com as duas
doenças ao mesmo tempo. Por isso, se você é hipertenso ou apresenta
fator de risco para doença renal, dose sua creatinina antes de tomar
suplementos que contenham potássio (leia: VOCÊ SABE O QUE É CREATININA?).
Sal marinho
O
sal marinho é produzido através da evaporação da água do oceano ou da
água de lagos de água salgada, geralmente com pouco ou nenhum tipo de
processamento posterior. A composição mineral do sal marinho muda de
acordo com o tipo de água que lhe dá origem. Os minerais presentes
conferem a diferença de sabor, cor e textura em relação ao sal de
cozinha.
O sal comum de cozinha é o sal marinho que passa por um
processo de refinamento para deixá-lo “mais puro”. Ou seja, o
refinamento remove diversos minerais e deixa o sal apenas com cloreto de
sódio. Após o refinamento, há adição de iodo e de aditivos
antiaglomerantes, que mantêm o sal bem solto. A adição do iodo no sal de
cozinha é regulamentada por lei, sendo uma eficaz estratégia para
diminuir a incidência de hipotireoidismo por deficiência de iodo (leia: HIPOTIREOIDISMO – Causas, Sintomas e Tratamento).
Ao
contrário do que costuma ser propagado por várias fontes, a quantidade
de sódio presente no sal marinho é apenas um pouco menor que no sal de
cozinha. Isso ocorre porque a quantidade de minerais que não cloreto ou
sódio presentes nesse tipo sal é muito baixa.
É importante
destacar que existem dezenas de tipos de sal marinho diferentes. A
quantidade de sódio presente em cada um deles pode variar bastante. Há
sais marinhos que possuem cerca de 86% de cloreto de sódio, enquanto há
outros que são basicamente iguais ao sal de cozinha, com cerca de 98% de
cloreto de sódio.
De qualquer forma, uma colher de chá de sal marinho daqueles com menor teor de cloreto de sódio ainda contém cerca de:
- 2,4 gramas de cloro.
- 1,9 grama de sódio.
- 0,40 gramas de sulfato.
- 0,20 gramas de magnésio.
- 0,11 gramas de potássio.
- 0,06 gramas de cálcio.
- Menos de 0,01 grama de fósforo, bromo, boro, zinco, ferro, manganês, cobre, iodo e silício
Portanto,
não há qualquer evidência científica de que o sal marinho seja um sal
mais saudável que o sal de cozinha, principalmente no que toca o
controle da hipertensão. Se por um lado é verdade que o sal marinho
possui uma grande variedade de minerais, é também verdade que ele é
basicamente composto por cloreto de sódio, sendo irrelevante as
concentrações destas dezenas de outros minerais presentes. Por grama de
peso, o sal marinho tem realmente menos cloreto de sódio que o sal de
cozinha, mas ainda assim, vários tipos de sal marinho chegam a
ser compostos por 98% de cloreto de sódio e apenas 2% de outros
minerais.
Também é importante destacar que se o sal de cozinha
contém indesejados aditivos, o sal marinho obtido em águas poluídas
podem carrear diversas substâncias tóxicas, como metais pesados e até
amostras de plástico, como polietileno e celofane.
Sal de rocha
O
sal de rocha é basicamente um sal marinho, mas em vez de ser extraído
do mar ou de lagos, ele é obtido através de minas subterrâneas de sal
que surgiram devido ao desaparecimento de mares e lagos que existiram
nestes locais no passado.
Todas as ponderações feitas para o sal marinho no tópico acima valem também para o sal de rocha.
Sal rosa do Himalaia
O
sal do Himalaia é basicamente um sal de rocha chique e caro, obtido em
minas de sal do Paquistão. Sua cor mais avermelhada é resultado da maior
concentração de ferro oxidado em sua composição.
Como era
esperado, as análises de composição do sal do Himalaia não revelam
nenhuma grande diferença entre esse tipo de sal de rocha e qualquer
outro tipo de sal marinho. O sal do Himalaia é composto basicamente de
cloreto de sódio, possuindo quantidades mínimas de outros minerais,
muito abaixo das necessidades diárias de um adulto.
Em relação ao
ferro, a quantidade no sal do Himalaia é suficiente para torná-la mas
rosado, mas está muito aquém das necessidades diárias do ser humano.
Curiosamente, entre os vários tipos de sal marinho existentes, o sal
himalaia não é nem de perto aquele com maior teor de ferro. O sal
vermelho de Haleakala, extraído no Havaí, tem cerca de 80 vezes mais
ferro que o sal do Himalaia.
Se você tem interesse em conhecer a
composição mineral de 45 tipos diferentes de sal marinho, incluindo o
sal do Himalaia, leia este artigo científico publicado em 2010 – http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1745-459X.2010.00317.x/abstract
Conclusão
Para
reduzir o consumo de sal é preciso reduzir o consumo de sal. Não há
atalhos. Todos os tipos de sal contêm grandes quantidades de sódio. Não
existe, portanto, sal saudável.
Lembre-se, o maior inimigo da sua
saúde não é o sal de cozinha que está na sua casa, mas sim o sal que já
vem adicionado a vários alimentos comprados nos supermercados. Tenha
especial atenção à embalagem e procure alimentos com baixo teor de
sódio. Evite produtos processados, enlatados ou pré-preparados.
Tenha
também atenção às falsas propagandas. Um produto pode estar dizendo na
embalagem que tem 30% a menos de sódio, mas se a quantidade total de
sódio ainda for alta, essa propagada redução não tem valor algum, pois o
produto continua sendo rico em sal.
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