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domingo, 21 de junho de 2015

Tiradentes -- JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, o "TIRADENTES" Lutador pela independência do Brasil: 1746-1792



Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A inconfidência de Minas Gerais...Os autores desse samba-enredo da Escola de Samba Império Serrano, em 1949, são Mano Décio da Viola, Penteado e Stanislaw Silva, mas a música só fez sucesso mesmo no carnaval de 1955, na voz de Roberto Silva. Tempos depois, a cantora Elis Regina regravou a música, fazendo também imenso sucesso. 

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QUANDO TUDO ACONTECEU...

1746: Nasce em Pombal, distrito de S. José d’el Rei (hoje Tiradentes), Minas Gerais; os pais são Domingos da Silva Santos, nascido em Portugal, e Maria Antónia da Encarnação Xavier, nascida na Vila de São José d’el Rei (Brasil). 

1755: Morre Maria Antónia; o viúvo e os órfãos mudam-se de vez para a Vila de São José.

1757: Órfão de pai. - 1780: Arregimenta-se como soldado. 

1781: É promovido a Alferes. - 1786: A mando do governador da capitania de Vila Rica, leva brilhantemente a cabo estudos demográficos, geográficos, geológicos, mineralógicos - quer de aplicação civil, quer militar. - 1788: Envolve-se na Inconfidência contra a Coroa portuguesa - 

1789: Como conspirador, é preso no Rio de Janeiro. - 1792: É enforcado em praça pública e depois esquartejado. 

***
Em seus 500 anos de existência, o Brasil foi dominado por Portugal por mais de três séculos. Nesse período, desde o início da luta pela liberdade até a Independência, houve o trabalho de muitos heróis e anônimos. Um nome se destaca na luta pela libertação do país: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Neste livro, você vai conhecer um pouco da vida desse personagem, da situação do Brasil na época da Inconfidência Mineira e da herança deixada pelo ouro e pela luta de libertação.Um Sonho de Liberdade Em 1788, havia um clima tenso em toda a Capitania de Minas Gerais, principalmente em Vila Rica, atual Ouro Preto. A cidade fervilhava de gente, idéias de liberdade e ouro. Ali viviam mais de 70 mil pessoas, sem contar os forasteiros e aventureiros que buscavam riquezas nas minas de ouro descobertas quase um século antes. Cansados dos impostos cobrados pela Coroa portuguesa e da falta de liberdade, crescia o número de proprietários de terras, padres, advogados e até funcionários do governo que conspiravam para libertar o Brasil do domínio de Portugal.Impostos e Revoltas O maior motivo do descontentamento do povo era a cobrança de impostos atrasados sobre a produção de ouro – a chamada "derrama". A ameaça da cobrança assustava proprietários de terras e mineradores. Muitos iriam à falência ao pagar os impostos em atraso. Por isso, conspirava-se, e muito. Sonhava-se criar uma nação independente, inspirada pelas idéias de liberdade que surgiam na Europa e pela independência conquistada pelos Estados Unidos, em 1776.
Tiradentes Um dos conspiradores foi Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, um alferes do Exército. Homem simples e sem posses, acreditava já ter chegado a hora de nosso país tornar-se independente. Junto com diversos companheiros, realizou atividades consideradas de alta traição à Coroa portuguesa. Mas, ao contrário dos outros inconfidentes, apenas Tiradentes foi morto, responsabilizado por comandar todo o movimento.Portugal: Império em Crise O mundo estava se transformando no século XVIII. Novas idéias políticas e econômicas surgiam e tinham como base a liberdade de pensamento. O poder absoluto dos reis era questionado. Os Estados Unidos se libertaram da Inglaterra e estimularam outras colônias a fazer o mesmo. O outrora poderoso império português estava cada vez mais enfraquecido na Europa. Entre 1580 e 1640, Portugal foi dominado pelos espanhóis. Nesse período, os interesses de Portugal foram deixados de lado, sua poderosa marinha foi destruída e muitos de seus territórios, perdidos. Sobraram apenas algumas regiões na África, que fornecia os escravos, e o Brasil, de onde tirava grande parte de sua riqueza.Açúcar Brasileiro na Europa Com o uso de mão-de-obra escrava, o Brasil fabricava seu principal produto: o açúcar. Os portos brasileiros viviam em constante movimentação, embarcando para Portugal açúcar, fumo e cachaça. Recebiam de lá vinho, azeite, bacalhau, farinha de trigo e tecidos. A produção brasileira, instalada principalmente no Nordeste, era crescente e Portugal praticamente dominava a venda de todo o açúcar consumido na Europa. Quando outros países passaram a produzir e a vender açúcar, o preço caiu e Portugal chegou à beira da falência.Pacto com a Inglaterra Como Portugal dependia do açúcar brasileiro, a queda dos preços causou um grande estrago em suas finanças. Além disso, muitos dos artigos que vendia às colônias eram comprados de outros países. Em 1703, Portugal e Inglaterra assinaram um acordo de comércio que favorecia os ingleses. Produtos vindos da Inglaterra seriam vendidos no mercado português sem pagar taxas de importação, enquanto os vinhos portugueses teriam taxas menores que os vinhos franceses no mercado inglês.Comércio com a Metrópole As riquezas da terra, como fumo e cana-de-açúcar, pagavam todos os produtos importados de Portugal, como o bacalhau e o vinho, que chegava em tonéis.A Descoberta do Ouro A situação de Portugal no final do século XVII era terrível. Parecia que apenas um milagre resolveria a difícil crise econômica do país. Durante dois séculos, desde que chegaram à América, os portugueses procuravam o lendário Eldorado, uma terra repleta de riquezas, como ouro e pedras preciosas. Os espanhóis tinham encontrado metais preciosos em seus territórios, mas nos domínios de Portugal esse sonho ainda não tinha sido realizado. Aconteceu, então, a descoberta do ouro nas Minas Gerais.Corrida às Minas Em 1693, a bandeira chefiada por Antonio Rodrigues Arzão descobriu ouro nos leitos dos rios que desciam as montanhas na serra do Espinhaço, no atual Estado de Minas Gerais. A região era de difícil acesso, protegida pela barreira quase intransponível da serra da Mantiqueira e ocupada pelos hostis índios Cataguá. Apesar das dificuldades, logo a novidade da descoberta se espalhou e milhares de aventureiros, vindos de todas as capitanias e mesmo de Portugal, chegavam à região.Desbravadores do Sertão Os bandeirantes que descobriram as riquezas das Minas Gerais eram homens rudes, saídos da Capitania de São Vicente, o atual Estado de São Paulo. Ali as plantações de cana-de-açúcar não deram certo como no Nordeste e muitos donos de terras realizavam as bandeiras em busca de fortuna e para prender e escravizar os índios do interior. Desbravando o sertão nessa busca, descobriram o precioso metal em Minas Gerais e nos locais onde hoje estão os Estados de Mato Grosso e Goiás, aumentando os domínios portugueses no interior do continente sul-americano.Um século de riquezas Em 1695, a primeira remessa do ouro descoberto em Minas Gerais foi enviada para Portugal. Era apenas uma pequena amostra da riqueza escondida na terra. Em 1699, foram enviados 725 quilos do metal e, quatro anos depois, o ouro já chegava a 4.350 quilos. Não se sabe com certeza quanto ouro saiu do Brasil durante o século XVIII, mas estima-se que foi quase 1 milhão de toneladas. A descoberta de minas repletas dava a sensação de que o ouro não teria fim. Na verdade, teria, mas Portugal não acreditava nisso e recolhia, por meio de impostos, um quinto de toda a produção das minas brasileiras.Novas Descobertas Em 1718, foi descoberto ouro em Mato Grosso. Em 1722, minas deouro foram encontradas em Goiás. Em 1729, houve a descoberta de diamantes numa região de difícil acesso na Capitania de Minas Gerais. Ainda assim, era o ouro de Minas que permitia à Corte portuguesa viver no luxo e na abundância.Faiscadores Solitários O ouro descoberto era abundante, mas encontrava-se apenas na superfície do terreno, próximo a riachos e ribeirões. Para encontrá-lo, os mineradores juntavam a lama e a areia na bateia, lavando a mistura com a água do riacho ou ribeirão. Mais pesado que o cascalho e a areia, o ouro se depositava no fundo da bateia e faiscava à luz do sol. Por isso, os mineradores solitários eram chamados faiscadores.Pobres vilas ricas A corrida ao ouro foi tão intensa que Portugal chegou a proibir a vinda de portugueses para as minas, temendo o esvaziamento da Metrópole. De toda a parte da Colônia vieram homens livres, ricos ou pobres, tentar a fortuna na busca do ouro. As cidades surgiam depressa, de maneira desorganizada. Aos poucos, a riqueza do ouro mostrava-se nas fachadas dos sobrados, nos chafarizes das praças, nas igrejas bem decoradas e nas obras de arte produzidas pela gente da terra.Mais Escravos, mais Riquezas A vida era organizada em função da busca do ouro. Quem tinha posses e escravos conseguia datas mais extensas, aumentando suas chances de enriquecer. Quem não possuía escravos podia minerar por conta própria, procurando o metal nos leitos dos rios, em meio aos cascalhos. Havia ainda trabalhadores das cidades, carpinteiros, sapateiros, artesãos, vendedores ambulantes, muitos deles negros libertos ou mesmo os chamados negros de ganho, alugados por seus donos para serviços diversos.Pobreza e Abundância Nos primeiros anos da mineração havia muito ouro, mas as pessoas chegavam a passar fome porque não tinham o que comprar. Preocupados apenas com a mineração, os homens não plantavam nenhum alimento e tudo precisava vir de outras capitanias, custando muito caro. Uma simples galinha, que valia 160 réis na Vila de São Paulo, chegava a custar 4 mil-réis em Vila Rica. Um boi de corte, valendo 2 mil-réis no resto da Colônia, custava 120 mil-réis na região das minas. Assim, embora o ouro proporcionasse riqueza, ela sumia rapidamente, tanto pelos impostos cobrados pela Coroa portuguesa, quanto pelo alto custo de vida nas Minas Gerais.Impostos e Revoltas Desde a descoberta do ouro, Portugal criou diversos impostos. Mas o ouro que saía do Brasil não ficava em Portugal. Ele servia para pagar as dívidas e os produtos ingleses consumidos na Corte. A Coroa ainda fazia a cobrança de taxas sobre os alimentos vindos de outras capitanias, sobre o direito de usar os caminhos reais, sobre tudo o que se produzia e se consumia na região das minas.Esperteza Para escapar aos impostos, os mineiros tentavam enganar os cobradores: escondiam ouro em imagens de santo ocas; raspavam moedas para conseguir ouro em pó; guardavam ouro nos cabelos dos escravos. Em 1711, os frades católicos foram expulsos das minas, acusados de facilitar essas práticas.Cobrança de Taxas Portugal tentou várias formas de cobrança sobre o ouro. Proibiu a sua circulação em pó e criou as Casas de Fundição, que deveriam transformar todo o ouro em barras, retirando um quinto do total para a Coroa. Em 1735, esse imposto foi trocado por outro, mais terrível, cobrado de acordo com o número de escravos de cada proprietário nas minas. Houve muitos casos de falência até que esse imposto fosse extinto.O Quinto Portugal voltou à cobrança da quinta parte a partir de 1751. E mais: todos os anos, 1.500 quilos de ouro deveriam seguir para o Reino para satisfazer necessidades da Coroa portuguesa. E isso acontecia justamente quando o ouro ficava cada vez mais raro nas minas.A Derrama Embora a produção das minas fosse cada vez menor, Portugal não perdoava. Quando não se atingia a quantidade exigida, o que faltava era cobrado no ano seguinte. Como o ouro diminuía ano a ano, os impostos foram se acumulando. Em 1785, a dívida somava mais de 8 mil quilos. A cobrança dos atrasados, a derrama, foi sendo adiada pelos representantes do governo português na Capitania. O medo da derrama espalhou-se entre os donos de terras em Minas Gerais. A única solução encontrada foi lutar pela libertação do Brasil.Inconfidência ou Conjuração? No final do ano de 1788 e início de 1789, era tão grande o descontentamento com a Coroa portuguesa que um grupo de intelectuais, padres, donos de terras e mineradores de Minas Gerais decidiu que era a hora de lutar para livrar o Brasil de Portugal. Para os historiadores atuais, o que eles realizaram foi uma conjuração, uma tentativa de conspiração em defesa do Brasil. Mas, como foram considerados traidores de Portugal, a sua luta acabou passando para a história com o nome de Inconfidência Mineira.Encontros Secretos Na cidade de Vila Rica, em reuniões secretas, os inconfidentes discutiam idéias de liberdade, liam livros que defendiam a igualdade entre os homens e o direito do povo de escolher seus governantes. Essas obras tinham sido trazidas por filhos de famílias ricas que estudavam na Europa, mas eram proibidas no Brasil.Escravidão Um assunto que dividia o grupo era a libertação dos escravos. Os grandes mineradores e fazendeiros eram contra, outros inconfidentes eram a favor. A decisão final ficava no meio do caminho: não se falava no fim da escravidão, mas, com a vitória do movimento, todos os escravos nascidos no Brasil seriam libertados.Liberdade e República A proposta dos revoltosos era de libertar a Capitania de Minas Gerais, proclamando uma República. Esperavam que a ela se unissem as Capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro. Além de anistiar as dívidas dos mineiros e abolir as leis coloniais, iriam abrir a nova República para o comércio livre com as demais nações do mundo.Os Inconfidentes No movimento havia religiosos, como os padres José da Silva de Oliveira Rolim e Carlos Correia de Toledo de Melo. Tinha também poetas, como Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, mas sobre este há dúvidas se participou do movimento ou se foi injustamente punido.Interesses Diferentes Embora estivessem decididos a lutar até com armas em punho, os conspiradores tinham interesses diferentes. Alguns preocupavam-se verdadeiramente com os destinos do Brasil, como José Álvares Maciel, um jovem que havia estudado em Portugal e trazido para cá idéias de liberdade. Outros estavam apenas preocupados em salvar-se da falência que viria com a cobrança dos impostos.Tiradentes Dentre os inconfidentes, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, era uma exceção. Sem posses, nunca teve sucesso em meio a tanta riqueza que via passar pelos caminhos das Minas Gerais. Não tinha amigos influentes, mas era o mais entusiasmado com a conspiração e, quando o movimento foi traído, acabou sendo o único punido com a morte.Vida de Alferes Joaquim José da Silva Xavier nasceu em 1746, em uma fazenda próxima de São João del Rey. Logo perdeu os pais e foi morar com um tio que era dentista. Foi assim que aprendeu a extrair dentes e conseguiu o apelido que o acompanhou por toda a vida. Tentou, sem sucesso, várias profissões. Foi minerador, enfermeiro e boticário. Entrou para a Companhia dos Dragões, o regimento de cavalaria de Vila Rica, em dezembro de 1775, no posto de alferes, o que corresponde hoje a segundo-tenente.Planos de Empresário Alferes era o posto máximo permitido aos nativos brasileiros. Insatisfeito, em 1787, Tiradentes pediu licença do Exército e foi para o Rio de Janeiro com planos de se tornar empresário. Tinha projetos de canalização de córregos para abastecimento de água, mas não obteve apoio financeiro. Sua viagem ao Rio, porém, não foi em vão. Ali conheceu José Álvares Maciel, que possuía a mesma idéia de libertação, e teve contato com notícias da luta pela independência dos Estados Unidos. Assim, uniam-se os caminhos que levariam à Inconfidência Mineira.Idealismo Tiradentes foi enforcado em 21 de abril de 1792, como exemplo para que outros movimentos revolucionários não ocorressem. Depois de morto e esquartejado, partes de seu corpo foram pregadas em postes espalhados pelos caminhos de Minas Gerais. Sua cabeça deveria ficar exposta também, mas foi roubada e nunca mais apareceu. Suas propriedades foram tomadas; sua casa, arrasada; e a terra, salgada, para que nada mais pudesse crescer ali. O idealismo de Tiradentes, seu compromisso com a libertação do Brasil e a crueldade dos castigos que sofreu o transformaram em um símbolo, um herói da Independência.Traição e Castigo Os revoltosos de Minas Gerais esperavam a derrama para começar a sua revolução. Assim que os impostos atrasados começassem a ser cobrados, os participantes seriam avisados pela senha "Hoje é o dia do batizado" e saberiam que era a hora de lutar. Mas a cobrança foi sendo adiada e depois suspensa. Meses se passaram e, antes que qualquer ação fosse realizada, o movimento foi traído e dezenas de pessoas foram presas.Perdão de Dívidas Entre os revoltosos, havia um homem que devia uma quantia imensa à Coroa. Era Joaquim Silvério dos Reis. Seu interesse na Inconfidência era apenas financeiro. Quando a derrama foi adiada, ele achou que era melhor mudar de lado em troca do perdão de suas dívidas. Em março de 1789, ele delatou os companheiros, contou tudo o que sabia e traiu o movimento pela libertação do Brasil.Prisão e Morte A reação do governo foi rápida. Os inconfidentes foram presos, um a um. Tiradentes estava no Rio de Janeiro, onde tinha ido buscar apoio para a revolta. Perseguido, escondeu-se em casa de amigos, mas no dia 10 de maio de 1789 foi encontrado e preso. O processo para a apuração das culpas demorou dois anos. Trinta e quatro pessoas foram presas, sofreram maus-tratos e foram aterrorizadas na prisão. O poeta Cláudio Manuel da Costa, depois de confessar sua culpa, acabou morrendo em sua cela.Ataques e Culpas Durante o processo, muitos dos inconfidentes, apavorados, negaram participação no movimento, colocaram a culpa uns nos outros ou apontaram Tiradentes como o líder da conspiração. Alguns homens muito ricos, que efetivamente participaram do movimento, conseguiram ser excluídos do processo, fazendo acordos com as autoridades em Minas Gerais.Sentença Cruel O castigo imposto aos revoltosos foi extremamente duro. O julgamento já demonstrava que a Coroa portuguesa usaria o episódio como exemplo a quem mais quisesse se revoltar. Onze dos inconfidentes foram condenados à morte, mas depois a sentença foi mudada para prisão ou degredo. Somente Tiradentes foi enforcado, no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro.O Legado de Tiradentes Após a morte, a figura de Tiradentes ficou esquecida, ou melhor, adormecida na memória do país. Era retratado como louco, traidor ou como um homem sem qualquer importância. Não se aceitava que um simples alferes do Exército tivesse comandado o movimento de libertação, enquanto havia no grupo homens letrados, intelectuais e ricos fazendeiros. Mas Tiradentes e seu grupo mostraram que era possível sonhar com uma pátria brasileira. Depois deles, outras revoltas surgiram, o poder da Coroa portuguesa foi posto à prova e se espalhou a idéia do direito à Independência.Revoltas pela Independência Em 1798, aconteceu na Bahia a Conjuração dos Alfaiates, da qual participaram pessoas do povo, como negros e mulatos livres, artesãos, soldados, padres e alguns alfaiates, o que deu o nome à revolta. Desejavam proclamar a República, o fim da escravidão e o comércio livre entre o Brasil e outras nações. O movimento apenas divulgou panfletos com as idéias revolucionárias, o que bastou para que Portugal mandasse executar quatro dos líderes. Assim como Tiradentes, foram enforcados e esquartejados.Revolução Pernambucana Em 1817, o Nordeste brasileiro vivia na miséria e na fome, pressionado pela seca, pelo descaso, pelos impostos cada vez mais altos e pela crise da exportação do açúcar. Padres, militares e proprietários de terras uniram-se pela Independência do Brasil e pela Proclamação da República. Chegaram a tomar o poder em Pernambuco, mas a resposta dos portugueses foi rápida. Em 10 de julho de 1817, foram enforcados os quatro líderes do movimento, que tiveram mãos e cabeças cortadas e seus corpos amarrados à cauda de cavalos e arrastados.Liberdade, ainda que Tardia Depois de tantas revoltas, o domínio português nunca mais foi o mesmo. As idéias de liberdade espalharam-se pelo país. Trinta anos depois da morte do alferes mineiro, em 1822, o Brasil se tornou independente, pelas mãos de D. Pedro I, neto da rainha Dona Maria, que mandou executar Tiradentes. Quando veio a Proclamação da República, em 1889, a figura de Tiradentes foi recuperada como um dos heróis da pátria.O Esplendor do Ciclo do Ouro Enquanto os inconfidentes planejavam a Independência, o Ciclo do Ouro das Minas Gerais estava chegando ao fim. Esgotadas as minas, as cidades perderam muito do seu brilho. Mas a arte barroca sobreviveu. A riqueza dessa época durou pouco, mas deixou obras maravilhosas que permanecem até nossos dias.Escola Literária Nos anos de apogeu do ouro, surgiu uma escola literária chamada Arcadismo Mineiro. Vários poetas importantes fizeram parte dessa escola, como Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), José Basílio da Gama (1741-1795), Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) e Alvarenga Peixoto (1744-1792).Arte Barroca O estilo barroco predomina na arte e na arquitetura das cidades históricas de Minas Gerais, como Mariana, Sabará, Ouro Preto e São João del Rey. O principal traço do estilo barroco mineiro é a profunda ligação da arquitetura com a decoração, a pintura e a escultura. A arte barroca mineira incorporou materiais locais como a pedra-sabão. Negros e mulatos também foram artistas importantes, marcando com seu estilo a arte do século XVIII e do início do século XIX.Mestre Ataíde O alferes Manuel da Costa Ataíde, conhecido como Mestre Ataíde, foi um grande artista mineiro. Deixou belas pinturas em forros de igrejas. Suas obras mais admiradas são o teto da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, e o quadro representando A Santa Ceia. Nascido em Mariana, em 1762, foi dourador, entalhador, professor de pintura, músico e arquiteto. Mestre Ataíde também contribuiu com a arte do escultor e arquiteto Aleijadinho, fazendo a encarnação (técnica de colorir as imagens dando o tom de pele humana) em muitas das esculturas do maior artista da época.Aleijadinho Considerado um dos artistas brasileiros mais importantes de todos os tempos, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu por volta de 1730 (não existem documentos precisos da data), em Vila Rica. Mulato, era filho do arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e de uma escrava africana de nome Isabel. Artista versátil, foi escultor e arquiteto, deixando inúmeras obras que atestam seu talento.Arte Religiosa Quando tinha cerca de 40 anos, Aleijadinho contraiu uma doença que lhe rendeu o apelido pelo qual ficou conhecido. Perdeu os dedos das mãos e passou a esculpir com o cinzel e o martelo amarrados aos punhos. Foi dessa forma que o artista esculpiu suas obras mais consagradas. Entre elas as 66 figuras de cedro, que representam episódios da vida de Cristo, Os Passos da Paixão, expostas no santuário da Igreja de Senhor Bom Jesus de Matozinhos; e Os 12 Profetas, esculturas de pedra-sabão, que estão no pátio do mesmo templo. São obras que, apesar do tempo, permanecem embelezando a pacata cidade mineira de Congonhas do Campo.Artista Eterno A criatividade de Aleijadinho o acompanhou por toda a vida, mesmo quando já não podia esculpir ou desenhar. A doença que sofria, chamada zamparina, fez com que passasse a dirigir seus auxiliares e aprendizes nos trabalhos. O artista morreu em 18 de novembro de 1814, com mais de 70 anos.Vila Rica das Artes Aleijadinho viveu em Vila Rica, a capital da Capitania das Minas Gerais e o local para onde convergia todo o ouro extraído nas minas. A cidade era o centro econômico e cultural da Colônia e essa riqueza estimulava as construções: igrejas, sobrados, fontes. Aleijadinho contribuiu bastante para a beleza da cidade, com suas esculturas de santos e trabalhos de madeira e de pedra-sabão.A Fé e a Arte Religiosa As igrejas tinham grande importância nas vilas e cidades mineiras. Elas eram o centro da vida cultural e a fonte de inspiração para artistas. Até hoje, a arte sacra e a arquitetura barroca das igrejas retratam seu valor na organização social da época.Música Sacra Muitas igrejas formavam corais e orquestras com órgão, violoncelo, trompa e harpa. Os compositores criavam músicas e cantos religiosos. Em São João del Rey, em 1776, foi formado o primeiro conjunto musical profissional brasileiro, na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, composto por negros e mulatos.Festas Religiosas Um dos maiores eventos nas vilas mineiras eram as festas religiosas que duravam dias, reunindo milhares de pessoas. A preparação para a festa, com palanques, arcos, jardins suspensos, carros alegóricos e tapetes de flores nas ruas, impressionava e mostrava a força das irmandades e a sua fé.Enfeites Barrocos A arte barroca floresceu nesse ambiente, patrocinada pelo ouro dos donos das lavras. Ela pode ser encontrada ainda hoje em altares, esculturas, pinturas, fachadas, vitrais e peças de decoração.Irmandades Religiosas Na região das minas, a expulsão dos frades acusados de contrabando não significou o fim da religiosidade. A devoção aos santos era parte integrante da vida das comunidades. Assim, organizaram-se irmandades religiosas, formadas por pessoas de mesma condição social, que tinham gosto especial pelo mesmo santo. Os donos de terras e proprietários de lavras se reuniam na Irmandade do Santíssimo Sacramento. Os negros escravos organizavam-se na Irmandade do Rosário e os negros libertos, na de São José.Os Profetas de Aleijadinho Sob o céu da cidade mineira de Congonhas do Campo, Os 12 Profetas, esculpidos em pedra-sabão, parecem pregar a palavra de Deus pelos séculos afora. São belos exemplos da arte religiosa produzida no período de esplendor do ouro. O tempo, porém, tem sido cruel com essas obras, desgastando a pedra que ganhou vida com a arte de Aleijadinho.Ouro Preto em três momentosFinal do século XVII Em 1698 foi encontrado ouro na região próxima à atual cidade de Ouro Preto. A descoberta atraiu aventureiros que chegavam de toda a parte. Rapidamente, os acampamentos dos mineiros se transformaram na cidade de Vila Rica.1788/1792 Menos de 100 anos depois, Vila Rica era a capital de Minas Gerais. Os impostos e a ganância de Portugal levaram um grupo de brasileiros, entre eles Tiradentes, a lutar pela independência do país.1981 até nossos dias Um século de riqueza deixou marcas na cidade. Rebatizada como Ouro Preto, foi declarada patrimônio da humanidade em 1981 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). As igrejas da cidade guardam ainda hoje belas obras de arte do século do ouro.

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