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terça-feira, 17 de junho de 2014

DICA LITERÁRIA: |Resenha| A Garota que tinha Medo - Breno Melo.

Diagnosticada com a síndrome do pânico, tudo o que Marina deseja é encontrar um lugar confortável neste mundo. Numa narrativa em primeira pessoa, detalhada e realista, Marina nos expõe sua vida amorosa e sexual, universitária e profissional, religiosa e familiar. Psiquiatras e psicólogos fazem os papéis de heróis neste livro tão impactante quanto revelador, que tem suas partes de amizade e amor ao próximo. Como não se emocionar com Péqui ou não se apegar ao veterano de guerra que cuida de Marina? A agorafobia é outro tema abordado de maneira tocante nestas memórias. Um drama original, escri- to em linguagem incrivelmente acessível, para quem deseja conhecer a síndrome do pânico, seus possíveis desdobramentos em nossas vidas e aqueles tratamentos mais famosos. Um romance moderníssimo, humano e esclarecedor.

Sou dessas que vive zapeando pela internet à procura de boas indicações e, entre tantas críticas e comentários eis que me deparo com a descoberta de novos talentos em meio a tantas indicações de Best sellers. Numa de tantas visitas a blogs literários me deparei com a resenha da minha amiga Vanessa do blog Diário de incentivo à leitura, na qual ela opinava a respeito da obra de Breno Melo. 
Nunca havia sequer ouvido falar sobre o autor até que após fazer uma breve pesquisa sobre sua carreira pude perceber que Breno não era um autor iniciante. Breno escreveu “Marta” publicado em 2010, mas somente após ler a resenha no blog da Vanessa que tomei conhecimento do seu trabalho. Pode parecer estranho, ou talvez, inadequado, mas o fato é que não acredito em coincidências. 
O livro do Breno chegou em minhas mãos através de um convite feito pelo próprio autor assim que ele tomou conhecimento do comentário que eu havia deixado no blog. Nele, eu expressava a minha vontade e curiosidade em conhecer o seu trabalho. Foi por meio daquela resenha que eu tive a certeza: EU PRECISO LER ESSE LIVRO! E foi assim que tudo aconteceu. 


Talvez vocês devam estar se perguntando o que esse livro tem de tão especial. Qual o motivo de tanta retórica para a apresentação de um livro? Bem, confesso que esta foi uma das leituras mais difíceis de toda a minha vida. Não porque o livro tenha uma linguagem rebuscada ou que o autor não tenha conseguido passar claramente a sua mensagem, não, pelo contrário. Breno Melo não poderia ter sido mais objetivo. Na verdade Breno conseguiu atingir em cheio o ponto mais crítico de todos: a minha alma. Posso dizer, como quem sente na pele e sabe o que como é difícil conviver com essa doença. 


Quem tem o costume de me acompanhar pelas redes sociais ou até mesmo através das minhas postagens no blog sabe o quanto sou passional em minhas resenhas. Sabe o quanto me entrego às leituras e não meço esforços quanto ao desejo de esmiuçar minhas emoções. Por mais que lhes pareça estranho esse discurso, gostaria de pedir lhes a vossa atenção. 


A garota que tinha medo é um livro que aborda um tema sério e muito delicado. Nele Breno Melo nos apresenta o cotidiano de Marina, uma jovem que sofre com a “Síndrome do Pânico”. 
Marina aparentemente levar uma vida comum, mas convivia com a síndrome desde os dezoito anos de idade. Marina era uma pessoa muito perfeccionista e, isso se tornava ainda mais difícil graças às cobranças incessantes de sua mãe que não lhe dava sossego, perseguindo e pressionando sempre que possível. A mãe de Marina era tão controladora que acabou obrigando a filha se inscrever em várias instituições de ensino, mas felizmente Marina conseguiu entrar para aquela que desejava - a Universidade Católica de Assunção para cursar Jornalismo. 


Marina era uma garota sensível e tinha como hobby fotografar. Marina tinha um olhar sensível sobre as coisas e, era justamente durante o momento em que fotografava que ela percebia o quanto seu olhar era diferente dos demais. Na maioria das vezes torna-se ainda mais difícil para aqueles que possuem tal sensibilidade tornarem-se alheio as diferenças. O fato era que Marina não conseguia enxergar o lado “positivo” das coisas, ou seja, tudo lhe parecia não fazer sentido. Para pessoas que sofrem com a síndrome isso é muito comum e, saberemos mais adiante como compreender essa doença que por muitos é intitulada como “coisa de gente fresca”. 


“Alguém programou minhas esperanças no “modo negativo”, em vez de programá-las no “modo positivo”. Eu receio o que acontecerá no minuto seguinte. Me preocupo facilmente, tento colocar cada coisa em seu devido lugar para evitar imprevistos, odeio novidades ou situações que fujam do meu controle. Tenho medo de tudo, especialmente do desconhecido. Sou ansiosa e sofro antecipadamente. Me contrate como operária para construir um prédio e eu estarei erguendo o segundo andar antes de ter concluído o primeiro.” 


Marina convivia com o estresse de ser aprovada em uma das universidades na qual se inscrevera tentando incansavelmente corresponder às expectativas da mãe. A síndrome surgiu num desses momentos quando Marina mais parecia uma chaleira prestes a apitar. Seu pai ainda conseguia contornar a situação dizendo sempre a Marina para não ligar para as cobranças da mãe. Mas relaxar era a única coisa que Marina não conseguia fazer. Peça a uma pessoa panicosa para conter sua ansiedade e verá que achar uma agulha no palheiro é a coisa mais fácil do mundo. 


Após ser aprovada para a faculdade de Jornalismo na Universidade Católica Marina está pronta para uma nova etapa. Novos amigos, descobertas, conflitos e tudo isso vem à tona num dos momentos mais difíceis de sua vida. Lidar com a síndrome do pânico era algo impensável até mesmo para Marina que não compreendia suas crises e acessos de “loucura”. Esse termo que muitos de nós utilizamos para descrever quem sofre desta doença vai sendo desconstruído ao longo da narrativa. 


Por meio de uma história fictícia Breno Melo conseguiu nos transportar para um terreno frágil, ainda pouco explorado. Discutir sobre o assunto com tanta delicadeza e, principalmente, com muito respeito faz dele uma pessoa ainda mais admirável. Seu talento com a escrita é indiscutível e o leitor poderá comprovar isso a partir do primeiro parágrafo do livro. Hoje, a Síndrome do Pânico afeta milhões de pessoas em todo mundo e, por esse motivo vale ressaltar a importância de discutir sobre o assunto.


É impossível não se envolver e comover com a narrativa de Breno. Marina nos descreve coisas comuns do seu cotidiano, ora situações corriqueiras, ora situações extremamente delicadas. É importante salientar a preocupação do autor em descrever cada uma dessas situações com devido embasamento no assunto. Até mesmo para os leigos, a sua abordagem torna-se esclarecedora. 


O autor esclarece alguns estágios importantes da doença inserindo-os dentro da narrativa sem que tais informações tornem-se enfadonhas. Não obstante ele as descreve minuciosamente cada situação permitindo compreender a perspectiva de Marina sobre a doença. É evidente que entre as constantes crises que Marina enfrenta o autor mergulhou no assunto para apresentá-lo de maneira tão minuciosa. 


“A taquicardia e a dificuldade em respirar eram sintomas que mais me atormentavam. Porque primeiramente a ideia de infarto (e depois a de sufocamento) vinham à minha mente. As contrações de meu pescoço, quando finalmente se tornavam intensas, pareciam duas mãos apertando minha garganta. Além do mais, eu sempre ficava tonta e achava que desmaiaria, mas nunca desmaiava, apesar da tontura.” 


Mas apesar de tudo Marina é uma pessoa que leva a sua condição com leveza e humor sempre que possível tirando sarro da sua própria “desgraça” como ela mesma a descreve. Com muito sarcasmo Marina compartilha a visão distorcida e tendenciosa dos romances. Lembrando que tal observação se deve ao fato de que Marina não tem muito sucesso com seus relacionamentos. 


“O amor (especialmente aquele que aprendemos nos filmes de Hollywood e nos romances americanos) se parece mais com uma propaganda de margarina que com a vida real. Obviamente, o amor pode ser ótimo, mas é impossível que seja como Hollywood ou os romances o pintam. Eles pintam o amor como algo tão perfeito que já não pode ser praticado por pessoas reais, que são imperfeitas.” 


Além de questionamentos relevantes à síndrome o autor insere fatos históricos importantes a respeito do país em que vive a personagem. A princípio pode parecer estranho inserir tantos assuntos paralelos dentro da história, mas ao longo da narrativa conseguimos acompanhar o raciocínio lógico da personagem, tendo em vista que cada fato histórico ou religioso esteja intrinsecamente interligado na narrativa. 


É quase que impossível imaginar que numa história onde a personagem sofre com a síndrome do pânico, o autor possa recorrer sobre tantos assuntos. Temos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a verdadeira história da “Guerra Grande” ou “Guerra do Paraguai” assim conhecida por nós, brasileiros. 
Outro ponto notável da narrativa foi a discussão levantada sobre fé. O autor aborda o posicionamento do Protestantismo e do Catolicismo ao longo dos anos, assim como relaciona a história do Livro de Jó a vida de Marina. Definitivamente, pode parecer totalmente incompreensível que tantos assuntos diferentes possam coexistir dentro de uma única narrativa sem que nenhum deles se percam, já que o tema proposto é a doença de Marina. Mas não se deixe enganar pela minha descrição um tanto resumida. 


Temos a oportunidade de conhecer a fundo o que se passa pela mente de uma pessoa que sofre com a síndrome. Encaramos os fatos como devem ser encarados e, principalmente aprendemos a lidar com o preconceito já que muitos de nós ainda desconhecemos o assunto em questão. 


Para dar não deixar dúvidas que o apoio dos familiares e dos amigos é imprescindível, o autor insere personagens importantes que se apresentam ao longo da narrativa. Joana e Maitê são duas amigas da universidade que passam por situações bem constrangedoras ao lado de Marina. Sua relação com Péqui, sua amiga desde a infância também é comovente. Já não posso dizer o mesmo de sua mãe que me irritou completamente. Porém, há de se levar em conta sua ignorância em relação a doença da filha e a maneira como qualquer um de nós reagiria se estivéssemos na mesma situação. E o que dizer de Júlio, o namorado de Marina? Meu desprezo pelo personagem não permite que eu o leve em consideração.


“Dizem que não nascemos com a sensação de medo, mas que a adquirimos ou a aprendemos; e o aprendizado se dá através da observação de terceiros. Ver alguém com medo exagerado diante de um trovão ou de uma barata pode nos levar, na tenra infância, a acreditar que os trovões ou as baratas são exageradamente perigosos. E então crescemos com essa ideia adormecida em algum lugar das nossas mentes. Numa linguagem mais clara, nossos medos irracionais estão em nosso inconsciente, nesse terreno em que quase ninguém pisa.” 


Termos como “Ansiedade antecipatória”, “Agorafobia”, “esquiva fóbica”, assim como outros termos relacionados à síndrome são esclarecidos ao longo da narrativa para que o leitor compreenda melhor a doença. Além de agradável, a leitura torna-se enriquecedora a cada virada de página. É praticamente impossível não se emocionar com Marina. Vibramos do início ao fim da narrativa com cada uma de suas conquistas, assim como nos entristecemos com a ignorância daqueles que desconhecem o assunto e tratam os "panicosos" com desdém ou desprezo.


É importante ressaltar a importância dessa obra para aqueles que sofrem com a doença, e principalmente, para aqueles que a desconhecem. A garota que tinha medo é um livro para ser lido com bastante cautela, preferencialmente num momento em que você possa se dedicar exclusivamente a ele para que sua atenção esteja totalmente voltada ao livro. Confesso que posterguei ao máximo o término dessa leitura, pois não conseguia mais distinguir quem ditava o ritmo da narrativa, se era eu ou a personagem. De qualquer maneira termino a leitura com a sensação de ter superado cada situação vivida por Marina. Só quem sofre com a doença, já sofreu, tem algum amigo ou familiar na mesma situação saberá compreender o quanto é difícil falar, ler e abordar o assunto. 


O livro é dividido em sete partes cada um apresentando um estágio da doença. Não pense que o livro é feito um muro de lamentações porque ele não é. Apesar de tudo, Marina é uma jovem bem humorada. Suas reflexões e questionamentos são sempre coerentes e acabam refletindo um pouco de cada um de nós. 


“Embora eu possa ser feliz, minha felicidade certamente não será a propagada pelos filmes de Hollywood, nem aquela vivida pelas protagonistas de romances americanos. Eu realmente gostaria de ser a mocinha de algum romance de Nicholas Sparks, triste agora e feliz no parágrafo seguinte como só os americanos sabem ser, mas acontece que não sou. A vida real, reproduzida em tramas populares, não é mais que uma exageração dos fatos e uma simplificação das causas que levam a eles.” 


A edição do livro está impecável. A capa do livro é belíssima transmitindo perfeitamente a mensagem contida no livro. Gostaria de agradecer imensamente ao autor pela oportunidade e dizer que sua obra foi um divisor de águas na minha vida. Que jamais conseguirei exprimir o quanto sua obra foi providencial. E acima de tudo, dizer que a partir dessa obra ele ganhou mais uma fã. Daqui por diante quero conhecer todos os trabalhos que o autor vier a publicar. Espero sinceramente que todos possam ter a oportunidade de conhecer o seu talento. 


Avaliar o livro com cinco estrelas? Não. Para A Garota que Tinha Medo, uma constelação inteira! 

Título: A Garota Que Tinha Medo
Autor: Breno Melo
Editora: Schoba
Número de Páginas: 252
Ano de Publicação: 2013

http://www.cacholaliteraria.com.br/2014/06/resenha-garota-que-tinha-medo-breno-melo.html

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