A história retrata a vida de Georgia Castro, uma menina mulher em seus vinte e dois anos que acabou de perder o pai. Inconformada com a morte de seu pai - e também melhor amigo, Georgia entra em depressão. Sua psicóloga aconselha-a a escrever para o seu pai ou manter um diário pois Georgia gosta muito de escrever. A partir daí, Georgia começa a escrever cartas para a Aceitação, pedindo para que ela bate à sua porta. As cartas são uma espécie de diário e Georgia trata a Aceitação como sua confidente. Ela conta sobre a história de amor de seus pais, sobre a história de sua família, o falecimento de seu pai e as intrigas em família que decorreram do falecimento.
Além da questão familiar e do processo de luto, Georgia também desabafa sobre sua vida amorosa, pois o cara de quem gostava não quis mais ficar com ela após a morte de seu pai. Com mais essa perda, ela começa a lembrar do péssimo ex-namorado que marcou muito a vida dela e da sucessão de casos amorosos mal sucedidos depois dele. Tentando seguir a vida, Georgia termina a faculdade de Economia e conta sobre a formatura, o primeiro emprego, suas saídas com os amigos e novos amores.
Basicamente, Cartas para você conta o processo de superação da morte de seu pai, sobre amadurecer e confiar em si mesma para tomar as decisões e acima de tudo, voltar a viver mesmo sentindo saudade.
Estou aqui mais uma vez para falar e destacar a literatura nacional. Recebo todos os dias vários e mails no qual autores nacionais apresentam suas obras convidando-me a resenhar seus livros, mas nem sempre é possível aceitar todos os convites. Um dos critérios para a escolha dos livros é encontrar alguma identificação com o gênero proposto já que não vale a pena resenhar algo que eu não me identifique, não é mesmo? E foi por esse motivo, e outro um tanto óbvio que decidi aceitar o convite da autora Duda Razzera.
Um dos fatores predominantes foi a belíssima ilustração da capa do livro. Gostei da sua delicadeza, da escolha dos traços que compõem a ilustração, ou seja, tudo me fazia crer que seria um livro sensível, delicado. E claro, a premissa do livro deixava implícito que possivelmente seria uma comovente história de amor e devoção.
Vejamos: a premissa do livro é bem interessante. A protagonista Georgia assim como a autora perdeu o pai aos vinte poucos anos de idade. Provavelmente muito das emoções sentidas pela própria autora estão contidas em sua personagem. Aqui realidade e ficção se esbarram e caminham lado a lado. E é por isso que a história de Duda é tão peculiar, particularmente única no ponto de vista literário. A sinopse já nos dá uma boa noção do que está por vir, por esse motivo não acho válido entrar em maiores detalhes.
Para conter um pouco do sofrimento Georgia passa a escrever cartas para expressar seus sentimentos na tentativa de aliviar a ausência do pai. A princípio Georgia não compreendia muito bem o sentido de escrever sobre o que sentia, já que assim ela só passaria a relembrar ainda mais a falta do pai, porém Georgia estava disposta a seguir as instruções de sua psicóloga.
Sabe aquele velho ditado: “Fulano comeu o pão que o diabo amassou”, então, isso é fichinha no caso de Georgia. Nossa mãe! Georgia passou por tudo de desgraça que vocês possam imaginar até a perda do pai. Apesar de tudo Georgia, os pais e a irmã conseguiram superar os contratempos da vida. E olha que não foram poucos. Porém, o pai de Georgia era sua base, sua sustentação. Era ele que a compreendia, que a mantinha segura diante suas falhas e inseguranças e, por esse motivo sua perda tenha sido irremediavelmente tão profunda.
Ao longo das páginas vamos acompanhando um diálogo incessante de revolta e questionamento sobre suas dores com aquela que no entendimento de Georgia devia ser questionada desde o início: a querida Aceitação. Georgia se refere à Aceitação com um tanto de revolta e desprezo, porém ao longo das cartas ela consegue encontrar um meio termo para dialogar com sua própria consciência.
O livro possui inúmeros trechos emocionantes que descrevem o convívio que Georgia vivenciou com o pai, mas um dos mais marcantes, sem sombras de dúvidas, é o discurso preparado por Georgia para sua formatura.
Apesar da mensagem do livro ser digna de muito respeito e admiração confesso que a sua linguagem me incomodou bastante ao longo da leitura. Ainda que sua linguagem seja intencional, já que a história é direcionada por cartas eu não me senti confortável durante a leitura. A linguagem é simplória, ora repetitiva demais tornando alguns momentos da leitura um tanto cansativa. A minha estratégia foi a seguinte: tentei separar as duas coisas ainda que isso pareça impossível. Consegui encontrar uma maneira de apreciar a leitura respeitando e captando toda sua essência tentando me conectar apenas a ela. Consegui curtir a leitura de um modo geral ainda que a linguagem utilizada pela autora não tenha me agradado entre um capítulo e outro.
Cartas para Você é um livro tocante e que emociona o leitor com sua linda mensagem de superação. Georgia é a prova de que conseguimos sobreviver a tudo se tivermos fé, determinação e, principalmente o apoio dos nossos entes queridos. A aproximação com a mãe e a irmã também foi um ponto da narrativa que merece destaque.
A autora ainda apresenta diversas referências ao longo da narrativa que contribuem para a sua fluidez e que todo leitor poderá facilmente encontrar alguma identificação.
“Li em algum lugar que, na verdade, o tempo não cura nada, ele só tira o incurável do centro das atenções. Até mesmo na série que adoro, The Walking Dead, o escritor Kirkman descreve: “A dor não passa, você só se acostuma com ela”.
“Stephen Chbosky, autor de um dos meus livros preferidos, o que deu origem a toda essa onda de cartas para você, escreveu: “Eu não sei se você já se sentiu assim. Querendo dormir por mil anos?”.
Entre tantas referências o capítulo 51 traz citações da autora Bruna Vieira que assim como Georgia, todos os leitores irão se identificar em algum momento. Foi de extrema valia a inserção de tais reflexões para que todos nós saibamos distinguir a diferença entre aquilo que realmente somos e a realidade inventada e velada exposta na internet através das redes sociais.
“ Eu estava despretensiosamente lendo Depois dos Quinze, de Bruna Vieira, e me deparei com o capítulo “Eu te amo e enter” e percebi que isso define muito essa minha procura por alguém que preencha o meu vazio.
Nesse capítulo, ela descreve a era virtual em que nasci. Bastam duas ou três horas de conversa para sabermos tudo o que se tem para saber um do outro. Os sonhos, os medos, as frustrações. Ou pode ser nem tanta coisa assim, mas já sabemos muito mais do que saberíamos se estivéssemos m uma conversa olho a olho.
[...] Eu sempre achei que tudo fosse lindo on-line, mas a Bruna diz exatamente o contrário: “As pessoas nunca são felizes na internet, Caio F. Abreu nunca foi tão citado”. E é verdade. Eu mesma já citei esse autor umas mil vezes desde que meu pai faleceu. É sempre mais romântico sofrer com classe, né?”.
Bem, pelo que vocês podem notar Cartas para Você não é um livro que irá focar o sofrimento em si como algo irremediável. Duda nos demonstra sabedoria em cada palavra e vai conduzindo sua narrativa com muita delicadeza, tirando o recadinho um tanto "revoltado" direcionado ao seu ex-namorado, que diga-se de passagem foi "demais"!
Felizmente a editora Novo Século fez um excelente trabalho. A edição e revisão do livro não deixaram a desejar, Nossa! Pensei que nunca viria um livro editado pela editora através do selo direcionado a literatura nacional sendo publicado como os demais títulos do selo principal. Respeito aos autores nacionais é o que todos desejamos!
Em suma gostaria de recomendá-los a leitura e dizer, que apesar da premissa simples o livro poderá surpreendê-los. Cartas para Você é um livro que possuí uma linda história de amizade, amor e cumplicidade. A autora mantém um blog onde posta dicas para escritores, resenhas, além de textos que contam um pouco da sua história.
Visite: http://www.dudarazzera.com
“Eu gosto de palavras, mas também gosto de sentir pele na pele, ver sorrisos e até mesmo lágrimas”.
Título: Cartas para Você - Só o tempo pode curar uma perda
Autor(a): Duda Razzera
Editora: Novo Século
Páginas: 215
http://www.cacholaliteraria.com.br/2014/06/resenha-cartas-para-voce-duda-razzera.html
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