Dentre as centenas de substâncias nocivas do cigarro, podemos citar a acetona (usada como solvente de esmaltes, tintas e vernizes), amoníaco (utilizado em produtos de limpeza e fertilizantes), arsênio (presente em venenos de rato, inseticidas e herbicidas) e o monóxido de carbono (gás tóxico que sai dos escapamentos dos carros).
Apesar das informações acima já serem suficientes para afirmar que o cigarro é um produto extremamente tóxico e perigoso, por incrível que pareça, a realidade é ainda pior. Além de todas essas substâncias químicas tóxicas, o cigarro também contém substâncias altamente radioativas, como o polônio-210 e o chumbo-210.
Mas se você está surpreso por nunca ter ouvido falar que cigarros são produtos que emitem radiação ionizante, saiba que essa informação já é conhecida pela comunidade científica desde a década de 1960. Aliás, há pelo menos 50 anos que a indústria do tabaco tem conhecimento da presença de elementos radioativos em seus cigarro e nada faz para removê-los. Pelo contrário, toda as pesquisas sobre o assunto patrocinadas pela própria indústria foram escondidas do público nas últimas décadas.
Neste artigo vamos explicar em detalhes que tipo de radiação o cigarro produz, qual é a sua quantidade e quais são os seus riscos para os fumantes e para as pessoas à sua volta.
Se você quiser saber mais sobre os danos que o cigarro pode provocar à sua saúde, leia também: DOENÇAS DO CIGARRO – Como Parar de Fumar.
Onde podemos encontrar radiações ionizantes e não-ionizantes
Antes de falarmos especificamente sobre a radiação dos cigarros, faz-se necessário esclarecer conceitos básicos sobre o termo radiação. Entender essa parte do texto é importante para que você, mais à frente, consiga ter a dimensão do quão grave é a radiação que um fumante é exposto ao longo de décadas de fumo.A maioria das pessoas quando ouve falar de radiação pensa imediatamente em materiais radioativos produzidos por usinas nucleares ou bombas atômicas. Mas ser exposto à radiação é algo extremamente comum, muito mais do que você imagina. Radiação é qualquer propagação de energia de um ponto ao outro. Por exemplo, as ondas eletromagnéticas dos rádios, das emissoras de TV, dos telefones celulares, dos aparelhos de micro-ondas e a própria luz são formas de radiação. Essas radiações, porém, são inofensivas, pois fazem parte do grupo de radiações não-ionizantes.
Considera-se uma radiação ionizante aquela que tem energia suficiente para arrancar elétrons dos átomos, ou seja, que são capazes de ionizar átomos. No nosso organismo, a ionização de átomos pelas radiações ionizantes provoca lesões do DNA, dos cromossomos e das proteínas celulares. Quando a exposição é alta e aguda, ele costuma ser letal, como foram os casos do acidente radiológico em Goiânia com Césio-137 e do acidente nuclear de Chernobyl, ambos na década de 1980. Mas a exposição à radiação ionizante é perigosa mesmo em doses baixas, caso ela seja frequente, pois está associada a um maior risco de formação de cânceres.
O interessante nessa história é que a radiação ionizante não tem origem apenas em materiais radioativos produzidos pelo homem, há radiação ionizante de origem natural no ar que respiramos, na comida que comemos, nas paredes dos edifícios e no solo que pisamos.
Há também radiação de origem cósmica, que atinge nosso planeta, mas que felizmente é filtrada em boa parte pela nossa atmosfera e pelo campo magnético terrestre. A quantidade de radiação ionizante que recebemos em elevadas altitudes é maior do que a quantidade que recebemos quando estamos a nível do mar. Durante uma viagem de avião, por exemplo, recebemos mais radiação do que o habitual.
Logicamente, a quantidade total de radiação ionizante nessas fontes citadas acima é mínima, não sendo suficiente para causar danos à nossa saúde. Portanto, chamamos de radiação de fundo a quantidade de radiação ionizante que o nosso ambiente emite de forma natural, boa parte dela pela presença do elemento químico radônio no ar.
Veja na tabela abaixo a quantidade de radiação ionizante que algumas fontes naturais e artificias emitem. A unidade para medir a radiação utilizada abaixo é o milisievert (mSv):
- Radiação ionizante natural de fundo que uma pessoa é exposta ao longo de 1 ano inteiro ao nível do mar → 2 a 3 mSv (dependendo do local).
- Radiação ionizante presente em uma banana (devido à radiação produzida pelo potássio) → 0,0001 mSv.
- Radiação ionizante presente em 100 gramas de castanha do Pará (alimento mais radioativo conhecido, rico em potássio e rádio) → 0,01 mSv.
- Radiação ionizante de uma única radiografia de dente → 0,005 mSv.
- Radiação ionizante de uma única radiografia do braço → 0,01 mSv.
- Radiação ionizante de uma única radiografia de tórax → 0,02 mSv.
- Radiação ionizante emitida ao longo de um ano por uma casa construída por pedra, tijolo ou concreto → 0,07 mSv.
- Radiação ionizante que uma pessoa é exposta em uma viagem transatlântica de avião → 0,08 mSv.
- Dose anual média de radiação que um trabalhador de usina nuclear recebe → 0,18 mSv.
- Radiação ionizante de uma única tomografia computadorizada de crânio → 2 mSv.
- Radiação ionizante que uma pessoa atualmente recebe se ficar durante 1 hora na usina nuclear de Chernobyl → 6 mSv.
- Radiação ionizante de uma única tomografia computadorizada de abdômen → 8 mSv.
- Dose média de radiação ionizante recebida pela tripulação de voos transatlânticos ao longo de 1 ano → 9 mSv.
- Dose máxima anual de radiação ionizante permitida por lei para uma pessoa que trabalha com exposição à radiação → 20 mSv.
- Dose anual de radiação ionizante claramente associada ao surgimento de cânceres → 100 mSv.
- Dose de radiação ionizante recebida em curto intervalo de tempo capaz de provocar alterações imediatas nas células do sangue → 100 mSv.
- Dose de radiação ionizante recebida em curto intervalo de tempo capaz de provocar sintomas de intoxicação por radioatividade → 400 mSv.
- Dose de radiação ionizante recebida em curto intervalo de tempo que é potencialmente fatal → 4000 mSv.
- Dose média de radiação ionizante recebida pelos trabalhadores de Chernobyl que morreram no primeiro mês após o acidente → 6000 mSv.
- Dose de radiação ionizante recebida em curto intervalo de tempo que é fatal, mesmo com pronto atendimento médico → 8000 mSv.
Quantidade de radiação recebida por um fumante
Agora que já temos uma noção básica dos perigos da radiação ionizante e das doses de radiação de várias fontes naturais e artificiais, podemos focar nosso artigo na radioatividade do cigarro.Os cigarros são radioativos porque contêm polônio-210 e chumbo-210. Esses elementos penetram nas lavouras de tabaco por causa do tipo de fertilizante habitualmente utilizado para o seu cultivo. Uma vez que a folha de tabaco absorva elementos radioativos, não há como retirá-los.
Estudos científicos publicados nos últimos 50 anos mostram que uma pessoa que fuma diariamente um maço e meio de cigarros ao longo de um ano recebe cerca de 4,6 mSv de radiação causada pela presença de polônio-210 e chumbo-210 . Essa quantidade de radiação, que é cerca de 50 a 100% maior que a radiação natural de fundo, não parece, à primeira vista, algo muito grave. O problema, porém, é a forma como esses elementos radioativos se acumulam no pulmão. Nos fumantes, o alcatrão presente no cigarro tende a se depositar nas áreas de bifurcação dos brônquios, absorvendo consigo quantidades relevantes de polônio e chumbo radioativos.
Esse acúmulo de material radioativo nos brônquios expõe o pulmão do fumante a níveis elevados de radiação. Um pessoa que fuma cerca de 30 cigarros por dia (1 maço e meio) chega a receber ao longo do ano uma radiação de 80 a 160 mSv em determinados pontos do pulmão. Reparem na gravidade dessa dose de radiação. Se usarmos a estimativa mais baixa de radiação (80 mSv por ano), ainda assim o consumo diário de 1,5 maço de cigarros por ano equivale a:
- Radiação cumulativa equivalente a 4000 radiografias de tórax.
- 444 vezes mais radiação anual que um trabalhador de uma usina nuclear recebe.
- 40 vezes mais que a radiação natural de fundo.
- 4 vezes a dose anual máxima permitida para pessoas que trabalham com radiação.
Fumantes são radioativos?
Se nós dizemos que há acúmulo de material radioativo no pulmão de fumantes, é natural que você imediatamente questione se o seu amigo ou familiar fumante que está ao seu lado é uma potencial fonte de radiação. A resposta é sim e não.A resposta é sim, se vocês morarem juntos e você for um fumante passivo. Cerca de 75% do polônio-210 presente na fumaça do cigarro não é absorvida pelo próprio fumante e acaba se espalhando pelo ar, podendo ser inalada por não-fumantes ao seu redor. A quantidade total de polônio-210 absorvida por fumantes passivos é desconhecida, mas ao longo de anos de exposição é provável que ela seja relevante.
Por outro lado, a resposta é não, caso o seu contato com o fumante se dê somente quando ele não está fumando. Apesar de haver material radioativo depositado nos pulmões do fumante, a radiação emitida pelo Po-210 é do tipo alfa, que tem baixa capacidade de penetrar os tecidos. Isso significa, portanto, que a ação radioativa do Po-210 fica restrita a pequenas regiões dos pulmões, apenas onde há depósito de material radioativo. Você pode até abraçar o seu amigo fumante, que nenhuma radiação extra irá lhe atingir.
https://www.mdsaude.com/2016/03/cigarros-sao-radioativos.html
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