1. Rúbrica ou rubrica? Colméia ou colmeia?
Temos uma norma ortográfica, mas nunca teremos uma norma fonética. Os estudiosos se dividem, argumentam, explicam e cabe a nós, falantes da língua portuguesa, escolher uma ou outra proposta.
É importante lembrar que, neste assunto tão movediço da língua falada, qualquer opinião imperativa (= “não pode”, “é proibido”, “está errado”) é perigosa. Trata-se de uma opinião que deve ser respeitada, mas nunca vista como uma verdade absoluta. Devemos seguir os mais conceituados e, em casos divergentes, aceitar as duas opções como variantes legítimas.
O que não podemos esquecer é que a fala vem primeiro e a escrita vem depois. A escrita é uma tentativa de representar, com sinais gráficos, uma realidade sonora.
É absurdo afirmarmos que o “certo” é rubrica (=a sílaba tônica é “bri”), porque não tem acento na escrita. O fato é o inverso: devemos escrever sem acento, porque rubrica é um vocábulo paroxítono (pronúncia normal para uma palavra terminada em “a”). Se, com o tempo, a pronúncia /rúbrica/ for consagrada pelo uso da maioria dos falantes, a língua padrão tem a obrigação de aceitar as duas opções, como já aconteceu com tantas outras: acróbata e acrobata, biótipo e biotipo...
As diferenças regionais também devem ser respeitadas: poça (/pôça/ ou /póça/), pego (/pégo/ ou /pêgo/), grelha (/grêlha/ ou /grélha/)... Há também as diferenças entre o português falado no Brasil e o de Portugal: sílaba “tônica” aqui é sílaba “tónica” lá; sogros no Brasil é pronunciado com timbre fechado (/ô/), em Portugal é com timbre aberto (/ó/).
Muitos ensinam que devemos pronunciar “/colmêia/”, com timbre fechado, porque não tem acento gráfico: colmeia. Se fosse com timbre aberto, o ditongo “éi”, pela regra antiga, deveria receber acento agudo: colméia.
Temos aqui um belo raciocínio às avessas. Nos dicionários antigos, conservadores, lusitanos, palavras como “colmeia” e “centopeia” aparecem sem acento gráfico, porque, em Portugal, a pronúncia preferencial é com timbre fechado (/colmeia/ e /centopeia/). Mas não é assim que falamos no Brasil. Se aqui a maioria fala com timbre aberto (/éi/), os nossos principais dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras faziam muito bem em registrar colméia e centopéia, com acento agudo.
O principal objetivo do novo acordo ortográfico é unificar a grafia e não a fala. Se Portugal e Brasil pronunciam diferentemente palavras como colmeia, centopeia, assembleia e outras, isso não importa. O importante é que a grafia seja a mesma. Pelo novo acordo, o ditongo /éi/, nas palavras paroxítonas não haverá mais acento gráfico: ideia, estreia, assembleia, colmeia, centopeia...
2. Como é mesmo que se fala?
A pronúncia “correta” de algumas palavras sempre provoca discussões. Uma das dúvidas mais frequentes diz respeito ao timbre: a vogal tônica é aberta (/é/, /ó/) ou fechada (/ê/, /ô/)? Qual é a pronúncia correta: /pégo/ ou /pêgo/; /póça/ ou /pôça/?
Algumas palavras apresentam diferenças quanto à pronúncia brasileira e à lusitana. No Brasil, por exemplo, pronunciamos COLMEIA, CENTOPEIA e eu FECHO (do verbo FECHAR) com timbre aberto; Em Portugal, preferem COLMEIA, CENTOPEIA e eu FECHO com timbre fechado (/ê/).
Há também diferenças regionais: em São Paulo, a POÇA d’água apresenta timbre aberto (/póça/) e o particípio irregular PEGO (do verbo PEGAR) é pronunciado com timbre fechado (/pêgo/); no Rio de Janeiro, a POÇA d’água tem timbre fechado (/pôça/) e ele foi PEGO, com timbre aberto (/pégo/).
Os dicionários Aurélio e Houaiss afirmam que a pronúncia oficial do vocábulo OBESO é aberta (/obéso/). O Aurélio faz uma observação: no sul do Brasil, é frequente a pronúncia com timbre fechado (/obêso/). Acredito que a pronúncia com timbre fechado esteja se impondo em todo o país.
Na minha opinião, deveríamos considerar como “corretas” as duas pronúncias: /obéso/ e /obêso/. Isso não seria uma exceção, pois já ocorre com outros vocábulos. Os dicionários Aurélio e Houaiss consideram, por exemplo, BLEFE e GRELHA com dupla pronúncia.
Merecem atenção também as palavras que sofrem metafonia (mudança de timbre da vogal tônica no plural = /ô/ > /ó/): jogo – jogos; povo – povos; porco – porcos; novo – novos...
O problema é que muitas palavras não sofrem metafonia (=mantêm o timbre fechado no plural): almoços, bolos, cachorros, esposos, globos...
Existem algumas dúvidas: segundo os nossos principais dicionários, caroços, corvos, fornos e socorros têm timbre aberto, e acordos, contornos, soros e transtornos, timbre fechado.
Existe um velho “macete”, que não funciona 100%, mas ajuda muito: se o feminino tiver timbre aberto, o mesmo ocorrerá no plural: porco – porca – porcos, novo – nova – novos; caso contrário, todos ficam com timbre fechado: cachorro – cachorra – cachorros, esposo – esposa – esposos.
Uma exceção seria o SOGRO. No feminino não há dúvida: é SOGRA, com timbre aberto; mas no plural há problema: no Brasil, SOGROS apresenta timbre fechado e, em Portugal, a pronúncia é com timbre aberto.
O mais importante de tudo é respeitar as diferentes pronúncias. Regionalismos e sotaques não são “crimes”.
São variantes linguísticas válidas.
Nunca esqueça que a língua falada vem antes da escrita.
Em razão disso tudo, a reforma é somente ortográfica. Nada muda na pronúncia das palavras.
http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/recordar-e-aprender-qual-e-pronuncia-correta.html
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