
Onde estou mesmo?
Por que seria melhor para a saúde dos adolescentes se o horário de ir 
para a aula fosse mais tarde? E por que os pais precisam cortar 
internet, videogame e celular até altas horas da noite? Para que a 
molecada possa dormir mais e melhorar tanto o boletim quanto o humor!
Cabeça no mundo da lua em plena sala de aula, notas em queda livre, 
falta de disposição para tudo e reclamações cada vez mais frequentes por
 bagunça, brigas e discussões em classe — se esse quadro lhe parece 
familiar, seu filho pode estar dormindo menos do que deveria. Ou na hora
 errada. De acordo com a recomendação de especialistas em sono, um 
adolescente necessita de pelo menos nove horas de repouso — isso mesmo, 
nove horas! — para garantir uma rotina saudável de estudos. Isso 
significa que, se o sinal de entrada do colégio soa às 7 horas, a 
garotada tem de estar contando carneirinho às 21 horas para acordar às 6
 horas. O problema é que essa rotina mostra-se impraticável na maioria 
dos lares brasileiros. Daí a pergunta: qual seria o melhor horário para o
 jovem iniciar as atividades escolares?
Nos Estados Unidos, um trabalho piloto do Hasbro Children’s Hospital, de
 Rhole Island, propôs que uma pequena escola retardasse em meia hora o 
horário de entrada dos alunos, prorrogandoo das 8 para as 8h30. O 
resultado confirmou o que os médicos já esperavam: os minutos adicionais
 de sono garantiram benefícios para o estado de alerta, o humor e a 
saúde geral dos teens. Em outro trabalho americano, pesquisadores da 
Robert Wood Johnson Medical School, de Nova Jersey, mostraram que aquela
 sonolência diurna de muitos adolescentes está associada a um risco três
 vezes maior de o jovem apresentar sintomas de depressão.
No Brasil, uma investigação recém apresentada pelo Instituto Glia, em 
Ribeirão Preto, no interior paulista, mostra que crianças e adolescentes
 que dormem mais de oito horas por noite apresentam quase o dobro de 
chances de ter uma cuca mais sadia e um boletim nota 10, em comparação 
com os que descansam menos do que isso. “A falta de sono altera o humor,
 o comportamento e o aprendizado do jovem, além de baixar as defesas 
imunológicas do seu corpo”. resume a neuropediatra Márcia 
Pradella-Hallinan, responsável pelo Setor de Pediatria do Instituto do 
Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “As noites mal 
dormidas podem acarretar também problemas de estatura em adolescentes, 
por causa da alteração na produção do hormônio do crescimento, que 
acontece durante o sono e é responsável pelo estirão da puberdade.”
Além do horário escolar, outro fator parece contribuir bastante para o 
pensamento voar para as nuvens nas primeiras aulas do dia: os novos 
brinquedinhos eletrônicos da garotada. Com internet, telefone celular, 
videogame e a própria TV, os jovens, que já não deveriam deitar depois 
das 23 horas, acabam invadindo a madrugada no Twitter, mandando 
mensagens de texto, navegando na web, teclando com amigos online, 
disputando jogos virtuais ou simplesmente assistindo a um filme. “De 
segunda a sexta, 65% dos jovens brasileiros dormem apenas seis horas por
 noite”, revela a neurologista Andréa Bacelar, vice-presidente da 
Associação Brasileira do Sono. “E os responsáveis por isso não são 
apenas o horário escolar e as distrações eletrônicas. Muitas vezes os 
pais chegam tarde e a casa fica acesa até altas horas. Os filhos 
reproduzem esses hábitos. Paralelamente, o consumo de cafeína cresceu 
muito entre os jovens, em suas mais variadas formas, como refrigerantes,
 café, energéticos, pó de guaraná, chocolates e outros alimentos.”
Os problemas de nota baixa ligados à falta de sono têm a ver com a 
fadiga dos neurônios responsáveis pelo raciocínio. Se esses soldados do 
nosso sistema nervoso não estiverem descansados, vão comprometer a 
memória, a atenção e a percepção de todo o exército. Essa disfunção 
também leva a quadros depressivos, que se desdobram em vários outros 
problemas. “Irritação, agressividade, violência gratuita, problemas com 
alimentação, como obesidade ou anorexia, além de uma visão com 
perspectiva negativa do mundo e um estado de angústia permanente, 
contribuem para que muitos busquem uma saída nas drogas e no álcool”, 
elenca a psicopedagoga Nadia Bossa, diretora científica da Associação 
Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
Na opinião da especialista da ABPp, a solução para o impasse depende de 
um esforço conjunto. “Da parte da família, seria preciso organizar a 
vida doméstica da casa de modo a respeitar as necessidades naturais do 
corpo do adolescente, o horário escolar e a realidade da casa”, defende 
Nadia. Ou seja, precisaria haver uma nova disciplina com horários 
rígidos para os jovens conviverem com a família e terem tempo para se 
divertir, mas sem comprometer as preciosas horas de sono, sempre 
mantendo a rotina nos fins de semana. Nadia diz que cochilos de 30 
minutos à tarde, depois do almoço, não resolvem o problema, mas ajudam a
 compensar a falta de sono noturno e até podem ser bem-vindos, desde que
 aconteçam sempre. “Já a escola poderia mexer no horário de entrada dos 
alunos, dando a eles um tempinho extra para dormir pela manhã”, sugere 
Nadia.
Em períodos de provas e durante o próprio vestibular, os problemas de 
falta de sono costumam se agravar. No ímpeto de tirar o atraso, não são 
poucos os que optam por varar a madrugada na véspera da avaliação para 
estudar tudo o que o professor passou. A neurologista Andréa Bacelar 
garante que esse é um erro enorme. “A consolidação da memória acontece 
quando a pessoa está dormindo. Se ela não dorme, muito do que estudou 
não vai ficar devidamente registrado, por mais que se esforce.” Além 
disso, segundo a médica, na hora da prova o aluno vai estar sonolento e 
com os reflexos neuronais lentos, o que comprometerá seu raciocínio.
A IDADE E O SONO
As diferentes necessidades para cada etapa da vida
CRIANÇA: MAIS DE 10 HORAS
A imaturidade neuronal faz com que ela precise de mais tempo de sono. Um
 recém-nascido chega a dormir cerca de 20 horas por dia. A partir dos 3 
ou 4 anos de idade, são necessárias de 11 a 12 horas de repouso 
ininterrupto. Aos 9 anos, a criança já pode dormir só dez horas, mas não
 antes dessa idade.
ADOLESCENTE: DE 8 A 9 HORAS E MEIA
O desenvolvimento do cérebro prossegue acelerado na puberdade. Nessa 
fase, porém, o jovem depende do sono principalmente para crescer. É a 
idade daquele estirão, e o hormônio do crescimento, produzido durante a 
madrugada — e só com o organismo adormecido profundamente —, faz a 
diferença. Além disso, a garotada precisa estar descansada para 
administrar todas as transições da adolescência.
ADULTO JOVEM: DE 7 A 8 HORAS E MEIA
O sono perde sua função de maturação neuronal na fase adulta, mas 
continua sendo imprescindível para refazer os processos fi siológicos, 
mentais e cognitivos. Dormir o sufi ciente signifi ca se proteger de 
doenças e manter a capacidade de desempenhar funções corriqueiras, 
principalmente em relação ao aprendizado.
PESSOAS DE 60 ANOS OU MAIS: DE 6 A 7 HORAS E MEIA 
Com o avanço dos anos, a necessidade de descanso diminui. Com pouco mais
 de seis horas de repouso por noite, pessoas com mais de 60 anos 
costumam viver bem, sem maiores défi cits.
A HORA DE IR PARA ESCOLA
Para a psicopedagoga Nadia Bossa, da ABPp, o ideal seria que os dois 
turnos escolares fossem abolidos e fundidos em um só. A melhor solução 
seria que as crianças entrassem às 9 e saíssem às 17. “Isso permitiria a
 integração de atividades físicas, cognitivas e artísticas, intercaladas
 com alimentação”, defende. “Os alunos poderiam começar com exercícios 
físicos para ativar o corpo e, depois, fazer trabalhos de raciocínio até
 o almoço. À tarde, voltariam com trabalhos artísticos e os professores 
fi nalizariam o dia com exercícios para recapitular o que foi ensinado 
pela manhã.” Considerando a manutenção dos turnos, os especialistas do 
sono defendem que qualquer atraso no início da aula no período matutino 
pode ser considerado saudável. “Às vezes, 15 a 30 minutos a mais de 
descanso matinal já fazem diferença para a saúde da garotada”, acredita a
 neuropediatra Márcia Pradella-Hallinan. Se as aulas matutinas do 
colégio do seu fi lho iniciam muito cedo e ele não dorme sem brigar com o
 travesseiro, cogite mudá-lo para o turno da tarde.
PARA DORMIR MAIS CEDO
Algumas estratégias que podem ajudar seu filho
1. MONITORES DESLIGADOS
Desativar tudo o que tem tela uma hora antes de dormir ajuda o organismo
 a se preparar para um sono tranquilo. Isso vale para celular, 
computador, smartphone, televisor e videogame — equipamentos, aliás, que
 idealmente nunca devem ficar no quarto.
2. BANHO MORNO 
A boa e velha aguinha quente sobre os ombros é, sim, tiro e queda para 
os mais agitados. A ducha relaxa a musculatura, o que favorece os 
bocejos.
3. LUZ AZUL
Reduzir a luz ambiente também faz toda a diferença. O ideal é deixar 
apenas uma luz azul de baixa intensidade no quarto, se o adolescente 
tende à insônia. A luz dessa cor facilita a sincronização das ondas 
cerebrais para o sono. 
4. UMA CEIA LEVE 
Nunca deixe seu fi lho ir para a cama de barriga cheia: a digestão 
atrapalha o sono. E nada de estimulantes, como café ou refris tipo cola 
no jantar. Antes de ir para a cama, a melhor pedida é mesmo tomar um 
leite, uma vitamina de frutas ou, até mesmo, comer algumas torradas. 
5. NADA DE EXERCÍCIO
Atividade física favorece o sono, é fato – mas só quando é feita durante
 o dia. À noite, no máximo alongamentos, ioga e outros exercícios 
relaxantes, se o jovem gostar disso. Música calma e leitura com luz 
indireta também ajudam a chamar o sono, o que favorece os bocejos.
Fonte: Revista Saúde - por GIULIANO AGMONT