Afinal, qual é o papel do gestor escolar?
O
papel do gestor escolar não se resume em cumprir e fazer cumprir as
leis e regulamentos ,as decisões, os prazos para desenvolvimento dos
trabalhos e transmitir a seus subordinados a estratégia a ser adotada no
desenvolvimento desses trabalhos.
O
gestor deve ser democrático, opinar e propor medidas que visem o
aprimoramento dos trabalhos escolares, o sucesso de sua instituição,
além de exercer sua liderança administrativa e pedagógica, visando a
valorização e desenvolvimento de todos na escola.
A liderança é uma habilidade que pode ser desenvolvida e exercida a cada dia.
O gestor escolar deve agir como líder, pensando no progresso de todos que fazem parte de sua equipe.
Um
gestor líder é capaz de desenvolver o potencial de trabalho de toda
sua equipe, fazendo com que esta sinta-se capaz de transformar e
realizar com sucesso todos os projetos desenvolvidos pela instituição de
ensino.
Para conduzir sua equipe o gestor competente sempre tem uma
propósito a ser concretizado e uma estratégia de ação para conquistar
seus objetivos. Esse é o ponto de partida para que as ações da equipe
escolar sejam bem sucedidas e quando uma de suas estratégias falha, o
gestor educacional incentiva sua equipe a descobrir o que é necessário
fazer para dar um passo a diante.
O gestor escolar deve ter
consciência de que sua equipe não limita-se a alunos, professores e
demais funcionários internos da instituição. A equipe escolar é composta
também pelos pais dos alunos e por toda a comunidade de forma geral,
que deve ser mobilizada para que juntos possam promover o principal
objetivo de toda equipe escolar: a aprendizagem dos alunos.
Uma
escola que viabiliza o sucesso escolar de seus alunos, tem nesse fator
sua maior propaganda de marketing, pois justamente por se sentirem
satisfeitos com o sucesso escolar de seus filhos, os pais se empenharão
mais em colaborar com o desenvolvimento das atividades escolares,
projetos e até mesmo na divulgação do nome da instituição de ensino.
É
fundamental ao gestor a habilidade em gerenciar conflitos, pois toda
instituição escolar, assim como qualquer outra instituição muitas vezes
se depara com conflitos que podem ocorrer entre os membros da equipe,já
que cada ser humano possui características individuais.; conflitos esses
que podem ser ocasionados por fatores externos ou internos ao ambiente
de trabalho.
Por outro lado, é necessário acreditar no potencial
que cada indivíduo possui, mesmo que esse potencial ainda precise ser
desenvolvido e ouvir o que as pessoas têm a dizer é essencial quando
se pratica a liderança, pois acredito ser impossível para um líder
desenvolver trabalhos e conquistar sozinho seus objetivos. O ponto de
vista de cada integrante da equipe é importante para a conquista de
objetivos em comum. O trabalho em equipe, as opiniões diferenciadas e o
pensamento individual de cada um são fundamentais para que se construa o
sucesso coletivo.
Sâni
Publicado no Recanto das Letras em 26/04/2008
Código do texto: T963581
Um bom gestor muda a escola
Por
que escolas semelhantes são, muitas vezes, tão diferentes? Vemos
escolas com o mesmo orçamento, os mesmos recursos, que atendem o mesmo
público, ficam no mesmo bairro, e mostram resultados bem discrepantes.
O
que é essencial para ter uma escola diferenciada? Uma boa escola começa
com um bom gestor. Muitos excelentes professores são maus gestores,
administradores. O bom gestor é fundamental para dinamizar a escola,
para buscar caminhos, para motivar todos os envolvidos no processo.
No
meio de tantas escolas públicas com tantos problemas, visitei várias
vezes uma escola municipal da periferia de São Paulo. A escola era
simples, com um clima cordial entre os professores e funcionários. A
maioria está lá há muito tempo. Qual o segredo? O diretor. Um homem
dinâmico, acolhedor e que conversa com professores e alunos, atrai
pessoas da comunidade para apoiar a escola. Não tem grandes recursos,
tem pessoas motivadas, unidas pela amizade e o carisma do gestor. Um bom
gestor muda uma escola. “Uma direção motivada, orientada por metas
claras compartilhadas com professores, pais e alunos é onde tudo começa.
Devido às baixas condições de trabalho, o que vemos, no Brasil,
especialmente na periferia das grandes cidades, é uma alta rotatividade
de diretores e de professores, além de um excesso de faltas; há
diretores que não ficam mais do que um ano à frente de uma escola. Não
se premia quem se esforça nem se pune quem demonstra baixo desempenho e,
para completar, o envolvimento dos pais é pequeno e o currículo,
desinteressante”. [1]
O
exemplo de Gary Wilson, que recuperou sete escolas públicas carentes, é
fundamental para enxergar os caminhos da nova gestão escolar. “Em 2000,
a Lochburn Middle School, escola do distrito de Clover Park, no estado
de Washington, estava para fechar as portas: o rendimento de seus 800
alunos era muito inferior ao mínimo exigido pela avaliação externa feita
periodicamente pelo governo. Em um dia normal, raramente a presença dos
alunos chegava a 50%. Os professores, havia muito, tinham desistido de
ensinar. Hoje essa unidade é um modelo de escola bem-sucedida. O que
aconteceu nesse período? A escola foi praticamente "adotada" pela
comunidade: sindicatos, igrejas, estabelecimentos comerciais e entidades
não governamentais começaram a participar do processo de ensino e
aprendizagem entrando na sala de aula para ajudar estudantes que tinham
dificuldades, assumindo a responsabilidade de orientar os jovens durante
a sua trajetória escolar até a universidade. Grandes e pequenas
empresas doam dinheiro e recursos materiais para que nada falte aos
alunos” [2] .
O
trabalho primeiro do gestor Gary Wilson é motivar professores,
funcionários e alunos, valorizando-os, escutando-os e depois traçando um
plano de ação focando o que é prioritário. Depois envolve as lideranças
do bairro, os meios de comunicação locais e o trabalho voluntário de
tutoria da comunidade. Se escolas condenadas se recuperaram, qualquer
escola pode ser atuante, inovadora.
Uma
escola que se articula efetivamente com os pais (associação de pais),
com a comunidade, que incorpora os saberes da comunidade, que presta
serviços e aprende com ela.
Uma
escola que prepara os professores para um ensino focado na aprendizagem
viva, criativa, experimentadora, presencial-virtual, com professores
menos “falantes”, mais orientadores, ajudando a aprender fazendo; com
menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, experimentação,
projetos; com professores que desenvolvem situações instigantes,
desafios, solução de problemas, jogos.
Uma
escola que fomenta redes de aprendizagem, entre professores das mesmas
áreas, e, principalmente, entre alunos; que aprendem com os pares. O
aluno aprende com o colega, o mais experiente ajuda ao que tem mais
dificuldades. Como nos projetos aluno-monitor (da Microsoft).
Uma
escola com apoio de grandes bases de dados multimídia, de multi-textos
de grande impacto (narrativas, jogos de grande poder de sensibilização),
com acesso a muitas formas de pesquisa, de desenvolvimento de projetos.
Uma
escola que privilegia a relação com os alunos, a afetividade, a
motivação, a aceitação, o conhecimento das diferenças. Que envolve
afetivamente os alunos, dá suporte emocional, que leva a que os alunos
acreditem em si mesmos.
As
organizações são compostas por pessoas. Quanto mais evoluem as pessoas,
mais evoluem as organizações [3] . Educadores e gestores mais abertos,
confiantes, bem resolvidos podem compreender melhor e implantar novas
formas de relacionamento, de cooperação no processo de ensinar e
aprender. Estão atentos para o novo, conseguem ouvir os outros e
expressar-se de forma clara, não ficam ressentidos porque suas idéias
não foram eventualmente aceitas. Cooperam em projetos que foram
decididos democraticamente, mesmo que não coincidam com todos os seus
pontos de vista.
"É
difícil implantar uma mudança educacional porque as escolas têm
pouquíssimo tempo para se dedicarem a inovações", justifica o sociólogo
Boudewijn van Velzen, coordenador de assuntos internacionais do APS
(Centro Nacional pelo Aperfeiçoamento das Escolas). [4] O sociólogo
garante que decisões tomadas nos gabinetes não levam materiais didáticos
até os alunos nem aumentam a freqüência em bibliotecas e laboratórios.
"Se, na escola, os diretores e professores não se mexerem, nada
acontecerá", afirma. "O resultado de uma grande reforma está no conjunto
dos pequenos passos dados nas milhares de escolas de todo o Estado."
De
acordo com o APS, cada problema da escola deve ser atacado por meio de
um plano de ação, elaborado a partir das seguintes questões: Que
objetivo se pretende alcançar? O que será feito? Quem irá participar de
cada etapa da atividade? Como e quando elas serão realizadas? Quais os
resultados previstos para cada fase do trabalho?. O plano deve ser
específico, mensurável, atraente, realista e executado a tempo, ou seja,
precisa ser smart (iniciais de specific, measurable, attractive,
realistic e (on) time).
Vale
a pena destacar, entre muitos outros, os projetos de escolas inovadoras
como a Escola da Ponte de Portugal [5] , a Escola Lumiar [6] (SP) e a
Escola Municipal Amorim Lima, SP [7] .
Na
contramão, diante da competição feroz por novos alunos, existem alguns
sistemas de ensino padronizados, de alcance nacional e internacional,
que comercializam modelos de ensino prontos para milhares de escolas no
país e também no exterior. Dão assessoria em marketing e gestão
empresarial, além de apoio pedagógico: material didático (apostilas,
cadernos de exercícios e CD-ROM, portal na Internet); capacitação a
professores e coordenadores pedagógicos, além de serviços como cursos e
palestras.
Para
escolas pequenas é uma forma de ter um projeto pedagógico interessante e
bom material de apoio. O problema surge quando há uma imposição rígida
de material e de recursos. Alguns sistemas são mais flexíveis. Diante da
concorrência, da dificuldade de captar alunos, é inevitável este tipo
de franquias, porque oferecem projetos completos que seduzem os pais e
barateiam os custos da escola. Muitos professores se queixam de falta de
liberdade e de cronogramas apertados. Algumas prefeituras também estão
aderindo a estes modelos padronizados. [8] Embora possamos compreender
as razões mercadológicas do sucesso dos grandes grupos e franquias na
educação, cada escola pode caminhar na direção da gestão autônoma,
adaptada à sua região e não depender tanto de modelos criados
uniformemente.
__________________________________________________________
* Trecho do meu livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, da Editora Papirus. 2007.
[1] Gilberto DIMENSTEIN. Pro dia nascer feliz. Folha online, 05-02-07. In http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=92e250c30af47010003c9c3114278eb2
[2]
Paola GENTILE. GARY WILSON- Nenhuma criança pode ser deixada para trás.
Revista Nova Escola. Edição 174, agosto 2004. Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0174/aberto/mt_72325.shtml
[3]
Ver o conceito de organizações que aprendem em Peter SENGE, A quinta
disciplina; Arte, teoria e prática da organização de aprendizagem. São
Paulo, Editora Best Seller, 1990
[4]
Pequenos passos, grandes avanços. Revista Nova Escola, agosto 1997.
Disponível em:
http://novaescola.abril.uol.com.br/ed/104_ago97/html/gestao.htm
[5] http://www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/
[6] www.lumiar.org.br
[7] A diretora da escola sem paredes, Revista Sinapse da Folha. In www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u908.shtml
[8] Antonio ARRUDA. Escola em larga escala. Folha de São Paulo. Caderno Sinapse
28/09/2004. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u920.shtml