Surpresos com a minha pergunta? Pois ela
está embasada no que estão querendo fazer com o nosso idioma, com o
nosso patrimônio cultural. O idioma e a Bandeira são a identidade de um
país.
A minha manifestação está pautada na proposta de “Contrarreforma” do nosso idioma, o qual você pode ler AQUI,
e que com tais argumentos, adiaram a entrada em vigor do Novo Acordo
Ortográfico para 31 de dezembro de 2015, por meio de decreto, cuja “Comissão de Educação do Senado criou um grupo de trabalho para simplificar e aperfeiçoar o acordo ortográfico” com o objetivo de “facilitar as normas para reduzir o analfabetismo”.
Um dos grandes argumentos é que com esta
“contrarreforma” se irá reduzir de 400 para 100 horas o tempo de aulas
de Português nos Ensinos Fundamental e Médio. É sabido da luta dos
profissionais da Educação para que todas as escolas passem a ser em
tempo integral proporcionando dedicação exclusiva dos alunos ao estudo.
Já conseguimos que muitas escolas se tornassem assim, e agora vamos
minimizar o tempo destinado ao ensino do nosso idioma em prol da,
segundo este “jeitinho brasileiro”, erradicação do analfabetismo!
Minha geração foi às ruas lutar contra a
Ditadura e, entre muitas reivindicações, destacou a não valorização da
Educação. Hoje vejo que pior do que não valorizar a Educação é
ridicularizar a Educação aniquilando a língua mãe.
Segundo a proposta o “j” deixa de se
chamar jota e passa a se chamar “ge” e o “g” passa a se chamar “gue”.
Diante disso passaremos a escrever “jente” e “gerra”. O “h” inicial será
abolido e omem, dentre outras, se escreverá desta forma. Toda palavra
que tem o som de “z” será escrita com a referida letra: ezame, caza…,
afinal a mudança está embasada na fonologia e por isso passa a escrever
da forma como fala. As palavras com o som “chiado” do “ch” passam a ser
escritas assim: xave, xinelo, xuveiro…
E não são somente estas as mudanças. Têm muito mais!
Agora entenderam por que iniciei esta conversa perguntando se a melhor solução é analfabetizar os alfabetizados?
Caso seja aprovada a contrarreforma,
poderemos nos mobilizar através do “Feicibuk” e instituir o Dia Nacional
da Queima dos Livros Impressos, que através de suas páginas tirânicas
acolheram durante séculos as normas linguísticas oriundas das
influências indígenas-africanas-europeias responsáveis pelo
analfabetismo do povo “brazileiro”.
Com base nesta práxis as 300 horas que
estão sobrando em razão da diminuição das horas na grade de Português
poderão ser utilizadas, usando o mesmo método, para o brasileiro
aprender o inglês, pois além de este idioma ser universal, sempre teve
livre circulação no nosso cotidiano. Quem nunca disse que iria ao
shopping dar uma mudada no look, comer um hamburguer com suas friends, e
depois curtir um movie dando kisses no seu boy?
Usando as mesmas regras da
contrarreforma esta frase ficará assim: “kem nunca dise ke iria ao xopim
dar uma mudada no luk, comer um amburge com suas frendis, e depois
curtir um muvi dando kises no seu boi”.
Com certeza seremos destaque mundial com
esta nova didática de aprendizagem, e seremos o único povo 100%
alfabetizado em todos os idiomas.
Mas não podemos esquecer que o nosso
País conta com rica diversidade cultural que influi diretamente na
linguagem popular, marca registrada de cada uma das nossas regiões. Ao
analfabetizarmos os brasileiros da região norte/nordeste, de acordo com a
reforma fonológica, as palavras “oito, bonito, escrito” passarão a ser
grafadas “oitiu, bunitiu, escritiu”; os mineiros escreverão bunitim,
pikininim, xerozim…; o sulista vai tomar liete kiente que faz bem pra
jiente; o carioca vai perguntar porrrrrke? Jenti, mais ke orrrorrrr! e
assim por diante.
Brincadeiras à parte, não posso deixar
de registrar o quanto admiro esta diversidade que faz com que se
identifique a origem do brasileiro em trânsito pelo próprio país. Amo
quando vou trabalhar nas diferentes regiões do Brasil e as pessoas me
perguntam: Você é do estado de São Paulo, não é? E eu pensava que não
tinha sotaque! Mesmo dentro do meu estado, por ter morado em Santos
tinha o hábito de pedir média na padaria em vez de pãozinho ou pão
francês. Também nunca imaginei que pedir pão de cará fosse uma prática
somente do santista. Essa é a riqueza do nosso país! As particularidades
de cada local é que fazem com que o Brasil seja tão especial!
Para finalizar quero dizer que ser
alfabetizado é muito mais que saber ler e escrever corretamente as
palavras. Durante toda a vida vamos ter dúvida sobre a grafia de uma ou
outra palavra ou mesmo sobre seu significado, e para isso contamos com a
ajuda de diferentes recursos, que ao contrário do que afirma o
professor Ernani Pimentel, consultar um dicionário, no meu ponto de
vista, nunca foi perda de tempo, muito pelo contrário, é fonte de
informação, além de robustecer o vocabulário.
A aprendizagem é um processo contínuo
que se dá durante toda a vida não se restringindo somente à escrita e à
leitura. O mais importante é despertar no aluno o interesse em aprender a
“ler o mundo”, e não estou aqui usando esta sábia frase de Paulo Freire
como um bordão. Estou sim afirmando que, quando o aluno consegue ler o
mundo em tudo que lê ou escreve, está dando significação ao que está
fazendo, e consequentemente está interpretando, concordando,
discordando, formando opinião. Este é o grande diferencial que o torna
uma pessoa alfabetizada em constante estado de aprendizagem.
A partir do momento que há a consciência
de que ler é muito mais do que recitar palavras e que escrever é muito
mais do que reproduzir graficamente os sons das letras, se entende o que
é realmente alfabetizar.
http://educaja.com.br/2014/03/sera-que-a-solucao-e-analfabetizar-os-alfabetizados.html
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