Ao seguir o rastro da nota de compra de um extintor para carro, agentes da Polícia Civil conseguiram chegar a uma das provas cruciais para esclarecer o assassinato de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos. O corpo do menino foi encontrado em uma cova rasa no interior de Frederico Westphalen, cidade agrícola do noroeste do Estado.
Na tarde do dia 14, os policiais acharam o cupom no interior da caminhonete Mitsubishi L200 da madrasta Graciele Ugulini. O papel tinha a data do dia 4 de abril (quando o menino sumiu) e indicava um posto de combustíveis no centro de Frederico como o local da compra do extintor de incêndio.
Essa pista levou a polícia até o estabelecimento, onde uma das sete câmeras de segurança disponíveis flagrou uma movimentação fundamental para apurar as circunstâncias do crime que abalou o Rio Grande do Sul. O pai do menino, o médico Leandro Boldrini, a madrastra Graciele Ugulini e uma amiga da família, a assistente social Edelvânia Wirganovicz, estão cumprindo prisão temporária como suspeitos da morte do garoto.
— Fiquei surpreso quando os policiais chegaram. Eles mostraram o cupom de compra do extintor e perguntaram pelas imagens das câmeras — explica Jonir Piaia, um dos sócios do posto.
Com base no horário registrado no cupom, os policiais começaram a vasculhar as imagens armazenadas em computador. A compra foi realizada na tarde do dia 4, justamente a data em que a madrastra saiu de Três Passos para Frederico com o menino e, no caminho, acabou multada. Eram 13h30min quando ela estacionou a caminhonete preta na Rua Tenente Portela, ao lado do posto. Nesse local, já estava estacionado um Siena de propridade de Edelvânia.
— A madrasta desceu da caminhonete e caminhou, com a mão no ombro do menino, até sair do alcance da câmera — comenta Piaia.
Cerca de 15 minutos depois, a madrasta, a assistente social e o menino apareceram novamente nas imagens embarcando no Siena. Por volta das 17h, o automóvel retornou ao local onde estava estacionado anteriormente.
— As duas mulheres desceram do carro com três ou quatro sacolas na mão e as colocaram em um latão de lixo. O menino não voltou. Um dos policiais que assistia ao vídeo chorou e disse "elas mataram a criança" — descreve Piaia.
Até então, o menino era dado como desaparecido. Depois de ver as imagens, os policiais voltaram a interrogar Edelvânia — que acabou confessando o crime.
— As imagens originais estão armazenadas dentro de um computador e protegidas por senha — afirma Piaia.
O sócio do posto desligou o telefone celular para escapar do assédio dos jornalistas. Ele disse que recebe centenas de ligações diárias pedindo o registro da câmera de segurança.
— Pediram que não divulgasse as imagens porque a apuração ainda não acabou — afirma.
O caso que chocou o Rio Grande do Sul
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, emTrês Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini _ que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município _, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.
Zero Hora
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