Cana-de-Açúcar - 10
A Cana-de-Açúcar é originária da Nova Guiné. Foi introduzida na América por Cristóvão Colombo e no Brasil por Martin Afonso de Souza no ano de 1532. A história deste setor se confunde com a História do Brasil. Segundo o escritor Gilberto Freire, autor de Casa Grande & Senzala è O Brasil nasceu nos canaviais.
Introduzida inicialmente como PLANTA ORNAMENTAL; posteriormente, em função de sua doçura, foi utilizada como garapa e depois açúcar e aguardente. E, na atualidade, agregam-se dezenas de produtos conforme descrito neste plano.
No Espírito Santo, os primeiros engenhos de cana surgiram em São Mateus. Em 1605, a cultura da cana já era importante também em Vitória, onde se produzia açúcar e aguardente.
O setor sucro-alcooleiro iniciou-se no Espírito Santo no início do século passado, com a implantação da Usina Paineiras no sul do Estado (instalada em 1911/12 – obra do governo Jerônimo Monteiro) buscando dinamizar a região, onde predominava a pecuária e a monocultura do café. Com a crise no mercado internacional no setor cafeeiro, nasce o projeto de uma usina de açúcar.
A instalação da usina de açúcar no Estado do Espírito Santo foi inspirada no sucesso de Campos-RJ, que contava com 24 usinas na época e detinha o título de maior produtor de açúcar do mundo.
Com a crise do petróleo em 1973, elevando o preço do barril de US$ 7,00 a US$ 9,00 para US$ 30,00, a economia do mundo inteiro se abalou e veio a necessidade de buscar alternativas energéticas. Dentro deste panorama, pressionado pela falta de divisas para seu abastecimento de petróleo, o Brasil viu como opção de médio e longo prazo dinamizar a Petrobras, não só na prospecção, como também no refino. E, a curto, médio e longo prazo, a bioenergia extraída da Cana-de-Açúcar, com todas as facilidades do nosso ambiente edafo-climático propício e conhecimento tecnológico, visto que, desde a 2° Guerra Mundial, o Brasil utilizava o álcool anidro na gasolina como complemento.
Em 1977/1978 foi criado o PROÁLCOOL, um programa ambicioso que, além de substituir grande parte da importação de petróleo, tornou-se um marco na cadeia ambiental, pois a queima do álcool – sendo um oxigenado – emite menos de 10% de poluentes que os carbonados derivados de fóssil.
Porém, somente em 1980, com a eleição do presidente João Baptista Figueiredo, foi dinamizado o PROÁLCOOL, com investimentos da ordem de US$ 10.000.000.000,00 (em 20 anos, ou seja, até o ano 2000, o Brasil já tinha economizado em divisas, pela menor importação de petróleo, US$ 50.000.000.000,00).
Imediatamente, o Espírito Santo se fez presente em resposta ao anseio nacional: com a Usina Paineiras se adaptando para produzir mais álcool e sendo implantadas no Estado 6 usinas autônomas para produzir somente álcool (ALBESA – Boa Esperança, ALCON – Conceição da Barra, ALMASA – São Mateus, já desativada, CRIDASA – Pedro Canário, DISA – Conceição da Barra e LASA – Linhares).
Tivemos, assim, tanto benefícios em âmbito nacional quanto estaduais, onde destacamos: emprego no campo com profissionalização, assistência social, evitando o êxodo rural, arrecadação de impostos, enfim, enriquecimento regional e uma imagem totalmente positiva.
Porém, com a superação da crise internacional do petróleo, o governo começou a tirar as vantagens (em forma de subsídio) dos produtores de álcool e, em 1997/1998, deixou o setor ‘à própria sorte’, dificultando ainda mais o setor, sem crédito e sem investimentos para crescer.
Apesar de todas as adversidades e acreditando em algumas expectativas governamentais, o setor no Espírito Santo deu a volta por cima e cresceu, passando de Estado importador de álcool a quase auto-suficiente. Porém, continua sendo grande importador de açúcar.
Mais do que elemento essencial da formação do Brasil, a Cana-de-Açúcar transformou-se em parte integrante do imaginário do povo brasileiro. Na cozinha, desdobra-se em utilidades; na indústria, colabora para a produção de alimentos mais saudáveis, de fácil conservação. Dela vem o álcool combustível, a energia elétrica. Também pode produzir papel, plásticos, produtos químicos.
Enfim, a Cana-de-Açúcar sobreviveu para contar sua própria história e testemunhou impassível nestes quase cinco séculos de existência em solo brasileiro, a resistência indígena, a luta dos negros africanos e brasileiros por liberdade nas senzalas, a opulência dos senhores de engenho nas casas-grandes, o período colonial, o Império, a República, o Estado Novo, as tentativas de democratização, o golpe militar de 64, a redemocratização e a Constituição de 1988.
PRODUTOS E SUBPRODUTOS
1- Informações gerais
A cana é uma gramínea, cujo potencial, variado e complexo, ainda pode ser muito explorado. No Brasil, em menos de 1% das terras agricultáveis plantam-se 5,0 milhões de hectares de cana (duas vezes a área do Estado do Piauí), matéria-prima que permite a fabricação de energia natural, limpa e renovável.
A cana é, em si mesma, usina de enorme eficiência: cada tonelada tem um potencial energético equivalente ao de 1,2 barril de petróleo. O Brasil é o maior produtor do mundo, seguido por Índia e Austrália. Na média, 55% da cana brasileira vira álcool e 45%, açúcar. Planta-se cana, no Brasil, no Centro-Sul e no Norte-Nordeste, o que permite dois períodos de safra. Plantada, acana demora de ano a ano e meio para ser colhida e processada pela primeira vez. A mesma cana pode ser colhida até cinco ou dez vezes, mas a cada ciclo devem ser feitos investimentos significativos para manter a produtividade em níveis competitivos.
A cana é a força por trás das 307 ‘centrais energéticas’ existentes no Brasil, 128 das quais estão em São Paulo, utilizandocana que cobre 2,35 milhões de hectares de terra.
São usinas e destilarias que processam a biomassa proveniente da Cana-de-Açúcar e que alimentam um círculo virtuoso: produzem açúcar como alimento, energia elétrica vinda da queima do bagaço nas caldeiras, álcool hidratado para movimentar veículos e álcool anidro para melhorar o desempenho energético e ambiental da gasolina.
1.1- Produtos
O combustível de cerca de 3 milhões de veículos que rodam no Brasil é o álcool hidratado; o anidro é misturado na proporção de 24 a 25% em toda a frota brasileira, de 17 milhões de veículos. O álcool é também usado de forma intensiva na indústria de bebidas, nos setores químico, farmacêutico e de limpeza.
O Brasil é o maior produtor de açúcar de cana do mundo, com os menores custos de produção e também, o maior exportador do produto. Metade da produção brasileira é destinada ao mercado interno. A metade exportada gerou, em 2001, 2,2 bilhões de dólares para a balança comercial. O Brasil exporta açúcar branco (refinado), cristal e demerara, e há pelo menos cinco anos a Rússia se mantém como a maior importadora do açúcar brasileiro. O Estado de São Paulo é responsável por 60% de todo o açúcar produzido no País e por 70% das exportações nacionais.
O mercado interno divide-se em doméstico e industrial. No primeiro prevalecem os açúcares cristal e refinado; no industrial, os açúcares demerara e líquido. O consumo brasileiro é de 52 kg per capita, e a média mundial está em torno de 22 kg per capita.
Vapor e calor são muito importantes no processo de obtenção de açúcar e de álcool. O vapor, obtido pela queima do bagaço da cana, movimenta turbinas, gerando energia elétrica que torna auto-suficientes unidades industriais e excedentes, vendidos às concessionárias - Co-geração de energia elétrica.
No Estado de São Paulo, o setor gera para consumo próprio entre 1.200 e 1.500 Megawatts, 40 usinas produzem excedentes de 158 Mw e a luz que vem da cana já ajuda a iluminar diversas cidades. O potencial de geração de energia da agroindústriacanavieira está em torno de 12 mil Mw – a potência total instalada no Brasil é de 70 mil Mw. Em 2002, em função de novos projetos, mais 300 Mw foram adicionados e em curto prazo o setor poderá contribuir com 4 mil Mw adicionais.
1.2 - Subprodutos da Cana-de-Açúcar
Diversidade, flexibilidade e adequação às necessidades do meio ambiente. A Cana-de-Açúcar é matéria-prima de grande flexibilidade.
Com ela é possível produzir açúcar e álcool de vários tipos: fabricar bebidas como cachaça, rum e vodka e gerar eletricidade a partir do bagaço via alcoolquímica.
Da cana, se aproveita absolutamente tudo: bagaço, méis, torta e resíduos de colheita. Com 3 kg de açúcar e 17,1 kg de bagaço pode-se obter, por exemplo, 1 kg de plástico biodegradável derivado da cana, utilizando-se como solventes outros subprodutos da usina.
Do bagaço, obtêm-se bagaço hidrolisado para alimentação animal, diversos tipos de papéis, fármacos e produtos como o furfurol, de alta reatividade, para a síntese de compostos orgânicos, com grande número de aplicações na indústria química e farmacêutica.
Do melaço, além do álcool usado como combustível, bebida, e na indústria química, farmacêutica e de cosméticos, extraem-se levedura, mel, ácido cítrico, ácido lático, glutamato monossódico e desenvolve-se a chamada alcoolquímica – as várias alternativas de transformação oferecidas pelo álcool etílico ou etanol. Do etanol podem ser fabricados polietileno, estireno, cetona, acetaldeído, poliestireno, ácido acético, éter, acetona e toda a gama de produtos que se extraem do petróleo. Seu variado uso inclui a fabricação de fibras sintéticas, pinturas, vernizes, vasilhames, tubos, solventes, plastificantes, etc.
Dos resíduos, utilizam-se a vinhaça e o vinhoto como fertilizantes.
Existem ainda outros derivados: dextrana, xantan, sorbitol, glicerol, cera refinada de torta, antifúngicos, etc.
A Cana-de-Açúcar gera, portanto, assim como o petróleo, incontável número de produtos, de fermento a herbicidas e inseticidas, com importante diferencial: são biodegradáveis e não ofensivos ao meio ambiente.
Observam-se abaixo produtos que poderão ser agregados no processo de industrialização da Cana-de-Açúcar:
Matérias-primas:
1 - A Cana-de-Açúcar2 - Açúcar3 - Bagaço4 - Méis5 - Torta6 - Resíduos da colheita
Derivados do bagaço
Polpa quimiomecânica de bagaço; Polpa química para papel; Polpa para dissolver; Polpa absorvente; Papel de jornal; Papel de impressão e de escrever de polpa quimiomecânica; Papel de impressão e de escrever de polpa química; Papéis estucados com polpas química e quimiomecânica; Meio para corrugar; Carboximetilcelulose; Celulose microcristalina; Pó de celulose; Meios filtrantes; Fármacos a partir de lignina do bagaço; Tabuleiros de partículas de bagaço; Tabuleiros ou painéis com aglutinantes inorgânicos; Tabuleiros de fibras de bagaço; Produtos moldados de bagaço; Tabuleiros de fibras de densidade média (MDF); Furfurol; Resina de furfurol acetona; Resina para fundição; Primário atincorrosivo furano-asfáltico; Fármacos nicrofurânicos; Álcool furfurílico; Resina de álcool furílico; Carvão ativado; Bagacilho hidrolisado; Bagacilho pré-digerido; Bagacilho pré-digerido com cal (Predical).
Derivados do melaço
Álcool; Produção de rum e aguardente; Alcoolquímica; Alfa-amilase; Dextranase; Celulase; Xilanase; Levedura Saccharomyces; Levedura Torula; Levedura Torula a partir de outros substratos; Levedura invertase; Mel protéico; Mel desidratado enriquecido; Levedura para consumo humano; Autolisado e derivados de levedura; Produção de gordura a partir de leveduras; Méis para uso direto como alimento; Resíduos da colheita processados; Enriquecimento protéico de resíduos da colheita da cana; L-lisina; Ácido cítrico; Ácido lático; Glutamato monossódico; Acetona-butanol; Ácido indol-acético, Bactérias fixadoras do nitrogênio, Azospirillum sp.; Ácido jasmônico; Giberelinas.
Outros Derivados
Dextrana; Xantana; Sorbitol; Glicerol; Cera refinada de torta; Fitosteróis a partir de óleo de torta; Conservação de resíduos da colheita; Fungos comestíveis (cogumelos); Antifúngico foliar a partir de pseudomonas spp.; Esporos de Trichoderma harzianum para controle biológico; Controle biológico.
Resíduos
Vinhaça; Vinhoto concentrado de resíduos alcóolicos; Biogás de resíduos; Águas residuais para fertilização e irrigação.
Energia
Energia na produção de açúcar de cana.
1.3- Tipos de açúcar
Açúcar refinado granulado
Puro, sem corantes, sem umidade ou empedramento e com cristais bem definidos e granulometria homogênea, o açúcar refinado granulado é muito utilizado na indústria farmacêutica, em confeitos, xaropes de excepcional transparência e mistura seca, em que são importantes aspectos visuais, escoamento rápido e solubilidade.
Açúcar refinado amorfo
Com baixa cor, dissolução rápida, granulometria fina e brancura excelente, o refinado amorfo é utilizado no consumo doméstico, em misturas sólidas de dissolução instantânea, bolos e confeitos, caldas transparentes e incolores. Glaçúcar - O conhecido açúcar de confeiteiro, com grânulos bem finos, cristalinos, produzido diretamente na usina, sem refino e destinado à indústria alimentícia, que o utiliza em massas, biscoitos, confeitos e bebidas.
O xarope invertido
Com 1/3 de glicose, 1/3 de frutose e 1/3 de sacarose, solução aquosa com alto grau de resistência à contaminação microbiológica, que age contra a cristalização e a umidade, é utilizado em frutas em calda, sorvetes, balas e caramelos, licores, geléias, biscoitos e bebidas carbonatadas.
O xarope simples ou açúcar líquido
Transparente e límpido, é também uma solução aquosa, usada quando é fundamental a ausência de cor, caso de bebidas claras, balas, doces e produtos farmacêuticos.
Açúcar orgânico
Produto de granulação uniforme, produzido sem nenhum aditivo químico, na fase agrícola como na industrial, e pode ser encontrado nas versões clara e dourada.
Seu processamento segue princípios internacionais da agricultura orgânica e é anualmente certificado pelos órgãos competentes. Na produção do açúcar orgânico, todos os fertilizantes químicos são substituídos por um sistema integrado de nutrição orgânica para proteger o solo e melhorar suas características físicas e químicas. Evitam-se doenças com o uso de variedades mais resistentes, e combatem-se pragas, como a broca da cana, com seus inimigos naturais – vespas, por exemplo.
1.4- Avanço tecnológico
Qualquer que seja a matéria-prima (Cana-de-Açúcar, beterraba, milho, etc.) da qual se extraia açúcar e álcool, o setor sucroalcooleiro do Brasil é dos mais competitivos do mundo.
Graças ao elevado teor de fibra, que lhe confere independência em relação à energia externa, a Cana-de-Açúcar apresenta, em termos energéticos, claras vantagens competitivas na comparação com outras matérias-primas.
A produtividade agroindustrial teve nos últimos anos significativa evolução: na região Centro-Sul, que responde por 85% da produção brasileira, a média oscila entre 78 e 80 toneladas por hectare, em ciclo de cinco cortes. Em São Paulo, responsável por 60% da produção nacional, a média está ao redor de 80 a 85 toneladas por hectare, em ciclo de cinco a seis cortes.
A qualidade da matéria-prima, em São Paulo e no Centro-Sul, medida pela sacarose que contém, está entre 14 e 15,5% de pol, o que equivale ao rendimento médio de 140 a 155 kg de açúcares totais por tonelada de cana. Para o álcool, isso significa rendimento entre 80 e 85 litros por tonelada.
1.5- Combustível limpo e renovável
Com a experiência acumulada da produção e uso de álcool em todo o país desde a década de 20 (álcool anidro para mistura à gasolina), em 1975, dois anos após o choque do petróleo, o Brasil apostou no álcool combustível como alternativa para diminuir sua vulnerabilidade energética e economizar dólares. Criou um programa de diversificação para a indústria açucareira, com grandes investimentos, públicos e privados, apoiados pelo Banco Mundial, o que possibilitou a ampliação da área plantada com Cana-de-Açúcar e a implantação de destilarias de álcool, autônomas ou anexas às usinas de açúcar existentes.
A utilização em larga escala do álcool deu-se em duas etapas: inicialmente, como aditivo à gasolina (álcool anidro), num percentual de 20%, passando depois a 22% e agora 25%. A partir de 1980, o álcool passou a ser usado para mover veículos cujos motores o utilizavam como combustível puro (álcool hidratado), mas que, ainda adaptações dos modelos à gasolina, não tinham desempenho adequado.
Com o intenso desenvolvimento da engenharia nacional, após o segundo choque do petróleo, surgiram, com sucesso, motores especialmente desenvolvidos para o álcool hidratado.
Em 1984, os carros a álcool respondiam por 94,4% da produção das montadoras.
Desde 1986, no entanto, afastada a crise do petróleo, e centrando-se as políticas econômicas internas na contenção de tarifas públicas, para limitar a inflação, o governo contribuiu decisivamente para o início de uma curva descendente de produção de carros a álcool: o desestímulo à produção levou a relação muito justa entre oferta e demanda do produto no final dos anos 90; mesmo com a existência de álcool nas usinas, o governo – por omissão ou falha operacional – não foi capaz de resolver problemas logísticos e provocou uma crise localizada de abastecimento em 89.
Coincidência ou não, a indústria automobilística começou a inverter a curva da produção de carros a álcool, para alívio da estatal brasileira de petróleo, que reclamava de excedentes na produção de gasolina. A participação anual caiu de 63% da produção total de veículos fabricados em 88 para 47% em 89, 10% em 90, 0,44% em 96, 0,06% em 97, 0,09% em 98, 0,92% em 99, 0,69% em 2000 e 1,02% em 2001.
Atualmente três milhões de veículos são movidos a álcool hidratado, consumindo 4,9 bilhões de litros/ano. Usa-se álcool anidro (produção de 5,5 bilhões de litros/ano), na proporção de 24 a 25%, como aditivo para a gasolina. Nos últimos 22 anos registrou-se economia de 1,8 bilhão de dólares por ano, com a substituição pelo álcool, do equivalente a 200 mil barris de gasolina/dia.
A queda da demanda de álcool hidratado foi compensada pelo maior uso do álcool anidro, que acompanha o crescimento da frota brasileira de veículos leves. Em mais de 25 anos de história de utilização do álcool em larga escala, o Brasil desenvolveu tecnologia de motores e logística de transporte e distribuição do produto únicas no mundo. Hoje, há determinação legal no sentido de que toda gasolina brasileira contenha de 20% a 25% de álcool anidro, com variação de + ou – 1. A definição pontual cabe à CIMA – Conselho Interministerial de Açúcar e Álcool, e é feita de modo a equilibrar a relação entre oferta e consumo. O Brasil desenvolveu infra-estrutura ímpar de distribuição do combustível e detém uma rede de mais de 25 mil postos, com bombas de álcool hidratado, para abastecer cerca de três milhões de veículos, 20% da frota nacional.
1.6- Impacto ambiental positivo
A produção atual de álcool no mundo é da ordem de 35 bilhões de litros, dos quais 60% destinam-se ao uso combustível. O Brasil e os Estados Unidos são os principais produtores e consumidores.
O mercado possui enorme potencial de expansão, graças a fatores como o combate mundial ao efeito estufa e à poluição local, que levou à substituição de aditivos tóxicos na gasolina; a valorização da segurança energética, buscando-se autonomia pela diversificação das fontes de energia utilizadas; o incremento da atividade agrícola, que permite a criação de empregos e a descentralização econômica.
Os Estados Unidos já possuem uma frota de mais de um milhão e meio de veículos flexíveis (rodam com diversas misturas de álcool e gasolina) e deverão aumentar muito a utilização do álcool misturado à gasolina em razão do banimento do MTBE – metil-tércio-butil-éter na Califórnia e em outros Estados, em virtude da contaminação dos lençóis freáticos causada por esse derivado do petróleo. Austrália, Tailândia, México, Suécia, União Européia, Canadá, Colômbia, Índia, China e Japão já ensaiam programas de álcool, estimulados por preocupações ambientais e agrícolas.
Os eventos de 11 de setembro em Nova York tornam ainda mais evidentes os problemas de uma ordem econômica mundial excessivamente baseada num só energético, o petróleo, cujas fontes produtoras estão em regiões politicamente instáveis – é clara a tendência de crescimento dos custos político e militar para garantir o suprimento do produto. Além disso, a comunidade científica afirma que o petróleo já inaugurou seu período de "depleção", caracterizado por demanda muito superior às reservas existentes. Isso abre caminho para que a energia limpa e renovável de fontes como a biomassa da Cana-de-Açúcar e outros vegetais se transforme em um dos principais energéticos do século 21.
O diferencial ambiental e as razões econômicas (economia de divisas) e sociais (geração de empregos) inspiraram a utilização do álcool como combustível no Brasil, mas sua sustentabilidade também se baseia na contribuição para a melhoria do meio ambiente: combustível limpo, o álcool tornou-se grande aliado na luta contra a degradação ambiental, principalmente nos grandes centros urbanos.
O Brasil já colhe os frutos ambientais do seu uso em larga escala. Estudo publicado pela Confederação Nacional da Indústria, em 1990, que comparou cenários de utilização de combustíveis na Região Metropolitana de São Paulo, concluiu que o melhor cenário para a redução de emissões seria o uso exclusivo do álcool em toda a frota; o pior, o uso de gasolina pura. Na faixa intermediária, situaram-se os cenários de frota operando exclusivamente com gasolina contendo 22% de etanol e, em posição ambientalmente mais favorável, o mix da frota circulante em 1989, composto por 51% de veículos com 22% de etanol na gasolina e 49% de veículos a álcool puro.
O maior diferencial ambiental do álcool está na origem renovável. É extraído da biomassa da Cana-de-Açúcar, com reconhecido potencial para seqüestrar carbono da atmosfera, o que lhe confere grande importância no combate global ao efeito estufa.
É um produto renovável e limpo que contribui para a redução do efeito estufa e diminui substancialmente a poluição do ar, minimizando os seus impactos na saúde pública. Apesar de ser lembrado como resposta do Brasil às crises do petróleo, o álcool anidro era usado desde os anos 30 como aditivo na gasolina brasileira. Na busca de autonomia energética, o país desenvolveu o Programa Nacional do Álcool e o pioneiro carro a álcool. Estavam lançadas as raízes de uma capacidade instalada de produção anual de 16 bilhões de litros de álcool, o equivalente a 84 milhões de barris de petróleo/ano.
Uma cultura altamente ecológica, pois além do externado anteriormente controla suas pragas com inimigos naturais (controle biológico); suas doenças através da engenharia genética; utiliza todos seus resíduos industriais nas lavouras de cana; manejo de solo adequado e ainda gera um combustível limpo e renovável.
1.7- Políticas de Produção
O processo de produção de cana, açúcar e álcool no Espírito Santo têm uma diferença importante em relação a outros Estados e Países: do plantio à comercialização do produto final tudo acontece sem intervenção ou subsídios do governo, algo que se torna ainda mais significativo quando se leva em conta a complexidade da cadeia produtiva do setor. Já em outros Estados do Nordeste, Goiás e Rio de Janeiro existem programas de incentivos para o setor.
A matéria-prima, a Cana-de-Açúcar, gera açúcar, álcool anidro (aditivo para a gasolina) e álcool hidratado para os mercados interno e externo, que têm dinâmica de preços e demanda diferente. Atender a esses mercados sem oscilações significativas requer planejamento, logística e políticas públicas coerentes, entre elas, políticas fiscais e tributárias que, incidindo sobre os combustíveis fósseis, ampliem a competitividade do combustível renovável. Há ainda que se estimular a demanda por veículos a álcool, amenizando a curva de sucateamento da frota.
Pelo lado privado, impõe-se a consolidação de um sistema de autogestão capaz de permitir o equilíbrio entre a oferta e a demanda dos produtos do setor. Para isso, é de grande importância a criação de um mercado futuro que sinalize o comportamento das commodities no médio e longo prazos.
Este modelo depende da abertura de novos mercados para o açúcar e, principalmente, da transformação do álcool em commodity internacional.
O caminho do açúcar – produto mais protegido do mundo – é o mais difícil: há fortes barreiras protecionistas na União Européia e nos Estados Unidos. Quanto ao álcool, novos programas para seu uso na França, no México, Canadá, Suécia, Austrália, Índia e Colômbia, indicam conjuntura mais favorável. Nos Estados Unidos, a proibição de uso do aditivo para gasolina MTBE (Metil-Tércio-Butil-Éter), derivado do petróleo considerado cancerígeno e poluidor dos lençóis freáticos, deverá exigir volumes expressivos de álcool combustível e o Brasil e NOSSO ESTADO deve estar preparado para o avanço da demanda.
Fonte: www.seag.es.gov.br
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