Ele já quis posar de mocinho rebelde. Na geração anterior, chegou com musiquinha dizendo que não era carro de tiozão. Resultado: já que o carro não era para eles, os “tiozões” continuaram comprando Corolla, e os “sobrinhos”, como se sabe, não compram sedãs, salvo exceções. Nesta nova geração (a sétima), o Sentra assumiu seu lado sóbrio, conservador, sem que isso seja necessariamente algo negativo. O novo modelo está suave, bem acabado, confortável e espaçoso. Normalmente, é isso o que se espera de um modelo dessa categoria. E é isso o que ele entrega. Afinal, para que se arriscar a sair da zona de conforto?
Quem gosta de um carro com as características do Corolla deve prestar atenção ao Sentra. O Nissan é confiável, seguro, tem visual imponente, leva a família com conforto, etc. Andamos na versão top de linha, SL, de R$ 71.990. Embora o visual seja completamente diferente e a plataforma seja nova, a mecânica (motor 2.0 e câmbio automático CVT, continuamente variável) foi mantida, com as devidas atualizações.
Ao volante, o que chama a atenção é a resposta sempre imediata aos comandos do acelerador. O carro é tão animado que, às vezes, é preciso até tomar cuidado, especialmente em manobras de estacionamento. Isso porque basta um leve toque no acelerador para o carro sair rápido. Desconfio que a Nissan calibrou o motor para ter esse ímpeto nas saídas de modo a compensar as respostas do câmbio CVT. Há casos de veículos meio sonolentos quando equipados com esse sistema. Não é o caso do Sentra. O sedã está sempre alegre. Mais adiante vamos falar de um efeito colateral disso. Aguenta aí.
Visual imponente
O Sentra 2014 é imponente por fora e luxuoso por dentro. Uma espécie de mini-Altima, sedã que deve chegar no ano que vem para brigar na classe de Accord, Fusion e Camry. Em termos de estilo, o modelo agora optou por seguir uma linha mais conservadora, tradicional. Assumiu o lado “tiozão”, renegado pelo antecessor.
A linha de cintura é mais baixa, e o vinco que corta a lateral faz uma onda sobre o para-lama dianteiro. Particularmente, prefiro linhas mais retas, mas este é um típico Nissan. O chefe de estilo da marca, Shiro Nakamura, gosta de carros sóbrios. Tome como exemplo Versa, March, Livina… Até hoje, não sei como ele aprovou o Juke!
Mas, se não é arrojado, o certo é que o Sentra é elegante, e tende a agradar o público familiar. De frente, a ampla grade que combina cromado e prata fosco é imponente. Se eu tiver de eleger um ângulo preferido, para mim é a traseira, ou a visão de ¾ de traseira, com as amplas lanternas de led invadindo as laterais. Os leds, aliás, estão também na parte inferior dos faróis.
A evolução em termos aerodinâmicos é notória. O novo modelo tem coeficiente (Cx) de 0,29, muito melhor que o modelo anterior, que tinha Cx 0,34. Isso significa que a carroceria oferece menor resistência à fluidez do ar. Como resultado, o desempenho melhora e a economia aumenta. Outro fator que colabora é a redução de peso. Mesmo tendo crescido 5 cm (4,62 m), o novo Sentra está cerca de 70 kg mais leve, por conta de utilização de aço de alta resistência em partes vitais da carroceria. Por conta disso, é possível reduzir a quantidade do material, e, como consequência, o peso. Nessa versão SV, o Sentra pesa 1.348 kg.
Conforto é com ele
Mesmo com rodas aro 17 (pneus 205/50), o Sentra mostrou muita suavidade. Tive a oportunidade de dirigir o carro na Califórnia, há cerca de três meses, e na época elogiei o trabalho da suspensão, mas com a ressalva de que lá não há buracos, e o piso é aquele tapetão. Fiquei de atualizar a informação quando andasse no Brasil, onde buraco no asfalto é questão de honra das prefeituras. Pois o Sentra voltou a agradar.
Tratou muito bem os ocupantes, mesmo sendo maltratado pelo piso. O sedã não transfere para dentro nem solavancos nem ruídos. O Sentra utiliza sistema McPherson na frente e eixo de torção atrás. A direção elétrica também é bem leve e isola as imperfeições de solo.
O acabamento é muito bom e, mais uma vez, deixa claro que o pessoal da Nissan quis transferir para seu sedã médio parte do prestígio do Altima. Isso fica evidente na qualidade de materiais do painel e laterais. O revestimento é macio, agradável ao tato.
A versão SL vem bem completa. No preço de R$ 71.990, estão incluídos bancos de couro, teto solar, tela sensível ao toque com GPS, câmera de ré, etc. O modelo também está disponível nas versões S (a partir de R$ 60.990) e SV (R$ 65.990). Todos têm motor 2.0 de 140 cv. A básica é a única a oferecer câmbio manual de seis marchas. As outras duas vêm com transmissão CVT.
Desde a versão básica, o Sentra vem com chave de presença, botão de partida, faróis e lanternas com leds e volante de couro com comandos de som e Bluetooth. Fato negativo: a regulagem da coluna de direção incomodou. Isso porque, quando se solta a trava, a coluna “cai” de uma vez, tornando incômoda, pesada e ruidosa a simples tarefa de ajuste.
As duas primeiras versões vêm com duplo airbag frontal. A SL vem com seis (frontais, laterais e de cortina). O sensor de estacionamento e a câmera de ré estão presentes apenas no modelo mais caro, que têm tela maior (5,8 polegadas). No Sentra SV, ela tem 4,3”. O ar-condicionado digital com regulagens independentes é item de série nas versões top e intermediária. Para um carro tão bem equipado, achei um pouco estranho o fato de apenas o botão do vidro elétrico do motorista ter comando “um toque”. Nos demais, é preciso manter a tecla acionada para subida ou descida completa.
Além do acabamento refinado, espaço também é um ponto positivo do modelo, graças aos 2,7 m de entre-eixos. Passageiros do banco de trás dispõem de boa área para joelhos e cabeça. Além disso, o túnel central é baixo, melhorando o conforto para o eventual quinto ocupante.
O Sentra anterior já oferecia transmissão CVT, mas a Nissan informa que o novo câmbio Xtronic foi aprimorado, para privilegiar a economia de combustível. A montadora diz que 60% dos componentes são novos (incluindo o “coração” do sistema, as polias), e que a caixa ficou 13% mais leve. Ele recebeu nova relação de transmissão (7,3:1). Não há opção de trocas manuais. Na alavanca, pode-se bloquear o overdrive, que seria o equivalente a impedir que a última marcha fosse engrenada, em uma transmissão automática convencional. Dessa forma, ele mantém o giro um pouco mais elevado, para casos em que se precisa de um pouco mais de ânimo.
Mas e esse consumo?
Essa transmissão continua aproveitando muito bem a energia gerada pelo motor, por não apresentar interrupções de força durante as trocas. Tudo isso contribui para a melhora no consumo. Ou deveria. Algo me diz que não resolveu, não. Fazia tempo que eu não via um ponteiro de combustível baixar com tanta velocidade – tirando as vezes em que eu estava ao volante de um V8.
Fui até conferir se o tanque não era muito pequeno. O Sentra tem reservatório de 52 litros. É menos do que os 57 l do Civic e os 60 l do Corolla. Isso explica a velocidade da queda, mas apenas em parte. O tanque deveria ser maior, sim, mas o motor também precisaria ter menos sede. O fato negativo da avaliação é que a média de consumo, com etanol, foi de 5,3 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada. Haja combustível! A Nissan, porém, informa que o Sentra estreia com nota “A” no programa de etiquetagem do Inmetro.
O Sentra só utiliza motor 2.0 no Brasil. Nos EUA, por exemplo, o sedã vem com mecânica 1.8. Traz sistema Flex Start, de partida a frio, que elimina o tanquinho auxiliar. Mas tem algo que me intriga aí. Ele é menos potente que a concorrência (o Civic tem 155 cv, o Corolla, 153 cv, para ficar nos exemplos dos conterrâneos). Um motor como esse (comando duplo variável, 16 válvulas, etc.) deveria render mais do que esses 140 cv. Como comparação, o Civic oferece 140 cv em sua versão 1.8. O Cruze Ecotec 1.8 16V gera 144 cv, e por aí vai. Tá bom, torque é muito mais importante do que potência no dia a dia. E aí o Nissan se garante: ele tem 20 kgfm a 4.800, apenas um pouco a menos que os 20,7 kgfm do Corolla e um pouco a mais que os 19,5 kgfm do Civic.
Bom esse carro é. Agora vamos ver como ele se sai nas vendas. A corrida começou. Valendo…
Nissan Sentra – Ficha técnica
Motor: Bicombustível, dianteiro, transversal, 1.997 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando variável nas válvulas de admissão e escape e duto de admissão de dupla geometria. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio continuamente variável à frente (CVT) e marcha a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração.
Potência máxima: 140 cv a 5.100 rpm com etanol/gasolina.
Torque máximo: 20 kgfm a 4.800 rpm etanol/gasolina.
Diâmetro e curso: 84 mm X 90,1 mm. Taxa de compressão: 9,7:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira com eixo de torção, barra estabilizadora e molas helicoidais.
Freios: Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e quatro lugares. Com 4,63 metros de comprimento, 1,76 metro de largura, 1,51 metro de altura e 2,70 metros de entre-eixos. Oferece airbags duplos de série.
Peso: 1.348 kg.
Capacidade do porta-malas: 503 litros.
Tanque de combustível: 52 litros.
Produção: Aguascalientes, México.
Itens de série:
Versão S: Câmbio manual de seis relações, chave presencial I-Key, freios ABS com EBD, airbags frontais, rodas de liga-leve de 16 polegadas, lanternas e faróis de led, ar-condicionado, direção elétrica com assistência variável, retrovisores externos com regulagem elétrica, botão de ignição Start/Stop, faróis de neblina, volante multifuncional com acabamento em couro, rádio com CD/MP3/Bluetooth e quatro alto-falantes. Preço: R$ 60.990.
Versão SV adiciona: Câmbio CVT, ar-condicionado digital duas zonas, piloto automático e sistema multimídia com tela colorida de 4,3 polegadas com rádio CD/Aux/Mp3/Ipod/Bluetooth e seis alto falantes. Preço: R$ 65.990.
Versão SL adiciona: Bancos de couro, airbags laterais e do tipo cortina, sensor crepuscular, tetol solar elétrico, retrovisores eletricamente rebatíveis, rodas de liga leve de 17 polegadas, sensor de estacionamento com câmara traseira, sistema multimídia com rádio/CD/Mp3/Aux/USB/Bluetooth e GPS integrado ao painel. Preço: R$ 71.990.
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