Comissão aprova relatório que muda legislação sobre uso de agrotóxicos
Após discussão de mais de quatro horas, a comissão especial que analisa
novas regras para a regulação de agrotóxicos no país aprovou nesta
segunda-feira (25) relatório do deputado Luiz Nishimori (PR-PR),
favorável à mudança na legislação. Foram 18 votos favoráveis e nove
votos contrários.
Para entrar em vigor, o texto precisa passar primeiro pelo plenário da
Câmara. Depois, por ter sido modificado, volta ao Senado, onde foi
aprovado em 2002. O projeto original é de autoria do atual ministro da
Agricultura, Blairo Maggi. Depois, ainda tem que seguir para sanção
presidencial.
É pouco provável que todas estas etapas sejam cumpridas ainda neste ano,
já que há resistências dos próprios parlamentares para votar projetos
polêmicos em ano eleitoral.
O relatório derruba restrições à aprovação e uso de agrotóxicos no
Brasil, incluindo os mais perigosos, que tenham características
teratogênicas ---causadoras de anomalias no útero e malformação no
feto---, cancerígenas ou mutagênicas.
Também altera toda a legislação relativa a agrotóxicos, criando um rito bem mais sumário para a aprovação de novos produtos.
O relator fez uma série de mudanças no relatório na semana passada.
Entre elas, está a inclusão de uma nova nomenclatura para os
agrotóxicos, que passariam a ser tratados na lei como “pesticidas”.
Segundo o deputado, a medida visa adequar o termo ao usado por países da
OCDE.
Proposta anterior, porém, previa que a nomenclatura adotada fosse de
“produtos fitossanitários” --o que gerou protestos de ambientalistas e
entidades na saúde.
O relator também propôs novos prazos para registros de novos produtos.
Pelas atuais regras, órgãos dos ministérios da Agricultura, Saúde e Meio
Ambiente são responsáveis por análises dos novos agrotóxicos, trabalho
que normalmente leva mais de cinco anos.
A nova versão do texto, no entanto, prevê que esse prazo não seja maior
de dois anos, período após o qual os produtos podem ganhar registro
automaticamente. Versão anterior do relatório previa que esse prazo
fosse de até um ano.
O relatório, porém, manteve outros prazos, como o de 30 dias para
concessão de registro especial temporário e de um ano para produtos
formulados, por exemplo.
Em outra alteração, o relatório afirma que, nos casos em que
organizações internacionais alertarem para riscos ou desaconselharem o
uso do pesticida, autoridade competente deve fazer a reanálise de riscos
“considerando aspectos econômicos-fitossanitários e a possibilidade de
uso de produtos substitutos”.
O texto, porém, manteve outros pontos polêmicos, como o que prevê
mudanças nas atribuições de cada órgão hoje responsável pela análise dos
agrotóxicos.
Embora o projeto mantenha a participação da Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) e Ibama nas avaliações, a proposta aumenta o poder
do Ministério da Agricultura no processo.
Para ambientalistas, a alteração restringe o poder da agência de vetar produtos perigosos para a saúde.
Já os membros da bancada ruralista dizem que a legislação atual está
defasada e não permite que os produtos mais modernos e seguros cheguem
às lavouras nacionais.
De acordo com eles, a centralização na Agricultura não visa retirar poder dos órgãos de saúde, mas dar celeridade ao processo.
Bate-boca e protestos
A discussão chegou a ser iniciada em maio, mas a votação acabou adiada
para esta segunda-feira (25) em meio ao embate em torno do tema.
A sessão foi marcada por protestos com cartazes de grupos contra e a favor do projeto e bate-boca entre parlamentares.
No início do debate no colegiado, deputados da oposição pediram o
adiamento da votação devido à divulgação de nova versão do relatório com
menos de 24h para análise. O pedido foi negado.
Como a oposição é minoria na comissão, a estratégia adotada pelos
parlamentares de partidos como PSOL, PT e PSB foi a de protelar ao
máximo a tramitação na comissão.
Por isso, deputados também fizeram tentativas de obstruir a votação, com
requerimentos para realização de audiências públicas e retirada do
projeto da pauta. Como a bancada ruralista tem maioria no órgão, os
pedidos não foram aprovados.
Na semana passada, a chef e apresentadora de TV Bela Gil acompanhou uma
das sessões com cartazes que diziam que o projeto “pode colocar mais
tóxicos em sua comida”. A bancada ruralista respondeu com cartazes a
favor do projeto, por meio de frases como "+alimentos" e "+ciência".
“A lei atual é de 1989, de 30 anos atrás. Os defensivos agrícolas que
usavam naquele tempo eram o DDT, malathion, graças a Deus proibidos.
Queremos modernizar o setor”, afirmou na sessão do dia 19 de junho o
relator Luiz Nishimori.
A presidente da comissão criticou a oposição, que acusou de querer
induzir a população a erro ao chamar de "PL do veneno" a matéria. "Não é
verdade, ou vocês não leram ou vocês querem induzir as pessoas a erro",
afirmou Tereza Cristina.
Já os deputados da oposição criticam o projeto. O deputado Alessandro
Molon (PSB-RJ), criticou o trecho do texto que permite que registro
automático de produtos. "Ah, mas causa câncer? Não importa, pode usar.
Se em dois anos não for apreciado, pode usar. Isso é uma aberração",
afirmou.
"Qual é o pulo do gato? O Ministério da Agricultura fica com poder total
e absoluto para conceder os registros e autorizações de pesticidas",
disse o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ). "O projeto de lei é limitador
dos direitos da população a um alimento saudável. O interesse econômico
está sobrepujando o interesse social."
Em outro episódio, na quarta-feira (20), foi colocada uma maleta com um
alarme, uma espécie de "falsa bomba" segundo a Polícia Legislativa, no
fundo do plenário da comissão. O Greenpeace assumiu ter colocado o
objeto.
A presidente da comissão, Tereza Cristina (DEM-MS), que é também
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, determinou que a
sessão desta segunda fosse fechada a parlamentares, servidores da
comissão e jornalistas. Seguranças isolaram o corredor de comissões e
revistavam as bolsas daqueles que entravam no plenário.
Após protestos dos parlamentares, foi permitida a entrada de assessores dos deputados.
Fonte: Folha.com
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