Antiácido, antitérmico: Conheça perigos de remédios que não exigem receita
Quatro em cada cinco adultos norte-americanos tomam remédios expostos
nos balcões das farmácias e vendidos sem receita médica, mais
frequentemente para tratar doenças como dores, tosse e resfriados,
febres, alergias, problemas de pele, azia e outros males digestivos. É
fácil entender as razões. Esses medicamentos são convenientes, estão
disponíveis nas farmácias e mercados e são mais baratos do que ir ao
médico e pagar, às vezes, apenas para conseguir uma receita.
De acordo com a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA)
americana, existem mais de 300 mil remédios e produtos que não precisam
de receita no mercado dos EUA, um número que continua a crescer. De
acordo com a Associação de Produtos de Consumo de Saúde, um grupo
comercial da indústria, desde 1975, mais de 100 ingredientes, indicações
ou dosagens deixaram de precisar de receita nos Estados Unidos.
No ano passado, os americanos gastaram cerca de US$ 44 bilhões em
medicamentos sem receita, o que, segundo a indústria, gerou uma economia
de cerca de US$ 102 bilhões para o sistema de saúde em visitas médicas,
exames de diagnóstico e medicamentos prescritos.
Além de economizar o tempo e o dinheiro dos consumidores, esses dão a
muitas pessoas a sensação de ter controle sobre sua saúde e seu
bem-estar. No entanto, um em cada cinco adultos que se automedicam
admitem tomar mais do que a dose recomendada ou usar o produto com mais
frequência do que a bula indica.
Poucos consultam um médico – ou mesmo o farmacêutico – sobre a segurança
e a sensatez de usar um certo remédio. Uma pesquisa com consumidores
feita em 2001 para o Conselho Nacional de Informação e Educação do
Paciente descobriu que a maioria das pessoas lê apenas partes das bulas e
rótulos e, por isso, pode perder informações essenciais para o uso
correto da medicação.
Mesmo quando os remédios que não precisam de receita são usados
corretamente, pode haver problemas. Algumas substâncias não devem ser
tomadas por pessoas com certas condições de saúde ou combinadas com
outras – prescritas ou não – por causa da possibilidade de interações
adversas.
Paracetamol pode afetar o fígado
Por exemplo, o paracetamol (acetaminofeno), ingrediente ativo do Tylenol
e seus vários concorrentes, é o remédio mais usado sem receita, tomado
normalmente para diminuir a dor ou a febre. Mas o acetaminofeno também é
utilizado frequentemente em outros medicamentos que não precisam ser
indicados por um médico, como produtos para tosse, resfriados e alergias
e analgésicos que exigem prescrição como o Percocet e o Vicodin. Em
grandes quantidades, o acetaminofeno pode causar danos graves ao fígado.
Overdoses de acetaminofeno causam 30 mil hospitalizações todos os anos,
geralmente por causa de falência aguda do fígado. Um estudo com 500
pessoas publicado em 2012 no The Journal of General Internal Medicine
revelou que 24 por cento excederiam sem saber o limite seguro de quatro
mil miligramas da droga em um período de 24 horas usando apenas um
produto que contém a substância. Cerca de 46 por cento entrariam em
overdose ao tomar ao mesmo tempo dois produtos com esse analgésico.
De acordo com o Conselho Nacional, um terço dos americanos diz que
combina remédios para tratar sintomas múltiplos, mas apenas uma em dez
pessoas afirma que lê a bula inteira de cada medicamento que toma. Por
isso, a maioria não sabe das duplicações potencialmente tóxicas e das
interações danosas.
Uso de mais de um medicamento aumenta chances de intoxicação
Atrás de vantagens de vendas, muitas empresas que produzem remédios que
não precisam de receita oferecem produtos com múltiplos ingredientes
para tratar vários sintomas simultaneamente. No entanto, a maioria dos
consumidores não precisa de todas as substâncias ativas em um
medicamento e, dessa maneira, aumentam desnecessariamente o risco de
intoxicação.
Cerca de 40 por cento dos medicamentos vendidos sem receita são usados
por pessoas de mais de 65 anos, com maiores chances de ter uma condição
de saúde que pode contraindicar o uso de alguns desses remédios. Por
causa de doenças crônicas, de mudanças relacionadas com a idade na
maneira em que o corpo processa algumas substâncias e do número de
remédios prescritos que os idosos normalmente tomam, eles correm mais
riscos de sofrer efeitos adversos e problemas com interações.
Entre os perigos ligados aos medicamentos que os pacientes mais velhos
enfrentam de maneira desproporcional estão quedas, depressão, confusão,
alucinações e má nutrição.
Laxantes podem causar dependência
Só porque um produto é vendido no balcão da farmácia, não significa que
seja inofensivo. Os laxantes, por exemplo, estão entre os remédios sem
receita mais mal usados, e não só pelas pessoas que abusam deles na
esperança de perder peso. Quando tomados com muita frequência para
prevenir a constipação, os laxantes têm o poder de causar dependência. O
intestino pode perder sua habilidade para funcionar bem sem eles.
Pílulas para dormir que não necessitam de prescrição e que contêm
anti-histamínicos podem apresentar o problema oposto: perder sua
eficiência com o tempo, o que faz com que as pessoas comecem a tomar
mais do que a dose recomendada. Elas não devem ser usadas por mais de
duas semanas. Mesmo quando tomadas da maneira correta, podem causar sono
diurno, confusão mental e espessamento das secreções do pulmão.
Antiácido pode causar diarreia
Algumas pessoas com azia crônica tomam antiácidos para diminuir os
efeitos dos ácidos do estômago. Mas eles também podem causar diarreia e
constipação, e bloquear a absorção de alguns medicamentos prescritos. As
melhores escolhas disponíveis são os bloqueadores de H2 (como Pepcid e
Zantac) e inibidores da bomba de prótons (como Nexium, Prilosec e
Prevacid) que impedem a produção de ácidos no estômago. Mas esses
medicamentos também são perigosos quando tomados por muito tempo,
incluindo quebras de ossos e deficiência de magnésio, que podem levar a
convulsões.
Quando as substâncias anti-inflamatórias não esteroides, como a
aspirina, o ibuprofeno e o naproxeno, são tomados por muito tempo,
também podem causar danos, incluindo úlceras, problemas nos rins ou no
fígado e um aumento do risco de ataque cardíaco ou derrame. E assim por
diante.
Apesar de os remédios vendidos livremente serem normalmente seguros
quando usados de vez em quando e corretamente por adultos saudáveis,
esses problemas de saúde crônicos podem causar reações adversas
potencialmente sérias. O site FamilyDoctor.org possui uma lista de
condições médicas que talvez precisem de precauções extras: asma,
sangramentos ou coágulos, dificuldades respiratórias, diabetes, próstata
aumentada, epilepsia, glaucoma, gota, doenças no coração, e problemas
psiquiátricos e de tiroide.
Precauções antes de tomar qualquer remédio
Pessoas que têm condições de saúde subjacentes ou que usam um ou mais
medicamentos deveriam consultar seus médicos antes de tomar remédios
vendidos no balcão da farmácia. No mínimo, checar com o farmacêutico. Se
você compra todos os remédios prescritos na mesma farmácia, é mais
fácil descobrir potenciais interações adversas das substâncias. Se isso
não ocorrer, leve com você uma lista de todas as prescrições e
medicamentos sem receita que toma e pergunte ao farmacêutico.
Entre outras precauções sensatas a tomar quando for comprar um remédio
no balcão da farmácia estão: ler a bula inteira, incluindo ingredientes,
dosagens, intervalo e tempo indicados e advertências; prestar atenção
se o medicamento deve ser tomado com comida ou com o estômago vazio; não
misturar remédios e álcool; evitar tomar suplementos minerais e
vitamínicos ao mesmo tempo; e, se tiver qualquer reação alérgica ou
problemas, anote a causa para evitar aquela substância no futuro.
Fonte: UOL (Com NYT)
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