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sábado, 25 de outubro de 2014

Na era digital, estudantes se apegam aos livros de papel


Eles mandam mensagens de texto para seus amigos todos os dias. À noite, pesquisam para os trabalhos de conclusão de curso em seus laptops e conversam com seus pais no Skype. Mas enquanto seguem seu caminho no Hamilton College, uma faculdade de artes exemplar e liberal nessa cidade ao norte do Estado de Nova York, os alunos ainda carregam pelo campus pesados e antigos livros didáticos – e adoram isso.
“A tela não apaga”, diz Faton Begolli, estudante do segundo ano de Boston. “Não tem vírus. Não seria o mesmo sem livros. Eles definiram a 'academia' por mil anos.”
Embora o mundo impresso esteja diminuindo diante de uma onda de livros digitais, blogs e outros sites, uma geração de estudantes universitários influenciada pela tecnologia parece continuar aderindo aos livros tradicionais. A lealdade tem um preço. Os livros são caros – para um ano inteiro, podem custar de US$ 700 a US$ 900 (R$ 1.187 a R$ 1.526) – e as frustrações dos estudantes com a despesa, assim como o surgimento de novas tecnologias, produziram uma variedade confusa de alternativas para obtê-los.
Lojas na internet como a Amazon e Textbooks.com vendem livros novos e usados. Surgiram vários outros serviços na internet que alugam livros para estudantes por semestre. Cerca de 1.500 livrarias universitárias também oferecem aluguel neste semestre, 300 a mais do que no ano passado. Em Hamilton, os alunos este ano têm uma nova forma para evitar os intermediários: um site sem fins lucrativos, criado pelo Clube de Empreendedores da faculdade, que permite que eles vendam livros usados uns para os outros.
A explosão de lojas e formatos – incluindo livros digitais, que estão rapidamente se tornando mais sofisticados – deixaram alguns estudantes confusos. Depois de passar pela difícil seleção de curso, eles são obrigados a avaliar a relação entre o custo e a conveniência, analisar seus próprios hábitos de estudo e imaginar quais textos eles desejarão ter durante anos e quais não farão falta.
“Depende da matéria”, diz Victoria Adesoba, aluna do curso preparatório para medicina na Universidade de Nova York, que estava do lado de fora da livraria da escola, com uma bolsa azul clara cheia de livros pendurada no ombro. “No último semestre, aluguei livros de psicologia, e foi barato. Mas para matérias como química orgânica, preciso ter o livro. Os livros na internet são bons, mas é tentador entrar no Facebook, e isso pode cansar a vista.”
Apesar de tudo o que é dito sobre sua geração ser a mais adepta à tecnologia da história, os livros de papel não parecem destinados ao esquecimento tão cedo.
De acordo com a Associação Nacional de Livrarias Universitárias, os livros digitais representam apenas 3% das vendas de livros didáticos, embora a associação espere que este número aumente para 10% a 15% em 2012 à medida que mais títulos se tornam disponíveis em formato digital.
Em dois estudos recentes – um feito pela associação e outro por Grupos de Pesquisas de Interesse Público Estudantil – três quartos dos alunos entrevistados disseram que ainda preferem um livro de papel à versão digital.
Muitos estudantes relutam em abrir mão da possibilidade de folhear rapidamente entre os capítulos, escrever nas margens e grifar passagens, embora novos aplicativos permitam que os alunos usem os livros digitais dessa forma.
“Os estudantes cresceram com livros impressos”, diz Nicole Allen, diretora da campanha de livros didáticos para os grupos de pesquisa, “então, à medida que passam para o ensino superior, não surpreende que levem consigo uma preferência pelo formato com o qual estão mais acostumados.”
De fato, muitos alunos de Hamilton falaram de forma apaixonada sobre os pesados tomos que ainda carregam do quarto para a sala de leituras e para a biblioteca, mesmo enquanto checam compulsivamente mensagens de texto e e-mails em seus smart phones.
“Acredito que o codex é uma das melhores invenções da humanidade”, diz Jonathan Piskor, aluno do segundo ano na Carolina do Norte, usando o termo latino para livro.
Essa paixão pode ser a razão pela qual as Livrarias Universitárias da Barnes & Noble estejam trabalhando duro para divulgar seu novo aplicativo, o NOOKstudy, que permite que os alunos naveguem em livros digitais em Macs e Pcs. A companhia, que opera 636 livrarias em campi universitários do país, incluindo uma em Hamilton, ofereceu inscrições gratuitas no verão passado na esperança de persuadir mais estudantes a comprarem seus livros eletrônicos.
“O verdadeiro obstáculo é fazer com que eles experimentem”, diz Tracey Weber, vice-presidente executiva da companhia para livros didáticos e educação digital.
A companhia está oferecendo gratuitamente “Kits de Introdução Universitários” para alunos que baixarem o NOOKstudy neste semestre, com receitas de macarrão instantâneo e uma dúzia de livros eletrônicos clássicos como “The Canterbury Tales” e “The Scarlet Letter”. O CourseSmart, um consórcio de grandes editoras de livros didáticos, permite que os estudantes experimentem qualquer livro didático eletrônico gratuitamente por duas semanas.
Mas nem todo livro didático está disponível em formato digital ou para alugar. Em Hamilton, por exemplo, cerca de apenas um quinto dos títulos são vendidos no formato eletrônico neste semestre. Uma caminhada pela loja do campus revelou a diferença de preço. Um livro sobre legislação constitucional, por exemplo, custava US$ 189,85 (R$ 321) novo, US$ 142,40 (R$ 241,51) usado, e US$ 85,45 (R$ 144,9) para alugar. (Normalmente, um livro eletrônico é mais barato do que um livro usado, embora mais caro do que um para aluguel.)
O gasto com livros didáticos universitários, que estima-se tenha aumentado quatro vezes mais que o valor da inflação nos últimos anos, tornou-se uma preocupação e uma causa para alguns políticos. No mês passado, o senador Charles E. Schumer de Nova York pediu que mais livrarias universitárias alugassem livros, depois que uma pesquisa realizada em 38 livrarias de campi da Cidade de Nova York e Long Island por seu gabinete descobriu que 16 delas não ofereciam esta opção.
Na quinta-feira, os alunos de mais de 40 faculdades de todo o país estão planejando um dia de ação em prol de livros didáticos mais acessíveis, organizado pelos Grupos de Pesquisa de Interesse Público Estudantil, para encorajar membros das faculdades a indicarem textos mais baratos, ou que sejam oferecidos gratuitamente online.
Por enquanto, comprar livros da forma antiga – novos ou usados – ainda é o mais comum. Charles Schmidt, porta-voz da Associação Nacional de Livrarias Universitárias, disse que se uma livraria de um campus vende um livro novo por US$ 100, ela normalmente compra o livro de volta por US$ 50 no final do semestre e o vende para o próximo aluno por US$ 75.
O preço que as livrarias pagam costuma cair, entretanto, se o professor retira o livro (ou a edição) do programa ou se a livraria comprou livros suficientes para atender à demanda. Quando Louis Boguchwal, um calouro de Hamilton que está se especializando em economia e matemática, tentou vender um livro de álgebra linear de US$ 100 para a livraria da faculdade, recebeu uma oferta de US$ 15.
“Foi um insulto”, disse ele. “Eles não pagam praticamente nada.”
Então Hamilton criou um site sem fins lucrativos chamado getmytexbooks.org [algo como “fique com meus livros”]. Até agora, as visitas não foram muitas: apenas 70 livros foram vendidos nesse semestre. Mas Jason Mariasis, presidente do Clube de Empreendedores, disse que espera que as vendas aumentem à medida que o site ficar mais conhecido. O site também lista centenas de outras faculdades.
Begolli, um membro do clube, vendeu recentemente três romances alemães por US$ 17 (R$ 28,8) no site. “Se eu tivesse vendido para a livraria, eu teria recebido US$ 7 ou US$ 8 (R$ 11,8 ou R$ 13,5)”, diz ele. “A livraria reina no que diz respeito às vendas de livros didáticos. Nós achamos que deveria haver uma coisa para os estudantes, feita pelos estudantes.”
Mas alguns estudantes precisam se virar. Rosemary Rocha, 26, aluna de hotelaria e turismo na NYU, somou o preço de suas leituras obrigatórias para o semestre: US$ 600 (R$ 1.017). “É pesado”, diz ela. “Estou recebendo seguro desemprego, então não é possível.”
Em vez disso, ela espera para emprestar as poucas cópias que os professores deixam reservadas na biblioteca, ou depende da gentileza de seus colegas de classe. “Meus amigos me emprestam seus livros em troca de um café ou um pedaço de pizza”, diz. “Raramente compro livros, mas sempre fico meio perdida.”

The New York Times - Lisa W. Foderaro
Tradução: Eloise De Vylder
Fonte: UOL

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