Medo
Autor: Alberto J. Grimm [1]
Seria o Medo nosso maior Vilão?
O Medo é a principal autoridade que rege, que condiciona as ações do nosso viver...
Primeiro o cachorro deu um longo e amargurado uivo, depois começou a latir com vigor. Ele abriu devagar uma pequena fresta, na porta que dava para a parte de trás da casa, e com cuidado, olhou na direção da casinha do cachorro, que ficava lá num cantinho, encostada no muro, nos limites do fundo do quintal, para ver se via alguma coisa de anormal, algo que justificasse todo aquele alvoroço do animal.
Nada, não viu nada. Mas, o cachorro pareceu vê-lo, pois olhou em sua direção, e começou a acenar com alegria o rabo. Ele criou coragem, abriu a porta, e na ponta dos pés, olhando para todos os lados, foi até lá dar uma espiada.
Lá chegando, o percebeu inquieto, agitado, querendo a todo custo soltar-se da corrente. O ambiente estava silencioso demais, sem brisa, e nem o pequeno Bacurau que residia nas redondezas, a julgar pela ausência dos seus pios com os quais já se acostumara, se mostrava presente naquele momento.
Olhou em volta apreensivo, e cismado, resolveu levá-lo para dentro da casa. O animal parecia contente com aquele gesto, e também tinha pressa em entrar logo. Puxava a corrente com força, e só ficou quieto, quando dentro de casa, viu que a porta fora trancada.
Certamente que o pequeno animal vira alguma coisa estranha, ou não estaria agindo daquela forma, não era do seu feitio. Observou como ele parecia agradecido por ter entrado, e foi recostar-se num canto, meio escondido, encolhido, e de lá o fitava nos olhos, como se quisesse lhe dizer alguma coisa.
Então apagou as luzes e permaneceu atrás da porta, olhando pelo buraco da fechadura, para o lado de fora. Era noite clara, mas estranhamente silenciosa. Nem os ruídos dos bichos noturnos se ouvia. Certamente que tinha alguma coisa errada por ali. Sua imaginação entrou em ação, e já iniciou sua frenética jornada em busca de alguma coisa fantástica para ilustrar a situação. Era apenas uma questão de tempo, pois certamente ela acabaria por encontrar algo que, se não explicasse o fato, cuidaria de deixá-lo no mínimo nervoso.
Então ele escutou lá fora um barulho, como o trote de um cavalo. Depois um ruído que se assemelhava a alguém, ou um animal, se coçando furiosamente. Até aí tudo estava bem, não fosse a horripilante gargalhada que ouviu em seguida. Sentiu suas pernas fraquejarem e o sangue gelar. Depois um longo arrepio percorreu todo o seu corpo, deixando seus pelos eriçados como duros espinhos.
Pronto, era o material adicional que sua imaginação precisava para dar cor, forma, e até um motivo para aquilo que estava lá fora. Só podia ser algo monstruoso, um demônio, ou coisa pior, se é que isso era possível. Que soubesse, animal algum andava como se fora um cavalo e ainda por cima gargalhando. Mas, a questão agora era: O que tamanha e tão bizarra aberração estaria fazendo logo no quintal de sua casa?
Esperou que a suposta besta entrasse no campo de visão que lhe permitia o pequeno buraco na porta, e nesse momento, quase que seu coração salta pela boca, pois o cachorro, subitamente levantou do seu canto e partiu rosnando ferozmente em direção à porta. Ele se agarrou com o animal, e tapando sua boca, voltou a observar pelo buraco, como estava a situação lá fora.
Então, aquilo, o que quer que fosse, começou a cheirar a porta. Nos seus braços, o cachorro tremia mais que ele, e vez por outra, tentava se soltar para ir se esconder em outro lugar.
E a coisa lá fora, permanecia diante de sua porta. Respirava como se fosse um grande animal, inquieto, ofegante. Ele ficou tentado a olhar pela fresta, mas seu corpo não obedecia à sua vontade. Começou a imaginar o que poderia ser aquela coisa. Pelo vulto que vira, tinha certeza que não se tratava de um cavalo, mas, o ruído dos seus passos certamente eram de cascos. Então, aquela estranha besta, recostou-se na sua porta.
Ele podia sentir o bafo quente da sua respiração soprando pela fresta de baixo, e um ruído como se fossem unhas, longas e fortes como garras, riscando a madeira. Percebeu que, o que quer que fosse, estava olhando pela abertura de baixo da porta, vasculhando o interior da casa. Ele por sua vez, estava completamente petrificado, colado à parede ao lado da porta, imóvel e sem respirar. E do outro lado, o estranho visitante, bufava pelo nariz e boca, enquanto arranhava a porta grunhindo, provocando pavorosos sons.
Passados alguns instantes, a julgar pelos ruídos, começou a caminhar lentamente, trotando como fosse um cavalo, se afastando da porta. Foi então que, num ímpeto de coragem ou loucura, ele resolveu olhar através do buraquinho da fechadura, para os fundos da casa. E, lá no meio do seu quintal, inicialmente de costas para ele, pode ver um vulto, que mais parecia uma figura humana. Era esguio, de compleição atlética e enorme. Braços longos e ágeis, que mais pareciam tentáculos metálicos, e vestia uma longa capa preta e um chapéu de abas largas. Ficou tão nervoso, que seus olhos embaçaram.
Esfregou os olhos, e ao focar outra vez o olhar para fora, quase cai de costas com o que viu. A aparição, seja lá o que fosse, estava olhando na sua direção, imóvel, como se o estivesse vendo, com um sorriso largo e brilhante, estampado no seu horrível, pálido, indescritível, maligno rosto.
Pensou consigo: “O que danado será essa coisa. Será que ela me viu?”. De fato, seus pés eram como cascos de cavalo, e nas extremidades de suas mãos, longas e afiadas garras se moviam inquietas, como uma gigantesca e faminta ave de rapina, diante da caça a ser abatida. Olhou outra vez, e a coisa realmente olhava em sua direção, com um sorriso nos lábios, que exibiam fileiras de pontiagudos e enormes dentes, de um predador implacável.
E como que, para confirmar seus temores, a coisa fez um gesto com a mão direita espalmada em sua direção, como se pedisse para esperá-lo, deixando claro que sabia estar sendo observado, por alguém que estava do outro lado da porta.
Urinou-se todo, e em sua garganta, a sensação de que estava entalado com um ovo, de uma consistência sólida, porosa, áspera, que não subia, nem descia. Sentiu falta de ar e começou a suar frio, seus olhos não piscavam, suas pernas não mexiam, perdera completamente a coordenação voluntária de todos os músculos do corpo. O cachorro, aproveitando-se da sua súbita incapacitação, desaparecera casa adentro aos ganidos.
Então, ouviu que a coisa lá fora se aproximou da porta num rápido galope, e começou a forçá-la. Depois, começou a bater com extraordinário vigor na madeira. Nesse momento, ele percebe, que as dobradiças da porta, estavam cedendo.
Mas, ali, recostado à parede, completamente indefeso, sem forças sequer para gritar, a última coisa que viu foi quando os pedaços de madeira da porta, totalmente destroçada, foram arremessados para dentro da casa.
Acordou assustado com os latidos do cachorro. “Ufa, felizmente tudo não passou de um sonho...”, sussurrou aliviado, mas, ainda paralisado pelo temor.
Em seguida o cachorro deu um longo e amargurado uivo, depois começou a latir com mais vigor.
Ele pulou da cama como se impulsionado por uma mola, correu para a cozinha, abriu devagar uma pequena fresta, na porta que dava para a parte de trás da casa, e com cuidado, olhou na direção da casinha do cachorro, que ficava lá num cantinho, encostada no muro, nos limites do fundo do quintal, para ver se via alguma coisa de anormal, algo que justificasse todo aquele alvoroço do animal.
Nada, não viu nada. Mas, o cachorro pareceu vê-lo, pois olhou em sua direção, e começou a acenar com alegria o rabo. Ele criou coragem, abriu a porta, e na ponta dos pés, olhando para todos os lados, foi até lá dar uma espiada.
Foi aí que lembrou já ter visto aquela cena...
http://sitededicas.ne10.uol.com.br/conto-reflexivo-medo.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário