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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Dica: Motivando a ler

Dica: Motivando a ler
Uma dica legal para motivar a leitura ainda na infância é através da curiosidade.
Compre alguns livros adequados a idade de seu filho. Inicie você lendo para ele. Dê risadas nas partes engraçadas; fale em tom baixo e melancólico nas parte tristes ou seja , dê entonação a história. Você verá que será uma diversão e claro estará estimulando o gosto pela leitura.
Com relação a curiosade da criança - diga que alguns dos livros que você comprou são "meio que" proibidos e que você não poderá ler e, deixe o livro guardado em algum lugar visível. Com certeza - quando você não estiver presente a curiosidade falará mais alto e o livro será "devorado".
Estimule sempre. Ler é viver. Ler é saber.

EDUCAÇÃO S/A

Doenças infantis: Caxumba

Doenças infantis: Caxumba

A caxumba também chamada de papeira ou parotidite é uma infecção viral (Vírus da família Paramyxoviridae, gênero paramyxovirus) das glândulas salivares (geralmente a parótida), sublinguais ou submandibulares, todas próximas aos ouvidos. Os sintomas costumam surgir de 12 a 25 dias após o contágio. As glândulas ficam inchadas, podendo-se perceber pelo pescoço logo abaixo da orelha, e doloridas. Também causa dor de cabeça, dores musculares, fraqueza, febre, calafrios e dor ao mastigar ou engolir. Nos casos masculinos pode ocorrer orquite, isto é inflamação do testículo e em casos femininos, a ooforite, isto é, inflamação dos ovários. Em alguns casos podem ocorrer meningite, as seqüelas podem ser diminuição da capacidade auditiva e4 esterilidade. A caxumba é transmitida através do contato direto com secreções (saliva ou espirro) da pessoa infectada.O indivíduo infectado não deve exercer atividades escolares e nem trabalhar pelo período de 09 dias após o início da doença. Ocorre usualmente sob a forma de surtos, que acometem mais as crianças sendo mais severa nos adultos, é uma doença que ocorre mais no período do inverno e primavera.A caxumba não tem tratamento, o próprio organismo se encarrega de resolver a infecção. O tratamento é para aliviar os sintomas com o uso de analgésicos e repouso. A prevenção para não pegar caxumba é a vacina ‘tríplice viral’, que deve ser administrada aos 15 meses de idade.

Fonte: portalfiocruz


Referência Bibliográfica
· B.D. Schmitt, M.D., Your Child's Health, Bantam Books.
· Sites acessados para consulta on-line:· http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/saude · http://www.correioescola.com.br/saude/vacinacao2.html·http://www.cives.ufrj.br/cva/doencas

Crendices sobre o raio

Crendices sobre o raio

Fatos e crendices sobre o raio
Ângelo Paes de Camargo

Geralmente se admite que a faísca elétrica é qualquer coisa que sempre desce das nuvens para atingir objetos e pessoas na superfície da terra. Todavia, sabe-se hoje que essa descarga elétrica, ou o raio, poderá também seguir caminho inverso, subindo do solo para alcançar as nuvens. Na verdade, são os fluxos elétricos ascendentes os responsáveis pela maior parte dos casos em que esse meteoro assume caráter grave, causando acidentes tão temidos.
Outro aspecto geralmente aceito como verdadeiro, mas cujas observações não autorizam confirmação é que o raio não incide mais de uma vez no mesmo lugar. Entretanto, as estatísticas revelam que o edifício Empire State, de Nova Iorque, é atingido pelas faíscas elétricas umas cinqüenta vezes por ano e, naturalmente, sem conseqüências, por estar bem protegido.
Um dos lugares mais seguros para abrigar-se durante as tempestades elétricas é o interior dos automóveis de carroceria metálica. Se um destes veículos for atingido por uma faísca, sua armadura metálica impedirá que a corrente elétrica penetre em seu interior e afete seus ocupantes. Da mesma forma, se o raio incidir um aeroplano metálico, como são os aparelhos modernos, os passageiros escaparão incólumes. Não são os raios que atemorizam os aviadores, nas tempestades, mas as violentas correntes aéreas.
Efeito protetor comparável aos dos veículos metálicos é o que se obtém com sistemas de pára-raios e cabos metálicos com que se envolvem os edifícios elevados. Sendo as estruturas metálicas excelentes condutos de eletricidade, as faíscas são por elas desviadas para o exterior ou para o solo sem afetarem os edifícios.
A temperatura da faísca elétrica é elevadíssima, da ordem de 15.000 ºC, ou mesmo mais, podendo, portanto, com facilidade, fundir os corpos que encontra em sua passagem.
O estrondo produzido pelo raio, ou seja, o trovão, é causado pelo estilhaçamento dos átomos e moléculas de ar, pela passagem violenta e rapidíssima do fluxo elétrico. Todavia, somente quando a faísca ocorre não muito distante é que o ruído se mostra bastante forte e ressonante. Quando provém de vários quilômetros de distância, o ruído mostra-se abafado e rouco. Além de trinta quilômetros de distância, o trovão já não é mais ouvido. Há raios que não produzem ruídos. Isto se dá quando são lentos e não chegam a arrebentar as moléculas e átomos à sua passagem.
Quando o raio atinge uma pessoa, o faz instantaneamente. Se não causar sua morte, deixando-a apenas paralisada, poderá a vítima ser salva por meio da respiração artificial. Quando uma corrente de alta voltagem, como a faísca do raio, passa através do corpo animal, causa geralmente a paralisação dos nervos e músculos que controlam a respiração. Por isso, a respiração artificial se torna imprescindível, até que o efeito paralisante do raio desapareça. A vítima da faísca elétrica normalmente sofre também queimaduras, mas seu curativo pode ficar para mais tarde. O importante é não deixá-la morrer asfixiada por falta de respiração.
Muitos dos acidentes das descargas elétricas poderiam ser evitados com a obediência de algumas poucas regras de segurança como: permanecer durante as tempestades elétricas no interior de edifícios; afastar-se de praias e campos abertos; não nadar, não andar a cavalo, nem de bicicleta ou em qualquer outro veículo aberto, como tratores e automóveis sem capotas metálicas; afastar-se dos cumes dos morros e das proximidades de árvores altas isoladas, que são bastante perigosas, não só pela faísca elétrica em si, mas porque a árvore poderá cair, vindo a atingir a pessoa; evitar o contato e mesmo a proximidade de cercas de arame e outros objetos metálicos não ligados à terra.
Os efeitos das descargas elétricas não são, todavia, sempre danosos. Elas provocam a síntese, na atmosfera, de grandes quantidades de valiosos adubos azotados, os quais, alcançando a superfície da terra, por intermédio das chuvas, vêm beneficiar indiretamente a agricultura.
(Camargo, Ângelo Paes de. "Fatos e crendices sobre o raio". O Estado de São Paulo. São Paulo, 10 de junho de 1959)

O Que Significa Ser Pobre

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O Que Significa Ser Pobre

Um pai, bem de vida, querendo que seu filho soubesse o que é ser pobre, levou-o para passar uns dias com uma família de camponeses.
O menino passou 3 dias e 3 noites vivendo no campo. 
No carro, voltando para a cidade, o pai perguntou: 
- Como foi sua experiência? -Boa, responde o filho, com o olhar perdido à distância. 
E o que você aprendeu? Insistiu o pai. 
1 - Que nós temos um cachorro e eles têm quatro.
2 - Que nós temos uma piscina com água tratada, que chega até a metade do nosso quintal. 
Eles têm um rio sem fim, de água cristalina, onde tem peixinhos e outras belezas. 
3-Que nós importamos lustres do Oriente ,para iluminar nosso jardim, enquanto eles têm as estrelas e a lua para iluminá-los.
4 - Nosso quintal chega até o muro.O deles chega até o horizonte.
5 - Nós compramos nossa comida, eles cozinham.
6 - Nós ouvimos CD's... Eles ouvem uma perpétua sinfonia de pássaros, periquitos, sapos, grilos e outros animaizinhos ...tudo isso às vezes acompanhado pelo sonoro canto de um vizinho que trabalha sua terra.
7 - Nós usamos microondas. Tudo o que eles comem tem o glorioso sabor do fogão à lenha.
8 - Para nos protegermos vivemos rodeados por um muro,com alarmes... Eles vivem com suas portas abertas, protegidos pela amizade de seus vizinhos. 
9 - Nós vivemos conectados ao celular, ao computador, à televisão. Eles estão "conectados" à vida, ao céu, ao sol, à água, ao verde do campo, aos animais, às suas sombras, à sua família. 
O pai ficou impressionado com a profundidade de seu filho e então o filho terminou: 
- Obrigado, papai, por ter me ensinado o quanto somos pobres!

autoria desconhecida 

http://criancagenial.blogspot.com.br/2015/09/o-que-significa-ser-pobre.html

Peça Infantil: A bruxinha que era boa

www.youtube.com/watch?v=7FnVrR0fImE

15 de jan de 2014 - Vídeo enviado por Felipe MondaA Bruxinha Que Era Boa (Completa). Felipe Monda. SubscribeSubscribedUnsubscribe 13 ...

A BRUXINHA QUE ERA BOA 


1° prêmio no concurso anual de percas infantis da prefeitura do Distrito Federal em 1955


1 ATO E 3 CENAS SEM INTERVALO


PERSONAGENS:
Bruxinha Ângela, a bruxinha que era boa.
Bruxinha Caolha, a pior de todos.
Bruxinha Fredegunda.
Bruxinha Fedorosa.
Bruxinha Fedelha.
Bruxa-Instrutora ou Bruxa-Chefe
Bruxo Belzebu, sua Ruindade Suprema.
Vice-Bruxo.
Pedrinho, o lenhador.


Cenário Único: UMA FLORESTA
(Vêem-se as cinco bruxinhas em fila e a bruxa-instrutora, de costas. Todas estão montadas em vassouras. A de costas, que é a bruxa-chefe, apita e as bruxinhas dão direita-volver. A bruxa-instrutora dá outro apito. As bruxinhas começam a cavalgar em torno da cena, sempre montadas em suas vassouras. A bruxa-instrutora torna a apitar; elas param.
A última bruxinha da fila é diferente das outras. Debaixo da roupa preta de bruxa, emoldurada por cabelos estranhamente louros (as outras têm cabelos pretos e roxos desgrenhados) surge um rosto angélico: é a bruxinha Ângela. Voa com grande prazer na sua vassoura e monta com elegância, enquanto suas irmãs voam como verdadeiras bruxas; gargalhadas e movimentos bruscos.)


BRUXA-CHEFE
Muito bem! Muito bem! Quase todas... Bruxinha Ângela, você é um fracasso. Seu riso não era de bruxa e muito menos de feiticeira. Assim você não passará no Exame. Agora vamos prticar o segundo ponto: Gargalhada de bruxa.
(A instrutora apita de novo. Todas gargalham com espalhafato. Bruxinha Ângela sorri apenas.)
BRUXA-CHEFE
Uma de cada vez! (apita)
(Caolha, Fredegunda e suas irmãs, todas querendo mostrar grande maestria, gargalham, até chegar a vez de bruxinha Ângela, que rir... sem maldade alguma.)
BRUXA-CHEFE
Bruxinha Ângela, você é a única que não estava bem. Aprenda a gargalhar com suas irmãs, Bruxinha Caolha, ria de novo.
(Bruxa Caolha ri horrivelmente feio.)
BRUXA-CHEFE
Muito bem. Muito bem. Bruxinha Caolha continua a primeira da classe... passemos ao 3° ponto: Feitiçarias antigas e modernas. Peguem seus caldeirões e o livro de receitas e vamos ver se vocês aprenderam as principais bruxarias.
(As cinco bruxinhas saem e voltam com enormes caldeirões e pás onde misturam folhas enormes num mesmo ritmo agitado. Só bruxinha Ângela pica suas verdurinha devagar, completamente fora do ritmo. Notado isto, bruxa-chefe apita nervosamente. O ritmo pára. Todas olham bruxinha Ângela que continua calmamente a picar.)
BRUXA-CHEFE
Bruxinha Ângela, você vai muito mal mesmo. Se continuar assim, terá que ser mandada, presa, para a Torre de Piche. Você que ir pra lá?!...
BRUXINHA ÂNGELA
Não!!...
BRUXA-CHEFE
Então trate de aprender as bruxarias direitinho para ser uma bruxa ruim de verdade.
(Ouve-se uma corneta. Todas escutam por um instante. Outra corneta mais perto.)
TODAS
O bruxo!
BRUXA-CHEFE
(Emocionada) Bruxinhas, alerta! O nosso bruxo se aproxima para o exame. Peço a todas que não me envergonhem. É preciso mostrar a sua Ruindade Suprema que vocês estão em forma. E todas já sabem que aquela que passar em primeiro lugar ganhará como prêmio uma vassourinha a jato!
TODAS
Oh!
(Elas começam a conversar e a comentar a novidade, enquanto recordam os pontos de exame. Algumas arrumam os chapéus, lustram as vassourinhas, limpamo lugar. Só bruxinha Ângela num canto, alheia a tudo, suspira.)
BRUXA-CHEFE
(Notando a aproximação do bruxo) Silêncio!
(As bruxinhas perfilam-se. O bruxo entra solenemente com o vice-bruxo pousa a saia do bruxo no meio da cena voltando logo em seguida com uma cadeira-trono que coloca no meio da cena. O bruxo se instala tomando ares de sacerdote supremo. Depois dá um bruto espirro, que é saudado com palmas pelas bruxinhas.)
BRUXA-CHEFE
Podemos começar, sua Ruindade?
(O bruxo faz sinal para o vice-bruxo que se chega a ele. O bruxo fala-lhe qualquer coisa ao ouvido. O vice transmite à bruxa-chefe um sinal de assentimento.)
BRUXA-CHEFE
Senhor Bruxo Belzebu Terceiro, único senhor desta floresta, rei de todas as feiticeiras, imperador das maldades... imperador das maldades... imperador das maldades... (parece que a Bruxa-Chefe esqueceu o resto.)
(Todos ficam meio aflitos com o esquecimento da Bruxa-Chefe, o vice rapidamente fala-lhe ao ouvido.)
BRUXA-CHEFE
(Com ênfase maior) Ditador de bruxos, guardião dos malefícios. Tarzã das selvas escuras, as meninas estão prontas para o exame final e esperam a aprovação suprema de Vossa Ruindade para merecerem a vassoura a jato e o título de bruxas feiticeiras de primeira classe e desejam também...
BRUXO
Chega bruxa-instrutora. (O bruxo se levanta) Queridas bruxinhas recrutas. È com grande alegria que faço este exame. A floresta já anda cheia de fadas, cheia de risos, cheia de crianças e é preciso acabar com isto. Há muita falta de feiticeiras neste mundo. Por toda a parte só se vêm bruxas falsificadas. Gente que finge de ruim e não é. Isso não pode continuar. É preciso urgentemente acabar com os passeios alegres pela floresta. Vocês vão ser encarregadas de limpar a mata e o bosque: Botar para fora os lenhadores, roubar as crianças, calar os passarinhos, arrancar as novas árvores plantadas, sujar a água das fontes, adormecer os moços, tapear as fadas, - sobretudo tapear as fadas, - envenenar os rios, queimar as matas, maltratar as plantas, promover as enxurradas, atrair os raios e os trovões, destruir as brisas, provocar os vendavais... A floresta tem que ser nossa de novo e eu conto com vocês... (O bruxo diz tudo com tanta ênfase que cai cansado no trono. As bruxinhas batem palma, menos a bruxinha Ângela.)
BRUXO
Vamos começar o exame. Vem você.
(O bruxo aponta para Caolha.)
BRUXO
Tire o ponto.
(Caolha enfia a mão num caldeirão que o vice-bruxo toma das mãos da bruxa-instrutora, tira o ponto, entrega-o à bruxa-chefe que passa ao vice e este ao bruxo. O bruxo lê, passa ao vice que torna a entregá-lo à bruxa-chefe.)
BRUXA-CHEFE
Quinto ponto: adormecer moços.
(Bruxa Caolha com muita desenvoltura faz uma espécie de dança, dizendo palavras em bruxês, que é língua de bruxas. A sonoplastia acompanha-a com um ritmo.)
BRUXO
Muito bem. Agora algumas perguntas: Quem descobriu a receita do remédio de fazer adormecer?
BRUXINHA CAOLHA
Foi o senhor.
BRUXO
Muito bem. Quem foi o primeiro bruxo do mundo a atravessar a floresta a floresta em vassoura a jato?
BRUXINHA CAOLHA
Foi o senhor.
BRUXO
Muito bem! Esta bruxinha é muito sabida.
BRUXA-CHEFE
É a primeira da classe, sua Ruindade.
BRUXO
Está se vendo. Agora a ultima pergunta: Quem foi o primeiro bruxo a comer asas de fadas cruas com suco de coqueiro verde?
BRUXINHA CAOLHA
Foi o senhor.
BRUXO
Quem é o único protetor e amigo de todas as maldades?
BRUXINHA CAOLHA
É o senhor.
BRUXO
Muito bem! Muitíssimo bem! E ainda uma pergunta para ver se você é mesmo sabida. Quais as duas coisas melhores do mundo?
BRUXINHA CAOLHA
Esplêndido! Colossal! Quanta inteligência! Com bruxinhas como você a maldade está salva no mundo... Vamos a outra. Você aí.
(O bruxo apona para bruxinha Ângela que se aproxima muito encabulada.)
BRUXO
Por que os cabelos desta bruxa são tão esquisitos?
BRUXA-CHEFE
Ela nasceu assim, sua Ruindade.
BRUXO
Muito estranho isto. É preciso pintá-los com suco de asas de urubu cansado
BRUXA-CHEFE
(Tomando nota) Sim, sua Ruindade.
BRUXO
Tire o ponto.
(Mesmo cerimonial para tira o ponto.)
BRUXA-CHEFE
Cavalgada em vassoura: 2° ponto.
BRUXINHA ÂNGELA
Que bom! Que bom! Que bom!
BRUXO
Por que ela está tão alegre?
BRUXA-CHEFE
A única coisa que ela gosta de fazer é cavalgar em vassoura.
(Bruxinha Ângela, Montadinha em sua vassoura, passa pela cena dando gritinhos de prazer.)
BRUXO
(Levantando-se) Isto são maneiras de uma bruxa se comportar em cima de uma vassoura? Mostra a ela como se faz, Bruxa-Instrutora.
(Bruxa-Chefe faz uma demonstração com gritos feios.)
BRUXO
Muito bem, Bruxa-Instrutora. Você ainda está em forma hem, minha velha?
(O bruxo dá tapinhas nas costas da Bruxa-Chefe.)
BRUXO
(Para bruxinha Ângela) Venha aqui, bruxinha, deixa eu examinar você de perto.
(O bruxo desce do trono e, acompanhado do vice, que lhe segura a cauda, rodeia a bruxinha, que continua imóvel.)
BRUXO
Muito estranho! Muito estranho este caso... Esta bruxinha é esquisitíssima... Faça como eu, anda!
(O bruxo faz alguns movimentos, a bruxinha Ângela tenta imitá-lo mas sem nenhum sucesso.)
BRUXO
Horrível! Vamos então às perguntas. Talvez ela possa se salvar pelas perguntas. Quem descobriu o Brasil?
BRUXINHA ÂNGELA
Foi Pedro Álvares Cabral.
TODAS
Oh!
BRUXO
(Muito ofendido) Então você não sabe que antes desse português desembarcar aqui, EU, o bruxo Belzebu, o Ruim, já morava nestas florestas?
BRUXINHA ÂNGELA
Ah!... É mesmo... É que eu pensava que...
BRUXO
(Interrompendo-a) Qual a melhor coisa do mundo?
BRUXINHA ÂNGELA
Deve ser andar de vassoura a jato, lá por cima, no céu, perto das árvores maiores!...
(As outras bruxinhas aflitas fazem que sabem com os dedos.)
TODAS
Oh!
BRUXO
Você sabe qual é o prêmio para quem não passar nos exames?
BRUXINHA ÂNGELA
Sei sim...
BRUXO
Qual é?
BRUXINHA ÂNGELA
Ficar presa na Torre de Piche e nunca poder voar na vassoura a jato.
BRUXO
Pelo menos deu uma resposta certa. E agora a última pergunta. Como é que se prepara bruxaria d fazer dormir caçadores e lenhadores?
BRUXINHA ÂNGELA
(Procurando recordar) Põem-se num caldeirão 3 folhas de cacto, 2 litros de água de rosas...
TODAS
Água de rosas?!
BRUXINHA ÂNGELA
De rosas não, de maracujá dormido. Depois uma pitada de pimenta do reino, meia dúzia de mata-cavalo e um pouco de suco de violetas!...
BRUXO
Suco de violetas! Tu és a pior aluna que já tive. Hoje À noite terás a última oportunidade. E nunca mais sairás. Todas as bruxas terão que fazer suas primeiras maldades esta noite. (Todas batem palmas, menos a bruxinha Ângela.)
BRUXA-VELHA
Com licença, sua Ruindade, mas faltam algumas para o exame.
BRUXO
As outras examinarei amanhã. Fiquei de mau humor. Agora tenho que ir jantar na casa de um ogre meu amigo... Tratem de ser bem ruins se querem ganhar a vassoura a jato. E você, bruxinha Ângela, se até a meia noite não fizer nenhuma maldade será encerrada para sempre na Torre de Piche... e não é suco de violetas não, está ouvindo, é suco de cravo de defuntos...
(O bruxo monta na sua vassoura que o vice vai buscar e sai acompanhado pelas bruxinhas e pela bruxa-instrutora. Elas saem dando uma volta pela cena cantando. O vice vai na garupa do bruxo sempre segurando-lhe a cauda.)
CANTO DAS BRUXINHAS
Zum, zum,zum,
Somos bem ruinzinhas...
Zum, zum, zum,
Somos as bruxinhas...
Zum, zum,zum,
Cavalgando as vassourinhas...
(Escurece na cena enquanto se tira a cadeira.)
(Aparece Pedrinho, jovem lenhador, carregando lenha e um cesto com ovos e flores. Vem cantando e correndo feliz.)
PEDRINHO
(Parando de cantar) Estou tão cansado! Corri demais! (Enxuga o suor) Ainda bem que cortei bastante lenha para dois dias. Meu pai vai ficar contente e minha mãe também. Vou levando ovos e flores para ela. (Tira uma flautinha do bolso e deita-se no chão) E agora, vamos brincar meus amigos passarinhos... (Levanta-se) Sinto a cabeça rodar!... Que sono!...Ai! Ai...
(Quando Pedrinho começa a cambalear aparecem três bruxinhas, Caolha, Fredegunda e Ângela, soprando de um canudo de refresco bolhas de sabão que retiram de uma tigelinha roxa.)
BRUXINHA ÂNGELA
Dormiu!...
BRUXINHA FREDEGUNDA
A bruxaria deu certo!
BRUXINHA CAOLHA
Dorme que nem um pateta, ah, ah, ah!
BRUXINHA ÂNGELA
Mas, ele está acordado! Que bonito ele é!
BRUXINHA CAOLHA
Então coloca mais suco de dormideira. Anda, bruxinha Ângela e deixa de bobagens!
(Bruxinha Ângela tira de um saquinho gotinhas de dormideira e põe nas tigelinhas; e as 3 tornam a soprar.)
BRUXINHA CAOLHA
Agora ele dormiu mesmo.
BRUXINHA FREDEGUNDA
Aquele bruxo é o maior!
(Bruxinha Ângela ajeita a cabeça de Pedrinho.)
BRUXINHA CAOLHA
O que é que você está fazendo, bruxinha Ângela?
BRUXINHA ÂNGELA
Para ele não se machucar...
BRUXINHA CAOLHA
(Puxando bruxinha Ângela) Deixa de ser boa, bruxinha, você quer ir presa na Torre de Piche?!
BRUXINHA ÂNGELA
Não!...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Que maldade vamos fazer agora?
BRUXINHA CAOLHA
Cada qual vai fazer a sua. Eu vou levar a lenha e espalhar pela floresta para ele não achar mais, Fredegunda vai sumir com o chapéu e o casaco, e você, bruxinha Ângela, vai quebrar os ovos e picar as flores. (As duas vão agindo enquanto Caolha fala) Agora, Fredegunda e eu vamos botar fogo na casa dele enquanto você sopra em cima para ele não acordar... Mas se acordar, você dá em cima da cabeça dele com este pau e sai voando na vassoura para nos ajudar a queimar a casa.
BRUXINHA FREDEGUNDA
(Animadíssima) Mas por que não damos logo em cima da cabeça dele?
BRUXINHA CAOLHA
(Puxando-a para um canto) Para experimentar a bruxinha Ângela, ela é que tem que fazer Esso sozinha... ordens do bruxo.
(Enquanto isto bruxinha Ângela pica as flores com muita tristeza.)
BRUXINHA CAOLHA
Vamos embora, Fredegunda, e trate de andar depressa senão o bruxo vem e você vai presa na Torre Piche...
(As duas bruxinhas tomam suas vassouras e saem cantando e dando risadas. Bruxinha Ângela, sozinha, pega os ovos mas quando vai quebrá-los sente pena e os esconde atrás de uma árvore. Faz o mesmo jogo com as flores. Quando volta, o menino começa a acordar, ela tenta soprar em cima mas o menino acorda assim mesmo porque ela sopra sem convicção. Rapidamente pega o pau e vai dar em cima da cabeça do menino, mas tão sem coragem que o menino acorda espantado e corre para trás de uma árvore. A bruxinha tenta soprar no canudinho,mas, ainda desta vez, sem sucesso.)
PEDRINHO
Bruxa! Feiticeira! Malvada! Roubou minha lenha! E os ovos? E as flores? Mas você pensa que tenho medo de você? Covarde! Diga, anda, onde está minha lenha?


BRUXINHA ÂNGELA
(Muito espantada) A Caolha levou.
PEDRINHO
Quem é a Caolha?
BRUXINHA ÂNGELA
A mais malzinha da minha classe. Ela vai ganhar a vassoura a jato e passear aí por cima das árvores. (Suspira) Eu queria tanto ganhar a vassoura a jato!...
PEDRINHO
Que é que eu tenho com isso? Quero é a minha lenha!
(Bruxinha Ângela rapidamente pega os ovos e as flores, põe tudo no cestinho e entrega a Pedrinho.)
PEDRINHO
E o meu chapéu, o meu casaco?
BRUXINHA ÂNGELA
Ah! Isto a Fredegunda levou...
PEDRINHO
Quem é a Fredegunda?
BRUXINHA ÂNGELA
A outra, Ruinzinha também, mas não vai ganhar a vassoura porque a Caolha é a pior de todas.
PEDRINHO
Já disse que não tenho nada com Caolha e Fredegunda, nem com vassoura a jato. Quero é a lenha, anda! (Pedrinho ameaça com um pau.)
BRUXINHA ÂNGELA
(Impaciente também) Mas já disse que a lenha Caolha levou, pronto.
PEDRINHO
Levou aonde?
BRUXINHA ÂNGELA
Não sei.
PEDRINHO
Sabe sim, deixa de ser mentirosa, bruxa malvada. Se você não disser onde está minha lenha eu te quebro a cabeça neste minuto!...
(Bruxinha Ângela cai no choro.)
PEDRINHO
(Espantado) Xiiii, nunca vi bruxa chorar... você não tem vergonha, não?
BRUXINHA ÂNGELA
Tenho sim...
PEDRINHO
Também nunca vi feiticeira de cabelo amarelo. Que bruxa mais esquisita. Por que você está chorando, hem bruxinha?
BRUXINHA ÂNGELA
Porque queria a vassoura a jato para passear por cima das árvores...
PEDRINHO
Mas quem é que vai dar a vassoura a jato?
BRUXINHA ÂNGELA
É o bruxo Belzebu Terceiro.
PEDRINHO
Belzebu Terceiro, aquele que é o feiticeiro mais malvado desta floresta?!
BRUXINHA ÂNGELA
Este mesmo. Foi ele quem atravessou primeiro a floresta em vassoura a jato foi ele quem inventou a receita de dormir gente, foi ele quem comeu primeiro asas de fadas cruas com suco de não sei o quê, foi ele quem descobriu o Brasil!...
PEDRINHO
Ah, Isto não! Quem descobriu o Brasil...
BRUXINHA ÂNGELA
Eu também pensava que era o senhor Pedro Álvares Cabral, mas ele disse que foi ele.
PEDRINHO
Além de ruim, é mentiroso...
BRUXINHA ÂNGELA
Claro, ora, pois ele é bruxo! Você queria que ele dissesse a verdade?
PEDRINHO
Ah, isto é mesmo, ele nem sabe o que é verdade. (Pausa) Por que você não vai ganhar a vassoura a jato?
BRUXINHA ÂNGELA
Porque a Bruxa-Chefe...
PEDRINHO
Quem é a Bruxa-Chefe?
BRUXINHA ÂNGELA
Bruxa-Chefe é a instrutora, Bruxa-Chefe disse que eu sou esquisita, porque não sei fazer maldades...
PEDRINHO
É esquisito mesmo... Quem sabe você não é bruxa nada?
BRUXINHA ÂNGELA
O quê?!
PEDRINHO
Quem sabe você é uma fada disfarçada?
BRUXINHA ÂNGELA
Ah! Isto não! Fada não gosta de andar de vassoura a jato como eu gosto, ora!
PEDRINHO
Gosta, sim. Para gostar de andar de vassoura a jato não precisa ser bruxa. Até eu gostaria de dar uma voltinha.
BRUXINHA ÂNGELA
(Espantadíssima) Quem sabe você é um bruxo disfarçado?
PEDRINHO
Ah! Isto não, ora! Eu também não gosto de fazer maldades.
BRUXINHA ÂNGELA
Então não é bruxo mesmo. Bruxa Caolha sim, é que gosta. Por isso vai ganhar a vassoura. Quando queimar sua casa.
PEDRINHO
O quê?
BRUXINHA ÂNGELA
Ela vai queimar sua casa com bruxa Fredegunda.
PEDRINHO
Meu Deus... que horror! Minha mãe e meu pai estão lá dentro... eles são tão pobres e não tem outra casa para morar... vou correndo...
BRUXINHA ÂNGELA
Como é que você se chama?
PEDRINHO
(Saindo) Pe-dri-nho!...
BRUXINHA ÂNGELA
Toma a minha vassourinha, Pedrinho. Montado nela, chega mais depressa.
PEDRINHO
(Voltando) Você me empresta mesmo?
BRUXINHA ÂNGELA
Adeus, Pedrinho! A vassourinha não corre muito, mas serve. Ah! Mas se fosse na vassoura a jato você poderia ir lá por cima das árvores... voando, voando como um passarinho alegre... (Pausa) E agora? Agora tenho que fazer uma maldade. (Ouve-se o relógio bater) Meia noite! È a hora do bruxo. (Pausa) lá vem as bruxinhas...
(Ouvi-se o cantar das bruxinhas e aparecem todas montadas nas suas vassouras. Bruxinha Ângela sem vassoura não vê outro jeito senão tomar a garupa da bruxinha Fedelha.)
BRUXINHA FEDELHA
Sai daí, bruxinha Ângela!
BRUXINHA ÂNGELA
Me dá uma caroninha, bruxinha Fedelha. Emprestei a minha vassoura até amanhã.
BRUXINHA FEDELHA
Quem mandou você emprestar?
BRUXINHA ÂNGELA
Não me belisca, bruxinha Fedelha!
(Este diálogo é feito enquanto elas cavalgam em roda no palco. Finalmente bruxinha Fedelha empurra bruxinha Ângela da sua garupa.)
BRUXA-CHEFE
(Chegando) Silêncio!
(Todas param.)
BRUXA-CHEFE
Formar ferradura, marche!
(As se sentam em ferraduras em cima das vassourinhas. O bruxo entra solenemente e agitado passeia de uma lado para o outro. O vice-bruxo desta vez abana o bruxo com um leque preto.)
BRUXO
Estou muito zangado! Muito zangado! Zangadíssimo! Zangadérrimo! Bruxinha Ângela! Eu vi tudo! (O vice fecha o leque e se senta)
BRUXINHA ÂNGELA
Viu, Sua Ruindade?!
BRUXO
Vi. Então você cumpriu bem as minhas ordens?
(Bruxinha Ângela não responde)
BRUXO
Não responde?
(Bruxinha Ângela abaixa a cabeça.)
BRUXO
Então você fez alguma maldade? Não responde? Então você adormeceu o lenhador? Quebrou os ovos? Espatifou as flores? Não responde? Onde está sua vassoura? Não responde? Esta bruxinha está expulsa da terra dos bruxos. Emprestou a vassoura ao menino Pedrinho!
TODAS
Oh!
BRUXO
Então você quer ganhar a vassoura a jacto?
BRUXINHA ÂNGELA
Quero! Quero sim...
BRUXO
Ahmmmm! Isto você quer, hem? Mas espera. Bruxinhas más do meu federoso reino, respondei: Qual é o prêmio para aquelas que desobedecem sua Ruindade Suprema?
TODAS
A Torre de Piche!
BRUXO
Qual é o prêmio para aquelas que emprestam sua vassoura?
TODAS
A Torre de Piche! A Torre de Piche!
BRUXO
(Sempre num crescendo) Qual é o prêmio para aquelas que não sabem fazer maldades?
TODAS
A Torre de Piche, a Torre de Piche, a Torre de Piche, a Torre de Piche! (Batem palmas compassadas sempre repetindo: A Torre de Piche.)
BRUXO
Depressa, bruxinhas; tragam imediatamente a Torre de Piche.
(As bruxinhas saem voando nas vassouras)
BRUXO
Vice-Bruxo, traga o cadeado e a chave da torre.
(O vice sai)
BRUXO
(Para bruxinha Ângela, de cabeça baixa) Você ficará encerrada nesta torre até ficar velhinha!
(As bruxas voltam empurrando uma torre negra onde se vê uma janelinha com grades. A torre é colocada no fundo do palco, e, enquanto as bruxinhas cantam em volta da torre montadas nas vassourinhas, o bruxo empurra bruxinha Ângela e encerra-a na torre. Com grande barulho põe o cadeado na porta tirando a chave. A porta é falsa e não é vista da platéia.)
BRUXO
Bruxa Caolha, você ficará vigiando a Torre de Piche. Você será a guarda da Bruxinha da Torre de Piche. Como prêmio pelas grandes ruindades prestadas à raça dos bruxos você será eleita a rainha das feiticeiras e ganhará a vassoura a jacto.
TODAS
(Vaianda Bruxa Caolha) Uuuuuuuuuuu!
BRUXO
Muito bem, meninas, se continuarem assim também ganharão uma vassourinha a jacto. Tome a chave da torre, bruxinha Caolha, não deixe ninguém se aproximar...
BRUXINHA CAOLHA
Garanto que ela será bem guardada, Sua Ruindade... ha! ha! ha! (Bruxa Caolha pendura a chave na cintura.)
BRUXO
As outras bruxinhas ficarão vigiando a floresta. Muito cuidado para não se perderem e fujam da música. Há uma música que pode matar a raça dos feiticeiros... A única coisa perigosa para uma bruxa é uma certa música. Se ela for tocada numa flauta, então, estaremos perdidos... Cuidado, pois! (Pausa) E me respondam uma pergunta: Quem é o maior bruxo do mundo?
TODAS
(Juntas, como coisa decorada) Sua Ruindade Suprema, o Bruxo Belzebu Terceiro, primeiro e único nosso chefe e mestre.
BRUXO
Muito bem. Todas passaram no exame. Agora vou visitar meu amigo, o ogre. Ele tem uma receita nova de sorvete de chocolate que me interessa muitíssimo! (Sai, acompanhado pelo vice.)
BRUXA-CHEFE
Bruxinhas, alerta! Tomar vassouras! Em frente, voar!
(Todas saem nas vassouras, a chefe por último.)
BRUXINHA CAOLHA
(Que ficou para tomar conta da Bruxinha Ângela) Bruxa-Chefe!
BRUXA-CHEFA
O que é, Bruxa Caolha?
BRUXINHA CAOLHA
Quando é que vou ganhar minha vassoura a jato?
BRUXA-CHEFE
Só o bruxo pode saber, vá até a casa do Ogre e pergunte a ele...
BRUXINHA CAOLHA
Mas quem vai ficar tomando conta da bruxinha da Torre de Piche?
BRUXA-CHEFE
Quem ainda não tem trabalho para esta noite
BRUXINHA FREDEGUNDA
Eu não tenho.
BRUXA-CHEFE
Então você vai ficar tomando conta da bruxinha da Torre de Piche... Enquanto Bruxa Caolha ganha a sua vassoura.
(Bruxa-Chefe dá outro apito, monta na sua vassoura e sai cantando com as outras bruxinhas. Bruxinha Fredegunda fica só na cena com bruxinha Ângela que da janelinha da Torre de Piche chora sem parar, depois dorme.) Enquanto vigia a torre, devagar aparece Pedrinho montado na vassoura; ao dar com bruxinha Ângela presa leva grande susto... Notando que Bruxinha Fredegunda está quase dormindo também, Pedrinho começa assobiar para chamar atenção de Bruxinha Ângela. Bruxinha Fredegunda levanta e procura ver de onde vem o assobio, depois torna a sentar. Pedrinho, sempre de longe começa a atirar pedrinhas com uma atiradeira que tem no bolso, até que Bruxinha Ângela acorda. Ao ver Pedrinho ela fica, ela fica muito contente mas teme que ele seja visto por Bruxinha Fredegunda. Pede com dedo nos lábios para ele fazer silêncio e se esconder.
BRUXINHA ÂNGELA
Bruxinha Fredegunda!
BRUXINHA FREDEGUNDA
O que é?


BRUXINHA ÂNGELA
Estou com sede.
BRUXINHA FREDEGUNDA
Pois fique com sede, ora!
BRUXINHA ÂNGELA
Você quer que eu morra de sede?
BRUXINHA FREDEGUNDA
Quero.
BRUXINHA ÂNGELA
Se eu morrer de sede o bruxo de prede nesta Torre até você ficar velha
BRUXINHA FREDEGUNDA
Quem disse isso?
BRUXINHA ÂNGELA
Ele disse que eu tinha que ficar aqui até envelhecer, mas se você não me trouxer água eu morro de sede antes de ficar velha e o bruxo ficará muito zangado...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Isto é mesmo. Então vou buscar água no rio aqui atrás.
BRUXINHA ÂNGELA
A água deste rio foi envenenada pela Caolha; é melhor você ir buscar lá na fonte...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Então já volto. Você não poderá fugir mesmo, a chave da torre está com a Caolha, não é?
BRUXINHA ÂNGELA
É. (Fredegunda monta na vassoura e sai)
PEDRINHO
(Se aproximando) O que é que você está fazendo aí?
BRUXINHA ÂNGELA
Estou presa.
PEDRINHO
Quem te prendeu?
BRUXINHA ÂNGELA
O bruxo.
PEDRINHO
Oh! (Pausa) Eu trouxe sua vassourinha...
BRUXINHA ÂNGELA
Você chegou a tempo
PEDRINHO
Cheguei. A malvada só conseguiu pegar fogo no galinheiro. Joguei tanta pedra nela que ela teve que fugir.
BRUXINHA ÂNGELA
Ela ganhou a vassoura a jacto e eu terei que passar a vida aqui, presinha nesta Torre de Piche até fica velhinha...
PEDRINHO
Até ficar velhinha?!
BRUXINHA ÂNGELA
Até. Tudo por que não sei fazer maldade.
PEDRINHO
Que injustiça, meu Deus!
BRUXINHA ÂNGELA
E eu que queria tanto andar por cima das árvores!
PEDRINHO
Você quer que eu tire você daí?
BRUXINHA ÂNGELA
Você sabe me tirar daqui?
PEDRINHO
Saber não sei, mas posso roubar a chave.
BRUXINHA ÂNGELA
Não. Isto você não consegue. A Caolha fará você dormir antes de pode chegar perto.
PEDRINHO
Então... Então toma para você comer (Dá um saco de pipocas.)
BRUXINHA ÂNGELA
O que é isto?
PEDRINHO
Pipocas que a minha mãe fez
BRUXINHA ÂNGELA
Pipocas?! (Bruxinha Ângela e Pedrinho amarra o saco de pipocas que é içado)Muito obrigada Pedrinho, que bonitinhas, tão brancas, parecem pedacinhos de nuvem(Pausa) Pedrinho, também quero te dar uma coisa...
PEDRINHO
O que é, bruxinha?
BRUXINHA ÂNGELA
Quero te dar minha vassoura de presente.
PEDRINHO
Oh! Bruxinha boa! (Pedrinho corre pela floresta e apanha uma flor) Toma isto também, para você não ficar sozinha aí. (Bruxinha Ângela iça também a flor.)
BRUXINHA ÂNGELA
Que bonzinho você é, Pedrinho.
PEDRINHO
E isto para você se distrair. (Começa tocar uma música na flauta e a dançar, Bruxinha Ângela muito alegre começa a bater palmas.) Viva a bruxinha que era boa!
BRUXINHA ÂNGELA
Nunca ninguém me chamou de bruxinha boa, Pedrinho...
PEDRINHO
Por que?
BRUXINHA ÂNGELA
Só me chama de bruxinha boba
PEDRINHO
Bobas são elas que só gostam de fazer maldades.
BRUXINHA ÂNGELA
(Suspirando) Ah!...
PEDRINHO
Que é bruxinha boa?
BRUXINHA ÂNGELA
Seria tão bom se elas todas virasse fadas e só gostassem de passear de vassouras por cima das árvores...
PEDRINHO
Se eu soubesse um meio...
BRUXINHA ÂNGELA
O único jeito que existe é música contra bruxarias, mas quase ninguém sabe tocar essa música.
PEDRINHO
Quem sabe eu sei?
BRUXINHA ÂNGELA
Você sabe?
PEDRINHO
A música contra bruxarias eu não sei, mas posso perguntar meu pai que é muito sabido nessas coisas de bruxarias...
BRUXINHA ÂNGELA
Oh! Quem bom Pedrinho, então vá depressa! Monta na minha vassoura e corre... E voa... E volta... E vem me tirar daqui depressa...
PEDRINHO
(Querendo andar não pode) Não posso sair do lugar... Não sei o que há com minhas pernas...
BRUXINHA ÂNGELA
Isto é bruxaria. Caolha deve estar por perto!
PEDRINHO
Estou pesado como chumbo... Minhas pernas... Minhas pernas... Minhas pernas...
(Pedrinho cai sentado no chão.)
(Montada numa linda vassoura toda vermelha com cabo amarelo e fitas penduradas, entra Caolha.)
BRUXINHA CAOLHA
Ah! ah! ah! ah!
BRUXINHA ÂNGELA
Oh! A vassoura a jacto!
BRUXINHA CAOLHA
Então é o menino que me jogou pedra, hem? Sai daí, anda! Foge... foge vamos!
(Caolha diz coisas estranhas, Pedrinho tenta fugir mas não consegue.)
BRUXINHA CAOLHA
E você aí, bruxinha da Torre de Piche, quer dar uma voltinha na vassoura a jacto?
BRUXINHA ÂNGELA
Queria tanto!... só uma voltinha, Caolha, deixa!
BRUXINHA CAOLHA
Quando você ficar velhinha e sair daí, eu deixo, está bem? (Bruxinha Ângela chora) E você, menino, vai virar mingau... O bruxo gosta muito de mingau. Eçle gosta de comer mingau todas as manhãs. Mingau de menino saliente... (Ouve-se um barulho) Quem vem aí? Ah! É a Fredegunda... Saiu do posto e vai ser castigada por que abandonou o posto.
BRUXINHA FREDEGUNDA
Fui busca água para a bruxinha da Torre.
BRUXINHA CAOLHA
Quem mandou você fazer isto?
BRUXINHA FREDEGUNDA
Ora, bruxa Caolha, não pense que porque você ganhou a vassoura ajacto você pode gritar com a agente não, hem?
BRUXINHA CAOLHA
Grito sim... Porque sou a pior de todas as bruxas...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Pior coisa nenhuma... Você nem conseguiu pegar fogo na casa do menino...
BRUXINHA CAOLHA
O quê?
BRUXINHA FREDEGUNDA
É isto mesmo. Você gosta é de contar farol e de dar gargalhadas para impressionar o bruxo...
BRUXINHA CAOLHA
E você, sua cara amassada, que nem sabe tomar conta de uma bruxinha à-toa... Buscas água!... O que você foi fazer foi passear...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Mentira!
BRUXINHA CAOLHA
Vou contar tudo ao bruxo e vou te prender agorinha mesmo...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Quero ver se você consegue me prender... Feiticeira falsa!
(Caolha persegue Fredegunda enquanto Pedrinho, aproveitando-se da situação, se arrasta pelo chão e foge montado na vassoura a jacto.)
BRUXINHA ÂNGELA
Oh!
PEDRINHO
(Saindo) Eu volto com a flauta!
BRUXINHA CAOLHA
(Dando pela coisa) O menino fugiu! Mas eu pego este cara de gente e pico em pedaços... (procura a vassoura) levou minha vassoura a jacto!
BRUXINHA FREDEGUNDA
Foi por sua culpa!
BRUXINHA CAOLHA
Foi por sua culpa!
BRUXINHA FREDEGUNDA
Xiii... o bruxo vai ficar furioso! E vai te castigar... ah! ah! ah! ah!
BRUXINHA CAOLHA
Pare de rir, sua pateta!
BRUXINHA FREDEGUNDA
Roubou a vassoura a jacto da grande bruxa Caolha... Rainha das Feiticeiras... A mais esperta! A pior de todas! Ah! ah! ah! ah! Nem sabe guardar sua vassoura...
(As duas começam a brigar, tiram-se os chapéus, rolam pelo chão.)
BRUXINHA CAOLHA
Larga, Fredegunda!
BRUXINHA FREDEGUNDA
Não me unhe, Caolha!
(Ouve-se o apito da bruxa-chefe; as duas param de brigar ainda sentadas no chão. Chega bruxa-chefe com as outras bruxinhas e rodeiam as duas cantando canção das feiticeiras.)
BRUXA-CHEFE
Bruxa Fredegunda e bruxa Caolha o que é que vocês estão fazendo?
BRUXINHA CAOLHA
Estamos praticando alguns exercícios de maldade...
BRUXINHA FREDEGUNDA
Se a gente não pratica fica destreinada, a sra. não acha? 
BRUXA-CHEFE
Muito bem, vocês estão cada vez piores, minhas alunas... e agora tomem suas vassouras e vamos treinar algumas cavalgadas em homenagem ao primeiro aniversário da travessia da floresta feita pelo bruxo da vassoura a jacto! Você vai na frente com sua vassourinha a jacto, Caolha, você agora é a rainha das feiticeiras...
BRUXINHA CAOLHA
(Disfarçando) Vou montada na vassoura da bruxinha Ângela, por que mandei consertar a minha vassoura a jacto que estava falhando um pouco...
TODAS
Oh! Que pena!
BRUXA-CHEFE
É pena, mas vamos assim mesmo... você vai na frente porque é a pior de todas...
BRUXINHA FREDEGUNDA
(Para Caolha, enquanto as outras se arrumam) O bruxo vai desconfiar logo: ele sabe de tudo...
BRUXINHA CAOLHA
Cala a boca, Fredegunda. Com o Bruxo eu dou um jeito...
(Todas começam a cavalgar quando se ouve a música de flauta. Uma por uma, elas tentam correr e não conseguem. A música continua sempre e as bruxas parecem que estão andando em câmara lenta. Pedrinho se aproxima sempre tocando flauta até que uma por uma vão endurecendo até virarem estátuas.)
PEDRINHO
Estão todas durinhas que nem pedra...
BRUXINHA ÂNGELA
Oh! Pedrinho, você é formidável!
PEDRINHO
Bem que papai disse que com esta música elas virariam estátuas...
BRUXINHA ÂNGELA
Depressa, Pedrinho, tira a chave da Caolha...
PEDRINHO
Vamos montar na vassoura a jacto antes que o bruxo chegue... Papai disse que a música é muito difícil de adormecer o bruxo... Ele é ruim demais, nem música adianta mais...
(Pedrinho tira a chave da Caolha e abre a portinha da Torre descendo Bruxinha Ângela que abraça Pedrinho)
BRUXINHA ÂNGELA
Oh! Pedrinho, como você é bonzinho!
PEDRINHO
Grande coisa, bruxinha, todo menino deve ser bom mesmo, mas você sim é que é bruxinha, e é boazinha. Estou muito desconfiado que você é uma fadinha extraviada...(ouve-se a gargalhada do bruxo) Iiii lá vem o bruxo, vamos nos esconder depressa.
(Os dois se escondem atrás da torre. Chaga o bruxo que, dando com suas bruxinhas em estátuas, leva enorme susto.)
BRUXO
Oh! Bruxa-Instrutora, Caolha, Fredegunda, Fedorosa, Fedelha! (olhando a torre) O que é isto? Fugiu a bruxinha da Torre de Piche? Mas como? Como é que minhas bruxas deixaram isto acontecer? É preciso tirar o encanto! É preciso descobrir a bruxa da Torre de Piche!
(O Bruxo inicia uma espécie de dança dizendo palavras ininteligíveis; ao mesmo tempo Pedrinho começa a música. As bruxas começam a voltar em câmara lenta mas a música de Pedrinho é mais forte.)
BRUXA
Ai... ai... ai... música de flauta... música de flauta!... música de flauta!... Pára... para... Bruxa-Instrutora apita para estas bruxinhas montarem em suas vassouras... Vamos fugir daqui... vamos embora...
(Todo este jogo deve ser feito em câmara lenta)
BRUXA-CHEFE
Em suas vassouras! Em frente, marche! (Ela fala como se estivesse muito longe)Gargalhada de bruxa!
(As bruxinhas riem sem nenhuma força; e tentam sair de cena atrás da instrutora que também se arrasta.)
BRUXO
Pára esta música... para esta música... a floresta é minha! A floresta é minha...
(Cambaleando ele se dirige, atraído pela música, para a Torre de Piche. O vice, que todo este tempo já tinha virado estátua, segue o bruxo. Pedrinho e Bruxinha Ângela prendem o dois na torre e tiram o chave.)
PEDRINHO
Pronto, seu malvado, você agora vai ficar aí até o resto da vida... e ninguém mais aprenderá a fazer maldades! E a floresta vai ser de novo das fadas e dos passarinhos... Podem vir, passarinhos... Podem vir, passarinhos!
(Uma luz bonita invade o palco e ouve-se o cantar de milhares de passarinhos.)
PEDRINHO
Pronto, fadas! Pronto, meninos e meninas! Todos já podem brincar na floresta... A maldade já está presa na Torre de Piche! Para sempre.
BRUXINHA ÂNGELA
Que beleza! Que beleza! Vamos Pedrinho, vamos passear por cima das árvores na vassoura a jacto...

(Os dois montam na vassoura e saem cavalgando... dão uma volta pelo palco e saem. Vê-se o bruxo com os braços estendidos por fora das grades e a cara muito feia roncando. A bruxa-instrutora volta com as 4 bruxinhas e todas vão adormecendo em volta da torre. Só se ouve o canto dos passarinhos.)

http://www.youtube.com/watch?v=7FnVrR0fImE

O rapto das Cebolinhas- Maria Clara Machado

Cenário Único - O cenário representa a horta da VOVÓ 
FELÍCIA. São vistos três pezinhos de planta. Girassóis. À frente da horta, uma cerca bem baixinha. Um espantalho. Uma árvore. Um banco na frente da árvore. Uma casa de cachorro no proscênio à direita.
Primeira Cena 
Vovó Felícia – (entra olhando o céu) Ah que bela noite! Que sono! (bate o relógio) Nossa já são 3 horas! É hora de dormir! Todos já se recolheram, agora sou eu (boceja). Boa noite queridas cebolinhas! (fala para o publico) Estas cebolinhas são preciosas! Quem as possuir é feliz para toda vida. Elas podem trazer para cada um maravilhosos sentimentos como a CORAGEM (amarelo), a ALEGRIA (azul), o RESPEITO(verde) e o AMOR (vermelho). (A medida que fala mostra cada uma das cebolinhas de cor diferente que podem também ter o nome dos sentimentos escrito). Ah!!! (boceja) Fiquem ai direitinho minhas cebolinhas!!! Até amanhã (sai)
(É madrugada. Vê-se passar pela cena uma figura envolta numa capa preta, com um grande chapéu. (Os passos devem ser acompanhados do barulho de lixa raspando, reco-reco e pente de arame num tambor.) Olha para todos os lados, penetra pela porteira da cerca, olha de novo para todos os lados, procura no chão, descobre o que queria, faz o gesto de arrancar, cobre o que arrancou com a capa e, pulando a cerca, desaparece de cena, sempre escondendo o rosto. Pausa. Começa a clarear, ouvem-se o galo cantar e passarinhos. A VOVÓ FELÍCIA entra cantando alegremente, carregando regador. Entra na horta, pára e grita.
VOVÓ FELÍCIA: Roubaram! Socorro! Socorro! Roubaram o pé de cebolinha da VOVÓ FELÍCIA Felício. Roubaram! (“Pausa”.) Quem terá sido? Quem teve coragem de roubar o pé da mais preciosa cebolinha que existe no Brasil? Onde está o Gaspar? (“À parte”.) Gaspar é o vigia da horta. (“Chamando”.) Gaspar! Gaspar!...
“Ouve-se um latido, e em seguida aparece Gaspar, um enorme cachorrão”.
VOVÓ FELÍCIA: Gaspar, quem roubou o meu pé de cebolinha?
GASPAR: (“que não fala, mas late com expressão humana, dando as inflexões necessárias”) Uau... uau... (“Corre até os últimos pés de cebolinha e cheira-os ruidosamente”.)
VOVÓ FELÍCIA: Foi você quem comeu a minha cebolinha? “Gaspar late que não”.
VOVÓ FELÍCIA: Palavra de cachorro? “Gaspar late que sim”.
VOVÓ FELÍCIA: (“à parte”) Estou na dúvida se cachorro tem ou não tem palavra. (“Para Gaspar”.) Então quem foi?
GASPAR: (“meio apavorado”) Uau... uau... (“Indica a direita com o focinho”.)
VOVÓ FELÍCIA: Foi Florípedes?
GASPAR: Uau... uau... (“Diz que não”.)
VOVÓ FELÍCIA: Foi Simeão?
GASPAR: Au... au... (“Diz que não”.)
VOVÓ FELÍCIA: Gaspar, vá correndo chamar Florípedes e Simeão. Quero todo mundo aqui.
“Sai Gaspar”.
VOVÓ FELÍCIA: Ah! Preciso descobrir o ladrão. Quem teria a coragem de fazer uma coisa destas? (“Chamando”.) Lúcia, Maneco! Onde estão os meus netos? Maneco, anda cá, seu maroto. Lúcia, acorda, menina. O avô foi roubado!
“Entram Lúcia e Maneco, aflitos”.
MANECO: Você chamou, vovó?
LÚCIA: O que é que aconteceu, você está tão nervosa!
VOVÓ FELÍCIA: Vocês não podem imaginar o que aconteceu? Olhem lá dentro. (“Aponta para dentro da cerca. Os dois meninos entram no cercado”.)
MANECO: Oh!
LÚCIA: Que horror! Pobre vovó! (“Para a platéia”.) Arrancaram o pé de cebolinha. (“Para a vovo.) Quem foi?
MANECO: Quem foi o ladrão, hem, vovo?
VOVÓ FELÍCIA: Não sei ainda. Temos que descobrir. Ainda ficaram 3 pés. Os últimos. (“Chorando”.) Ai, meu Deus! Estou tão triste que nem posso pensar direito. Dois anos criando essas cebolinhas, e agora...
LÚCIA: Fique mais calmo, vovó. Não se amole tanto. Mandaremos vir outras mudas iguais e elas vão crescer que nem capim.
VOVÓ FELÍCIA: (“indignada”) Lúcia, minha neta, não torne a dizer esse absurdo. Você sabe muito bem que estas cebolinhas são diferentes. Quem toma chá dessas cebolinhas tem coragem, respeito, alegria e amor! E estas são as últimas que existem no Brasil...
MANECO: (“interrompendo”) Fale mais baixo, vovó. Você quer que outros ladrões apareçam para roubar as 3 que sobraram?
VOVÓ FELÍCIA: É mesmo, meu filho. Todo o cuidado agora é pouco. Irei até a cidade contratar um detetive para descobrir o ladrão. Prestem bem atenção no pessoal daqui. Todo mundo é suspeito. Vou me vestir e já volto. (“Sai”.)
MANECO: Pobre vovó. Quem teria sido o ladrão?
“Ouve-se um miado, um relincho e um latido, e em seguida entram os bichos”.
MANECO: Aí vêm os bichos. Florípedes, venha cá.
“Ela se aproxima de Maneco, dengosa”.
MANECO: Foi você quem roubou as cebolinhas do vovó?
“Florípedes, assustada, vai até o canteiro, olha, mia, volta para junto de Simeão e, miando com convicção, faz que não, ofendida, como dizendo: "Isso é pergunta que se faça”?".
MANECO: Simeão, venha cá.
“Simeão se aproxima com medo”.
MANECO: Foi você quem roubou as cebolinhas do vovó?
SIMEÃO: (“com receio”) Hiiiiii. (“Faz que não”.)
MANECO: Mas vocês dormem aqui fora. Devem ter visto alguma coisa durante a noite.
“A gatinha e o burro dão miados e relinchos significativos de que viram alguma coisa, sim”.
MANECO: Então viram o ladrão? (“Miam e relincham que sim”.) Como era ele? (“Os dois se olham um pouco, e depois passam pela cena imitando o andar do ladrão”.) Que andar mais esquisito. E você, Gaspar, não viu nada? Não vigiou a horta durante a noite, como era o seu dever? (“Gaspar abaixa a cabeça”.)
LÚCIA: Vamos, Gaspar, explique-se. É para o seu próprio bem. Onde é que você passou a noite?
“Gaspar indica que passou a noite na sua casinha. Entra na casa”.
MANECO: E não viu nada? Ninguém entrar?
GASPAR: Uau... uau... uau... (“Faz que não, e mostra que estava dormindo”.)
MANECO: Como assim? Dormindo! É assim que você toma conta da horta? É assim que você é amigo do vovó? (“Para a platéia”.)
“Gaspar, aflitíssimo, dá latidos de tristeza”.
LÚCIA: (“indignada”) Não ofende o Gaspar, Maneco; quem sabe não deram remédio para ele dormir?
“Gaspar, ao ouvir isso, anima-se e dá saltos significando que sim”.
MANECO: (“intrigado”) Será possível? Então o caso está se tornando mais grave. Muito mais grave.
LÚCIA: (“ao ouvido de Maneco”) Florípedes e Simeão viram tudo.
MANECO: (“dirigindo-se para os dois”) Florípedes e Simeão, respondam: o ladrão era alto ou baixo? (“Os dois olham-se espantados, pensam um pouco; e depois, ao mesmo tempo, Florípedes sobe no banco e faz um gesto, indicando que o ladrão era muito alto, miando prolongado, e Simeão se abaixa relinchando, indicando que o ladrão era muito baixo”.) Que negócio é este? Cada um viu diferente? (“Os dois se olham, percebem a contradição e desmancham rapidamente o gesto. Florípedes desce do banco”.)
LÚCIA: Era gordo ou magro?
“Novamente os dois ao mesmo tempo indicam, Florípedes que era muito gordo e Simeão que era muito magro; hesitam um pouco e se olham com medo, percebem o erro e, muito sem graça, desmancham o gesto”.
MANECO: Vocês estavam era sonhando. Ora essa, vocês não servem para nada. Vão-se embora.
“Florípedes dá miados aflitos procurando chamar a atenção dos meninos para lhes dizer algo”.
LÚCIA: (“notando Florípedes”) Espera, parece que Florípedes quer dizer alguma coisa.
“Florípedes diz que sim”.
MANECO: Vamos, Flor, explique-se.
“Junto com Lúcia, corre para a gatinha. Os dois meninos a animam exageradamente. Florípedes, vendo-se dona da situação, afasta-se e começa a mímica. Imita o andar do ladrão e depois finge que desmaia, dando miadinhos finos”.
LÚCIA: Você desmaiou quando viu o ladrão? (“Florípedes diz que sim, e Simeão mostra ao mesmo tempo que correu para socorrê-la”.) Ah, e você correu para socorrê-la quando ela desmaiou? (“Simeão faz que sim, levanta Florípedes e os dois saem correndo”.)
MANECO: E... depois foram embora correndo?
“Simeão faz que não, volta sozinho ao meio do palco, tenta mostrar por mímica que quem saiu correndo foi o ladrão”.
LÚCIA: Ah!... e o ladrão fugiu?
“Os dois respondem que sim”.
MANECO: (“ao ouvido de Lúcia”) Ih!... Estou muito desconfiado. (“Para Florípedes e Simeão.) Podem ir agora.(“Florípedes e Simeão saem”.) Mas tratem de abrir bem os olhos e os ouvidos. (“Gaspar sai. Maneco grita na direção em que os bichos saíram”.) Todo mundo aqui é suspeito! E essa história que os dois contaram não combinava nada. É bom espiar bem esses bichos. Eles são muito sabidos.
VOZ DE FORA: Ó de casa!
MANECO: (“para a platéia”) É o vizinho novo, seu Camaleão Alface.
“Entra Camaleão Alface, de culote, chapéu de explorador e grandes bigodes. Leva nas costas uma mochila de onde tirará os objetos necessários para a ação.
CAMALEÃO: (“ainda de fora”) Onde está a VOVÓ FELÍCIA? (“Vai entrando muito aflito”.) Onde está a VOVÓ FELÍCIA? Preciso falar com a VOVÓ FELÍCIA.
LÚCIA: Vovó está se vestindo, seu Camaleão Alface. Ele vai à cidade para...
CAMALEÃO: O que aconteceu?
MANECO: Roubaram um dos pés de cebolinha.
CAMALEÃO: (“correndo para o local do roubo”) Não é possível! Como foi isso?
MANECO: Não sabemos ainda de nada. Vovó vai à cidade contratar um detetive.
CAMALEÃO: Detetive?
VOVÓ FELÍCIA: (“aparece pronto para sair e emenda a fala com a do Camaleão.) ... um detetive para descobrir o raio do ladrão que levou minha cebolinha. (“Pega a mão do Camaleão e começa a sacudi-la vigorosamente enquanto fala”.)Como vai o senhor? Como vai a Associação Protetora das Plantas?
“Camaleão tenta falar mas não consegue”.
VOVÓ FELÍCIA: O senhor continua o presidente? Farei uma comunicação do roubo na próxima reunião. Agora vou à cidade contratar um detetive. (“Sai andando”.)
CAMALEÃO: Um detetive? (“Corre atrás do VOVÓ FELÍCIA e o detém”.) Um detetive para quê, minha amiga?(“Com ar de grande superioridade”.) Então não sabe que eu sou formado detetive?
VOVÓ FELÍCIA: O senhor?
CAMALEÃO: (“andando lentamente no palco e muito convencido”) Passei três anos numa universidade dos Estados Unidos. (“Parado, para a platéia, e com malícia”.) Sou especialista em raptos de verduras, brotinhos, coisinhas tenras e desprotegidas.
MANECO: Mas o senhor tem diploma, seu Camaleão?
CAMALEÃO: Aqui está.
“Puxa ostensivamente da mochila um enorme diploma. Maneco e Lúcia começam a abri-lo. É tão grande o diploma que Maneco precisa trepar no banco e Lúcia se ajoelhar no chão para abri-lo completamente. A VOVÓ FELÍCIA passa os olhos, encantado, pelo documento e o lê em inglês ruim. Enquanto isso, Camaleão, se transforma num detetive tirando da mochila capa com estrela, gravata borboleta e uma enorme lente”.
VOVÓ FELÍCIA: Seu diploma é enorme, seu Camaleão Alface. (“Vai para junto dele”.) O senhor está nomeado meu detetive. Pagarei o que quiser.
CAMALEÃO: Não cobrarei nada do senhor (“Adulador”.) Só quero a sua amizade. (“Empunha a lente e vai para o canteiro”.) Vejamos primeiro as pistas. (“Consigo mesmo, examinando o local”.) Comecemos pelo... começo. Vamos agir. Todos são suspeitos. (“Examina o avó e, logo depois, as duas crianças, que levam grande susto”.) Todos, ouviram?(“Passeia pelo palco examinando tudo com a lente, e acaba observando a ponta de sua própria bota. Vai subindo com a lente e, quando percebe o que está fazendo, diz”:) Quase todos! (“Para a VOVÓ FELÍCIA”.) Vamos, tenho um plano. (“Para os meninos”.) Que ninguém saia de casa esta noite. Ordem do detetive Camaleão Alface. (“Quase desaparecendo”.) Ninguém!
“Os meninos examinam o diploma. Camaleão torna a aparecer e tira o diploma dos meninos”.
CAMALEÃO: Com licença, meninos. (“Para a platéia”.) É o diploma que faz o detetive. (“Sai, solene”.)
“Lúcia e Maneco saem atrás, Maneco irritado, Lúcia com grande admiração. Voltam logo depois”.
MANECO: Não gostei nada dele. Achei tudo muito esquisito. Você acha que um detetive anda sempre de diploma, medalha? Ele estava com cara de quem já sabia de tudo. Mas também tenho um plano. Ainda ficaram 3 pés de cebolinhas. O ladrão na certa voltará para roubar o resto.
LÚCIA: Ué, por que é que ele há de voltar, ora!
MANECO: (“categoricamente”) Um ladrão volta sempre ao local do crime, Lúcia. (“Baixo”.)
LÚCIA: É mesmo, Maneco. (“Espantada”.) Então ele é capaz de voltar esta noite. O que é que vamos fazer? Quantos suspeitos você já tem?
MANECO: (“pensativo”) Florípedes e Simeão podem ser os ladrões. Gaspar também. Seu Camaleão Alface também pode ser o ladrão. Todo mundo pode ser o ladrão.
LÚCIA: Ah, isso é que não! Não consigo ver o Gaspar roubando cebolinhas. Tão bom que ele é... Nem Florípedes, nem Simeão, nem seu Camaleão Alface... (“Para a platéia”.) Afinal, ele é um grande detetive!
MANECO: (“implicando”) Você é muito boazinha, Lúcia. Por isso não serve para detetive. Um detetive tem que ser que nem eu: durão!.
LÚCIA: Ah seu bobo! Como é que você pode desconfiar dos pobres bichinhos da vovó (dá-lhe uma corrida e Maneco sai e Lúcia se esconde ao ouvir barulhos, entra Gaspar. Fareja todos os lados, dirige-se para o canteiro, cheira as cebolinhas com grande cuidado e sai. Lúcia observam-no escondidos”.
LÚCIA: Oh!!!
(Entra Florípedes puxando Simeão pela mão. Sobe no banco e com pequenos miados e grandes gestos procura convencer Simeão, falando-lhe ao ouvido. Simeão não parece concordar. Por fim, fica irritado e sai para o meio do palco, mostrando claramente que não concorda. Florípedes não desiste e vai atrás dele, puxando-o pelo rabo até o canteiro. Argumenta novamente. Simeão vira-lhe as costas mostrando de novo que não concorda. Florípedes tenta mais uma vez convencê-lo, usando de seus encantos felinos. Mas nada demove Simeão de sua decisão. Afinal, Florípedes, irritada, desiste, e resolve executar seu projeto sozinha. Simeão, apavorado de perdê-la, sai correndo atrás dela”.
LÚCIA: (“que assistiu a toda a cena escondida) Oh, oh!... (“Sai correndo, chamando”.) Maneco... Maneco... Maneco...
Segunda Cena
Escurece bastante. É noite. Entra Maneco envolvido por uma grande capa preta, até o chão, e por um grande chapéu preto. Pé ante pé (exageradamente), com grandes flexões de joelho, olhando para todos os lados, pára um momento diante da cebolinha e, fazendo que ouve um barulho (barulho do camaleão), corre e se esconde atrás do espantalho. Logo depois entra Camaleão Alface, vestido da mesma maneira, andando identicamente. Vai até a cebolinha, pára um instante, atravessa a cena e ouvindo barulho dos bichos esconde-se no lugar de onde saiu. Em seguida, entram Florípedes e Simeão, ela na frente, vestidos também como os outros. Andando sempre como Maneco e Camaleão Alface, dirigem-se os dois para a cebolinha, param um instante e encaminham-se para trás da árvore, onde se escondem. Torna a voltar Camaleão, vai novamente até a cebolinha, arranca uma disfarçadamente e continua a volta pelo palco. Ao passar pelo espantalho é seguido, sem o saber, por Maneco; este, por Florípedes e Simeão. Os quatro dão uma volta por todo o palco no mesmo ritmo. A certa altura ouve-se o coaxar de um sapo. Param todos ao mesmo tempo (estão em fila indiana) e olham cada um por sua vez para trás. Recomeçam a andar e depois de uns instantes ouvem novamente o sapo.Param juntos. Camaleão volta-se e dá com os outros. Grande confusão e correria, gritos, miados, relinchos.Todo o andar dos personagens deve ser seguido do barulho de lixa, reco-reco, tambor etc.
MANECO: Peguei o ladrão!
CAMALEÃO: Me larga, menino, sou Camaleão, o detetive, e o ladrão é você.
“Mais gritos, miados e relinchos até que entra a VOVÓ FELÍCIA, de ceroulas, segurando um lampião e dando a mão a Lúcia. A cena se ilumina e VOVÓ FELÍCIA vê o detetive agarrado em Maneco. Florípedes e Simeão, morrendo de medo, observam num canto”.
VOVÓ FELÍCIA: (“entra gritando”) Que barulho medonho é este? Parem de gritar. (“Vendo a cena”.) Meu Deus, quantos ladrões! (“Ilumina cada ladrão com o lampião.Lembra-se das cebolinhas e corre para o canteiro.) Roubaram o meu segundo pé de cebolinha!! (“Senta-se desolada no banco”.)
CAMALEÃO: (“tirando o disfarce”) Pode ficar certa, VOVÓ FELÍCIA, que o ladrão está por aqui. Pus este disfarce para ver se confundia o larápio, e o senhor há de perceber que aqui há dente-de-coelho.
MANECO: (“também tirando o disfarce”) Também pus o disfarce para o ladrão se confundir, vovó.
VOVÓ FELÍCIA: (“irônico, levanta-se e dirige-se aos bichos”) É, e vocês dois aí no canto, também puseram o disfarce para ver se pegavam o ladrão mais facilmente, não é?
“Florípedes e Simeão, aterrorizados, meneiam a cabeça dizendo que sim”.
VOVÓ FELÍCIA: (“senta-se novamente e diz, lamuriosa”) É assim que me ajudam? O que vocês estão fazendo é ajudar o ladrão. Com isso ele roubou minha segunda cebolinha.
CAMALEÃO: (“indo para o meio do palco e tomando conta da situação”) Todos os presentes são suspeitos. Desobedeceram à minha ordem de não sair à noite.. Vamos, quero vocês aí enfileirados para uma inspeção. (“Todo amável com o VOVÓ FELÍCIA”.) A cebolinha raptada não deve estar muito longe.
“Maneco recusa-se a obedecer. Lúcia empurra Maneco para o lugar e este fica emburrado”.
CAMALEÃO: Abram a boca e Mostrem as mãos. (“Ele examina.Puxa VOVÓ FELÍCIA para o centro do palco e diz-lhe confidencialmente:”) Talvez o suspeito tenha engolido a cebolinha na hora da confusão, e o cheiro deixado na boca será uma pista preciosa. (“Volta aos bichos e cheira a boca de Simeão e Florípedes. Torna a cheirar Florípedes, Florípedes mia de medo. Ouvem-se latidos sofredores cada vez mais fortes”.)

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