Matéria extraída da Revista VEJA de Fevereiro de 2012
Por Carolina Melo
Os avanços obtidos pela ciência no estudo do cérebro nas últimas duas décadas têm implicações extraordinárias na educação. Pouco a pouco se tem desvendado como funcionam os processos da cognição humana nos primeiros estágios do aprendizado. Isso abriu aos educadores um leque totalmente novo de recursos para desenvolver a capacidade dos alunos. Nesse processo, a neurociência já derrubou mitos como o de que as lições na sala de aula devem mirar de forma diferente os lados direito e esquerdo do cérebro ou de que usamos apenas 20% da massa cinzenta. As ferramentas que mais resultados temos produzido na montagem do novo mapa de aprendizado são os equipamentos de ressonância magnética, capazes de enxergar em tempo real como o cérebro se comporta diante de diferentes estímulos.
O estudo
Uma pesquisa recente da Universidade de Leiden, na Holanda, feita com ressonância magnética, serve para orientar os pais e professores a respeito dos estímulos básicos de todo processo educacional: a aprovação e a reprovação dos trabalhos das crianças. O estudo mostra que as crianças na faixa de 8 a 9 anos aprendem com elogios, mas não tiram lições das críticas negativas. – simplesmente não dão ouvidos a elas. Já as crianças na faixa dos 11 e 13 anos são capazes de aprender com os próprios erros e, portanto, são sensíveis às críticas negativas, da mesma forma que os adultos. Disse a VEJA o neurologista Paul Thompson, da Universidade da Califórnia, especialista em ressonâncias magnéticas cerebrais: “O lobo frontal do cérebro, responsável pelo autocontrole e pela avaliação das consequências das atitudes, só se desenvolve plenamente a partir dos 12 anos. É por isso que as crianças se expõem a situações de risco sem perceber. Isso explica por que o desenvolvimento cognitivo no cérebro das crianças mais crescidas é ativado por respostas negativas, em quanto nas pequenas ela ocorre por meio de respostas positivas”.
Quebrando mitos
O maior dos mitos pedagógicos desmontados recentemente pela neurociência reza que a mente das crianças é uma folha em branco, e cabe aos pais e à escola preenchê-la com conhecimentos. Para isso, acreditava-se, era pré-requisito que a criança já tivesse desenvolvido a linguagem. Ocorre que as crianças são mais sabidas do que se pensava. Uma série de estudos prova que, a partir dos 3 meses de idade, os bebês já se engajam em um processo intenso de aprendizado de noções rudimentares de biologia, física e aritmética. Antes se pensava apenas que os bebês observavam o ambiente à sua volta e têm a atenção despertada por pessoas e objetos, mas não são capazes de adquirir conhecimento com isso.
Os bebês entendem
Agora se sabe que os bebês já têm consciência de que, por exemplo, os objetos precisam de um suporte para não cair no chão e de coisas inanimadas só se movimentam se alguém mexer nelas. Antes acreditava que a voz dos pais ou das pessoas conhecidas desperta a atenção das crianças muito pequenas porque elas se habituam a ouvi-la. Agora se sabe que as crianças desenvolvem mecanismos linguísticos antes mesmo de aprender a falar. Elas sabem que as palavras expressam um conteúdo e que o latido de um cachorro ou o toque de um telefone não têm significado algum. As descobertas da neurociência possibilitam aos educadores saber exatamente com o que estão lidando ao incutir o conhecimento nos 100 bilhões de neurônios que carregamos no crânio.
Revista VEJA
01/02/2012
Edição 2254
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