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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Teste na trilha: Fiat Strada cabine dupla 2014.

Era uma picape muito engraçada, tinha três portas e uma nova cara.
É final de tarde no Parque Estadual do Ibitipoca, região de natureza protegida no sul de Minas Gerais, e eu ainda tento entender a nova Fiat Strada. Por trás da serra verde, o sol rompe as nuvens e se derrama sobre o carro e o cenário das fotos. Assim como um adolescente de olhar perdido, me flagro fantasiando com ela... Será que eu, um cara que só via fazendas no programa Globo Rural antes das corridas de F1 poderia gostar de uma picapinha?


Já havia percorrido 230 km de rodovias e trilhas e meu subconsciente diz que muita coisa havia mudado na Strada. Isso soa estranho, pois a porta na traseira e os retoques estéticos não prometiam muito. Na vida real, a nova Strada está confortável para rodar, mais prática e, por incrível que pareça, até bonita de se ver. Como os engenheiros puderam melhorar os pontos fracos da Strada? Será que tudo nela agora é uma maravilha?
Feita com muito esmero


Esta não é a primeira picape a usar porta reversa. A Ford Ranger na configuração estendida, que não é vendida no Brasil, usa um sistema similar nos dois lados. Porém, nela não há assentos traseiros, e sim espaço para bagagem. Portanto, a Fiaté a primeira picape compacta a ter uma porta de acesso para os ocupantes do banco traseiro. Todo o sistema de abertura foi feito com esmero pela Fiat no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Giovanni Agnelli, em Betim, Minas Gerais.


Só é possível abrir e fechar a porta traseira quando a porta dianteira também está aberta. Por isso, só dá para acessar a maçaneta de trás nessa mesma situação. Isso, segundo a fábrica, serve para dar segurança e tirar o apelido de suicida desse tipo de solução. A fama ruim vem de veículos antigos, cujas portas reversas algumas vezes abriam com o carro em movimento. O ocupante, num reflexo natural, tentava segurar a maçaneta da porta e era puxado para fora do carro. Uma cena nada bonita.
A maçaneta da Strada saiu das pranchetas brasileiras e ganhou até patente. Ela funciona nas duas direções. Assim, quem está fora e quem está dentro usa somente um mecanismo para destravar a porta. Não há coluna entre elas, uma se trava na outra. Por isso, a porta da frente só se encaixa quando a traseira está fechada. E, se houver algum esperto que não perceba isso, sinais sonoros e uma luz do painel vão alertar para a iminente cagada.


A operação é simples e em cinco minutos o fotógrafo Renato Durães já se beneficiava da solução. Com todo o equipamento no banco de trás, ele abria as portas rápido e tirava flashes, rebatedores e tripés. A área para entrar no banco traseiro dobrou. Antes era 0,5 m2 só com a porta da frente e agora é 1 m2 com ambas abertas.


Segundo Claudio Demaria, diretor de engenharia da Fiat, foram feitos reforços do teto, assoalho e colunas do lado direito da Strada para compensar a falta da coluna B. “Mantivemos os níveis de segurança da picape em caso de acidente com isso”, explica o engenheiro. Foram usados testes reais de colisão e simulações de computador para aferir o resultado. A diferença de peso entre os dois lados do carro – pela porta extra e os reforços – exigiu uma calibração nova de suspensão. Segundo Demaria, o objetivo foi manter as características de rodagem e robustez da picape. Comparada à versão Adventure anterior, a Strada ganhou 50 kg. Ao volante quase não dá para perceber o peso extra.
Maior e bonita


Parte do peso veio da caçamba. As laterais dela subiram 8 cm, o que provocou dois resultados interessantes. O primeiro foi de beleza, pois a linha de cintura da picape ficou bonita. A traseira mais alta, combinando com a nova lateral com dois vincos, tem proporção mais ajeitada. O outro resultado foi de praticidade, isso porque o volume da caçamba cresceu 100 litros na versão cabine dupla (680 litros), ganhou 110 litros na cabine estendida (910 litros) e somou 120 litros na cabine simples (1.220 litros).


Ainda olhando de lado, dá para perceber as novas caixas de roda e detalhes da versão Adventure. Os vidros foram redesenhados. Na traseira, o destaque são as lanternas com desenho bem mais interessante do que a Stradaanterior. O para-choque foi refeito e o nome da versão agora cobre toda a tampa da caçamba que, claro, é nova. Na dianteira quase não houve mudanças.


Por dentro, o cluster tem novos desenhos com fundo preto, números brancos com alguns detalhes em vermelho. No entanto, de muito longe, a melhor mudança no interior da picape é a regulagem de altura para o banco do motorista. Agora, enfim, você pode acelerar a Strada sem precisar curvar o pescoço. Segundo a Fiat, foi detectado que alguns clientes queriam esse equipamento. Para nós da C/D isso sempre foi necessidade, mas a Fiat só acordou agora.
Valentona
Para conseguir fazer estas fotos, foi preciso colocar a picape em terrenos traiçoeiros. Nas trilhas com pedras brotando em direção ao cárter, a boa altura em relação ao solo salva a Strada. A suspensão aguenta as porradas. Nas íngremes subidas de pedras escorregadias, o sistema Locker evita as patinadas. Até na grama encharcada a tecnologia se mostrou eficiente. É só engatar primeira marcha e dosar o acelerador. Se não fosse pelo Locker – que trava o diferencial e distribui a força igualmente nas rodas dianteiras – a picape estaria até hoje abraçada aos barrancos de Minas. Na terra batida, onde dá para acelerar mais, o conjunto é equilibrado. Como é divertido deixar as rodas traseiras escorregarem. Um contraesterço com um pouco de aceleração coloca o carro no lugar novamente.


A direção poderia ter um acerto mais direto, o câmbio manual ainda tem engates longos com alguma imprecisão. Na estrada, em compensação, os quilômetros passam rápido. Nem parece um utilitário, lembra mais um carro de passeio. Para melhorar, a Mopar passa a oferecer uma linha de 40 acessórios exclusivos e homologados para a Strada. Tem até extensor de caçamba para levar a moto.
Talvez seja isso que me cative agora. A nova Strada manteve as qualidades racionais e melhorou as características subjetivas. É como se aquela sua namorada, atenciosa e fiel, colocasse aquele silicone caprichado. Porém, é preciso colocar as coisas na balança. Por R$ 54 mil dá para escolher muito sedã e hatch competente por aí. Se você, assim como eu, só vê bichos pelo Discovery Channel, considere outras opções. Mas se você vai encarar paisagens como as das fotos, pode ir de Strada sem medo. Ela não decepciona.
Texto: Carlos Cereijo / Fotos: Renato Durães /

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