Existe lugar certo para se aprender?
É preciso mostrar para o aluno que o aprender se dá em qualquer lugar, em todo o lugar e a qualquer momento.
O fato da criança ou do adolescente
acordar todos os dias, colocar o uniforme, pegar seu material e ir para a
escola lhe dá a impressão de que é somente lá, nesse local, que ele
aprenderá. E que para aprender é preciso que haja um ritual como esse. É
por isso que ele não se dá conta de que ele aprende o tempo todo, em
todo lugar e a todo o momento.
Ele também escuta que tem que ir para a
escola para estudar, para ter uma profissão e ter um futuro melhor.
Então o aluno incorpora que é somente na escola que ele tem a
oportunidade de aprender e acaba não dando importância para tudo o que
acontece no seu entorno. Mesmo na escola, sob a ótica do aluno, o
conteúdo da aprendizagem está ancorado na figura do professor. Isso
ocorre muitas vezes porque o sistema escolar não valoriza a interação
entre o aluno e seus pares, entre o aluno e o entorno, entre o aluno e o
objeto de aprendizagem.
Para que a aprendizagem aconteça é
preciso que haja interesse, vontade, criatividade, enfim, é preciso que o
aluno esteja em movimento interagindo com o meio.
Muitas vezes, quando o professor adota
uma prática menos convencional, o aluno estranha, se sente inseguro, se
sente perdido sem saber se vai conseguir aprender.
Eu mesma, quando estava em sala de aula e
ia trabalhar um tema novo, gostava de propor uma discussão para poder
avaliar qual a bagagem que cada um tinha a respeito daquele assunto.
Pois era comum aquele aluno metódico levantar a mão, e ao invés de
interagir e contribuir com a discussão, perguntar se eu não ia dar aula.
E também era comum aquele aluno muito participativo, que estava
totalmente integrado no debate, diante da pergunta do colega
sistemático, responder: “Não seja estraga prazer, deixa a professora
enrolar. Você vai querer que ela dê matéria?” E eu, mesmo usando vários
argumentos para convencê-los de que estávamos trabalhando a matéria,
eles custavam a se convencer. É o modelo engessado que acaba
imobilizando a todos.
É por causa desse conceito que tudo o
que é vivenciado pelo aluno fora da escola não é visto nem por ele e nem
pelas pessoas que o rodeiam como fonte de aprendizagem. Se ele abrir
um carrinho para verificar como se dá o seu funcionamento será
recriminado, rotulado de destruidor, que não cuida das suas coisas e
poderá até ser punido ou ameaçado de não ganhar mais nada. Porém, se a
professora pedir para o aluno levar um carrinho para a escola para
desmontar para ver como se dá o seu funcionamento ele não será criticado
pela família, muito pelo contrário.
É preciso mudar esse conceito de que
lugar de aprender é na escola. A partir do momento que esse paradigma
for quebrado todos terão o olhar para o que acontece ao seu redor e
poderão refletir, analisar, questionar, formar opinião enriquecendo
ainda mais a sua bagagem cultural.
Uma experiência que me marcou muito foi
uma viagem que fiz de excursão para as cidades históricas, pois o meu
objetivo era justamente saber de cada detalhe sobre cada cidade, e antes
de fechar a viagem me certifiquei de que o guia seria da cidade, pois
assim teríamos acesso às particularidades que não encontramos em nenhum
livro. Pois a maioria dos integrantes do grupo não prestava atenção no
que a guia turística falava, a ponto de ela se recusar a voltar no dia
seguinte. Por fim, eu e mais 5 pessoas fomos para a parte de baixo do
ônibus juntamente com a guia para ouvirmos suas explicações enquanto o
restante do pessoal ficava falando gracinhas e contando piadas durante o
trajeto.
A filosofia da escola também determina
que o professor seja professor somente enquanto está em sala de aula não
cultivando a interação com os alunos fora do espaço físico e do período
escolar. O professor que fica no recreio junto com os alunos é
malquisto, inclusive, pelos seus colegas. O professor que interage com
seus alunos via redes sociais é criticado pelos gestores da escola e é
visto com desconfiança pelos pais dos alunos.
Muitas vezes o fato de ele participar da
mesma rede social que seus alunos pode lhe fornecer dados para que ele
conheça melhor esse aluno e o possa ajudar caso tenha dificuldades. Mas
essa possibilidade não é aventada porque a visão da escola é a de que a
obrigação de aprender é do aluno e a obrigação de trabalhar o conteúdo é
do professor, e que uma não tem relação com a outra. É por essa razão
que o índice de aprendizagem é o mínimo.
E para finalizar vale mencionar que a
escola não precisa incentivar a criança a ser protagonista da sua
aprendizagem. A escola precisa somente não impedir que o protagonismo
natural da criança se manifeste, porque sabemos que é na escola que o
aluno escuta que agora não é a hora para perguntas, que agora não é a
hora para compartilhar suas experiências, que agora não é a hora para
falar nada.
A escola também não precisa se preocupar
em despertar a criatividade nos seus alunos, ela precisa apenas não
inibir a manifestação criativa natural de cada criança.
http://educaja.com.br/2015/08/qual-e-o-lugar-certo-para-se-aprender.html