A inflação brasileira acelerou para 1,32% em março, informou o IBGE nesta quarta-feira, a maior para o mês desde 1995 — menos de um ano após a implantação do real, em julho de 1994 e quando atingiu 1,55%. Considerando todos os meses, é o maior índice desde fevereiro de 2003, quando chegou a 1,57%. No trimestre, a taxa está em 3,83%, a maior para o período desde 2003, quando foi de 5,13%.
No acumulado em 12 meses, o IPCA, índice oficial, já avança 8,13%, bem acima do teto da meta do governo, de 6,5%, e a maior desde dezembro de 2003(9,3%). No acumulado em 12 meses até fevereiro, o IPCA registrava alta de 7,7%. Em fevereiro, o IPCA havia ficado em 1,22%.
Para a coordenadora de preços do IBGE, Eulina Nunes, apesar da força na inflação do primeiro trimestre, as características deste início de ano são bem diferentes das observadas em 2003, quando o dólar foi a principal influência, principalmente por causa da instabilidade provocada pelo ano eleitoral. Apesar da alta do dólar registrada no início do ano, o câmbio ainda não é a influência principal sobre os preços.
— A característica do primeiro trimestre de 2003 tem pontos comuns com o desse ano, mas o perfil é diferenciado. Naquela época, foi uma mega desvalorização do real que influenciou os preços, por conta da instabilidade das eleições. A diferença é que lá, entre 2002 e 2003, esse peso do dólar foi bem maior, se fez muito mais evidente. A maior parte dos 5,13% do primeiro trimestre de 2003 se deveu ao dólar.
Com aumento médio de 22,08%, a conta de luz mais cara foi responsável por mais da metade do IPCA de março. O item energia elétrica representou 53,79% do IPCA, com impacto de 0,71 ponto percentual.
O IBGE explicou que o resultado foi influenciado pelos reajustes autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica a partir de 2 de março. Além disso, destacou a alta de 83,33% sobre o valor da bandeira tarifária vermelha, que passou de R$ 3 para R$ 5,50.
Grupo Habitação tem maior avanço
Com a alta da energia, os gastos com habitação registraram o maior avanço entre os grupos pesquisados pelo IBGE, com alta de 5,29%. Também influenciou o aumento da mão de obra para pequenos reparos, cuja taxa foi de 1,25%, e do condomínio, que subiu 0,96%.
Depois do grupo habitação, o maior impacto do mês foi dos preços de alimentação e bebidas, que subiram 1,17%, com peso de 0,29 ponto percentual. Juntos, os grupos de alimentação e habitação responderam por nada menos que 81,82% do IPCA do mês passado.
Considerando apenas as altas de preços de alimentos, a maior inflação foi da cebola, cujo preço subiu 15,1% no mês. Também pressionaram o grupo de despesas os reajustes do ovo de galinha (12,75%), e o alho (7,66%).
Principal impacto do IPCA de fevereiro, a gasolina registrou alta de 1,26% em março. A taxa é bem menor que a do mês anterior, quando o item havia tido alta de 8,42%, mas ainda reflete parte do aumento nas alíquotas de PIS-Cofins sobre o combustível, em vigor desde o início de fevereiro. No trimestre, o produto tem alta acumulada de 9,8% e, considerando os últimos 12 meses, avança 11,49%.
Também influenciam a categoria o impacto de alguns reajustes nas tarifas de ônibus urbano, levando a inflação desse serviço a 0,85%, uma desaceleração frente à alta de 2,73% de fevereiro. Apesar de boa parte desses aumentos ter se concentrado no início do ano, o item continua pressionado por reajustes autorizados mais recentemente, como o de Goiânia, que aumentou a passagem de ônibus em 17,85% em 16 de fevereiro, e Porto Alegre, que só elevou a tarifa (10,85%) em 22 de fevereiro.
Com menores altas da gasolina e de ônibus urbano, a inflação do grupo transportes foi menor, avançando 0,46%, após ter ficado em 2,2% em fevereiro. Na taxa acumulada do trimestre, no entanto, o grupo ainda registra alta acima da média, de 4,55%.
Para Levy, conforto frente à inflação
Ao comentar o resultado da inflação de março, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o Banco Central tem se expressado com clareza e consistência e demonstrado sua disposição de tomar medidas para combater a alta dos preços, o que dá “total conforto”.
– O BC tem se expressado com clareza e consistência em relação à importância do controle da inflação e sua disposição de tomar as medidas cabíveis. Ele tem sido absolutamente completo em suas explicações, o que nos dá total conforto.
Apesar da aceleração, o índice ficou abaixo da expectativa de analistas do mercado financeiro era que o indicador chegasse a 1,4% no mês, segundo pesquisa do Banco Central com cerca de 100 economistas.
Nas últimas semanas, especialistas têm estado cada vez mais pessimistas para o cenário da alta de preços neste ano. A mediana das projeções do boletim Focus, divulgado semanalmente pelo BC, já está em 8,2%, segundo os dados mais recentes, de segunda-feira. Foi a 14ª revisão para cima das estimativas. Para 2016, no entanto, a expectativa é de desaceleração da alta de preços para 5,6%.
Fonte: O Globo
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