22/04 -- Descobrimento do Brasil
FROTA DE CABRAL
RÉPLICA da nau capitânia com que Pedro Álvares Cabral atingiu terras de Vera Cruz
está a ser construída na base naval de Aratu, no estado brasileiro da Baía
O Brasil está a construir uma réplica da nau capitânia de Pedro Álvares Cabral. Os trabalhos estão a desenvolver-se na base naval de Aratu, na Baía, local onde permanecem os "esqueletos" de três naus similares às usadas na frota de Pedro Álvares Cabral.
Segundo o presidente do Club Naval, Domingos Castelo Branco, a nau deverá ser lançada ao mar em Agosto de 1999, iniciando-se a fase de acabamento, para que, em Abril do ano 2000, possa liderar as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil.
Diz Castelo Branco que nenhuma das 13 naus com que Cabral zarpou de Lisboa, no dia 9 de Março de 1500, tinha nome. Assim, será reconstruída não só a nau capitânia como outras duas, todas sem nome, ao contrário do que ocorreu com Cristóvão Colombo e as caravelas Santa Maria, Pinta e Nina. Acrescenta o presidente do Club Naval _ entidade responsável pela coordenação da construção das naus - que tanto a nau capitânia com as outras terão aparência externa igual à das embarcações verdadeiras e o mesmo tamanho - 28 metros. No entanto, internamente, disporão de técnicas mais modernas de projeto.
Sobre isso, explica Castelo Branco que a técnica de construção e navegação evoluiu tanto que uma embarcação sem projeto moderno não recebe certificado para navegar. Algumas partes internas serão de fibra de vidro, sem mudar o aspecto externo.
Diz ainda Castelo Branco: "A existência no Brasil de uma réplica da nau capitânia, a exemplo do que ocorre em outros países, que também possuem réplicas de embarcações históricas, contribuirá significativamente para a reflexão e o ensino de história e para o incremento e a divulgação das tradições históricas e culturais."
Durante a fase de construção, vieram à tona informações interessantes. A réplica terá instalações para 20 tripulantes e 15 passageiros. Mas, apesar do seu pequeno tamanho, a nau original de Cabral, com apenas 28 metros de comprimento, trazia a bordo nada menos do que 165 pessoas. "Com 13 naus pequenas, Cabral chegou ao Brasil com mais de 1500 homens", acentua.
A viagem inaugural da nau capitânia ocorrerá em Dezembro de 1999. No dia 15 de Abril do ano 2000, a nau capitânia receberá réplicas de barcos portugueses - serão duas caravelas, dois bacalhoeiros e o moderno navio-escola português, a Sagres.
Em Salvador, no estado da Baía, haverá um festival náutico. No dia 22 de Abril do ano 2000, ocorrerão os eventos máximos, com a entrada de um dos navios na baía de Cabrália.
Em terra, estarão os presidentes do Brasil e de Portugal, o rei de Espanha e, possivelmente, o Papa e outros chefes de Estado.
Da nau capitânia, descerão, num bote, personagens com roupas da época, representando Pedro Álvares Cabral, o capelão de bordo, frei Henrique de Coimbra, e o escrivão Pêro Vaz de Caminha. Com a presença também de índios, haverá missa no mesmo local em que foi celebrada a primeira missa no Brasil, por frei Henrique de Coimbra.
Os homens que interpretarão os papéis de Cabral, Coimbra e Caminha são todos membros da marinha do Brasil (Força Armada), todos capitães-de-mar-e-guerra: Ralph Rosa será Cabral, não só na interpretação, como também comandará a nau capitânia; Tarcizo Fernandes será Caminha, o escrivão da frota; João Navarro celebrará a primeira missa no Brasil, a exemplo de frei Henrique de Coimbra.
A comissão dos festejos é presidida pelo vice-presidente da República brasileira, Marco Maciel, e conta com o apoio do Ministério da Marinha, da Petrobras e de diversas instituições e empresas. Após as cerimónias na Baía, local do descobrimento, a comitiva irá para o Rio de Janeiro, onde haverá outros festejos, incluindo um desfile naval de tall ships - veleiros de mastro alto - e uma regata com dois mil barcos.
Segundo Domingos Castelo Branco, o povo brasileiro vai-se emocionar e Portugal igualmente , tal como uma boa parte do mundo: o descobrimento é o fato mais importante da história do Brasil e ajuda a resgatar a importância das navegações portuguesas, iniciativa que marcou a ousadia dos nossos antepassados.
A união das características do desafio das navegações com o descobrimento ajudará o Brasil a vencer as atuais dificuldades. A epopeia portuguesa dos descobrimentos, iniciada na primeira metade do século XV e que se estendeu ao longo do século XVI, indo até meados do século XVIII, foi uma das mais notáveis obras do engenho, da organização e da determinação inquebrantável do ser humano em todos os tempos _ conclui Castelo Branco.
Após os festejos, a nau capitânia ficará permanentemente exposta à visita pública no Museu Naval, no Rio de Janeiro.
O fascínio pelo mar está na base das celebrações
NAU. Em Novembro, já estava edificado o "esqueleto" do navio, que deverá ficar concluído em meados de 1999
O fascínio pelas embarcações movidas à vela e a vontade de contribuir para a consciência marítima de um povo, em especial das suas gerações mais novas, contam-se entre os objetivos que nortearam este projeto de construção das três réplicas das naus, usadas pela frota de Pedro Álvares Cabral, na sua viagem de descoberta do Brasil, em 1500.
O projeto de construção da nau capitânia, para o Brasil, "reveste-se de grande importância histórica, pela possibilidade de divulgação da origem da nação brasileira", mas, em simultâneo, dizem os promotores da iniciativa, ajudará a reforçar a consciência marítima do povo.
"Uma embarcação deste tipo, construída nos moldes daquelas usadas na época do nosso Descobrimento", lê-se nos objetivos do programa, "certamente exercerá um grande apelo não apenas sobre a população como, também, sobre os diversos veículos de informação."
A reprodução da viagem histórica da chegada da frota de Cabral ao Brasil, composta por nove naus e três caravelas, começará no dia 8 de Março do ano 2000, com partida de Lisboa.
As embarcações, como na rota original, farão escala nos arquipélagos da Madeira e de Cabo Verde, prevendo-se a sua chegada a Salvador, na Baía, para o dia 12 de Abril. Os barcos participam, na capital do estado, num desfile naútico e rumam, posteriormente, para Coroa Vermelha, no Sul da Baía, onde devem atracar a 22 de Abril.
Na primeira semana de Maio, as réplicas das naus vão participar num festival naútico, no Rio de Janeiro, organizado pela Prefeitura da cidade.
Findas as comemorações, a nau capitânia de Pedro Álvares Cabral ficará exposta no Espaço Cultural da Marinha, no Rio de Janeiro, durante seis meses. Nos restantes seis meses do ano viajará de porto em porto, abrindo as suas portas ao público que a deseje visitar.
Fonte: www.instituto-camoes.pt
Descobrimento do Brasil
Depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrava terra - mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto.
Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de "ervas compridas a que os mareantes dão o nome de rabo-de-asno." Surgiram flutuando ao lado das naus e sumiram no horizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos, uma espécie de gaivota, rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza de que a terra se encontrava próxima. Ao entardecer, silhuetados contra o fulgor do crepúsculo, delinearam-se os contornos arredondados de "um grande monte", cercado por terras planas, vestidas de um arvoredo denso e majestoso.
Era 22 de abril de 1500. Depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrava terra - mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. Nos nove dias seguintes, nas enseadas generosas do sul da Bahia, os 13 navios da maior armada já enviada às Índias pela rota descoberta por Vasco da Gama permaneceriam reconhecendo a nova terra e seus habitantes.
O primeiro contato, amistoso como os demais, deu-se já no dia seguinte, quinta-feira, 23 de abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e companheiro de Gama, foi a terra, em um batel, e deparou com 18 homens "pardos, nus, com arcos e setas nas mãos". Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto. Em troca, recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. O Brasil, batizado Ilha de Vera Cruz, entrava, naquele instante, no curso da história.
O descobrimento oficial do país está registrado com minúcia. Poucas são as nações que possuem uma "certidão de nascimento" tão precisa e fluente quanto a carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, dom Manuel, relatando o "achamento" da nova terra. Ainda assim, uma dúvida paira sobre o amplo desvio de rota que conduziu a armada de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Teria sido o descobrimento do Brasil um mero acaso?
É provável que a questão jamais venha a ser esclarecida. No entanto, a assinatura do Tratado de Tordesilhas que, seis anos antes, dera a Portugal a posse das terras que ficassem a 370 léguas (em torno de 2 mil quilômetros) a oeste de Cabo Verde, a naturalidade com que a terra foi avistada, o conhecimento preciso das correntes e das rotas, as condições climáticas durante a viagem e a alta probabilidade de que o país já tivesse sido avistado anteriormente parecem ser a garantia de que o desembarque, naquela manhã de abril de 1500, foi mera formalidade: Cabral poderia estar apenas tomando posse de uma terra que os portugueses já conheciam, embora superficialmente. Uma terra pela qual ainda demorariam cerca de meio século para se interessarem de fato.
Os Tupiniquins
Ao longo dos dez dias que passou no Brasil, a armada de Cabral tomou contato com cerca de 500 nativos. Eram, se saberia depois, tupiniquins - uma das tribos do grupo tupi-guarani que, no início do século XVI, ocupava quase todo o litoral do Brasil. Os tupi-guaranis tinham chegado à região numa série de migrações de fundo religioso (em busca da "Terra Sem Males"), no começo da Era Cristã. Os tupiniquins viviam no sul da Bahia e nas cercanias de Santos e Betioga, em São Paulo. Eram uns 85 mil. Por volta de 1530, uniram-se aos portugueses na guerra contra os tupinambás-tamoios, aliados dos franceses. Foi uma aliança inútil: em 1570, já estavam praticamente extintos, massacrados por Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil.
Fonte: educaterra.terra.com.br
Descobrimento do Brasil
Há cinco séculos, no início de março de 1500, partiu de Lisboa, a principal cidade do Reino português, uma expedição de treze navios. Ia em direção a Calicute, nas Índias.
Era a maior e mais poderosa esquadra que saía de Portugal. Dela faziam parte mil e duzentos homens: famosos e experientes navegadores e marinheiros desconhecidos. Eram nobres e plebeus, mercadores e religiosos, degredados e grumetes. Parecia que todos os portugueses estavam nas embarcações que enfrentariam, mais uma vez, o Mar Tenebroso, como era conhecido o Oceano Atlântico.
Armada de Pedro Álvares Cabral, Livro das Armadas. Academia de Ciências de Lisboa
A expedição dava prosseguimento às navegações portuguesas. Uma aventura que, no século XV, distinguira Portugal, por mobilizar muitos homens, exigir inúmeros conhecimentos técnicos e requerer infindáveis recursos financeiros. Homens, técnicas e capitais em tão grande quantidade que somente a Coroa, isto é, o governo do Reino português, possuía condições de reunir ou conseguir. Uma aventura que abria a possibilidade de obter riquezas: marfim, terras, cereais, produtos tintoriais, tecidos de luxo, especiarias e escravos. Uma aventura que também permitia a propagação da fé cristã, convertendo pagãos e combatendo infiéis. Uma aventura marítima que atraía e, ao mesmo tempo, enchia de medo, tanto os que seguiam nos navios, quanto os que permaneciam em terra.
Cândido Portinari, A Primeira Missa no Brasil, SP.
O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o título de "O Venturoso", confiou o comando da esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide - Mor de Azurara e Senhor de Belmonte. Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais com o governante de Calicute, o samorim, para ter, com exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua intenção era, também, que fossem criadas condições favoráveis à pregação da religião cristã, por missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o religioso.
E, ao que parece, Dom Manuel esperava ainda, com essa expedição, consolidar o monopólio do Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama, em 1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de direito, pertenciam a Portugal, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.
Victor Meirelles, Primeira Missa no Brasil, RJ.
Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo Capitão, conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos franciscanos, celebrou uma missa observada, a distância, por homens "pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto", na descrição de Caminha.
Os portugueses não puderam com eles conversar, porque nem mesmo o judeu Gaspar - o intérprete da frota - conhecia a língua que falavam. Neste momento de encontro, conhecido pelo nome de Descobrimento, a comunicação entre as culturas européia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era "como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra".
Fonte: www.multirio.rj.gov.br
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