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quarta-feira, 5 de março de 2014

Os Jovens - Uma Ideia do Futuro.

Autora: Anne Marie Lucille[1]
Série: Educadores e Pais
"O sensato sabe que, ao errar, descobriu mais um modo de como aquilo não deve ser feito..."
Cultivar um ideal no futuro é tolice; cultivar um futuro no ideal, sabedoria...

Parece que com a passar da idade, o jovem se torna cada vez mais inseguro, mais receoso daquilo que lhe reserva o futuro. 

Com exceção das eventuais intimidações que os pais ou irmãos mais velhos usam como um meio para controlá-las, ou dissuadi-las de alguma coisa que considerem uma ação indevida, as crianças, ao menos as pequenas, nada temem. 

Sem uma noção clara de errado ou certo, e com um temperamento rebelde próprio daquele que tem a ânsia de explorar e descobrir as coisas do seu mundo, assim é uma criança. 

Desse modo, muitas vezes, os adultos e crianças mais velhas se impacientam com aquele ser dotado de uma energia aparentemente infinita, que nada consegue enxergar além de si mesmo, portanto, sem senso crítico para perceber que o excesso de suas investidas acaba por perturbar os demais. E como as palavras não são argumentos convincentes, ou compreensíveis para alguém que não conhece seu significado, a disciplina à força logo se torna uma necessidade básica dentro de casa. 

Por disciplina à força, entenda-se intimidação de qualquer natureza, com o propósito de controlar, conformar aquele indivíduo, que parece afrontar todas as regras e normas internas da casa. E o argumento mais utilizado pelos adultos nesse processo de ajuste à força, e que as crianças mais velhas também imitam, segue uma regra muito simples: “O que todos mais temem, senão a falta de liberdade?”. 

Para uma criança, onde a liberdade para explorar sem rédeas é seu grande trunfo, isto também será seu ponto vulnerável. Assim, por temer ficar de castigo, o que significa ficar presa, impedida de exercitar sua infindável mecânica exploradora, ela recua e se torna parcialmente controlável. Isso para os adultos, quer dizer, disciplinado. 

Depois virão as variações dessa prática. São as compensações por bom comportamento, ou castigos por indisciplina. Esse é um dos mais fortes condicionantes. E onde há promessa de recompensas, haverá também o receio de não obtê-las. E há também os castigos. Essa metodologia disciplinadora é a regra. E pelo uso do medo as crianças se ajustam. É o temor diante de ameaças que podem, ou não, ser concretizadas, a depender de suas atitudes. 

É o cerco negativo que ocorre em duas frentes. Primeiro a criança se torna medrosa, o que a impede de ser criativa. Segundo, ela prefere se acomodar e seguir as regras e protocolos comportamentais, coisas que vai receber e aceitar sem contestações. Resultado, criança com baixa autoestima, silenciosamente frustrada, facilmente sugestionável e manipulável pelos oportunistas de plantão. 

E como a criança ainda é incapaz de perceber que é medrosa e insegura, e como todas suas iniciativas são monitoradas de perto por seus pais, irmãos ou orientadores, ela, cada vez mais se torna dependente de uma fonte de referência, até para a autenticação dos seus próprios pensamentos. Resultado, criança sem iniciativa, sempre em busca de uma sombra para aprovar ou certificar seus atos, sempre à procura de uma muleta que lhe sirva de escora, das ordens que lhe serão delegadas para então sentir-se capaz de dar o primeiro passo. 

Dominadas pelo receio da reprovação, logo dependerão dos outros para guiá-las em suas ações mais simples. Serão incapazes de caminhar por conta própria. Sentir-se-ão seguras apenas quando os outros lhes disserem o que devem fazer, o que devem pensar, o que é errado ou certo. Tornam-se assim terreno fértil para serem manipuladas à vontade, e terão as personalidades construídas de acordo com as disposições e costumes do meio onde vivem, e isso inclui, a lavagem cerebral praticada por alguns segmentos sectários fanáticos.

Dificilmente serão livres para pensar, livres de medos e culpas. Serão obrigadas a se conformarem sem nenhuma consciência de que estão sendo controladas ou conduzidas à força. O que será delas quando crescerem, já dá para imaginar, basta olhar dar uma rápida olhada em nosso moderno estilo de vida. 

E embora haja uma ideia do progresso técnico que virá para nos dar melhor qualidade de vida, psicologicamente, esse avanço não ocorrerá. Veja nosso exemplo atual, quando nos comparamos com nossos ancestrais das cavernas. Agora vestimos roupas e usamos computadores sofisticados, mas, ainda não aprendemos a superar o medo e a insegurança, ou os excessos emocionais. 

Poderemos nos deslocar pelo espaço com a mesma facilidade de alguém que brinca de apertar os botões do seu controle remoto na sala de sua casa, mas, interiormente, ainda seremos medrosos e subjugados pela angústia existencial, dominados pelas nossas incertezas e carências mais primitivas.
"O jovem não precisa de ideais para planificar seu futuro, mas de um futuro para planificar seus ideais..."

Pais carinhosos, conscientes e sempre presentes, certeza de filhos producentes...

Se ainda não conseguimos erradicar das nossas relações os conflitos do antagonismo, o que dirá o sentimento de inveja, ou ódio, ou a violência. Então há de se admitir que, desde aquele tempo que morávamos em grutas, psicologicamente, pouca coisa terá mudado. Assim, onde está o progresso? 

E há o problema da crueldade e opressão sobre os mais fracos. E não respeitamos a vida, nem dos nossos semelhantes, nem dos animais que chamamos de irracionais, cujas vidas, para nós, têm valor apenas pecuniário. Trocamos suas vidas por dinheiro, e a tudo isso denominamos de avanço civilizatório, ou progresso. 

E como cegos, somos conduzidos por aqueles a quem a tradição atribuiu o papel de guias. Estão por toda parte, como religiosos, como políticos, como salvadores, e tudo isso, para nós, significa progresso. 

Uma criança ainda está muito longe de todos estes conceitos, e ainda não se vê como um espectador desse circo, das tradições e superstições, enfim, de toda essa lavagem cerebral que transforma o indivíduo numa espécie zumbi, que pode ser conduzido como um cão amestrado, ao comando do mestre. Dentro de uma mente controlada não há vontade, nem livre arbítrio, nem liberdade de expressão, apenas a capacidade de obedecer, certamente, motivada pelo receio de temíveis castigos, ou simpáticos abonos. 

Uma criança precisa de orientação para entender que sua agressividade e indiferença à dor alheia é algo insensato, algo que não deve ser praticado. Deve compreender isso sentindo na pele as consequências dos seus inconsequentes atos. A instituição do medo não educa, e ainda nos impede de progredirmos em busca de mudanças. 

Correção é o ato de mostrar-lhes, pelo esclarecimento, os erros cometidos e seus respectivos efeitos. A reparação das faltas ocorre quando não mais permitimos que nossos antigos erros sejam reprisados. As crianças não precisam herdar nossos erros e desventuras, e aquilo que não nos serve, também para elas não deveria servir. Mas devemos cuidar para que aperfeiçoem, fortaleçam, multipliquem, nossos acertos. 

Se nossas atitudes do presente representam toda herança que nos legou o passado, podemos afirmar que nosso futuro poderá ser uma continuação de tudo isso. Não podemos confiar que leis e regulamentos obriguem o homem a ser virtuoso, pois virtude cultuada é hipocrisia, e não tem funcionado. Caráter se faz em casa, jamais na rua ou nos bastidores dos gabinetes legislativos. 

Regulamentos e protocolos não podem fazer esse trabalho, jamais o poderão. Fosse assim, bastaria um decreto para banir da terra todas as angústias, conflitos e distorções humanas. Além disso, se existem leis para serem cumpridas, é porque, definitivamente, ainda não existe bom senso, consciência ou ordem. 

Ao orientar uma criança ou jovem, deve o adulto, pai ou educador, ter em mente que seus problemas pessoais não resolvidos poderão ser herdados por ela. E isso inclui as condutas tendenciosas, as manias, os desvios de comportamentos, o modo temperamental de agir, a forma de criticar coisas e pessoas.

Desejando o docente ou pai mudar de postura, deve primeiro se perguntar por que precisa esperar algum tempo, tempo para processar as necessárias mudanças. É necessário algum tempo, por exemplo, para percebermos que estamos com mágoa dos nossos desafetos, ou que fizemos da dissimulação um modo de vida? 

Parece que faz parte da tradição colocar as mudanças numa linha do tempo sempre distante de nós. E tudo isso é compreensível uma vez que ainda continuamos na dependência do mito da divindade, que descerá dos céus, para num passe de mágica, consertar tudo, dentro e fora de nós. 

Fomos programados pelos nossos guias para nos acomodarmos no conforto ilusório da infinita espera, onde tudo se conserta com oferendas, sem nenhum esforço pessoal. Nossa mente ainda não avançou um palmo em relação ao nosso parente troglodita que inventou a luz, por temer que das profundezas da escuridão da noite, um bicho papão viria ao seu encontro. Muda-se a indumentária, mas, o indivíduo que a veste, continua o mesmo.

Fonte:
http://sitededicas.ne10.uol.com.br/integral_txt92.htm

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