quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Dicas para a criançada dormir mais e melhorar o boletim escolar

Dicas para a criançada dormir mais e melhorar o boletim escolar


Onde estou mesmo?

Por que seria melhor para a saúde dos adolescentes se o horário de ir para a aula fosse mais tarde? E por que os pais precisam cortar internet, videogame e celular até altas horas da noite? Para que a molecada possa dormir mais e melhorar tanto o boletim quanto o humor!

Cabeça no mundo da lua em plena sala de aula, notas em queda livre, falta de disposição para tudo e reclamações cada vez mais frequentes por bagunça, brigas e discussões em classe — se esse quadro lhe parece familiar, seu filho pode estar dormindo menos do que deveria. Ou na hora errada. De acordo com a recomendação de especialistas em sono, um adolescente necessita de pelo menos nove horas de repouso — isso mesmo, nove horas! — para garantir uma rotina saudável de estudos. Isso significa que, se o sinal de entrada do colégio soa às 7 horas, a garotada tem de estar contando carneirinho às 21 horas para acordar às 6 horas. O problema é que essa rotina mostra-se impraticável na maioria dos lares brasileiros. Daí a pergunta: qual seria o melhor horário para o jovem iniciar as atividades escolares?

Nos Estados Unidos, um trabalho piloto do Hasbro Children’s Hospital, de Rhole Island, propôs que uma pequena escola retardasse em meia hora o horário de entrada dos alunos, prorrogandoo das 8 para as 8h30. O resultado confirmou o que os médicos já esperavam: os minutos adicionais de sono garantiram benefícios para o estado de alerta, o humor e a saúde geral dos teens. Em outro trabalho americano, pesquisadores da Robert Wood Johnson Medical School, de Nova Jersey, mostraram que aquela sonolência diurna de muitos adolescentes está associada a um risco três vezes maior de o jovem apresentar sintomas de depressão.

No Brasil, uma investigação recém apresentada pelo Instituto Glia, em Ribeirão Preto, no interior paulista, mostra que crianças e adolescentes que dormem mais de oito horas por noite apresentam quase o dobro de chances de ter uma cuca mais sadia e um boletim nota 10, em comparação com os que descansam menos do que isso. “A falta de sono altera o humor, o comportamento e o aprendizado do jovem, além de baixar as defesas imunológicas do seu corpo”. resume a neuropediatra Márcia Pradella-Hallinan, responsável pelo Setor de Pediatria do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “As noites mal dormidas podem acarretar também problemas de estatura em adolescentes, por causa da alteração na produção do hormônio do crescimento, que acontece durante o sono e é responsável pelo estirão da puberdade.”

Além do horário escolar, outro fator parece contribuir bastante para o pensamento voar para as nuvens nas primeiras aulas do dia: os novos brinquedinhos eletrônicos da garotada. Com internet, telefone celular, videogame e a própria TV, os jovens, que já não deveriam deitar depois das 23 horas, acabam invadindo a madrugada no Twitter, mandando mensagens de texto, navegando na web, teclando com amigos online, disputando jogos virtuais ou simplesmente assistindo a um filme. “De segunda a sexta, 65% dos jovens brasileiros dormem apenas seis horas por noite”, revela a neurologista Andréa Bacelar, vice-presidente da Associação Brasileira do Sono. “E os responsáveis por isso não são apenas o horário escolar e as distrações eletrônicas. Muitas vezes os pais chegam tarde e a casa fica acesa até altas horas. Os filhos reproduzem esses hábitos. Paralelamente, o consumo de cafeína cresceu muito entre os jovens, em suas mais variadas formas, como refrigerantes, café, energéticos, pó de guaraná, chocolates e outros alimentos.”

Os problemas de nota baixa ligados à falta de sono têm a ver com a fadiga dos neurônios responsáveis pelo raciocínio. Se esses soldados do nosso sistema nervoso não estiverem descansados, vão comprometer a memória, a atenção e a percepção de todo o exército. Essa disfunção também leva a quadros depressivos, que se desdobram em vários outros problemas. “Irritação, agressividade, violência gratuita, problemas com alimentação, como obesidade ou anorexia, além de uma visão com perspectiva negativa do mundo e um estado de angústia permanente, contribuem para que muitos busquem uma saída nas drogas e no álcool”, elenca a psicopedagoga Nadia Bossa, diretora científica da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).

Na opinião da especialista da ABPp, a solução para o impasse depende de um esforço conjunto. “Da parte da família, seria preciso organizar a vida doméstica da casa de modo a respeitar as necessidades naturais do corpo do adolescente, o horário escolar e a realidade da casa”, defende Nadia. Ou seja, precisaria haver uma nova disciplina com horários rígidos para os jovens conviverem com a família e terem tempo para se divertir, mas sem comprometer as preciosas horas de sono, sempre mantendo a rotina nos fins de semana. Nadia diz que cochilos de 30 minutos à tarde, depois do almoço, não resolvem o problema, mas ajudam a compensar a falta de sono noturno e até podem ser bem-vindos, desde que aconteçam sempre. “Já a escola poderia mexer no horário de entrada dos alunos, dando a eles um tempinho extra para dormir pela manhã”, sugere Nadia.

Em períodos de provas e durante o próprio vestibular, os problemas de falta de sono costumam se agravar. No ímpeto de tirar o atraso, não são poucos os que optam por varar a madrugada na véspera da avaliação para estudar tudo o que o professor passou. A neurologista Andréa Bacelar garante que esse é um erro enorme. “A consolidação da memória acontece quando a pessoa está dormindo. Se ela não dorme, muito do que estudou não vai ficar devidamente registrado, por mais que se esforce.” Além disso, segundo a médica, na hora da prova o aluno vai estar sonolento e com os reflexos neuronais lentos, o que comprometerá seu raciocínio.
A IDADE E O SONO

As diferentes necessidades para cada etapa da vida

CRIANÇA: MAIS DE 10 HORAS
A imaturidade neuronal faz com que ela precise de mais tempo de sono. Um recém-nascido chega a dormir cerca de 20 horas por dia. A partir dos 3 ou 4 anos de idade, são necessárias de 11 a 12 horas de repouso ininterrupto. Aos 9 anos, a criança já pode dormir só dez horas, mas não antes dessa idade.

ADOLESCENTE: DE 8 A 9 HORAS E MEIA
O desenvolvimento do cérebro prossegue acelerado na puberdade. Nessa fase, porém, o jovem depende do sono principalmente para crescer. É a idade daquele estirão, e o hormônio do crescimento, produzido durante a madrugada — e só com o organismo adormecido profundamente —, faz a diferença. Além disso, a garotada precisa estar descansada para administrar todas as transições da adolescência.

ADULTO JOVEM: DE 7 A 8 HORAS E MEIA
O sono perde sua função de maturação neuronal na fase adulta, mas continua sendo imprescindível para refazer os processos fi siológicos, mentais e cognitivos. Dormir o sufi ciente signifi ca se proteger de doenças e manter a capacidade de desempenhar funções corriqueiras, principalmente em relação ao aprendizado.

PESSOAS DE 60 ANOS OU MAIS: DE 6 A 7 HORAS E MEIA
Com o avanço dos anos, a necessidade de descanso diminui. Com pouco mais de seis horas de repouso por noite, pessoas com mais de 60 anos costumam viver bem, sem maiores défi cits.

A HORA DE IR PARA ESCOLA

Para a psicopedagoga Nadia Bossa, da ABPp, o ideal seria que os dois turnos escolares fossem abolidos e fundidos em um só. A melhor solução seria que as crianças entrassem às 9 e saíssem às 17. “Isso permitiria a integração de atividades físicas, cognitivas e artísticas, intercaladas com alimentação”, defende. “Os alunos poderiam começar com exercícios físicos para ativar o corpo e, depois, fazer trabalhos de raciocínio até o almoço. À tarde, voltariam com trabalhos artísticos e os professores fi nalizariam o dia com exercícios para recapitular o que foi ensinado pela manhã.” Considerando a manutenção dos turnos, os especialistas do sono defendem que qualquer atraso no início da aula no período matutino pode ser considerado saudável. “Às vezes, 15 a 30 minutos a mais de descanso matinal já fazem diferença para a saúde da garotada”, acredita a neuropediatra Márcia Pradella-Hallinan. Se as aulas matutinas do colégio do seu fi lho iniciam muito cedo e ele não dorme sem brigar com o travesseiro, cogite mudá-lo para o turno da tarde.

PARA DORMIR MAIS CEDO

Algumas estratégias que podem ajudar seu filho

1. MONITORES DESLIGADOS

Desativar tudo o que tem tela uma hora antes de dormir ajuda o organismo a se preparar para um sono tranquilo. Isso vale para celular, computador, smartphone, televisor e videogame — equipamentos, aliás, que idealmente nunca devem ficar no quarto.

2. BANHO MORNO

A boa e velha aguinha quente sobre os ombros é, sim, tiro e queda para os mais agitados. A ducha relaxa a musculatura, o que favorece os bocejos.

3. LUZ AZUL

Reduzir a luz ambiente também faz toda a diferença. O ideal é deixar apenas uma luz azul de baixa intensidade no quarto, se o adolescente tende à insônia. A luz dessa cor facilita a sincronização das ondas cerebrais para o sono.

4. UMA CEIA LEVE

Nunca deixe seu fi lho ir para a cama de barriga cheia: a digestão atrapalha o sono. E nada de estimulantes, como café ou refris tipo cola no jantar. Antes de ir para a cama, a melhor pedida é mesmo tomar um leite, uma vitamina de frutas ou, até mesmo, comer algumas torradas.

5. NADA DE EXERCÍCIO
Atividade física favorece o sono, é fato – mas só quando é feita durante o dia. À noite, no máximo alongamentos, ioga e outros exercícios relaxantes, se o jovem gostar disso. Música calma e leitura com luz indireta também ajudam a chamar o sono, o que favorece os bocejos.

Fonte: Revista Saúde - por GIULIANO AGMONT

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