"Quem rebatizou a velhice? Terceira idade soa bem melhor, mas não ajuda muito"
A palavra velhice tem uma conotação de carinho, tempo passado, férias na casa da avó, cuidados com esta avó e com a mãe que virou criança. Mas foi rebatizada de melhor idade, que, para mim, soa como deboche. Melhor idade por quê? Por que já está aposentado? Por que já não é mais responsável pela família (mas, em muitos casos, ainda continua). Por que, agora, supostamente, pode se dedicar àquelas pequenas coisinhas, como cursos, viagens, passeios? Por que os horários da vida, agora, são por conta dele?
Então, vamos deixar os velhos fazendo ginástica nas praças, frequentando grupos de dança, pedindo que alguém os leve ao dentista, esperando que algo aconteça, desejando que o dinheiro da aposentadoria cubra tudo o que precisa ser coberto e que o médico diga que ele está ótimo, mesmo que saiba que não é verdade, que fique esperando aos domingos que alguém se lembre de vir buscá-lo para o almoço ou um convite para ir ao shopping.
Ser velho tem suas pequenas vantagens, mas não se pode deixar que ele pense que está sozinho, dono do seu destino, esperando o fim.
Ninguém gosta de ficar velho, é dolorido, saudoso, esperançoso. O velho quer continuar fazendo parte ativa da família, sendo ouvido, solicitado, mesmo que ninguém faça as coisas como ele sugere, pois os tempos mudaram tanto enquanto ele envelhecia, que ele realmente está por fora da maioria das realidades atuais.
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Então, não digam a seus velhos que eles estão na melhor idade. É agressivo. É deboche, pouco caso. Terceira idade soa bem melhor, mas também não ajuda muito. São velhos e pronto. Precisam da retribuição dos cuidados que deram, das cumplicidades que ofereceram, do carinho que não regatearam, das palavras que já disseram.
Ser velho tem suas pequenas vantagens, mas não se pode deixar que ele pense que está sozinho, dono do seu destino, esperando, tranquilamente, o fim. Os velhinhos, mesmo os fora da casinha, têm sentimentos e ficam esperando que os jovens saibam disto. Mas a vida atual é tão corrida, os celulares tão importantes e necessários aos jovens, que o diálogo com os velhos fica sempre para depois. Aí, pode ser tarde.
Fonte: DIÁRIO CATARINENSE
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