segunda-feira, 10 de novembro de 2014

De onde vêm as palavras?


Vejamos mais contribuições do meu amigo Reinaldo Pimenta, um especialista em etimologia.

Canguru
Veio do inglês kangaroo. Quando o capitão inglês James Cook achou a Austrália, em 1770, quis logo saber o nome daquele estranho animal, dotado do que toda perua de shopping adoraria ter: boa velocidade e uma bolsa na barriga. E ouviu como resposta: 
— Kangooroo!

A palavra está registrada nos diários de bordo do capitão e de seu companheiro de viagem, o botânico Joseph Banks. Quer dizer, sem dúvida nenhuma a palavra foi trazida da Austrália pelos ingleses, naquela época. A questão, até hoje mal resolvida, é o significado da expressão kangooroo na língua dos nativos da Austrália.

Existem duas hipóteses: (a) quando os ingleses perguntaram o nome do animal, os aborígines responderam kangooroo, uma expressão que significava “não estou entendendo”; (b) era o nome que eles davam ao animal.

A hipótese (b) é contestada por relatos provenientes da primeira colônia penal australiana, estabelecida em Port Jackson (hoje Sídnei), em 1788 — escassos dezoito anos após a viagem de Cook. Segundo seus autores, os aborígines australianos chamavam o animal de patagorong ou patagaran.
Sobra, então, como mais verossímil a hipótese (a), mesmo com um cheiro forte de gracinha inventada.

Existem palavras que se originam de nomes de pessoas. Quem dá seu nome a alguma coisa ou lugar ganha uma designação pomposa: epônimo.

Baderna
Em 1849, os italianos Antonio Baderna e sua filha Marietta emigraram para o Brasil por motivos políticos. Fiquemos com a filha. Marietta era bailarina famosa na Europa. Linda e cativante, logo, logo formou, no Rio de Janeiro, uma legião de fãs ardorosamente apaixonados, a ponto de discutir e brigar por ela nas ruas. Em razão da veemência e do escândalo das defesas exaltadas, os rapazes foram chamados de badernistas. Daí veio a palavra baderna com o sentido de bagunça, confusão, conflito generalizado.

Coquetel molotov
O coquetel molotov começou a ser usado por civis soviéticos para atacar os soldados alemães na Segunda Guerra Mundial. O nome foi uma homenagem ao então ministro das Relações Exteriores da antiga União Soviética, Vyacheslav Mikhailovich Molotov.

Daltonismo
Veio de John Dalton, cientista inglês, que, sim, era daltônico. Foi o primeiro a descrever detalhadamente a doença na obra “Extraordinary Facts Relating to the Vision of Colours”, publicada em 1794.

Gandula
A palavra árabe gandûr (janota; homem parasita, que vive à custa dos outros) originou duas palavras no espanhol: gandul, vadio, e gandaya, rede fina para o cabelo. A gandaya era usada pelos bandoleiros catalães e, assim, virou uma espécie de marca do grupo. Gandaya ganhou o sentido de vida vadia, outra marca dos bandoleiros. Com esse sentido, a palavra deu no português gandaia e daí veio a expressão viver na gandaia. Já a palavra espanhola gandul originou o português gandulo (ou gandula), garoto vadio.

Para o sentido de boleiro (quem apanha e devolve a bola ao jogo), a história é outra. Bernardo Gandulla, jogador de futebol argentino, veio em 1939 para o Rio de Janeiro jogar pelo Vasco da Gama. Gandulla era finíssimo: costumava buscar a bola fora do campo mesmo para entregar ao adversário. Em sua homenagem, os meninos boleiros passaram a ser chamados de gandulas. 

Mas, como nem tudo são rosas na etimologia, há uma outra versão menos lisonjeira. A regularização do passe do argentino teria levado mais de dois meses. Durante esse tempo, Gandulla ia aos jogos do Vasco e ficava à beira do campo devolvendo a bola para os companheiros. Só para os companheiros.

Gari
Em 1876, o imperador D. Pedro II contratou o francês Aleixo Gary para cuidar da limpeza do Rio de Janeiro até 1891. Em 1885, Gary criou o primeiro aterro sanitário do Rio. Seu sobrenome é a origem da palavra gari.
Poucos anos depois, outro epônimo lixento aparecia em Paris. Em 1884, o prefeito Eugène René Poubelle tornava obrigatório o uso da lata de lixo (no século XVI, Paris era considerada a cidade mais suja da Europa!). Como é lata de lixo em francês? É uma palavra linda: poubelle. Então, se algum dia você tiver uma namorada francesa, cuidado, nem pense chamá-la de — o som é cativante — “ma petite poubelle”. 

Guilhotina
Veio do francês guillotine. Até 1792, os franceses condenados à morte eram decapitados a machadada ou espadada. Aí, baseado em modelos europeus do gênero, o médico Antoine Louis criou a guilhotina, a pedido de outro médico, Joseph Ignace Guillotin. Durante algum tempo, em homenagem ao seu verdadeiro inventor, a guilhotina foi popularmente chamada de “Louisette” e “Louison”. Depois o invento ficou com o nome de quem fez a encomenda. A primeira pessoa viva a ser guilhotinada foi um ladrão de estrada, em 1792. Não estranhe a palavra “viva” na frase anterior: antes de ser utilizada publicamente, a guilhotina foi fartamente testada com mortos, no hospital de Bicêtre.

http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/de-onde-vem-palavras.html

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