segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A gramática do futebolês


Com muita frequência, alguns aspectos gramaticais são desrespeitados pelos esportistas em geral.

Nossas regras de concordância às vezes são esquecidas: “Ela parecia meia nervosa”; “Ele vai nadar os cem metros livres”; “Ainda faltava cinco minutos para acabar o jogo”; “Aconteceu dois acidentes fatais nesta curva”; “Podem haver surpresas na convocação de hoje”.

A palavra MEIO, quando significa “um tanto, mais ou menos”, é advérbio. Como tal, não apresenta flexão de gênero e número (sem feminino nem plural): “Ela parecia MEIO nervosa”. A palavra MEIO apresenta feminino e plural quando significa “metade”. Nesse caso, é numeral: “É meio-dia e MEIA” (meia hora = metade da hora); “Só usava MEIAS palavras” (palavras pela metade); “Bebeu uma garrafa e MEIA de cerveja” (meia garrafa = metade da garrafa).

No segundo exemplo, LIVRE é o nado, é o estilo: “Ele vai nadar os cem metros (nado/estilo) LIVRE”. O adjetivo não se refere aos cem metros. É diferente de “correr cem metros RASOS”. No atletismo, o adjetivo se refere aos cem metros (cem metros rasos = cem metros sem obstáculos).

Nos dois casos seguintes, temos um tradicional erro de concordância verbal: verbo no singular não concordando com o sujeito plural posposto. O sujeito do verbo FALTAR é “cinco minutos”: “Ainda FALTAVAM cinco minutos para acabar o jogo”; e o sujeito do verbo ACONTECER é “dois acidentes fatais”: “ACONTECERAM dois acidentes fatais nesta curva”.

No último exemplo, encontramos o verbo HAVER, com o sentido de “existir”. Nesse caso, o verbo HAVER é impessoal (sem sujeito), por isso deve ficar invariavelmente no singular: “HÁ surpresas”; “HAVIA surpresas”; “HOUVE surpresas”; “HAVERÁ surpresas”; “HAVERIA surpresas”; “DEVE HAVER surpresas”; “PODE HAVER surpresas na convocação de hoje”.

Outro problema frequente é o mau uso das preposições: às vezes faltam, às vezes sobram.

Em “O atacante não obedeceu o que técnico pediu”, “Isto desagradou os torcedores” e “Mais de 50 mil assistiram o jogo”, está faltando a preposição “a”: os verbos OBEDECER, DESAGRADAR e ASSISTIR (no sentido de “presenciar, ver”) são transitivos indiretos: “O atacante não obedeceu AO que o técnico pediu”, “Isto desagradou AOS torcedores” e “ “Mais de 50 mil assistiram AO jogo”.

Por outro lado, em “Chutou a bola POR SOBRE o gol”, “Passou a bola POR ENTRE as pernas” e “É preciso ter respeito PARA COM o adversário”, há preposições sobrando. Bastaria dizer: “Chutou a bola SOBRE o gol”, “Passou a bola ENTRE as pernas” e “É preciso ter respeito PELO adversário”.

Se usar uma preposição já não é fácil, que dirá duas!


DÚVIDAS DOS LEITORES

1ª) Leitor quer saber: “O termo correspondência é um coletivo. É certo usá-lo no plural?”

Exatamente por ser um coletivo, é que não precisamos usar “correspondências do diretor”. Basta dizer a correspondência. Isso já significa todas as cartas, fax e e-mails, ou mensagens eletrônicas, se você preferir.



2ª) Existem casos, além das sentenças que expressam distância como “a 100 metros”, em que a crase não deve ser usada?

Em casos do tipo “Obras a 100 metros” ou “a 200 metros” ou “a 500 metros”, jamais haverá acento da crase. É impossível haver artigo feminino antes da palavra metro por um motivo muito simples: metro é masculino. 

Haverá crase se eu disser que alguém estava à distância de 100 metros. Nesse caso o artigo feminino antecede o substantivo feminino distância. Observe melhor:

a) Obras a 100 metros;

b) Ficou à distância de 100 metros.


3ª) Nas expressões “vire à direita” e “vire à esquerda” devemos usar o acento da crase?

Sempre que as expressões “à direita” e “à esquerda” indicarem “lugar”, ou seja, se forem adjuntos adverbiais de lugar, o acento grave indicativo da crase é obrigatório. Portanto, se as nossas placas de trânsito fossem bem escritas, estariam com acento indicativo da crase:

a) “Vire à direita”

b) “Proibido entrar à esquerda”



4ª) “Está correto dizer que uma pessoa corre "risco de vida?”

Sim. Não está errado, porque podemos subentender “corre risco de perder a vida”.

Também podemos dizer que se “corre risco de morte”, pois sempre corremos o risco de “coisas ruins”. Ninguém corre o risco de ser promovido, mas corre o risco de ser demitido. Nunca vi alguém correr o risco de ganhar na loteria, mas vi muita gente correr o risco de perder tudo no jogo, de ir à falência. Verdadeiramente, nós corremos risco de morrer, e não de viver.



5ª) Qual é a diferença entre Antártida e Antártico?

Antártida é o nome do continente gelado do Polo Sul do nosso planeta.

Antártica é toda a região, incluindo os mares e o próprio continente. 

A palavra Antártico é formada pelo prefixo “anti”, que significa “contra”, e Ártico. Antártico, portanto, é a região que se opõe ao Ártico, que é o extremo do Polo Norte.


Não é errado chamarmos a Antártida de Antártica.

http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/gramatica-do-futeboles.html

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