sábado, 19 de abril de 2014

Ser mascote da Copa trouxe poucos resultados para a preservação do tatu-bola.



Quando saiu a decisão de que o tatu-bola seria o mascote da Copa de 2014, defensores da espécie acreditaram que seria o trampolim para mais conscientização e medidas de proteção do mamífero, que corre o risco de desaparecer. Porém, apesar de o animal ser protagonista das publicidades do Mundial, poucas ações concretas foram realizadas para preservá-lo. A única, até o momento, foi o anúncio de que deve ser lançado um plano nacional de conservação do tatu-bola, com duração de cinco anos.

Inicialmente, os cientistas vão aprofundar os estudos sobre o mamífero – embora ele seja um dos mais emblemáticos do país, é pouco conhecido. O animal vive exclusivamente na caatinga e no cerrado brasileiro.

“A gente tem pouquíssimas pesquisas, que sequer indicam informações como qual é a distribuição do tatu-bola no território nacional. Indicações disso foram feitas por expedições antigas e naturalistas. A população atual deles também não se sabe, assim como há controvérsias sobre os hábitos dele, se são noturnos ou diurnos”, explica Rodrigo Castro, secretário-executivo da Associação Caatinga, que participa do plano de proteção. “Há uma estimativa de que a população foi reduzida em 30%, mas é uma estimativa pouco detalhada, sobre uma tendência de desaparecimento na natureza.”

O tatu-bola está na lista de ameaçados de extinção devido ao avanço do desmatamento na região, no norte e o nordeste do país, e o hábito local de caçar o animal para o consumo na alimentação. Essas duas causas podem ser a explicação para ele desaparecer em 50 anos.

“O que os estudos colocam de forma muito veemente é que existe uma sinergia entre estes dois fatores. Quando há desmatamento, o tatu-bola se afugenta daquela área, passando a deslocar mais e a se concentrar em outras áreas, ou seja, ele fica mais suscetível à caça”, afirma Ugo Vercillo, coordenador-geral de manejo para conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).


Pelúcias não trarão ajuda

Os ambientalistas lamentam que a escolha do tatu-bola como mascote da Copa tenha surtido poucos resultados, até agora, para a prevenção da espécie. Segundo Rodrigo Castro, um milhão de pelúcias do personagem Fuleco estão sendo fabricadas na China, mas nem um centavo da venda dos produtos será destinado ao plano de conservação.

A Associação Caatinga luta para que ao menos informações sobre a situação preocupante do animal sejam veiculadas aos produtos, mas por enquanto a Fifa parece decidida a separar o evento de campanhas ambientalistas. “A Fifa está desenvolvendo uma série de ações em volta do mascote, licenciando produtos com bonecos do Fuleco, mas o Fuleco não está ajudando em nada o tatu-bola. Quando sonhamos com ele sendo o mascote da Copa, sonhamos que ele seria um dos principais porta-vozes da questão e ajudaria na luta pelo tatu-bola. Mas de concreto, não mudou nada”, constata Castro.

Já Vercillo tem poucas esperanças de que o mascote Fuleco ajude a sensibilizar caçadores e grandes proprietários de terras sobre a preservação do tatu-bola. “Eu duvido que as empresas que fazem o plantio de soja vão parar com o seu desenvolvimento por causa do mascote da Copa. Da mesma forma, as pessoas que comem o tatu-bola por necessidade não deixarão de comê-lo porque ele é mascote da Copa”, observa. “O nosso grande desafio é conseguir chegar nessas populações e mudar um pouco o modo de vida delas, sem impactar muito na biodiversidade. A gente às vezes aponta para umas soluções, como incentivar a caprinocultura, para o pessoal ter leite e carne para poder comer, mas as cabras também são um belo desastre ambiental na região, ao acabarem com uma vegetação que é importante para outras espécies.”

Na iniciativa privada, a única empresa que colaborou para a preservação da espécie foi a alemã Continental Pneus, com um investimento de cem mil reais. A estimativa é de que um plano eficiente de conservação precisaria de pelo menos 2,5 milhões de reais por ano.


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