Funções Cognitivas
Esse post é um complemento do post sobre memória e atenção.
Resolvemos dedicar um post só para esse tema, pois assim o outro post
não ficaria longo demais e para que vocês leiam com atenção sobre essas
funções que são tão importantes no nosso dia a dia.
Funções executivas (FE) são
funções reguladoras do comportamento humano, funções necessárias para
formular metas e planejar como alcançá-las. São todas as atividades
mentais autodirigidas que ajudam uma pessoa a resistir a distração,
solucionar problemas internos e externos e criação de estratégias para
alcançar um objetivo.
Vamos dividi-las em duas categorias principais: habilidades de pensamento e auto-regulação.
Muitos alunos têm problemas com o funcionamento executivo, em especial os com autismo e TDAH.
É
importante reconhecer que o funcionamento executivo não está
relacionado com a inteligência. Você pode ter um QI de gênio e ter um
sério comprometimento para habilidades em FE. Da mesma forma, você
poderia ter um QI mais baixo e tem grandes habilidades e ser capaz de
funcionar no dia-a-dia de forma mais eficaz. É importante reconhecer que as dificuldades em FE não são preguiça.
O aluno não faz sua lição de casa porque ele não consegue. Muitas
vezes, esse mesmo aluno, passa horas a cada noite tentando, mas não
realiza a tarefa. Déficits de funcionamento executivo são reais e temos
que trabalhar para resolvê-los e ensinar o aluno a ser mais capaz de
ajudar a si mesmo para ser bem sucedido.
Existem algumas chaves para
abordar habilidades de funcionamento executivo que significa ir além de
apenas ensinar estratégias individuais. O foco deve ser em ensinar os
alunos a desenvolver, utilizando estratégias de acesso e utilização, e
não apenas fornecer acomodações.
Então,
quando avaliar os déficits de uma pessoa, uma das principais perguntas
que precisamos fazer é se é um déficit de motivação ou um déficit de
habilidade. Muitas vezes é uma questão de motivação. Isso
significa que temos de encontrar formas de motivação do indivíduo para
utilizar as estratégias. Acabamos focamos no problema e achamos que ele é
difícil e ele não é. Vamos pegar o exemplo de um autista que não quer
ir pro banho e isso acontece diariamente. Esse é um problema muito comum
entre autistas por uma variedade de razões. Em primeiro lugar, muitos
desses indivíduos não reconhecem o impacto que não tomar banho tem sobre
uma rotina por causa de seus déficits sociais. Tem também questão
sensorial, que torna esse momento complicado. Tudo isso diminui a
motivação. Se a criança não sabe como encaixar o banho na sua rotina sem
se desregular, então precisamos pensar em formas de motivá-lo para
tomar motivadores externos que vão além do normal que é se sentir fresco
e limpo (o reforçador para a maioria de nós). Esta criança não é
preguiçosa; ela não está motivada para superar problemas reais que
tornam o banho difícil e sem sentido para ela.
Uma vez que podemos determinar se
a função subjacente dos comportamentos é a motivação ou habilidade
relacionada, podemos começar a desenvolver intervenções baseadas nessas
funções. Se
é uma questão de motivação, precisamos aumentar o reforço para
completar a tarefa usando a estratégia ou diminuir o esforço envolvido,
de alguma forma, de modo que não é preciso tanta motivação. Exemplo: Se
a criança (adolescente ou adulto) não quer tomar banho, você tem que
tornar a atividade atraente e usar algum reforçador: decorar o banheiro,
comprar brinquedos de banho, mostrar a importância do banho, levar
personagens preferidos para tomar banho junto, premiar com elogios cada
etapa conquistada. Outra maneira de agir é diminuir o esforço: faça
pequenas metas. Não exija que a criança tome banho sozinha todos os dias
de forma perfeita como um passe de mágica. Brinque no banho e o ajude a
fazer tudo. Depois que ela estiver adaptada ao ambiente e o banho tiver
na rotina, comece a ensiná-lo a tomar banho sozinho aos poucos.
Primeiro ensine a lavar as mãos e braços, o resto com ajuda, depois as
pernas e pés, até se lavar por completo. Depois ensine a escolher
roupas, colocar, etc. Tudo aos poucos.
Se é um déficit de habilidade, então nós temos que dividir a tarefa e ensinar os passos sistematicamente. Se
um aluno tem dificuldade para fazer um trabalho a longo prazo porque
ele não consegue organizar os passos e seguir adiante, então temos que
ensiná-lo a adquirir essa habilidade.
Distribuir a tarefa em passos
(por exemplo, escolher um tema, pesquisar o assunto, fazer um esboço,
escrever um rascunho, escrever o projeto final); em seguida escrever os
passos em um calendário com a data final (data da entrega). Obs: Fazemos
isso também com tarefas de casa: se a tarefa é pra daqui a dois dias,
fazemos metade em um dia e metade em outro. Quando tem que entregar tudo
no mesmo dia dividimos assim: Quando você chegar no número 3 te damos
pausa de 10 minutos. Quando você chegar no 6 paramos para assistir um
vídeo sobre máquinas de lavar. Quando acabar você ficará livre pra
descansar e fazer o que quiser. E colocamos no concreto, em uma folha a
parte todas as tarefas e a medida que vão sendo concluídas, riscamos e
comemoramos!
Temos que oferecer estratégias e
não acomodações para que o autista adquira independência como os outros
alunos e domine habilidades FE. Depois temos que ensiná-los a criar suas
próprias estratégias de planejamento e organização. Temos que
ensiná-los também a lutar pelos seus direitos: mais tempo nas provas,
provas adaptadas, etc. É claro que isso acontecerá com autistas verbais e
mais velhos.
A verdade é que todos nós usamos
acomodações e estratégias para nos ajudar com funcionamento executivo.
Usamos post-it, bips em celulares, secretárias que comandam as agendas,
etc. Mas temos que trabalhar a diminuição de ajuda até que a pessoa
consiga agir de forma independente. Temos
que preparar nossos meninos para o ensino fundamental II, ensino médio,
faculdade e mercado de trabalho desde que eles são pequenos.
Outras estratégias:
- Pense em um mural estratégico
ou para toda a classe com ferramentas para organizar materiais, tarefas e
tempo de cada atividade.
- Ter tempo para a reflexão em sala de aula ou atividades para que os alunos adivinhaem quanto tempo cada atividade vai tomar.
- Escolher, a cada atividade, um
aluno para cuidar do tempo. Ele fica com um temporizador e avisa quando
acabar o tempo da atividade.
- Trabalhar com eles o uso de um calendário para que possam planejar seus deveres.
Concluindo e recapitulando:
As principais funções executivas “básicas” são:
- atenção (seletiva, concentrada e difusa);
- memória de trabalho;
- controle inibitório (contenção dos impulsos);
- auto-regulação (inclusive emocional)
- Metacognição (capacidade de raciocinar sobre o próprio conhecimento cognitivo).
Essas funções executivas básicas são a base para a estruturação de processos executivos mais complexos como:
- planejamento (requer alto grau
de atenção, memória de trabalho, adequado controle inibitório e
auto-regulação, além de uma habilidade metacognitiva aguçada);
- tomada de decisão (também requer o uso de todas as habilidades acima citadas);
- flexibilidade cognitiva
(considerar diversos pontos de vista, aprender rapidamente e mudar de
estratégia quando as estratégias previamente aprendidas já não surtem
mais o efeito desejado);
- manutenção do foco e
persistência ao alvo (capacidade de manter “na sua mente”, por períodos
que podem ser relativamente longos, o seu objetivo e persegui-lo, mesmo
que precise mudar de estratégias e fazer novas re-avaliações e
planejamentos).
Brinquem junto com suas crianças, adolescentes e até adultos! Fiquem com a mensagem abaixo!
Fontes:
Este post é tradução deste link (inclusive imagens) com adaptações do Estou Autista!
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