quarta-feira, 25 de março de 2015

Delegado afirma que presos mandavam no Presídio de Blumenau - Com propina, detentos conseguiam até saídas ilegais da cadeia.


Com propina, detentos conseguiam até saídas ilegais da cadeia.


Delegados e integrantes do Deap em entrevista na Deic, em Florianópolis. 

Foto: Charles Guerra / Agencia RBS
Diogo Vargas





Responsável pela Operação Regalia, o diretor-adjunto da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Adriano Bini, declarou que os presos mandavam no Presídio de Blumenau graças ao pagamento de propinaa agentes penitenciários.

O esquema incluía progressões de regimes, visitas nas ruas com escoltas de servidores, livre acesso a drogas e a celulares na prisão, além de facilitações em fugas.

Em entrevista coletiva na Deic, em Florianópolis, Bini explicou como funcionava a troca de favores na prisão, sempre com dinheiro envolvido e longe dos meios legais ou de conhecimento da execução penal do Judiciário, e que terminou com a prisão de 39 pessoas, sendo 13 delas agentes penitenciários — o diretor da prisão, Elenilton Fernandes, é um dos presos.

Para ilustrar a gravidade da relação criminosa entre agentes e os detentos, o delegado citou o caso de um preso que, mediante propina, conseguiu sair da prisão para ameaçar com uma arma a ex-mulher na rua e depois retornar ao cárcere.

R$ 13 mil por transferência



Houve outro caso de um detento de Mafra que pagou R$ 13 mil em propina a agentes para ser transferido ao Presídio de Blumenau.

Segundo o delegado da Deic, um preso que agia como uma espécie de operador do esquema recebeu R$ 3 mil em comissão para providenciar a transferência.

As progressões de regime aconteciam livremente e sem nenhuma aprovação ou conhecimento do Judiciário.

Numa inspeção feita após uma fuga, ficou constatado que 119 detentos que deviam estar no regime fechado se encontravam fora, em condições de regalia (espaço do semiaberto).

— Os presos eram quem mandavam no presídio com o pagamento da propina aos agentes penitenciários, principalmente para sair do regime fechado para ficar na regalia (cozinha ou limpeza). A propina servia para trabalharem nas empresas, celulares, drogas, fumo (cigarro) e outros objetos — disse o delegado.

Facilitação em fugas



A Deic afirma ter fortes indícios que também houve propina aos agentes para facilitação de fugas no presídio — em janeiro deste ano 28 fugiram por um túnel.

O delegado Bini garante que a operação não foi realizada nesta terça em razão da descoberta de um túnel segunda-feira na prisão.

Estão presos na Deic 11 dos 13 agentes. Entre os 39 também foram presos empresários representantes das empresas que trabalham no sistema prisional, detentos, ex-detentos e alguns familiares de detentos. Eles não tiveram os nomes revelados nem detalhada a participação individual.

Farra dos celulares



Os celulares na cadeia custavam a partir de R$ 150 para serem levados pelos agentes. Depois, nas mãos de um preso, poderia ser revendido a até R$ 800. Eles conseguiam até a senha do Wi-fi do presídio.

— Alguns detentos operavam o esquema, intermediavam contatos com agentes e familiares. O foco da corrupção era o Presídio de Blumenau — pontou Bini.

Na casa de um agente a polícia encontrou materiais do Estado, como produtos de limpeza desviados. Um agente preso que estava de plantão mantinha em seu poder armas sem procedência e serras que provavelmente seriam repassadas aos detentos.

A Deic afirma ter entrado na investigação apenas há três semanas e que o começo da apuração aconteceu ainda em junho do ano passado pelo Ministério Público local e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Joinville.

Novas prisões
As prisões são temporárias e têm duração de 30 dias, prazo para a conclusão do inquérito policial. Novas prisões não estão descartadas.

Participaram da entrevista coletiva na Deic também os delegados Anselmo Cruz e João Adolpho Fleury Castilho, o diretor do Departamento de Administração Prisional (Deap), Alexandre Camargo Neto e o diretor da Penitenciária de Canhanduba, em Itajaí, Juliano Juliano Stoberl.




DIÁRIO CATARINENSE

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