domingo, 4 de maio de 2014

Qual é a importância do professor? Discuta nas suas aulas sobre o mundo do trabalho o papel do professor na sociedade e porque a carreira docente é tão desvalorizada. Utilize, na explicação, teóricos como Émile Durkheim e Max Weber.


Qual é a importância do professor?

Discuta nas suas aulas sobre o mundo do trabalho o papel do professor na sociedade e porque a carreira docente é tão desvalorizada. Utilize, na explicação, teóricos como Émile Durkheim e Max Weber

Objetivos
- Discutir a importância do professor para a sociedade
- Compreender como funciona o mercado de trabalho para os docentes


Conteúdos
- Educação
- Mercado e divisão do trabalho


Anos
Ensino Médio 


Tempo estimado
Três aulas


Materiais necessários
- Cópias da entrevista "Uma missionária da educação" (Veja, 2319, 01 de maio de 2013), para todos os alunos
- Material para a confecção de faixas ou cartazes (papel, cartolina, tinta, cola, tesoura, revistas, jornais, etc)
- Cópias do texto "Professores do Brasil" (disponível na 4º etapa) para todos os estudantes. 


Introdução
O compromisso do Estado brasileiro com a educação está formalizado no artigo 205 da Constituição Federal de 1988, onde se lê que "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho."


Para que isso ocorra é indispensável a boa atuação dos professores, personagens centrais em todas as fases da educação formal. No entanto, a profissão docente é atualmente percebida como mal remunerada e pouco valorizada pela sociedade. Trata-se, portanto, de uma situação paradoxal: ainda que o Estado seja obrigado a garantir educação de qualidade para as novas gerações, a carreira docente aparenta ser cada vez menos popular e mais fragilizada. 


Neste plano de aula serão discutidas, em linhas gerais, a situação da carreira de professor no Brasil, sua importância e as dificuldades enfrentadas por esses profissionais. A proposta é estimular a discussão sobre o problema da educação e as políticas públicas relacionadas à formação, remuneração e condições da carreira docente no Brasil.


Desenvolvimento
1ª etapa
Escreva no quadro uma lista de profissões e ocupações. Utilize o modelo abaixo, adaptando-o para sua realidade (você pode incluir novas profissões ou omitir aquelas que não refletem a realidade cotidiana da comunidade). 


Enfermeiro/ Padeiro/ Bombeiro/ Cozinheira/ Agricultor/ Médico / Mecânico / Lixeiro/ Diplomata/ Maestro /Engenheira/ Farmacêutico/ Professora/ Agrônomo/ Psicóloga/ Jornalista
Advogado/ Policial /Político /Educador infantil


Peça que os estudantes analisem o que está escrito por alguns instantes. A seguir, conduza uma rodada de discussões utilizando as questões abaixo. Peça que os alunos anotem suas impressões no caderno.


- Quais das profissões listadas são mais bem remuneradas? Por qual razão?
- Quais as ocupações que demandam mais tempo de estudo formal?
- Quais as profissões menos prestigiadas? Por quê? 
- Quais as diferenças entre, por exemplo, advogados e agricultores?
- O que a maioria das profissões listadas tem em comum?


O objetivo da discussão é fazer com que todos discutam e compreendam: 


- o papel da educação para a carreira profissional dos indivíduos, tanto do ponto de vista formal e legal (por exemplo, a necessidade de completar um curso superior para poder exercer regularmente a medicina ou a engenharia), quanto em relação ao prestígio, status e possibilidade de mobilidade social (note que entre as profissões apresentadas, as mais prestigiadas são normalmente associadas com maior investimento de tempo e recursos em educação). 


- a situação dos professores no mundo do trabalho: ressalte que a educação é um dever do Estado brasileiro e um direito do cidadão. Mesmo as pessoas envolvidas com atividades menos prestigiadas e socialmente reconhecidas provavelmente passaram pela escola! Nesse sentido, você pode usar o exemplo das dificuldades enfrentadas por uma pessoa analfabeta para se colocar no mercado de trabalho atual, demonstrando assim a importância da educação formal e, portanto, dos professores.


Lembre-se: não se trata de classificar as profissões entre "melhores" e "piores". A atividade do lixeiro é tão importante para nossa saúde quanto a do médico, imagine uma cidade grande sem coleta de lixo! O importante é ressaltar que a sociedade apresenta oportunidades e recompensas desiguais para diferentes carreiras e profissionais. 


2ª etapa
Complemente a etapa anterior com uma exposição. Esta é a hora de apresentar ao grupo alguns conceitos sobre divisão do trabalho, mercado e mobilidade social por meio da educação. Utilize o texto abaixo como base:


O que explicar para a turma?


Desde o século 19, uma das questões abordadas pela Sociologia é a crescente complexificação das sociedades capitalistas modernas e a especialização profissional decorrente dessas mudanças. De acordo com o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), as sociedades complexas se assemelhariam a organismos vivos, onde cada parte desempenha uma função específica. Para que esse grande organismo (a sociedade) funcione corretamente, é necessário que cada uma das suas partes (os indivíduos) se comportem como é esperado. A analogia equipara a sociedade com o corpo humano: se cada um dos órgãos está saudável (isto é, funcionando adequadamente), o corpo funcionaria corretamente. Assim, para que a sociedade funcione bem é necessário que cada indivíduo se comporte de acordo com o esperado para sua posição social, profissão etc. 


De acordo com Durkheim, a divisão de trabalho seria uma consequência da percepção dos indivíduos a respeito de sua dependência dos outros "órgãos" e obrigação moral com a manutenção da sociedade. Para o autor, essa "solidariedade orgânica" é a essência da coesão social. Sob essa perspectiva, o papel do professor seria instruir as pessoas para se adequarem à lógica dessa solidariedade e da divisão do trabalho.


Para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), a especialização e a distinção entre os indivíduos funcionaria de acordo com uma lógica diferente. Para ele, a divisão do trabalho seria resultado da industrialização e da mudança das pessoas para a cidade: se nos contextos pré-modernos um indivíduo se encarregava de diversas atividades de produção, nas sociedades industrializadas cada pessoa se especializa em uma função ou ocupação específica. As diferenças de classe e posição social entre os indivíduos estariam então relacionadas com o poder e o status que eles ocupam nessa divisão do trabalho. É claro que existem profissões mais valorizadas e remuneradas, mas ao contrário da percepção de Durkheim, os indivíduos poderiam almejar "mudar de posição" na divisão do trabalho, buscando posições de maior poder, status ou recompensas financeiras (em um processo de chamado de mobilidade social).


Nos dias de hoje, é comum a percepção de que um dos principais mecanismos de mobilidade social é a educação. Defensores dessa posição acreditam que indivíduos mais instruídos possuem um diferencial na competição do mercado de trabalho, podendo ascender internamente nas organizações e empresas, tendo acesso a melhores salários e reconhecimento. Ainda que membros das classes altas tenham melhores condições de se diferenciarem (por já possuírem instrução e reconhecimento herdados de suas famílias), a educação universal de qualidade proporcionaria formas de "nivelar" as condições de todas as pessoas. Nesse contexto, o papel do professor seria então fundamental para uma sociedade mais equalitária: caberia a ele, por meio dos processos formais de educação, proporcionar aos alunos menos favorecidos as condições indispensáveis para sua mobilidade social ascendente.




Certifique-se que os pontos expostos foram compreendidos e que a turma entendeu as noções de "divisão do trabalho" e "mobilidade social". Veja se eles demonstram capacidade de argumentação sobre o papel dos profissionais da educação para a sociedade contemporânea.




3ª etapa
Distribua as cópias da entrevista com Wendy Kopp, "Uma missionária da educação" (Veja, 2319, 01 de maio de 2013) para todos. Realize uma leitura dirigida, seguida de discussão. Aproveite a oportunidade para esclarecer dúvidas e para saber a opinião dos adolescentes sobre a iniciativa "Ensina!" mencionada no texto. Na opinião deles, por que ela "emperrou" no Brasil? Como isso pode se relacionar com a valorização e as dificuldades da carreira de educador no país?


4ª etapa
Para aprofundar a compreensão do tema, distribua cópias do texto abaixo para cada estudante e conduza uma leitura coletiva. 


Ao longo da atividade, faça perguntas e estimule os estudantes a comentarem e relacionarem o texto com o que já estudaram. Você pode utilizar as questões abaixo: 
- Eles concordam que as distinções de remuneração são um fator preponderante para a situação atual dos docentes? Existem outros pontos a serem ressaltados? 
- Como essas informações podem se relacionar com o texto de Veja discutido anteriormente?


Professores do Brasil


Em 2009, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) editou um livro contendo os resultados de uma pesquisa extensiva sobre a formação de professores e o exercício da docência na educação básica no Brasil. De autoria de Bernardete Gatti e Elba Siqueira de Sá Barretto, o livro "Professores do Brasil: Impasses e Desafios" aborda desde as questões legais até as barreiras práticas e institucionais que marcam as carreiras dos professores no Brasil.




Com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais, organizada pelo Ministério do Trabalho, da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Censo Escolar da Educação Básica, as autoras apresentam conclusões importantes: no Brasil, os professores são o terceiro maior grupo profissional no país (sendo que cerca de 80% são empregados pelo sistema público de educação), mas o reconhecimento da profissão ainda é insuficiente, variando muito de região para região. 
Nesse aspecto, os dados apurados demonstram que em todos os níveis da educação básica (infantil, fundamental e médio), os professores das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste são melhor remunerados em comparação aos profissionais das regiões Norte e Nordeste. 


Em comparação a outras profissões, o quadro fica ainda mais desanimador: 


Profissão Rendimento médio mensal 
Arquitetos: R$ 2.018,00
Biólogos: R$ 1.791,00
Dentistas: R$ 3.322,00
Farmacêuticos: R$ 2.212,00
Enfermeiros: R$1.751,00
Advogados: R$ 2.858,00
Jornalistas: R$ 2.389,00
Professores (Ed.básica): R$ 927,00


Diante dessas e outras evidências, as autoras se dedicam a questionar a atratividade dessa profissão para as novas gerações. Historicamente, elas argumentam, a representação da docência como "vocação" e "missão" afastou a categoria dos professores da ideia de uma categoria profissional de trabalhadores, prevalecendo a perspectiva de "doação de si", o que explica parcialmente as dificuldades que professores encontram em sua luta por salários e melhores condições.


Para reverter esse quadro, Gatti e Barretto ressaltam a necessidade de adoção de estratégias articuladas entre as diferentes instâncias formadoras de professores e as que os contratam como profissionais, construindo assim soluções que tornem possível a melhoria da qualidade da educação oferecida no país. (Maiko Rafael Spiess, adaptado de Gatti & Barreto, 2009)


Avaliação
Para encerrar, divida a turma em grupos de quatro. Os adolescentes deverão utilizar os materiais disponíveis (papel, cartolina, tinta, cola, tesoura, revistas, jornais e o que mais estiver à mão) para confeccionar faixas ou cartazes sobre a profissão docente no Brasil, destacando sua importância, as dificuldades percebidas e possíveis soluções para sua baixa valorização. Procure estimular a criatividade dos alunos, incentivando-os a explorar formas novas e inusitadas de apresentar os conteúdos aprendidos. 


Após a conclusão da atividade, afixe os cartazes e faixas na sala de aula. Se quiser, peça que cada grupo faça uma breve apresentação sobre o trabalho. Para socializar os conhecimentos e estimular a discussão na sua escola, sugira que os alunos mostrem os trabalhos para outros professores.Faça você também uma "propaganda" a respeito da atividade nos intervalos e na sala dos professores, pedindo que seus colegas prestigiem os trabalhos e reflitam sobre a questão. Essa também é uma forma de valorizar sua importante profissão!


Os alunos serão avaliados por sua participação nas aulas, compreensão dos temas, e pela qualidade e criatividade do material produzido na última etapa.


Fonte: Revista Escola

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