segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ciências - Educação Sexual.

O tabu que reveste os diálogos sobre sexo parece renovar-se a cada dia. Existe aqui uma série de fatores que impedem uma conversa segura entre locutor e interlocutor desse diálogo. Esses fatores têm resistido às modernizações do pensamento humano, sustentando-se em questões religiosas, mitos, preconceitos, valores morais, entre outros. O fato é que o pai ou a mãe, por princípios dos mais variados, se esquivam quando interrogados pelos filhos sobre suas dúvidas sexuais, tipicamente naturais para os que começam a descobrir prazeres e afetividades relacionados à sexualidade. A escola, por sua vez, recebe a criança ou o adolescente não trabalhado, e assume a responsabilidade de educar esses indivíduos através da Educação Sexual. Porém, muitos agravantes impedem o sucesso na promoção de uma Educação Sexual efetiva e funcional: formação docente, acervo pedagógico, descompromisso da família, resistência da comunidade escolar ou civil etc.


O produto disso é nada animador. Se a família se esquiva, passa a responsabilidade para a escola, que por sua vez não encontra-se apta para promover a conscientização desses jovens e crianças em relação ao sexo em toda sua amplitude e, portanto, devolve esse aluno à sociedade sem o menor preparo que o leve a proteger-se e proteger o (a) seu (sua) parceiro (a), o que ocasiona desde uma possível contaminação por DST (Doença Sexualmente Transmissível) até uma gravidez indesejada.

Por isso tudo, o debate sobre a Educação Sexual, bem como sua promoção efetiva, é indispensável aos docentes, discentes, comunidade escolar e família.
O ambiente e a abordagem
É importante considerar que, desde cedo, a criança já começa a descobrir afetividades e prazeres. As manifestações da sexualidade começam no início da vida e vão até o seu fim, estando presentes em cada etapa do desenvolvimento humano. Desta forma, não há como isolar esse tema dos diálogos familiares ou educacionais. Tem-se que tratá-lo com seriedade e conhecimento científico, afim de que se amenizem os problemas dele derivados.

Na escola, o professor depara-se com as mais diferentes abordagens ao tema. Ora pode-se ouvir o aluno referir-se a ele com malícia, ora com deboche, ora com piadas, ora lança perguntas que deixam o professor “sem chão”. Mas também é possível ver alunos tímidos em relação ao tema, outros espantados da naturalidade de seu tratamento. Alguns, por motivo de religiosidade, abominam a sua abordagem em público e repudia o comportamento do docente.

O importante disso tudo é criar um ambiente propício à aprendizagem sexual. Um ambiente que transmita aos discentes a importância de conhecer-se a si mesmo para poder conhecer, futuramente, o seu parceiro ou parceira. A importância do ato sexual, mas também as suas consequências, quando ausente de responsabilidade e conhecimento. A escola e seus docentes devem criar um ambiente descontraído, tranquilo, mas também respeitoso e seguro. Todos devem pronunciar as suas dúvidas, mas também devem ouvir e respeitar as dúvidas do seu colega, por mais simplistas ou ingênuas que sejam. Somente com respeito e descontração consegue-se dar andamento a Educação Sexual.

“O professor deve criar um clima de confiança, tranquilidade, seriedade e respeito para tratar a sexualidade e a afetividade de forma natural. Para isso, é preciso, acima de tudo, embasamento teórico, envolvendo conhecimento científico e uma discussão ampla sobre ética... o trabalho deve ser desenvolvido na escola de forma transversal”. (Claudia Aratangy, Revista Presença Pedagógica (R.P.P.), 2013, p. 49)

A transversalidade ganha destaque na fala da psicóloga e escritora Claudia Aratangy. A abordagem sobre a sexualidade de forma transversal nos leva a fuga de metodologias como palestras isoladas, nos levando ao ambiente natural da criança e do jovem e nos permitindo a interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento humano. Por outro lado, mais uma vez a importância da formação docente ganha ênfase, vista a grande necessidade de o docente estar apropriado de saber científico que sustente a sua prática docente, também, na Educação Sexual. Aqui se fala no significado abrangente que carrega o termo “formação docente”: formação inicial, formação continuada, autoformação etc.
Educação infantil

Por mais inacreditável que possa parecer – a depender da crença do professor –, acreditem, manifestações de sexualidade começam a aparecer desde os primeiros anos escolares, ainda na educação infantil. Algumas atitudes poderão ser observadas pelo professor em relação ao aluno, como afirma a especialista na citação a seguir.

“Nos primeiros anos escolares, as manifestações da sexualidade infantil mais frequentes são as carícias no próprio corpo, a curiosidade sobre o corpo do outro, as brincadeiras com colegas envolvendo contato físico, a imitação de gestos e atitudes típicos da manifestação da sexualidade adulta”. (Marita Andrade, 2013, R.P.P., p. 52)

É preciso que o professor esteja preparado para lidar com atitudes inesperadas que venham a surgir em sua classe. “Caso a criança comece a acariciar os genitais em sala de aula, por exemplo, o professor deve fazer com que ela compreenda a inadequação desse gesto em relação às normas do convívio escolar, sem condená-la ou aprová-la. É fundamental ouvir a criança e responder suas perguntas de maneira clara, sem excesso de informações, para não confundi-las”, afirma a formadora de professores Maria Helena Vilela.

Outro fator a se considerar na hora de preparar a aula sobre Educação Sexual é a escolha do material didático-pedagógico. Um bom material é aquele que, além de dar suporte à prática docente, direciona a aprendizagem rumo as novas descobertas no campo em que se quer trabalhar. Nesta ótica, a professora Helena Altmann afirma que “há muitos materiais didáticos qualificados que podem ser utilizados na educação infantil e facilitam uma conversa franca com as crianças sobre como nascem os bebês, a diversidade sexual, o prazer, o namoro etc.”. É dela ainda a indicação do site portascurtas.org.br como referencial webográfico sobre o tema.
Ensinos fundamental e médio
A chegada da puberdade traz consigo fatores “complicantes” às discussões sobre a sexualidade. As transformações do corpo, trazidas pelas ações dos hormônios, trazem, também, timidez e introspecção. Daí que o período que compreende o ensino fundamental é ainda mais delicado e complexo de se trabalhar as questões sexuais. Mais uma vez, nesse cenário, surge como protagonista, a formação docente, seja ela inicial ou continuada, ou até mesmo a autoformação, como fator indispensável ao sucesso educacional.

“... é muito comum, por exemplo, meninas se sentirem inseguras por causa das mudanças do corpo, como o aumento dos seios e dos pelos Muitos meninos, quando a voz começa a engrossar, costumam se recusar a fazer leitura em voz alta na sala de aula. As espinhas no rosto mexem com a autoestima deles”. (Helena Vilela, R.P.P., 2013, p. 52)

A fase da puberdade, que coincide com o ensino fundamental, é altamente delicada e marcada por um nível muito alto de ansiedade no que se refere à sexualidade. Por isso, “é importante trabalhar temas como: ação dos hormônios no corpo e na aparência, a ejaculação precoce, a virgindade, os métodos contraceptivos, a masturbação etc.”, afirma Marita Andrade (R.P.P., 2013, 52). Esses temas devem ser abordados, principalmente, de forma transversal e interdisciplinar, cabendo a cada professor acoplá-los a sua disciplina de trabalho, mas entrelaçá-los as demais.

De forma alguma o professor deverá agir revestido de autoritarismo nem incentivo às ações de alunos que buscam levar essa discussão para o campo das piadas. Deve ser feito um equilíbrio entre a ponderação e a autoridade, buscando mediar essa situação de maneira serena, afirmando ao aluno piadista que tal brincadeira não agrada a todos na sala sendo, portanto, necessário respeitar a intimidade daqueles que preferem se manter isentos delas. Tudo isso mantendo um tom sereno, sem exageros e sem causar constrangimentos.

No ensino médio, todas essas discussões devem ganhar dimensões maiores. Os debates devem ganhar rumos mais profundos, vista a maturidade dos discentes e sua necessária preparação para inserção na sociedade. Para tanto, temas como “...ética, conversas sobre projetos de vida, convívio social etc.”, para Claudia Aratangy, devem ser abordados em sala de aula. Todo esse processo de conscientização levará o discente à busca pelo prazer, mas de forma segura. Além disso, ele passará a “... agir de modo solidário em relação aos portadores de HIV; reconhecer como as determinações culturais e sociais atribuem regras aos gêneros masculino e feminino, posicionando-se contra discriminação, intolerância e estereótipos”. Pontua Marita Andrade (R.P.P., 2013, p. 53).
É no ensino médio que questões mais amplas e polêmicas podem – e devem – ser discutidas com maior tranquilidade. A homossexualidade é um desses temas importantes e indispensáveis ao debate nessa fase do ensino. Porém, a homossexualidade deve ser abordada de maneira positiva, dialogando com os religiosos da sala, por exemplo, a importância de respeitar a liberdade de escolha do próximo e a inadequação de um pré-julgamento. Nesse rumo, Helena Altmann afirma que “a homossexualidade deve ser representada de forma legítima, oferecendo a oportunidade e o aluno refletir, fazer escolhas e ampliar seus conhecimentos. Isso pode ser libertador para algumas pessoas.” (R.P.R., 2013, p. 53)
Parâmetros curriculares Nacionais (PCNs)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais , em 1998, formalizou a recomendação de inclusão da educação sexual, sob a nomenclatura de “orientação sexual”, na educação básica de forma transversal. Na orientação dos PCNs inclui-se a discussão de temas como “gênero, sexo, masturbação, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não planejada etc.”

Deixa-se claro que, segundo os PCNs, a orientação sexual não é uma disciplina a ser inserida na grade de disciplinas do currículo da educação básica, mas sim um conteúdo, que deve ser abordado de maneira transversal e interdisciplinar pelas diversas áreas do conhecimento humano.

Não resta dúvida da necessidade de se trabalhar a Educação Sexual desde o seio familiar até a escola. Esta deve estar preparada para receber as diversas dúvidas dos discentes inerentes ao tema, vista a ausência da família no debate desses temas inevitavelmente polêmicos. Para isso deve-se priorizar a formação continuada do professor e lhe fornecer materiais adequados à sua prática, sempre em busca de aperfeiçoamento da abordagem específica de cada tema da educação sexual em sala de aula.

“A insegurança é a sombra do fracasso”

(Robison Sá)

Referência bibliográfica:
ANDRADE, Marita. Sexualidade e afetividade na escola. Revista Presença Pedagógica, Belo horizonte, MG. v. 19, n. 112. P. 48-55, set/2013.

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