Citroën injeta tecnologia e potência no C4 Lounge turbo para ressurgir no segmento de sedãs médios.
A Citroën aposta alto no C4 Lounge. O sedã, lançado em agosto, tem a missão de substituir o antigo C4 Pallas que, com seis anos de mercado, já tinha perdido o fôlego. Nessa função, o modelo até foi bem: quase triplicou os emplacamentos do antecessor, com cerca de 900 carros nos primeiros dois meses cheios de comercialização. Mas o resultado ainda ficou abaixo das 1.500 unidades mensais profetizadas pela Citroën no lançamento – que seria o mesmo volume alcançado pelo C4 Pallas no auge de vendas. Há pelo menos uma boa justificativa para esse desempenho: o segmento de sedãs médios tem atualmente uma concorrência feroz. Por outro lado, o Lounge é um carro de preço atraente. Começa em R$ 60.990 e chega a R$ 78.690 na Exclusive THP completa – preço relativamente inferior aos das versões topo dos principais. A configuração mais cara, que responde por 20% das vendas do Lounge, se apoia ainda no belo design, no bom conteúdo tecnológico e no desempenho conviencente fornecido pelo motor THP.
Este propulsor 1.6 16V, turbo de alta pressão, segue movido apenas a gasolina, com 165 cv a 6 mil rpm e 24,5 kgfm a baixas 1.400 rotações. Ele é casado sempre com a transmissão automática de seis marchas. O conjunto é suficiente para levar o sedã de zero a 100 km/h em bons 8,8 segundos e à máxima de 214 km/h. Esse motor é usado por diversos modelos da PSA Peugeot Citroën, como os DS3, DS4, DS5, Peugeot 3008, 508, RCZ e ainda na versão mais cara do rival 408. Além dos carros do grupo francês, o propulsor funciona sob o capô dos Mini e dos BMW mais baratos, como os 116 e 118i, além do recém lançado 316i.
Na conversão do hatch francês C4 em sedã – que não é comercializado na Europa –, a equipe de design da marca conseguiu um resultado interessante. Até a coluna central, o modelo é igual ao hatch e, a partir daí, a porta é alongada e o entre-eixos esticado. A adição do terceiro volume não deturpou a harmonia das linhas originais. O vidro de trás é côncavo, recurso usado também no médio-grande C5, modelo no qual o Lounge é claramente inspirado. As proporções são corretas e o desenho final tem personalidade própria. A frente é marcada pela grade dianteira, que desenha o emblema da Citroën no centro, e pelos faróis grandes, repuxados para as laterais – num arranjo semelhante ao do visto nos carros da linha DS, mais luxuosa.
O C4 Lounge Exclusive é muito bem equipado de série. A versão com motor turbo incorpora itens importantes em relação à Exclusive com motor 2.0, como sensores de ponto cego, painel com iluminação personalizável e a tela de 7 polegadas que inclui GPS e câmara de ré. Além disso, a Exclusive THP é a única que pode receber opcionalmente teto solar elétrico e faróis de xenônio. De resto, ar-condicionado automático de duas zonas, bancos em couro, airbags frontais, laterais e de cortina, controle de estabilidade ESP e partida por botão são de série em todos os Exclusive.
Completo, ele custa R$ 83.280 e mira os conterrâneos Peugeot 408 THP, com exatamente o mesmo conjunto mecânico e preço de R$ 78.590, e Renault Fluence Privilège de R$ 83.799 com motor 2.0 litros de 143 cv e câmbio automático CVT. Os líderes do segmento, Honda Civic EXR e Toyota Corolla Altis custam mais, R$ 83.990 e R$ 85.890 respectivamente. Todos usam propulsores 2.0 litros, mas apresentam desempenhos mais modestos que o Citroën. Assim como o terceiro mais vendido, o Chevrolet Cruze, que conta apenas com motor 1.8 de 140 cv e sai, na versão top, a R$ 83.190. As exceções são o Volkswagen Jetta Highline TSI, com motor 2.0 turbo de 211 cv e preço completo de R$ 105.652, e o Ford Focus Titanium sedã e seu motor 2.0 litro com injeção direta e 178 cv, de preço de R$ 90.990. A briga pelo topo é acirrada.
Ponto a ponto
Desempenho – Os 165 cv produzidos pelo valente 1.6 THP são bem suficientes para empurrar os 1.512 kg do C4 top sem esforço aparente. A aceleração de zero a 100 km/h ocorre em bons 8,8 segundos e a máxima chega aos 214 km/h. O propulsor consegue tirar o carro da inércia sem dificuldade, tem retomadas consistentes e dá leveza ao conjunto. O câmbio automático de seis marchas tem atuação correta para tirar o melhor do motor. O torque e 24,5 kgfm aparece pleno já a baixas 1.400 rotações e confere vitalidade ao sedã. Nota 9.
Estabilidade – A suspensão firme do C4 Lounge cumpre bem o trabalho de controlar os movimentos da carroceria e honra as boas tradições da marca nesse quesito. O comportamento é bem neutro, embora a frente tenha alguma tendência de escapar, rapidamente controlada pelo ESP. A direção tem boa relação com as rodas e peso correto, com boa sensação de segurança. O conjunto é bem acertado e até aceita uma tocada mais agressiva sem perder a compostura. Nota 8.
Interatividade – É possível encontrar facilmente a melhor posição de dirigir no C4 Lounge – apesar do volante ter um tamanho um tanto exagerado. Todos os comandos vitais estão bem posicionados e apenas o console central confunde quem utiliza o carro pela primeira vez. A quantidade de botões é grande e a configuração do GPS e do sistema de som, por exemplo, é um tanto complicada. Uma tela sensível ao toque facilitaria bastante a interação com o sistema. Nota 7.
Consumo – O InMetro não testou nenhuma unidade do Citroën C4 Lounge THP, mas o computador de bordo acusou média de 7,5 km/l de gasolina em ciclo urbano e 12,3 km/l em ciclo rodoviário. Nota 6.
Conforto – O acerto mais rígido que dá ao sedã um bom comportamento dinâmico tira pontos do modelo no conforto de marcha. No entanto, o isolamento acústico é muito bom – mesmo em velocidades elevadas, pouco se ouve motor ou vento. Os bancos têm densidade firme, boa para horas a bordo do carro, e os revestimentos são sempre agradáveis ao toque. Quatro passageiros viajam com bastante espaço disponível e mesmo um terceiro ocupante atrás não viaja com aperto. Nota 8.
Tecnologia – O C4 Lounge é construído sobre a plataforma PF2 da segunda geração do C4 hatch francês, lançado na Europa no fim de 2010. A base, no entanto, é uma evolução da usada no primeiro C4 e já está sendo substituída na Europa pela modular EMP2, do novo Peugeot 308. O motor da versão topo é o badalado 1.6 litro THP, desenvolvido numa parceria entre a PSA e a BMW. Há sistemas de segurança importantes, como seis airbags e controles de estabilidade e tração de série, assim como monitor de ponto cego. Nota 8.
Habitabilidade – As dimensões generosas do habitáculo facilitam o uso do carro no dia-a-dia. As portas são grandes e com bom ângulo de abertura. O porta-malas acomoda 450 litros e pode ser expandido com o rebatimento do banco traseiro. No entanto, o interior merecia mais porta-objetos. O vão sob o apoia-braço central é raso e à frente da alavanca de câmbio há apenas um pequeno porta-trecos. Na prática, somente os bolsões das portas ou o porta-luvas cavernoso são realmente úteis. Nota 7.
Acabamento – A impressão inicial da cabine é boa. O alto do painel é emborrachado e os materiais usados em geral são de qualidade. No entanto, em regiões menos visíveis do interior, os plásticos são simples demais e contrastam com o padrão adotado no restante. Nota 8.
Design – A Citroën conseguiu um resultado feliz ao criar a versão sedã do C4. O visual manteve a harmonia das linhas, sem que o terceiro volume pareça um mero enxerto. Os traços são elegantes e o uso contido de cromados dá um toque de sofisticação ao conjunto. Nota 8.
Custo/benefício – Na briga acirrada entre os sedãs médios, a Citroën oferece um conjunto equilibrado e ainda atual com o C4 Lounge. A versão topo Exclusive THP é bem fornida de equipamentos e custa R$ 78.690 – chega a R$ 83.280 com a adição de um pacote que inclui pintura metálica, teto solar e faróis de xenônio direcionais. Um Peugeot 408 com o mesmo conjunto mecânico é ligeiramente mais barato, por R$ 78.590, enquanto o terceiro franco-argentino do segmento, o Renault Fluence, vai a R$ 82.799 na versão topo Privilège em igualdade de equipamentos. Os líderes do segmento, Honda Civic e Toyota Corolla, custam ligeiramente mais – na casa dos R$ 85 mil em suas versões topo – e oferecem conjuntos mecânicos menos refinados. Apenas o Volkswagen Jetta tem motor turbo na configuração top, mas o preço passa dos R$ 100 mil. Nota 7.
Total – O Citroën C4 Lounge Exclusive THP somou 76 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Elegância e vigor
A qualidade da cabine do C4 Lounge chama atenção. Os revestimentos são de boa qualidade e a atmosfera do interior é razoavelmente refinada. O enorme volante de quatro raios se destaca e agrupa comandos do som, computador de bordo e controlador de velocidade de cruzeiro. No entanto, o painel tem botões demais, que poluem o visual e atrapalham a utilização do sistema multimídia, cuja tela não é sensível ao toque. Ao menos, o sedã é recheado de equipamentos interessantes como ar-condicionado automático de duas zonas e faróis de xenon direcionais. O isolamento acústico é dos melhores e mal se ouve o motor ou ruídos externos – mesmo com o carro em velocidade de cruzeiro.
Mas é sob o capô que mora o melhor atributo da versão topo do C4 Lounge. O motor 1.6 turbo rende 165 cv e bons 24,5 kgfm constantes entre 1.400 e 4 mil giros, que dá bastante elasticidade ao conjunto. As arrancadas são decididas e o desempenho muito consistente. O propulsor é bem casado com o câmbio automático de seis marchas, que consegue extrair o melhor do quatro cilindros com pouca indecisão sobre qual marcha usar. A transmissão só carece de alguma suavidade no funcionamento, que tem trocas bem perceptíveis. Ao menos, o software entende bem as demandas do pé direito e adapta rapidamente o conjunto conforme os humores do motorista – no modo esportivo, o câmbio até chega a segurar exageradamente as marchas, num comportamento agressivo demais para a proposta do sedã.
Em movimento, a suspensão firme entrega respostas secas ao passar por irregularidades no asfalto, mas trabalha bem ao segurar com competência os 1.512 kg do modelo. Ele não é nenhum esportivo, mas encara uma sequência de curvas sem decepcionar. O C4 Lounge se sente à vontade em vias de alta velocidade e segue plantado no chão. Há pouca tendência à flutuação e qualquer exagero é rapidamente controlado pelo ESP, com atuação bastante incisiva e quase precoce.
Ficha técnica
Citroën C4 Lounge Exclusive THP
Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, turbo com intercooler, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote com sistema de variação de abertura na admissão e escape. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle de tração.
Potência máxima: 165 cv a 6 mil rpm.
Torque máximo: 24,5 kgfm a 1.400 rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 8,8 segundos.
Velocidade máxima: 214 km/h.
Diâmetro e curso: 77,0 mm x 85,8 mm. Taxa de compressão: 11,0:1.
Suspensão: Dianteiro tipo pseudo McPherson e traseira com travessa deformável. Molas helicoidais, amortecedores hidráulicos pressurizados à gás e barra estabilizadora nos dois eixos. Oferece controle de estabilidade de série.
Pneus: 225/45 R17.
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EDB.
Carroceria: Sedã em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. 4,62 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,50 m de altura e 2,71 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso: 1.512 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 450 litros.
Tanque de combustível: 60 litros.
Produção: El Palomar, Argentina.
Lançamento no Brasil: 2013.
Itens de série: Ar condicionado automático com duas zonas, direção eletro-hidráulica, airbags frontais, laterais e de cortina, vidros, travas e retrovisores elétricos, rádio CD/MP3/USB/Bluetooth com tela de sete polegadas, navegador GPS, câmara de ré, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, controle de tração e de estabilidade ESP, volante multifuncional, bancos em couro, monitor de ponto cego, computador de bordo, controlador de velocidade de cruzeiro, partida por botão, sensores crepuscular e de chuva, retrovisor interno fotocrômico. Opcionais: Teto solar elétrico, pintura metálica e faróis de xenon direcionais.
Preço básico: R$ 78.690.
Preço completo: R$ 83.280.
Texto: Igor Macário / Auto Press / Fotos: Pedro Paulo Figueiredo / Carta Z Notícias / Via: Motordream
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